Ricardina e Marta

Exibição:
24/09/1989 – 21/04/1990 (RTP 1)

Número de capítulos:
90

Autoria:
Ana Rita Martinho
Manuel Arouca

Baseada na obra de:
Camilo Castelo Branco

Direção musical:
Maestro Jorge Matta

Direção de atores:
Morais e Castro

Direção plástica:
António Casimiro

Realização:
Victor Manuel

Produção:
Edipim

Elenco:
André Maia – José Dias Vilalva
António Anjos – Frei Roque
Carlos Areia – Zeferino
Carlos Coelho – Simeão
Carlos Duarte – Frei João
Carlos Gonçalves – Feliciano da Retorta
Carlos Ivo – Torcato Nunes (Visconde de Gens)
Carlos Quintas – Luís Pimentel
Cristina Homem de Mello – Vevinha
Eduardo Viana – Gaspar
Filomena Gonçalves – Ricardina
Guilherme Filipe – António (Teólogo)
Henrique Santos – Sebastião Pimentel
Isabel Damatta – Albertina
Jacinto Ramos – Abade Leonardo Botelho de Queiroz
Jaime Espadinha – Torto
João Arouca – Adolfo
João Baião – Alexandre
Jorge Gonçalves – Carlos Pimentel
Jorge Sousa e Costa – Juiz Vilalva
Laura Soveral – D. Clementina
Lena Coelho – Teresinha
Linda Silva – D. Maria Vilalva
Lúcia Maria – Zefa
Luís Alberto – Norberto Calvo
Luís Esparteiro – Francisco Moniz
Luís Mascarenhas – Melro
Lurdes Norberto – D. Teresa
Manuel Castro e Silva – Frazão
Manuela Carona – D. Honorata
Manuela Marle – Eugénia / Matilde
Maria Cristina – Tia Rosa
Maria das Graças – Chica
Maria José – D. Clara
Maria José Pascoal – Marta
Morais e Castro – Major Bezerra
Natália de Sousa – Amélia
Paula Marcelo – Alzira
Rita Ribeiro – Libânia Covas
Rogério Paulo – Silvestre Moniz
Rosa Villa – Bernardete
Rui Luís Brás – Osório Mesquita
Tozé Martinho – Bernardo Moniz
Vítor de Sousa – Veríssimo (D. Miguel)
Vítor Teles – João Adolfo Silveira

Participações especiais:
Adelaide João – Irmã
Ana Rita Martinho – Rita
António Aldeia – mensageiro
António Martinho – Juanico
Branco Alves – Bispo
Cristina Amaral – Fernandinha
Fernanda Montemor – D. Efigénia
Filipe Aguiar – Procurador
Gil Vilhena – Bandido
Gonçalo Ferreira – Estudante X
João Rodrigo – Frei Couto
José Raposo – Augusto Santos
Ladislau Ferreira – Fidalgo de Gouvinhas
Luís Calvário – Estudante III
Luís Mata – Alferes
Lurdes Lima – Velha I
Manuel Arouca – Domingos Reis
Margarida Rosa Rodrigues – Mendiga
Nelo – Estudante I
Nuno Melo – Bandido
Rogério Claro – Conselheiro Albuquerque
Rosário Bettencourt – Velha II
Rui Sérgio – Couceiro
Sérgio Silva – Estudante V
Tareka – Irmã Isabel

Tendo por cenário uma aldeia portuguesa agitada pelo confronto entre absolutistas e liberais, a história começa em 1826, com o anúncio da morte do rei D. João VI.

Situada e definida a história, são lançadas as primeiras personagens, que entretanto vão mostrar as suas posições em torno do conflito político: o Abade de Espinho (Jacinto Ramos), um absolutista radical; Silvestre Moniz da Fonte (Rogério Paulo), que personifica as correntes liberais; Bernardo Moniz (Tozé Martinho), um liberal radical por idealismo; e o Major Cristóvão Bezerra (Morais e Castro), um absolutista indiferente, que quer estar de bem com Deus e com o Diabo.

