A Febre do Ouro Negro

Exibição:
08/01/2001 – 16/04/2001 (RTP 1)

Número de episódios:
13

Autoria:
Felícia Cabrita

Argumento e diálogos:
Júlia Pinheiro
Manuel Arouca

Música original:
Paco Bandeira

Produção:
Paula Nascimento

Realização:
Wilson Solon

Elenco:
António Pedro Cerdeira – Eduardo Covas
Filipe Duarte – Chico Perigoso
Adelaide Sousa – Isaura
Patrícia Bull – Maria
José Wallenstein – Wulf
Adriano Luz – Ricardo
Natália Luiza – Adelaide
Diogo Morgado – Bob Cartland
António Melo – António
João Lagarto – Vergaça
Mafalda Vilhena – Clara
Cristina Carvalhal – Leonor
Rodrigo Névoa – Chiquinho
Margarida Carpinteiro – Deolinda
Luís Zagallo – Abade Manuel
Cucha Carvalheiro – Beata
Gonçalo Diniz – Capataz
João Mota – Reinaldo
Figueira Cid – Justino
Teresa Gafeira – Celeste Cavalona
Cândido Ferreira – Oliveira Grosso
Carlos Curto – Dente de Ouro

Elenco adicional:
Anett Bohme
Augusto Portela – Guarda
Bruno Bravo
Carla Chambel – Isilda
Carla Torres
Carlos Oliveira
Dinarte Branco
Fernando Lupach
Fernando Pessa (voz off)
Fernando Sena
Flávia Gusmão – Amélia
Henrique Espírito Santo – Jacinto
Henrique Pinho
Hugo Sequeira
Isabel Alarcão – Zulmira
Isabel Praça
Jorge Loureiro
José Agostinho
José Eduardo – Médico
José Mora Ramos – Olho de Boi
José Rui Martins
Luís Monge
Manuel Castro e Silva – Guarda
Manuel Mendes – Augusto
Margarida Reis – Mãe de Chiquinho
Mariana Coelho
Marques d’Arede – Inspetor Flores
Miguel Moreira
Olga Souto
Patrícia Abreu
Paulo Patraquim – Bernardino Covas
Pedro Oliveira
Pedro Pinheiro – Marido de Deolinda
Pompeu José – Pai de Chiquinho
Raquel Dias – Inácia
Ricardo Gageiro – Agente
Rogério Jacques – Cabo da GNR
Sérgio Grilo – Bandido
Teresa Madruga – Madre
Ulisses Victor
Vítor Santos

Com a Segunda Guerra Mundial em ebulição, desenfreava por Portugal, na zona das Beiras, faiscante corrida ao volfrâmio. Sem cortina de fumo, aliados e alemães lançavam-se pelas serras à procura do importante minério com que endureciam o armamento, numa guerra em que Portugal assumia uma posição neutral.

O volfrâmio tornara-se tão precioso como o ouro, de tal forma que os proprietários das minas castigavam ferozmente qualquer mineiro que desviasse uma pequena porção em seu proveito. Por isso mesmo, era conhecido por “ouro negro” e punha toda a gente em alvoroço, à procura de enriquecer com a sua abundância nos solos beirões. Várias famílias camponesas, por vezes aldeias inteiras, trocaram a enxada pela picareta, aspirando a uma vida melhor. Muitos prosperavam explorando os outros ou traficando minério no mercado negro. Mas, para a maioria, a mina significava uma vida de escravidão, miséria e doença. Muitos mineiros morriam com silicose. Paralelamente, floresciam os mais diversos negócios, como o da prostituição, e o valor do dinheiro falava mais alto que todos os outros, incluindo o da vida humana. “Na terra da fortuna só se safa quem se fizer surdo e cego à lei”: esta era a regra de ouro a seguir por quem queria sobreviver e prosperar neste território.

Para tentar fortuna bastava não ter escrúpulos e ter, isso sim, um bom sentido de oportunidade. Chico Perigoso (Filipe Duarte) tinha todas essas características, além de um jeito danado para o negócio. Chamado pela tentação do enriquecimento fácil, desembarca na “terra prometida”, trazendo a mulher, Isaura (Adelaide Sousa), a tiracolo. Chico era um próspero negociante de gado, lá por Viana do Castelo, mas queria mais, muito mais. À chegada, causa desde logo espanto: não quer ser transportado na camioneta que leva os trabalhadores para as minas, por não se considerar gado. Atento, o alemão Wulf (José Wallenstein), um alemão seráfico, de sotaque marcado, fica com a mostarda no nariz e promete domar o recém-chegado o mais depressa possível. Com falas mansas, Chico vai entrando no coração do “filósofo” António (António Melo), o taxista do lugar, que além de vivos transporta os feridos, os combalidos e os mortos. Com sentido de oportunidade apurado e com a sorte a conspirar para o seu lado, Chico conquista o afeto de Joaquim Capataz (Gonçalo Diniz), um dos lugares-tenentes de Wulf, ao transformar Isaura em parteira, no parto improvisado da filha do homem de mão do alemão.

