Rainha da Sucata

Exibição:
14/11/1991 – 02/06/1992 (RTP 1)

Número de capítulos:
140

Produção:
Rede Globo (1990)

Novela de:
Sílvio de Abreu

Direção geral:
Jorge Fernando

Maria do Carmo Pereira (Regina Duarte) é uma empresária de grande sucesso no ramo do comércio automóvel. No entanto, tem a frustração de carregar o apelido de “rainha da sucata” desde os tempos da escola, devido às origens humildes dos seus pais, Onofre (Lima Duarte) e Neiva (Nicette Bruno). Numa situação oposta, está Laurinha Figueiroa (Glória Menezes) que, muito embora esbanje tradição e prestígio, se encontra totalmente falida. Em comum, ambas nutrem um sentimento muito forte por Edu (Tony Ramos), enteado de Laurinha, que humilhou Maria do Carmo na adolescência.

Edu e Maria do Carmo no baile de formatura

E é justamente devido a essa situação difícil que Edu se tenta suicidar, atirando-se do prédio onde funcionam os escritórios de Maria do Carmo e uma casa noturna, o seu mais recente investimento. Esta é a oportunidade para os dois se reencontrarem, para desespero de Laurinha, principalmente porque um relacionamento amoroso mais sério começa a nascer entre os antigos colegas.

Edu entre Maria do Carmo e Laurinha

Os dois chegam a casar-se, mas, na noite de núpcias, o playboy rejeita o amor da sucateira, alegando que o matrimónio não passou de um negócio para ele se salvar da falência e ela aceder à melhor sociedade paulistana.

O casamento de Edu e Maria do Carmo

Entretanto, não é só Laurinha que Maria do Carmo tem de enfrentar. Renato (Daniel Filho), o braço direito do velho Onofre, sabe que este depositou uma fortuna num banco suíço e, vendo-se preterido por Maria do Carmo, resolve dar um golpe mais ousado. Tendo em seu poder o testamento de Onofre, onde este perfilha Caio (António Fagundes) e Mariana (Renata Sorrah), aproveita-se da fragilidade desta última para a seduzir e casa-se com ela, planeando assassiná-la mais tarde.

Mariana e Renato

Por outro lado, dona Arménia (Aracy Balabanian), uma vizinha invejosa, consegue provar que os empreendimentos de Maria do Carmo foram construídos por Onofre sobre um terreno que lhe pertence e ameaça demolir tudo.

Dona Arménia

Pressionada por todos os lados, Maria do Carmo acaba por perder as ações da sua empresa e, sem saber onde está o dinheiro escondido pelo pai, fica arruinada. Dona Arménia assume o comando dos negócios, mas a sua administração é desastrosa.

Enquanto isso, Edu é enganado pelo seu sócio e arrepende-se de ter maltratado Maria do Carmo, aumentando o ódio de Laurinha, que, no auge da maldade, chega a matar o próprio marido (Paulo Gracindo) com o intuito de se entregar ao enteado. O seu destino, porém, não é dos melhores: chantageada pela cunhada Isabelle (Cleyde Yáconis), a dondoca suicida-se, atirando-se do mesmo prédio onde Edu tentara pôr termo à vida meses antes. Contudo, antes de consumar o ato, chama Maria do Carmo ao terraço do edifício e agride-a, arrancando-lhe um dos brincos para que se pense que a sucateira a assassinou.

O suicídio de Laurinha

E, com efeito, Maria do Carmo é e acusada de ter provocado a morte de Laurinha. Será Edu quem a ajudará a provar a sua inocência, já que Renato, a única testemunha da ocorrência, também se suicida, na sequência de uma perseguição policial.

Por fim, dona Arménia passa para o nome de Maria do Carmo o número suficiente de ações para que esta volte a liderar os seus negócios, agora ao lado de Edu, com quem se reconcilia definitivamente.

Felizes para sempre...

Um grande sucesso de audiências, Rainha da Sucata foi uma das últimas novelas, senão a última, a conseguir um share superior a 95% ao longo de toda a sua exibição. Indo ao ar no primeiro canal e no horário de maior audiência, jamais teve a concorrência da televisão privada, que, ainda em 1992, começou lentamente a conquistar o público fiel da RTP.

Estreando em substituição de Sassá Mutema (O Salvador da Pátria no Brasil), Rainha da Sucata era anunciada nas chamadas da RTP como uma novela assinada por “Sílvio de Abreu, o autor da Guerra dos Sexos”. E, com efeito, nos primeiros capítulos, o estilo adotado assemelhava-se bastante ao das suas obras anteriores, com predominância da comédia em detrimento do drama.