Abade de Espinho

Assim começa, também, o romance que envolve Ricardina (Filomena Gonçalves) com Bernardo Moniz e o desvairado ciúme sentido por Zeferino Lamelas (Carlos Areias) em relação a Marta de Prazins (Maria José Pascoal), que está apaixonada por José Dias Vilalva (André Maia), filho único do juiz Joaquim Dias Vilalva (Jorge Sousa Costa).

Bernardo e Ricardina
José e Marta

Ricardina descobre que quem lhe escreve lindas cartas de amor é Bernardo e a paixão entre eles torna-se inevitável, opondo-se por isso à vontade do pai, que pretende casá-la com o primo Carlos (Jorge Gonçalves). Contudo, perante a recusa de Ricardina, o Abade, que não suporta a ideia de vê-la apaixonada por Bernardo, manda-a para um convento.

Enquanto isso, Marta rompe o seu noivado com o pedreiro Zeferino, porque o pai, Simeão de Prazins (Carlos Coelho), ganancioso como é, reconhece em José Vilalva um partido melhor para a filha.

Ricardina, entretanto, leva consigo a mãe, D. Clementina (Laura Soveral), para o convento, mas esta, consumida pelo remorso de ter amado em pecado o Abade, tenta provar-lhe que fugir por amor só traz tristezas. Serve-se mesmo da sua própria história para que Ricardina não tenha coragem de se juntar a Bernardo.

Ricardina no convento

Também a paixão de Marta virá a ser contrariada por D. Maria (Linda Silva), mãe de José Dias Vilalva. O namoro dos dois jovens às escondidas acaba por ser descoberto pelo despeitado Zeferino, que usa todas as intrigas para convencer D. Maria Vilalva de que Marta não serve para o seu filho.

D. Maria

É então que D. Clementina morre e Ricardina, deixando de sofrer a influência da mãe, foge com Bernardo, já nessa altura envolvido na política e disposto a fazer parte de uma conspiração.

Marta, por outro lado, vê o pai chegar à conclusão de que José Dias nunca terá autorização para casar-se com ela, sendo por isso forçada a aceitar como marido o seu tio Feliciano (Carlos Gonçalves), rico e recém-regressado do Brasil. Mas José Dias não resiste à dor. Adoece e, contrariado por não poder casar-se com Marta, acaba por morrer. Marta, acabando por ceder ao insistente pedido do pai, casa com o tio.

O casamento de Marta e Feliciano

Quanto ao romance vivido por Ricardina e Bernardo, quando tudo parecia correr bem para ambos, dá-se a revolta dos estudantes em que ele se encontra envolvido. Ricardina fica então entregue aos cuidados dos irmãos de Bernardo, enquanto o Abade, ao tomar conhecimento de que os Monizes também estiveram envolvidos na morte dos lentes, jura vingar-se, sobretudo em Bernardo. Prepara uma emboscada, mandando os seus homens prendê-lo, mas, com exceção de Bernardo, que consegue fugir, todos morrem durante um incêndio que destrói completamente a casa da família Moniz.

Convencida de que Bernardo também morreu, Ricardina foge para Lisboa e dali para o Brasil, onde lhe nasce o filho que esperava. Quinze anos depois, por motivos de saúde, volta a Portugal, fixando-se em Lisboa, para que o seu filho Alexandre (João Baião) possa seguir o curso de Direito.

Ricardina e o filho Alexandre

É por essa altura que o Abade, praticamente abandonado, o Zeferino, ainda louco por Marta, e o major Cristóvão Bezerra, se deixam levar numa farsa montada por dois charlatões.