Isaura e Chico

Novas na vila são também Adelaide (Natália Luiza) e as suas meninas, meretrizes vindas do Porto, que tentam a sua sorte na zona das Beiras. Atraída pelas histórias de ouro e de champanhe, Adelaide depressa arranja petit nom que a torna conhecida: Madame La Chienne, por se considerar a rainha dos “cães” que, à noite, exaustos das minas, procuram um outro “osso”: o das carnes femininas, negócio onde prospera.

Nas terras delimitadas pelo domínio alemão, trabalha Grosso (Cândido Ferreira), o taberneiro local, cuja filha Maria (Patrícia Bull) é alvo de todos os olhares e tentações. Até mesmo o inglês Bob Cartland (Diogo Morgado), o filho do dono das minas do lado inglês, sente o coração aos pulos pela beleza de Maria. A jovem, de má fama, não escapa à língua viperina das beatas, que não lhe perdoam a cor da pele e o passado da mãe, que ficara pelo Brasil, desamparando o tasqueiro e a filha. Com um mundo de luxo e de conforto nunca antes visto, a entrar de rompante por ali dentro, Maria anseia pelas coisas que o dinheiro pode comprar. Por isso, apesar de estar apaixonada pelo mineiro Eduardo Covas (António Pedro Cerdeira), deixa-se cortejar por Bob, que é rico.

Bob e Maria

Covas, aflito com o número crescente de mineiros atacados pela silicose, vê a situação de perto quando a doença ataca gravemente o seu irmão Bernardino (Paulo Patraquim) e, para o tratar, necessita do dinheiro que não tem. Os problemas não amainam, e a intolerância e a insensibilidade de capatazes e de patrões criam mal-estar entre os mineiros descontentes. Com a tentação de fazer fortuna à socapa, e desesperado, Covas tenta a sua sorte: juntamente com Olho de Boi (José Mora Ramos), delapida parte do minério de Wulf, num plano urdido por Chico, folgazão e vaidoso, a arrebanhar fatia de canhão do roubo. Passando em brancas nuvens, Chico molda discurso junto a Wulf de que ele nada tivera a ver com o roubo. O alemão, farisaicamente, percebe o seu jogo e aceita jogá-lo, exigindo em troca cabeça para colocar no cepo. Providencialmente, no bolso de Covas é encontrado um filão do minério que o culpabiliza e o atira para cenário dantesco de tortura, na prisão. Mas Chico junta ainda mais drama à situação: encurralado perante a ameaça do mineiro de dar com a língua nos dentes, põe as culpas em Olho de Boi. A acusação liberta Covas e mata Olho de Boi. Inexorável é o destino de Bernardino, que Covas encontra já morto em casa. Solto da emboscada em que Chico o metera, Covas jura vingança.

Covas é interrogado por Wulf

Enquanto isso, Chiquinho (Rodrigo Névoa), rapaz vagabundo, filho de pai bêbado (Pompeu José) e de mãe lavadeira (Margarida Reis), que mata a sede dos mineiros com limonada – mesmo que às vezes seja feita de limões podres –, tenta lançar-se à aventura de procurar filões que lhe permitam enriquecer. Covas, que é seu amigo, tudo fará para evitar que Chiquinho vá parar à mina…

As transações do volfro fazem-se em “terra de ninguém”, no neutral Café Viriato, onde os negócios por cima e por debaixo da mesa são regados a champanhe. Justino (Figueira Cid), o seu empregado, ostenta orgulhosamente a bandeira branca do lugar, uma espécie de Tordesilhas na vila, dominada por aliados e germânicos. É lá que o conciliador juiz Reinaldo (João Mota) compra o chocolate Imperial, com o qual se delicia a sua sensual esposa Clara (Mafalda Vilhena). Sem que o juiz saiba, Clara mantém uma relação com o cunhado Ricardo (Adriano Luz), apoiante dos aliados e fã de Camões, que tem um casamento mortiço com Leonor (Cristina Carvalhal), filha de um taberneiro, que contribuiu para um ambiente de paz podre entre os dois irmãos.

Com a tensão em cacharolete, Covas e Chico entram numa perigosa guerra de poder, num autêntico “salve-se quem puder”. E, querendo manietar Covas, Chico investe, bêbado, na corte a Maria. Achando-se irresistível, deixa Covas colérico, não tardando a explodir luta física entre ambos.