Importa acrescentar que o público português, ao contrário do que ocorreu no Brasil, não estranhou a ausência de melodrama no início de uma novela exibida no horário nobre. O facto de Rainha da Sucata apostar fortemente no humor foi, aliás, um chamariz para a audiência, que, em média, subiu em relação à produção exibida no mesmo horário anteriormente. Saliente-se, a este propósito, que, dois anos antes, também às 20:30, a RTP 1 tinha apresentado a comédia Sassaricando, registando uma das maiores audiências desde que a audimetria passou a ser publicada.

E em Rainha da Sucata foram, seguramente, as personagens humorísticas aquelas que registaram maior repercussão.

Falamos, em primeiro lugar, de Dona Arménia (Aracy Balabanian), a vizinha de Maria do Carmo que queria implodir o edifício da Avenida Paulista onde funcionavam os escritórios da Do Carmo Veículos, ameaçando aos sete ventos pôr “a prédio na chon”. Esta expressão caiu nas bocas dos portugueses e ainda hoje é conhecida por todos os que assistiram à telenovela.

Dona Arménia

O triângulo composto por Caio (António Fagundes), Adriana (Cláudia Raia) e Nicinha (Marisa Orth) também obteve um notável sucesso, tanto que, passados quase três anos, uma dupla de concorrentes do Pátio da Fama reproduziu uma cena protagonizada pelo professor e pela bailarina da coxa grossa.

Adriana e Caio
Caio e Nicinha
Cena de Caio e Adriana no 1.º programa de Pátio da Fama (11/07/1994)

De igual modo, a rivalidade entre Maria do Carmo (Regina Duarte) e Laurinha (Glória Menezes) prendeu fortemente o público, sendo o melhor momento da novela o suicídio da grande vilã, que arranca o brinco da heroína para que ela seja acusada de a ter assassinado.

Laurinha e Maria do Carmo

Outro ponto interessante é o facto de grande parte das músicas ouvidas durante Rainha da Sucata serem retiradas de bandas sonoras de filmes, que passaram muito mais do que qualquer tema do disco que à data foi lançado.

Depois de Guerra dos Sexos, esta é talvez a novela onde encontramos mais referências cinematográficas, a começar justamente pelas músicas de filmes conhecidos, que passavam várias vezes por capítulo, principalmente na fase em que o drama ganhou um maior destaque. A título de exemplo, podemos citar algumas faixas de O Homem Elefante (que também já tinham aparecido em Ciranda de Pedra), de Fahrenheit 451, de Altered States ou de Voyage of the Damned (que embalaram, do mesmo modo, muitos capítulos de Pai Herói).

A inspiração na sétima arte encontra-se também em muitas cenas criadas a título de homenagem, como é o caso da humilhação sofrida por Maria da Carmo na adolescência (vide Carrie de Bryan de Palma), da morte de Renato Maia (White Heat de Raoul Walsh), ou das fantasias de Mariana com as personagens dos filmes (A Rosa Púrpura do Cairo de Woody Allen). Em outra ocasião, a paixão de Laurinha por Edu é comparada por Isabelle com o drama de Fedra (peça de Racine, baseada no mito grego, que inspirou o filme de Jules Dassin) e a sua decadência merece uma referência ao delírio de Norma Desmond em Crepúsculo dos Deuses, numa cena em que é ouvido o tema principal do filme de Billy Wilder.

Não passaram despercebidas as origens de Maria do Carmo, que era filha dos portugueses Onofre e Neiva Pereira. Esta última fala algumas vezes de Portugal, lembrando-se inclusivamente de umas primas que moram na Serra da Estrela.

Onofre e Neiva

Laurinha e Jonas (Raul Cortez) também se referem a terras lusas em outra passagem: Jonas diz que trabalhou para alguém “no Alentejo, em Lisboa” e Laurinha, irritada, responde-lhe que sabe muito bem onde fica o Alentejo.

Durante a transmissão da novela, para além do disco que acima mencionámos, também foram comercializados vários discos e cassetes com regravações das músicas da banda sonora.

O tema de abertura, interpretado por Sidney Magal, também apareceu à venda em single.

Merece ainda menção uma caderneta editada pela Impala, com uma ficha de todas as telenovelas exibidas até à altura, incluindo Rainha da Sucata. Os cromos eram publicados semanalmente na revista TV 7 Dias.

No Natal dos Hospitais de 1991, foram transmitidas mensagens de boas festas gravadas por José Wilker, Cláudia Ohana, Lima Duarte e Glória Menezes. Esta fez questão de esclarecer que não era Laurinha Figueiroa.

Em Canidelo, Vila Nova de Gaia, durante a década de noventa, existiu um estabelecimento dedicado ao comércio de metais chamado Rainha da Sucata, facto que pode ser corroborado através da consulta ao diretório de empresas Gescontact. Neste mesmo website, bem como no Portugalio, encontramos uma outra empresa do mesmo setor, localizada em São João de Ver (Santa Maria da Feira), mas bastante mais recente, com a mesma designação.

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