Os mentores deste “cambalacho” são Veríssimo (Vítor de Sousa), que se faz passar por el-rei D. Miguel, supostamente regressado do exílio em Roma, e o seu cúmplice Torcato Nunes (Carlos Ivo), que se apresenta como Visconde de Gens. Os dois vigaristas recebem dinheiro dos seus partidários, a fim de poderem regressar a Lisboa, onde D. Miguel deveria ocupar o lugar a que tinha direito.

O falso D. Miguel

Ao mesmo tempo, Ricardina reencontra a sua sobrinha Matilde (Manuela Marle), que vem a apaixonar-se por Alexandre. Ajudado por Matilde, Alexandre consegue emprego, e ao publicar um anúncio para arranjar um colaborador, quem lhe aparece a responder é precisamente o seu pai, Bernardo Moniz, com o nome falso de Paulo Campos.

A tramoia de Veríssimo é descoberta e o Abade, humilhado pelo que se havia passado com a farsa do pseudo-rei, pede transferência para Roma.

Alexandre, por sua vez, descobre também que Paulo Campos é seu pai e prepara o reencontro com Ricardina.

A história, no entanto, só acaba quando Ricardina e Bernardo, finalmente juntos, vão à aldeia para se vingarem do Abade e de tudo quanto ele lhes tinha feito. Mas, ao verem a casa fechada, partem dali em busca de uma nova vida. A tragédia, crêem eles, ficará para sempre sepultada naquela velha aldeia.

Família do Abade

Leonardo Botelho de Queiroz – Abade de Espinho (Jacinto Ramos)
Pai de Ricardina e Eugénia. Absolutista radical, juntou-se em tempos com D. Clementina e viveram uma história de amor impossível. Intransigente, de pulso forte, petulante e hipócrita, teme que o Liberalismo lhe retire o poder que sempre teve. Puxa o lustre à sua origem fidalga e ao casamento que lhe aumentou a influência. Teme a nova vaga de ideias de igualdade, pregando que só no sangue está a virtude. Não dispensa umas boas charutadas.

D. Clementina (Laura Soveral)
Amou em tempos o Abade, de quem teve duas filhas, Ricardina e Eugénia. Vive hoje em remorso, devido ao pecado que cometeu. Conhece os limites do marido. Não concorda com o casamento que Leonardo arranjou para Ricardina. Em sacrifício, aceita ser encarcerada no convento, pedindo à filha que adie os votos.

Ricardina (Filomena Gonçalves)
Filha mais nova do Abade e de D. Clementina. Romântica e determinada, ela será um dos eixos da intriga amorosa. Tem em Norberto um fiel aliado. Escreve as suas confidências num diário.

Eugénia (Manuela Marle)
Irmã mais velha de Ricardina. Queixa-se que a irmã seja a filha mais mimada pelo pai. Quer casar-se com um homem rico, bonito e fidalgo. Ao contrário da irmã, aceita casar com Luís Pimentel. Tem mais medo do que amizade em relação ao pai.

Família Pimentel

Sebastião Pimentel (Henrique Santos)
Irmão de D. Clementina. Tal como o resto da família, repudiou a irmã quando esta abandonou a Reboliça para se unir ao Abade. Considera o cunhado o seu principal antagonista e um ignóbil. Contudo, estrangulado pelas dívidas, pensa em casar os seus filhos com as primas, filhas do Abade. Alardeia as suas longínquas origens monárquicas e gaba-se da amizade que tem com o Conde de Basto.

Luís Pimentel (Carlos Quintas)
Um dos filhos de Sebastião. É um filósofo de clareza Aristotélica. É vegetariano, o que motiva a troça do Abade. Vai casar-se com Eugénia.

Carlos Pimentel (Jorge Gonçalves)
O outro filho de Sebastião. Amante das farras. Fica enlouquecido por Ricardina mas, não sendo correspondido, parte para Lisboa para esquecê-la e viver a vida.

Família Moniz

Silvestre Moniz da Fonte (Rogério Paulo)
Pai de Bernardo, António e Francisco. Personifica as correntes liberais moderadas. Teme pelo futuro. Humilde lavrador fez fortuna e teme que as ideias absolutistas o deixem na miséria.