Para trazer mais clientela ao bordel, Adelaide une-se a Chico e ambos urdem atração que coloca a casa em revolteio: mulheres casadas começam a desempenhar a função. Destacar-se-á a presença de Clara, de quem Ricardo se servira para favores carnais, e os lascivos e insinuantes gritos de Celeste Cavalona (Teresa Gafeira), a mulher do bruto Vergaça (João Lagarto), que à custa de vergastadas mantém ordem na Casa das Ratas – o local onde os presos são torturados.

Celeste e Vergaça

Os alemães, decididos a encurtar o tempo de escoamento do volfrâmio, querem construir uma estrada que ligue diretamente as minas aos locais de carga, galgando passo acelerado para vencerem a guerra. Os ingleses têm ideia análoga, e em gelo ficam-lhes as veias quando Salazar decreta a tabulação de preços, emagrecendo-lhes em muito os lucros. Com a ruína à vista e o negócio a passar a ser visto como sendo pouco proveitoso, novo drama se atira à trama: a morte de Bob. Fora visto no Café Viriato a comprar chocolates, que mais tarde ofereceu a Maria. Esta fora a última pessoa a ver o britânico com vida, o que a transforma na principal suspeita do crime. A jovem, em tremuras, tensa debaixo de inquérito policial comandado pelo inspetor Flores (Marques d’Arede), aponta acusador dedo a Chico Perigoso. Logo a Polícia se põe à sua procura, ele que jura inocência e tem um alibi à prova de bala: não estava por ali no dia em que Bob foi morto, mas sim no Porto.

Temendo o futuro, Maria aperta com Covas para desertarem o mais rapidamente possível, mas o mineiro bate o pé e faz pirraça: até encontrar o filão, não sai dali…

Covas e Maria

Estas são algumas das histórias que se desenrolam num cenário onde todos procuram ganhar dinheiro, mas só alguns o conseguem. Onde, atraídos pela miragem do dinheiro, tantos homens, mulheres e crianças descem às minas e só encontram a doença e a miséria. Atores indiferentes à peça que se desenrolava numa Europa a ferro e fogo, em que participavam sem disso terem consciência…

Maria (Patrícia Bull)
Filha do taberneiro local, é a jovem mais disputada da terra, olhada com desdém pelas beatas de fervor religioso e com desejo por quem a vê na tasca do pai a servir às mesas. Gosta de dinheiro, por isso sente-se dividida entre Covas, o mineiro por quem está apaixonada, e o pecunioso Bob, que a alicia com chocolates.

Eduardo Covas (António Pedro Cerdeira)
Mineiro na mina do alemão, veio de Cinfães à procura de riqueza, mas os pulmões enegrecidos dos mineiros e as constantes secreções tornaram-no um dos cabecilhas do protesto por melhores condições. Quando o destino lhe prega uma partida e o seu irmão Bernardino sucumbe, agita em si o desejo de enriquecer com o minério e casar com Maria, por quem o seu coração derrete.

Chico Perigoso (Filipe Duarte)
O apelido não é fruto do acaso e cola-se-lhe à personalidade. Bêbado ou sóbrio, é mesmo perigoso! Desceu de Viana – onde negociava gado – para as Beiras, para testar a sua sorte e perícia na corrida ao volfrâmio. Depressa se torna candongueiro e prospera. O pai fora padre e vestia os defuntos; ele pegou-lhe o linguajar e, amiúde, papagueia a palavra do evangelho. Homem sem escrúpulos, mulherengo, o seu único receio são as almas penadas.

Isaura (Adelaide Sousa)
Mulher de Chico, a quem chama de “cabo dos trabalhos”. Vive para o marido, embora deteste a sua ganância, e para ajudar os outros. Temente a Deus, vai regularmente à missa, não deixando de reprimir os sonhos de grandeza de Chico, tentando colocar-lhe os pés no chão. Torna-se a confidente de Maria.

Grosso (Cândido Ferreira)
Pai de Maria. Dono de uma taberna junto às minas dos alemães. Foi abandonado pela mulher, que fugiu para o Brasil.

António (António Melo)
Dono do único táxi da terra, que também serve de carro funerário e de ambulância. Especialista no transporte de minério roubado. É o primeiro a cair nas boas graças de Chico. Gosta de uma boa conversa e de largar palpites sobre tudo quanto ouve. Por ter palavra atrelada à língua, é tido como o “filósofo”.

Ricardo de Magalhães (Adriano Luz)
Filho de aristocratas arruinados, tudo nele é simulação e recalque. Lutou contra o preconceito da família, que o repudiou por se ter casado com uma plebeia, filha de taberneiro. Tem um fervor pela poesia de Camões, que verte para as suas apaixonadas cartas. Tem um caso com a cunhada, Clara, mas deseja livrar-se dela. Opositor do regime, diz-se fiel à aliança luso-britânica, sendo amigo do pai de Bob.

Leonor (Cristina Carvalhal)
Mulher de Ricardo, de quem aceita tudo com complacência, não desconfiando da sua infidelidade.

Reinaldo de Magalhães (João Mota)
Afamado e respeitado, é o juiz da comarca e um fidalgo sem mácula. Parece ter alguma dificuldade em impor-se, estando sempre em luta constante pelo consenso. Irmão mais velho de Ricardo, não lhe perdoa o casamento, que, segundo ele, colocou o bom nome da família na lama.

Clara (Mafalda Vilhena)
Mulher de Reinaldo. Não o ama, caindo em perdição por Ricardo. Por ele, seria capaz de entregar a alma ao diabo. Não percebe nem desconfia que é um isco nas mãos do cunhado, que usa as suas formas sensuais como atração para lhe ensarilhar a vida.

Adelaide (Natália Luiza)
Prostituta de alta roda. Ao reformar-se, abandona o Porto para abrir um prostíbulo na zona das minas, ambicionando ganhar muito dinheiro. Querendo dar-se ares de fina, decide passar a chamar-se “Madame La Chienne”. A grande atração da sua casa são as mulheres casadas. Mercantilista e cínica, torna-se aliada de Chico Perigoso.

Isilda (Carla Chambel)
Uma das meninas do bordel de Adelaide. Pispineta, não acha graça a nada nem a ninguém.

Amélia (Flávia Gusmão)
Outra das acompanhantes de luxo de Adelaide. Religiosa, mais sociável do que Isilda, sente-se infeliz na vida que leva. Deseja ter um homem e uma família.

Franz Wulf (José Wallenstein)
Alemão de sotaque carregado, é o dono de uma das minas e o principal explorador do volfrâmio. Manda revistar os trabalhadores e tortura todos os que prevaricam. Todos o temem, embora o tratem com reverência. Rapidamente vê em Chico um inimigo – ou alguém que lhe pode complicar a vida – e promete domá-lo.

Joaquim Capataz (Gonçalo Diniz)
Homem de mão de Wulf, pouco complacente com os deslizes. Gosta de beber na tasca de Grosso. Chico cai-lhe nas boas graças ao ajudar no parto do seu filho.

Bob Cartland (Diogo Morgado)
Filho de Charles Cartland, dono das minas de Regoufe. A doença do pai atira-o para primeiro plano, passando a ser ele a comandar os destinos das minas e a bater de frente com os alemães. Apaixona-se por Maria e, decidido a conquistá-la, oferece-lhe chocolates.

Abade Manuel (Luís Zagallo)
Pároco local. Para ele, oração e não faltar à santa missa são as principais virtudes que todo o bom cristão deve possuir.

Vergaça (João Lagarto)
Homem violento, recrutado sempre que é necessário torturar algum preso na Casa das Ratas. Resolve à custa de pancada todos os problemas em que se vê envolvido. Uma rixa deixou-o coxo. Procura a mulher com pouca frequência, para descontentamento dela.

Celeste (Teresa Gafeira)
A mulher de Vergaça, que o marido trata à base de pancada. Trata do gado e, excitada, é capaz de berrar, esganiçada de prazer.

Chiquinho (Rodrigo Névoa)
Rapaz que vive perto das minas e que mata a sede aos mineiros com a sua limonada (por vezes feita de limões podres). Muito amigo de Covas, que tenta demovê-lo de se infiltrar no “circuito do volfro”, temendo pela sua vida. Incentiva o romance do amigo com Maria, ajudando-o a encontrar o filão.

Mãe de Chiquinho (Margarida Reis)
Lavadeira, tem uma vida desgraçada. Devota e temente, vai pedindo para que o filho se ponha a salvo dos perigos.

Pai de Chiquinho (Pompeu José)
Trabalhador nas minas. Bêbado e ávido por dinheiro.

Beatas (Cucha Carvalheiro / Margarida Carpinteiro)
Tementes a Deus e clientes assíduas da santa missa. Persignam-se por tudo e por nada, espreitando constantemente a vida alheia.

Justino (Figueira Cid)
É o empregado do Café Viriato, onde decorrem os concílios de negociação do volfrâmio, regados a champanhe. Mexeriqueiro, faz gala em exibir a sua neutralidade, tendo sempre palavra a dizer sobre tudo e todos.