D. Clara (Maria José)
Esposa de Silvestre. Quer que António seja padre.

Bernardo Moniz (Tozé Martinho)
Um dos filhos de Silvestre Moniz da Fonte. Jovem estudante de Direito, em Coimbra, com ideias avançadas para a época. Estudou pintura em Lisboa. Desenha as feições de Ricardina, com quem trocou olhares ao longe enquanto era pastor na meninice. Liberal radical, irá viver intensamente a sua paixão por Ricardina.

António (Guilherme Filipe)
Também tratado por Teólogo. Ao contrário dos irmãos, não está em Coimbra. Prepara-se para ser padre, sob a supervisão de Frei Roque, mas tem dúvidas acerca da sua vocação. Fascinado pelas ideias liberais que apreendeu dos livros dos irmãos.

Francisco Moniz (Luís Esparteiro)
Irmão mais velho de Bernardo. Liberal e médico. Preocupado com o futuro do país.

Família Vilalva

Juiz Vilalva (Jorge Sousa e Costa)
Marido de D Maria. Consente em que o futuro de José passe pela vila e não por Coimbra. Para ele a justiça está sempre acima da política.

D. Maria Vilalva (Linda Silva)
Mãe de José, por cuja felicidade é capaz de tudo. Sonha em dar um excelente partido ao filho, tendo uma intuição que raramente a trai. Dá excessivo crédito aos boatos de Zeferino. Mexeriqueira e temente a Deus, repudiará o seu mano Adolfo quando este se envolver com Honorata.

José Dias Vilalva (André Maia)
Filho do juiz Vilalva e de D. Maria Vilalva. É um dos mais devotos alunos de Teologia de Frei Roque. Apaixonado por Marta, sofre uma forte oposição por parte da mãe, que não admite o seu envolvimento com a “filha da Genoveva”, e passa, por isso mesmo, a namorar às escondidas. Grande amigo de António Moniz. Tem uma saúde enfermiça, com ataques de tosse e febrões, sucumbindo à tuberculose.

Adolfo (João Arouca)
Irmão de D. Maria, advogado romântico. Tem fama de nunca ter perdido um caso. Sente uma forte atração pela formosa D. Honorata, a quem aconselhará juridicamente no divórcio desta com o Major.

Família Prazins

Marta de Prazins (Maria José Pascoal)
Filha de Simeão de Prazins, é alvo dos olhares gulosos dos rapazes casadoiros da vila. Enfrenta um casamento que o pai lhe quer impor com Zeferino e sente um frémito para se atirar ao rio. Vive um grande amor escondido com José Dias Vilalva. A fama de a mãe, Genoveva, não ter sido boa rês precede-a.

Simeão de Prazins (Carlos Coelho)
Pai de Marta. Devido às suas dívidas e ambição desmedida, acaba por negociar o casamento da própria filha. É taberneiro, barbeiro e dentista do povoado. Não gosta que Marta ande sensual pelas mesas dos clientes ébrios e dá muito crédito aos mexericos de Zeferino.

Feliciano da Retorta (Carlos Gonçalves)
Irmão de Simeão, recém-regressado do Brasil, para onde foi há largos anos e onde fez fortuna – cerca de 300 contos. Fica com os olhos em chama ao conhecer a sobrinha, Marta.

Família Bezerra

Major Cristóvão Bezerra (Morais e Castro)
Velho fidalgo e major da Abrilada. É o regedor da aldeia onde a ação se localiza. Conservador, machista um pouco bruto e demasiado sensual. É hoje um homem sem grandes horizontes, obedecendo cegamente ao Abade. Bebe desalmadamente. Gosta de se aliar a quem está no poder.