Bernardino (Paulo Patraquim)
Irmão de Covas. Está gravemente doente, com silicose, mas continua a trabalhar na mina, para conseguir sustentar-se.

Olho de Boi (José Mora Ramos)
Mineiro, amigo de Covas e um dos que reclamam das precárias condições a que são expostos na mina do alemão. Aliciado por Chico, entra no roubo do filão, acabando por morrer, traído pelo perigoso explorador.

Dente de Ouro (Carlos Curto)
Homem rude que trabalha nas minas. Líder de um grupo que persegue Chiquinho.

Zulmira (Isabel Alarcão)
Empregada de Reinaldo e Clara.

Agente (Ricardo Gageiro)
Ao serviço da Polícia do Estado, vai fiscalizar se as ordens de Salazar em tabelar o preço do volfrâmio estão a ser cumpridas.

Inspetor Flores (Marques d’Arede)
Pragmático e sem rodeios, chega à vila, vindo do Porto, a fim de investigar a morte de Bob. É um velho conhecido de Adelaide.

Doutor (José Eduardo)
Médico que diagnostica Clara, revelando a Reinaldo que ela está grávida.

Madre Mariana (Teresa Madruga)
Religiosa que, a pedido do abade, acolhe Clara no convento.

1. (08/01/2001)
Na rua principal pára uma camioneta. De lá saem Chico Perigoso e Isaura, que, depois de uma longa viagem, chegam finalmente à terra prometida. Isaura olha assustada em seu redor, enquanto Chico aprecia um carro de boa marca que entra na vila e garante-lhe que um dia ele será proprietário de uma máquina daquelas. Isaura e Chico deixaram para trás Viana e um próspero negócio de gado. Renderam-se ao volfrâmio e ao sonho de enriquecer depressa. Também Madame La Chienne e as suas meninas – Amélia, Isilda e Inácia – resolveram tentar a sorte na zona das Beiras. Com os ouvidos cheios de histórias de ouro e champanhe, não hesitam em deixar a cidade do Porto. Na aldeia, aliados e alemães dividem a exploração do minério, exploração essa que emprega muita gente ansiosa de enriquecer. Vindos de todas as partes, homens, mulheres e crianças amontoam-se nas camionetas em direção às minas de volfrâmio, mas “na terra da fortuna só se safa quem se fizer surdo e cego à lei”. Apesar de ter chegado há pouco tempo, Chico faz questão de marcar pela diferença e recusa-se a entrar na camioneta: não quer ser tratado como gado, preferia que o levassem de carro. Wulf, responsável pela exploração de volfrâmio do lado alemão, sabe que é apenas uma questão de tempo até que o consiga domar. António, taxista, tem uma das funções mais importantes na aldeia. O seu táxi transporta feridos e mortos, mas também serve de hospital quando este se encontra afastado. A mulher de Joaquim Capataz está prestes a dar à luz e é no táxi, com a ajuda de Isaura, que nasce o seu filho. Quando não estão a trabalhar nas minas, muitos mineiros passam o tempo na tenda do Grosso, onde Maria, a filha, desperta a atenção de todos os homens. Embriagado com a sua beleza, Bob Cartland, filho de um negociante de volfrâmio, nem reparou que estava do lado inimigo. Mas Maria parece não reparar nestas manifestações de interesse: é fiel a Eduardo Covas, que ganha a vida como mineiro. Depois de ouvir a conversa entre Covas e Olho de Boi, sobre a quantidade de volfrâmio encontrado nesse dia, Chico Perigoso pensa que aquele filão há-de ser todo para si.


2. (15/01/2001)
Chico tenta arranjar aliados para o golpe e fala também com Covas, que, preocupado com a saúde do seu irmão Bernardino, concorda em ajudá-lo. Só Isaura, a mulher de Chico, o censura, pois tem medo de que algo corra mal. Entretanto, Covas, na mina, rebela-se contra a opressão existente e isso faz com que ele se decida a acompanhar os outros no roubo do filão. O roubo efetua-se, depois de algumas peripécias, e Covas e Olho de Boi saem da mina com o volfrâmio roubado. Chico tinha ficado de fora a vigiar a entrada. No outro dia, quando retomam os trabalhos, Capataz apercebe-se de que o filão está mais reduzido e berra que todos os mineiros irão ser revistados. Ao saber disso, Chico apressa-se a vender o volfrâmio e, para isso, dirige-se ao Café Viriato, onde decorrem estas transações. Aí informam-no de que o alemão, Wulf, em dias de embarque paga a dobrar, e Chico vai imediatamente aos escritórios do alemão. Quando está frente a frente com o alemão, entra Capataz com Covas, pois tinham descoberto uma pedra de volfrâmio nas calças dele. Chico fica em pânico.


3. (22/01/2001)
Covas e Chico, no gabinete de Wulf, fingem não se conhecer. Depois de revistado, descobre-se uma pedra no bolso de Covas. Este diz que apenas tirou algumas pedras para poder custear os tratamentos de Bernardino. Covas acaba por ser metido numa prisão, cheia de ratos e de humidade. Aí é espancado. Chico consegue vender o volfrâmio a Wulf, que finge acreditar que ele não teve nada a ver com o roubo do filão. Chico esbanja dinheiro e começa a frequentar a casa de Madame La Chienne. Maria vai visitar Covas à cadeia e fica impressionada com o aspeto dele. Covas pede-lhe que vá falar com Chico e lhe transmita um recado: se ele não o tira dali, Covas denuncia-o ao alemão. Chico, traiçoeiro, vai falar com Olho de Boi, que tudo fará para libertar Covas. Chico atrai-o a uma cilada, fingindo, perante Wulf, que Olho de Boi é que era o verdadeiro ladrão. Perante esta evidência, Wulf liberta Covas. Ao sair da prisão, Covas dirige-se imediatamente à sua tenda para ver do irmão. Chama-o, abana-o, mas Bernardino não responde. Está morto. Covas jura vingança.


4. (28/01/2001)
Covas, depois da morte de Olho de Boi, dirige-se a casa de Chico para saber o que se passou com a morte daquele. Só que Chico já tem uma história preparada e, fingindo-se comovido, conta-lhe que Olho de Boi teve de pagar um preço alto para poder libertar o amigo da casa das ratas. Acrescenta ainda que quem o assassinou estava a mando do alemão e queria o volfrâmio roubado. Covas mostra-se convencido com aquela história e Chico respira aliviado. Covas, iludido com a sua própria situação, vai ter com Maria e diz-lhe que vai ficar rico, e então poderão ficar juntos para toda a vida. A rivalidade entre Chico e Covas vai manifestar-se ainda numa romaria em que toda a gente está na rua a festejar o dia do Santo. No meio do entusiasmo, Maria aceita dançar com Chico, que a aperta cada vez mais, tornando-se notado por todos. Covas aparece e envolvem-se em acesa luta. Chico fica no chão a sangrar.


5. (04/02/2001)
Covas, depois da luta com Chico, fica furioso com Maria, pois já lhe tinha dito que não ligasse a Chico. Este, entretanto, deixa-se cuidar por Madame La Chienne e arranja um esquema com ela para aumentar a clientela do bordel. Precisam de carne fresca, e Maria, com a sua beleza, seria o isco ideal. Madame La Chienne pensa abordar Maria no final da missa. Diz-lhe que é uma pena uma rapariga com a beleza dela viver sem o luxo a que teria direito e que ela poderá ganhar muito dinheiro no bordel, só a dançar com os homens. Quando Covas percebe o que se passa, ameaça Madame La Chienne de lhe deitar fogo ao bordel. Também Ricardo pensa num estratagema para se livrar de Clara. Com certeza que Madame La Chienne gostaria de ter uma mulher casada no seu bordel. Então, atraem Clara ao bordel, onde Chico a espera, e ela cai nas mãos do lobo.


6. (12/02/2001)
Na casa de Madame La Chienne, Clara vai-se deixando levar nas cantigas e galanteios de Chico, mas nos momentos mais íntimos é em Ricardo que pensa, e é o seu nome que pronuncia. No entanto, Chico não parece ficar incomodado. Madame La Chienne propõe a Chico que traga mais mulheres casadas para o bordel, daquelas que querem ter mais uns tostões lá para casa, sem que os maridos desconfiem de onde vem o dinheiro. Entretanto, Chiquinho continua a falar do filão a Covas, que não quer que ele se meta naqueles negócios. Mas ele próprio continua obcecado com o dinheiro de que precisa para fugir com Maria e vende volfrâmio a Bob.