D. Honorata (Manuela Carona)
Esposa do Major. Descendente de uma família de boa linhagem. Não suporta as bebedeiras do marido, que lhe transformam a vida num suplício, sendo vítima da violência do Major. Não vê grande futuro para as suas filhas, cujas escolhas amorosas reprova com veemência, repetindo vezes sem conta que são galdérias. Repete querer ir para Lisboa. Pensa em divorciar-se do Major.

Teresinha (Lena Coelho)
Filha de D. Honorata e do Major. No início da trama, namora um engenheiro das estradas. Pensa em conquistar o coração de um dos irmãos Pimentel, mas recua perante a pelintrice deles. Juntamente com a irmã, abala de casa para a pensão de Libânia. Sonha em tornar-se a dona do estabelecimento e, para tal, tenta descobrir algo que comprometa Libânia. Tem uma voz que rivaliza com a da dona da pensão.

Vevinha (Cristina Homem de Mello)
Filha do Major. Juntamente com a irmã, vai para casa de Libânia, onde ganha o dinheiro para ter os vestidos que os pais nunca lhe deram. Sem a ambição desmedida da irmã, deseja apenas viver um grande amor. Apaixona-se por Carlos Pimentel.

Outros personagens

Libânia Covas (Rita Ribeiro)
Dona da pensão da aldeia frequentada por parte do elenco masculino da trama funcionando como um bordel. É dotada de grande força e personalidade. Frontal, ela guarda no entanto um enigmático segredo. Viveu anos a fio em Coimbra e, volta e meia, queixa-se do atraso da terra onde se refugiou. Parece temer o poder do Abade.

Zeferino Lamelas (Carlos Areia)
Pedreiro intriguista e vingativo. Apaixonado por Marta, não consegue esconder o seu ciúme e, não olhando a meios para obter a mão da amada, torna-se aliado de D. Maria para retirar a “filha do taberneiro” do caminho de José. É afilhado do Abade.

Frei Roque (António Anjos)
Pároco e professor da aldeia. Por contraposição ao Abade, é meigo e ajuda os habitantes da aldeia, sobretudo os mais jovens, a resolverem os seus problemas.

D. Teresa (Lurdes Norberto)
Irmã do Frei Roque. Dá aulas às moças da aldeia, a quem ensina a ler e a escrever. É uma das aliadas de Marta no seu romance clandestino com José.

Norberto Calvo (Luís Alberto)
Criado da família do Abade. Vive em situação precária, em aperto financeiro. Goza de uma certa proteção de Ricardina. Tem um forte sentido intuitivo.

Tia Rosa (Maria Cristina)
Mãe de Norberto. Trabalha como cozinheira para a família do Abade.

Frazão (Manuel Castro e Silva)
Jagunço do Abade.

Torto (Jaime Espadinha)
Jagunço do Abade.

Alzira (Paula Marcelo)
Criada dos Vilalva.

Bernardete (Rosa Villa)
Criada dos Monizes.

Celeste
Criada do Abade.

Augusto Santos (José Raposo)
Caixeiro-viajante que, de terra em terra, vai vendendo as suas mercadorias. Tenta comprar quintas para Simeão.

Gaspar (Eduardo Viana)
Primo de Lamego do Abade. Acompanha Ricardina e Clementina na ida para o convento. Depois da morte de Clementina, quer retirar a prima do convento mostrando-se apaixonada por ela.

Irmã Isabel (Tareka)
Freira no convento que acolhe Ricardina e a mãe. Ajuda a filha de Clementina a fugir.

Alferes (Luís Mata)
Chega à vila para dar provimento à ordem do juiz de fora de Viseu para prender os estudantes da família Moniz. A conselho do Abade, vai prender o Major.

Amélia (Natália de Sousa)
Apaixonada perdidamente pelo Major, vem de Coimbra para viver com ele.