7. (19/02/2001)
A morte de Chiquinho não deixa ninguém indiferente. A revolta é geral e a mãe está inconsolável. O pai, bêbedo, procura dinheiro nos bolsos do filho, o que impressiona Covas. Este compromete-se a pagar o funeral e a vingar a morte de Chiquinho. Mais tarde, Covas encontra-se com o bandido que lhe vai vender o volfrâmio. Eis senão quando nota que o bandido tem ao pescoço a medalha que era de Chiquinho. Covas percebe que tem à sua frente o assassino de Chiquinho e mata-o com requintes de malvadez, no que é muito aplaudido pela multidão, que o considera um herói. Mas a lei local é diferente, e Covas é preso. Wulf consegue que ele seja libertado, alegando que o seu ato tinha sido em legítima defesa. Entretanto, os alemães estão preocupados com a construção de uma nova estrada de ligação direta às minas. Essa estrada encurtará o caminho em três horas, o que vai permitir que o minério chegue mais depressa ao seu destino do que o minério dos ingleses e, para eles, “ganharem a batalha do volfrâmio é mais uma ajuda para ganharem a guerra”. Mas os ingleses têm a mesma preocupação e adiantam-se aos trabalhos, concluindo uma estrada antes dos alemães, que se dão por vencidos.


8. (26/02/2001)
É no Café do Viriato que os alemães e os ingleses se encontram para resolver a questão da estrada. Na mesa estão Bob, Ricardo, os engenheiros, Wulf, o Presidente da Câmara e o Juiz, mais favorável aos alemães, sobretudo por causa do irmão, que está feito com os ingleses. Todos querem chegar a um consenso em relação às estradas, mas nestes tempos é difícil manter a neutralidade. O Governo Português pretende apenas evitar um incidente diplomático. No final, o Presidente da Câmara decide autorizar a construção de uma estrada que sirva os dois inimigos, sem diferenças. Em conversa com António, Chico fica interessado em conhecer a mulher de Vergaça, Celeste Cavalona. Seria uma boa aquisição para a casa de Madame La Chienne.


9. (05/03/2001)
Covas quer vingar-se de Chico por este ter tentado abusar de Maria, mas ela convence-o a desistir, dizendo que ela é que tinha tido a culpa ao concordar em transportar um saco de volfrâmio. Achou que seria um trabalho inofensivo, que lhe daria algum dinheiro para poderem casar mais cedo. Mas Covas insiste e dirige-se a casa de Chico, onde Isaura fica muito preocupada com a atitude dele. Chico, que se tinha escondido de Covas, vai até à casa de António, onde ouve as últimas notícias sobre o minério. O Prof. Oliveira Salazar mandou tabelar o volfrâmio, a um preço mais abaixo do que eles previam. Chico apressa-se a ir ter com Wulf, convencendo-o de que, por amizade, lhe quer vender volfrâmio a um preço mais baixo. Ricardo faz negócio com Wulf, mas, ao tentar sair da vila com o carregamento, é apanhado pela Polícia.


10. (26/03/2001)
Bob dirige-se ao Café Viriato, mas desta vez não são negócios que o levam até lá: vai apenas comprar cinco tabletes de chocolate para oferecer a Maria. Quem também lá se encontra é Chico, que está de partida para o Porto, em negócios. Covas entra no café e lança-lhe um olhar feroz. Covas espera por Chico, mas este, quando sai, apressa o passo e junta-se a Vergaça e aos guardas, evitando assim o confronto. Maria volta a encontrar-se com Bob, embora queira casar com Covas. Bob dá-lhe os chocolates, Maria começa a comer um e, quando Bob se afasta, ela ouve um grande barulho e um vulto a fugir. Bob foi assassinado. Mais tarde, as investigações e as informações de Madame La Chienne levam até Maria, que é interrogada, embora haja outros possíveis suspeitos, como Chico Perigoso, Clara e Vergaça.


11. (02/04/2001)
Pressionada pelo agentes e pelo inspetor, Maria acaba por confessar que foi Chico Perigoso quem matou Bob, e que só não o acusou mais cedo por ser muito amiga de Isaura. Não acreditando nela, os agentes acham que Maria está apenas a proteger Covas, pois António confirmou ter levado Chico ao Porto para tratar de negócios. Chico, como não podia deixar de ser, acusa Maria de estar a mentir e insiste que esteve no Porto, e por isso não podia ter morto o inglês. Com medo do que pode vir a acontecer, Maria insiste com Covas que está na altura de fugirem. Só que Covas não quer abandonar esta vila enquanto não encontrar o filão. Depois de mais uma vez ter sido chicoteado por Vergaça, Chico sucumbe ao pedido de Wulf e acaba por se confessar o autor do crime. Em troca deste testemunho Wulf, promete tirá-lo da casa das ratas o mais depressa possível. António dirige-se até à cadeia onde se encontra Chico, na tentativa de o libertar. Através de subornos aos guardas, em pouco tempo consegue ter Chico cá fora.