D. Efigénia (Fernanda Montemor)
Senhora brasileira viúva. Vive remoída de remorsos por não ter acudido à filha, que morreu de desgosto a seguir a um noivado imposto pelo pai. Não simpatiza com o procurador, embora este lhe pague a estadia de Ricardina, a quem acolhe em Lisboa como se de uma filha se tratasse.

Procurador (Filipe Aguiar)
Em representação dos Pimentéis, solicita a D. Efigénia que hospede Ricardina e se alheie do seu problema, não interferindo na sua ida para o convento.

Gouvinhas (Ladislau Ferreira)
Fidalgo do Porto. Vai-se casar pela quarta vez, oferecendo um justo dote pela mão de Teresinha, que acredita pertencer a nobre família.

1847 – Lisboa

Alexandre (João Baião)
Filho de Ricardina. Gaba a beleza da mãe. Procura emprego por a saúde financeira da mãe ser parca, mas não consegue nada. Estudou Direito em Coimbra, de onde saiu com prémios de melhor do curso. Sonha em escrever um livro.

Osório Mesquita (Rui Luís Brás)
Amigo de Alexandre, com quem estudou em Coimbra. Amante de boas farras, apaixonou-se por Matilde, a quem nunca esqueceu. Trabalha no Ministério da Justiça.

Matilde (Manuela Marle)
Filha de Eugénia e Luís. Obrigada pelo pai, casou com um Visconde de quem cedo enviuvou. Apaixona-se por Alexandre, sem saber que é seu primo.

Chica (Maria das Graças)
Criada de Matilde.

Conselheiro Albuquerque (Rogério Claro)
Amigo de Matilde. Visita-a regularmente à hora do chá, pondo-a a par do que se passa por Lisboa. Defende a rotação de governo entre os dois partidos.

Rita (Ana Rita Martinho)
Filha de Carlos e Vevinha.

1847 – Viseu

Veríssimo (Vítor de Sousa)
Antigo amor de Libânia. Aparece na aldeia fazendo-se passar por D. Miguel. Bem parlante e intrujão. Gaba os produtos nacionais. Na exibição pantomímica que monta, consegue mesmo iludir o Major Bezerra.

Torcato Nunes (Carlos Ivo)
Comparsa de Veríssimo. Usa a falsa identidade de Visconde de Gens. Leva o Abade à certa, propondo que seja Ministro da Guerra.

João Adolfo Silveira (Vítor Teles)
Recém-regressado da América, onde passou grande parte da sua vida, hospeda-se na pensão de Libânia. Misterioso e reservado, não revela os verdadeiros motivos que o trouxeram de tão longe.

Melro (Luís Mascarenhas)
Toma conta da taberna de Simeão. Ex-presidiário, conhecido por Alma Negra, faz alguns serviços sujos quando é bem recompensado.

Zefa (Lúcia Maria)
Nova criada do Abade. Amante de Melro. Alvo dos galanteios do falso D. Miguel.

Frei João (Carlos Duarte)
Frade que gaba a ajuda espiritual e material de D. Maria. Tem a fama de ter salvo várias almas com recurso ao exorcismo, tendo inclusivamente publicado um livro, que tenta impingir às beatas da aldeia. Tenta perceber o que atormenta a alma de Marta.

Frei Couto (João Rodrigo)
Amigo do Frei Roque. Absolutista convicto, ajuda a desmascarar o cambalacho do falso D. Miguel.

General Alves Vicente
Atendendo ao chamado do Abade, chega à aldeia com as tropas que pretensamente conduzirão D. Miguel de volta ao trono.

Adaptação de dois romances de Camilo Castelo Branco. O fio condutor era O Retrato de Ricardina (1868), tendo A Brazileira de Prazins (1882), um dos últimos romances do escritor, a função de acrescentar situações e personagens destinados a enriquecer a intriga. A RTP encomendou este projeto a fim de comemorar o centenário da morte daquele que foi um dos mestres da nossa literatura.