12. (09/04/2001)
Depois de fugir da prisão, Chico tem pouco tempo para ir a casa fazer a mala e dirigir-se ao local onde vai ficar escondido. António descobriu uma cabana perdida na serra, onde Chico vai passar os dias, até ser provada a sua inocência. Clara dirige-se a uma tecedeira para fazer um aborto. De regresso a casa, no táxi de António, as dores tornam-se demasiado fortes e, ao vê-la em sofrimento, António chama o médico. Em casa de António, Covas mostra a Chiquinho algumas das pedras que encontrou e sente que já não deve faltar muito para o filão ser todo deles. Arrasado com o diagnóstico que o médico fez da sua mulher, Reinaldo resolve ir até ao Café Viriato para aliviar a sua tristeza com alguns copos de champanhe. Ao chegar a casa, já bem bebido, Clara conta-lhe toda a verdade. Com o coração pesado, o juiz levanta-se, vai até à escrivaninha, abre uma gaveta e tira um revólver… Madame La Chienne recebe a visita de António, que, a pedido de Chico, está ali para levá-la até ao seu esconderijo. A Madame não hesita, pois está cheia de saudades dele, e não se esquece de levar o champanhe. Quando se encontram, Chico garante-lhe que não foi ele quem matou o inglês, e Madame não duvida da sua palavra. Depois de ter passado a noite no bordel a beber, Ricardo sai um pouco cambaleante. Numa curva mais perigosa, o carro sai descontrolado, mas Ricardo consegue endireitar o volante. Nesse instante, vê um carro no meio da estrada. Trava, sai do carro e, quando se aproxima, vê com nitidez o que já desconfiara: é o seu irmão que está lá dentro, com um tiro na cabeça.


13. (16/04/2001)
Com a alegria de ter encontrado o filão de volfro, Covas nem repara que Dente de Ouro e os bandidos estão a observar todos os seus movimentos e se preparam para atacá-lo a qualquer momento. Clara sente-se culpada pela morte do marido. Foram os seus pecados que o levaram a este fim trágico. Para aliviar o peso que sente no coração, recorre ao abade e conta-lhe tudo. Quer entregar-se à paz de Deus e decide ir para um convento. Dente de Ouro, assim que tem uma oportunidade, dispara, e o pobre do Covas, atingido, cai sobre a saca do minério, espalhando-o. Na tenda de Grosso, Maria zanga-se com o pai, quando este, mais uma vez, acusa Covas de ter morto o inglês. Covas, apesar de ferido, consegue disparar sobre os bandidos, matando-os. Dente de Ouro corre na sua direção com a pistola em punho, mas Covas dispara, certeiro, matando-o também. Já de noite, e com o minério guardado dentro dos sacos, Covas dirige-se à tenda de Grosso e Maria abraça-o, emocionada.

Exibida às segundas-feiras, A Febre do Ouro Negro foi concebida pela jornalista Felícia Cabrita, a partir de uma reportagem escrita por si para o jornal Expresso. O argumento e os diálogos foram desenvolvidos por Júlia Pinheiro e Manuel Arouca.

A realização esteve a cargo do brasileiro Wilson Solon, que, no seu currículo, tinha trabalhos como a telenovela Kananga do Japão (1989/1990) e a série portuguesa Jornalistas (1999/2000).

A ação decorria em plena Segunda Guerra Mundial e focava a “febre” do negócio do volfrâmio, advinda da procura desenfreada – por parte de ingleses e alemães – pelo precioso minério, que alimentava a indústria europeia do armamento.

Portugal fazia negócio com a guerra dos outros, de tal forma que, pela primeira vez, de 1941 a 1943, a nossa balança comercial registou um saldo positivo. Por cá, nunca se viu tanto dinheiro em tão pouco tempo. Muitas pessoas tudo ganharam e outras tudo perderam.

Os magníficos cenários onde se desenrolava a história da série repartiram-se entre a Beira Alta e a Beira Baixa, em locais que preservavam a arquitetura tradicional. Depois de Linhares da Beira, as filmagens decorreram nas Minas da Panasqueira, ainda em atividade, no flanco sul da Serra da Estrela.

Linhares da Beira

O ambiente de época, recriado com rigor histórico, foi outro dos trunfos da série. Atores e equipa de realização trabalharam mesmo à entrada da mina, onde nada foi deixado ao acaso. As cabanas de madeira que abrigavam os mineiros foram reconstruídas, tal como os carris por onde empurravam os vagões carregados de minério.

Dulce Freire, consultora de história da série, aplicou a sua investigação também ao guarda-roupa: “como se atam os lenços, como se fazem aventais, as cores que usavam”.

As pessoas da aldeia também apareceram como figurantes. Eram as crianças de rostos fuscados de negro que brincavam junto às cabanas e as senhoras vestidas ao rigor da época que caminhavam descalças de cestos à cabeça.

A série encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

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A Febre do Ouro Negro