A ação abarcava um período que se estendia desde 1826 (morte de D. João VI) até 1847. A segunda fase, na qual alguns atores da primeira apareceram envelhecidos, preencheu os 20 últimos capítulos.

Tratava-se da segunda telenovela produzida pela Atlântida, produtora de Tozé Martinho. A primeira fora Palavras Cruzadas, exibida em 1987.

A adaptação quase literal foi uma tarefa algo complicada para os seus argumentistas, já que a história foi retirada de dois livros passados em épocas diferentes. Como confidenciou Ana Rita Martinho, “esse facto obrigou-nos a estudar a evolução histórica, de modo a que as obras se pudessem encaixar. Mas como as lutas entre liberais e absolutistas ocupam um grande espaço em termos de tempo, isso facilitou-nos um pouco a tarefa”. Manuel Arouca acrescentou: “Apesar de tudo, os romances encaixaram-se bem e pudemos criar diversas situações, já que, enquanto O Retrato de Ricardina dispõe de grande intensidade dramática, o outro romance é um relato irónico”.

O professor Alexandre Cabral, conhecedor de toda a obra de Camilo Castelo Branco, ajudou os autores a fazer a ligação das duas histórias.

Embora as histórias das protagonistas praticamente não se tocassem, as duas tiveram alguns encontros fortuitos, nos quais desabafavam acerca dos seus infortúnios amorosos.

O pedreiro Zeferino (Carlos Areia), pretendente não correspondido de Marta, era o elo de ligação entre os dois romances: na novela, tornou-se também afilhado do Abade, pai de Ricardina.

A gravação de cenas passadas em pleno século XIX exigiu cuidados especiais: não podiam constar pormenores atuais, tais como postes de iluminação, estradas alcatroadas, etc. Este problema foi resolvido através de filmagens em locais pouco utilizados. A equipa deslocou-se à Lagoa Azul, a Mafra, ao Sobral de Monte Agraço e a duas quintas na região de Sintra.

O exterior da casa do Abade era a capela da Quinta de São José, em Freiria.

Nas palavras de Tozé Martinho, a reconstituição histórica foi difícil, “mas contámos com o apoio de experts nas diversas áreas. Por exemplo, uma dessas pessoas é o António Casimiro, que fez há bem pouco tempo os cenários de O Primo Basílio [minissérie da Rede Globo], e outra é o maestro Jorge Matta, que depois de apurada pesquisa conseguiu recuperar músicas da época. O guarda-roupa foi também alvo de estudos em museus e na Biblioteca Nacional, a fim de que se cumprisse tudo com rigor”.

Todos os fatos, chapéus e vários adereços tiveram de ser confecionados propositadamente para a novela, uma vez que já não se encontrava esse tipo de vestuário.

Os cenários de interiores foram desenhados pelo arquiteto Tomás Taveira.

A produção teve alguma dificuldade em adquirir o papel de parede que revestia o interior das casas daquela época, um papel cuja face à vista era constituída por padrões de tecido. Explicou Tozé Martinho: “Para o encontrarmos tivemos de percorrer uma série de lojas e armazéns. Por fim, conseguimos o que pretendíamos numa loja do Norte, onde o vendedor já nem se lembrava da sua existência. No entanto, isso até foi muito bom, porque ele nos vendeu todo o stock ao preço daquela época. Um resultado, que, assim, se tornou bastante lucrativo”.

Alguns objetos eram fáceis de encontrar, mas a maior parte deles pertencia a museus ou a colecionadores que não autorizavam a sua utilização, por temerem que eles se danificassem. Um pormenor que deu algumas “dores de cabeça” refere-se ao piano daquele tempo, que existia na pensão de Libânia (Rita Ribeiro), e que também causou grandes dificuldades para ser obtido.

Ainda a propósito da parte musical: durante a sua pesquisa, o maestro Jorge Matta descobriu alguns originais nunca apresentados antes, como era o caso das “Modinhas Brasileiras”, que foram divulgadas pela primeira vez em interpretações de Rita Ribeiro e Lena Coelho.

Morais e Castro acumulou o papel de Major Bezerra com a direção de atores.

A novela chegou a ser anunciada pela imprensa com os títulos de O Retrato de Ricardina e Marta e Ricardina.

Tudo indicava que Ricardina e Marta iria substituir Passerelle no horário nobre da RTP 1. Contudo, a novela que lhe sucedeu foi a brasileira Sassaricando, o que gerou alguma revolta entre os atores da nossa praça.

Ricardina e Marta viria a estrear meio ano depois, com exibição apenas aos domingos à tarde, em episódios triplos, como se de uma série se tratasse. A partir de 27/01/1990, passou para os sábados, dia em que se manteve até ao final.

No primeiro episódio de Pisca-Pisca, Cabrita (Armando Cortez) faz referência a Camilo Castelo Branco, dizendo que “andam aí a fazer novelas com bocados de coisas do homem”. Curiosamente, Ricardina e Marta estreou no dia exatamente a seguir a Pisca-Pisca.

Primeira experiência de Lena Coelho (ex-Doce) enquanto atriz, num interessante desempenho como a ambiciosa Teresinha. O ator Carlos Coelho, seu pai, integrava também o elenco, no papel do taberneiro Simeão.

Manuela Marle interpretou duas personagens: Eugénia na primeira fase e a sua filha Matilde na segunda.

Eugénia
Matilde

Numa emissão do programa Você na TV (TVI), em 2011, Manuela Marle comentou, em tom de brincadeira, ter sido a responsável pelo primeiro beijo em cena de João Baião, que demorou mais de uma hora a ser gravado.

O genérico mostrava retratos dos principais personagens, executados pelo pintor Ambar.

Apesar de todos os predicados, Ricardina e Marta sofreu duras críticas por parte da imprensa. O Diário de Lisboa, por exemplo, chegou a colocar comentários pejorativos acerca da novela na página da programação.

No nosso entender, merece nota de louvor a aposta da RTP em ter trazido para o pequeno ecrã o retrato de um Portugal do século XIX, dividido entre liberais e absolutistas, numa época em que a produção nacional ainda gatinhava e dispunha de parcos recursos, conseguindo fazer com êxito a sua primeira novela de época.

Ricardina e Marta mostrou-se uma telenovela interessante de seguir, com sucessivos momentos que provocaram o riso a quem assistia. Destacou-se, nesse particular, o desempenho excelente de Jacinto Ramos, que moldou o seu Abade de Espinho com a dose certa do sarcasmo que o personagem pedia. Igualmente digna de crédito foi a representação de D. Maria, a cargo de Linda Silva.

Jacinto Ramos
Linda Silva

Alguns atores que apareceram creditados acabaram por não participar na novela, tendo os seus personagens sido entregues a outros intérpretes. Foi o caso de Alda Pinto (D. Efigénia), Alexandre de Sousa (Veríssimo) e Luís Lucas (Alexandre).

A personagem Libânia (Rita Ribeiro), com pouco destaque na obra de Camilo Castelo Branco, ganhou espaço na telenovela, tornando-se na favorita de Manuel Arouca: “Há muitas personagens femininas fortes nesta novela, casos de Ricardina e Marta, mas gosto, em especial, da Libânia. Não é, de facto, uma das personagens centrais, mas, ocupando em A Brasileira de Prazins apenas duas ou três linhas do romance, representou da nossa parte um grande investimento criativo. Como escritor, isso deu-me muito gozo. Além de ter sido superiormente representada pela Rita Ribeiro”.

Já em relação a personagens masculinos, elegeu José Dias, “porque, como ele, também estive tuberculoso. Houve uma grande identificação”.

Ricardina e Marta foi reposta nas manhãs da RTP 1, entre 16/09/1991 e 24/01/1992.

A novela encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

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Ricardina e Marta