A Hora da Liberdade

Exibição:
24/04/1999 (SIC)

Autoria:
Emídio Rangel
Joana Pontes
Rodrigo Sousa e Castro

Locução:
Alberto Ramos

Produção:
Paula Moura

Direção de produção:
Ana Torres

Casting / Direção de atores:
João Lourenço

Coordenador do projeto:
António Borga

Realização:
Joana Pontes

Elenco:
Alberto Villar – Tenente Coronel Correia de Campos
Alexandre de Sousa – Comandante Vítor Crespo
Alfredo Brito – Coronel António Romeiras
Almeno Gonçalves – Tenente Coronel Almeida Bruno
André Gago – Brito e Cunha
André Gomes – Moreira Baptista
António Caldeira Pires – Capitão Rui Rodrigues
António Capelo – Major Otelo Saraiva de Carvalho
António Cordeiro – Capitão Andrade e Sousa
António Fonseca – Major Hugo Velasco
António Pedro Cerdeira – Tenente Andrade e Silva
Artur Ramos – Brigadeiro Junqueira dos Reis
Benjamim Falcão – Coronel Belo de Carvalho
Carlos Gomes – Major Cardoso Fontão
Carlos Lacerda – Tenente Coronel Viana de Lemos
Carlos Pisco – Tenente MFA
Cristina Carvalhal – Clarisse Guerra
Diogo Morgado – Aspirante Teixeira
Eduardo Viana – Tenente Coronel Ferrand d’Almeida
Eurico Lopes – Joaquim Furtado
Francisco Pestana – Tenente Coronel Lopes Pires
Gonçalo Waddington – Tenente Almas Imperial
Guilherme Filipe – Major Pato Anselmo
Heitor Lourenço – Alferes Sottomayor
Henrique Feist – Alferes David e Silva
Ivo Alexandre – Tenente Cabaças Ruaz
Ivo Canelas – Tenente Santos Silva
João de Carvalho – Capitão Luís Macedo
Jorge Gonçalves – Major Sanches Osório
Jorge Sequerra – Tenente Coronel Nascimento
José Boavida – Capitão Bicho Beatriz
José Jorge Duarte – Feytor Pinto
José Manuel Mendes – Marcello Caetano
Júlio Cardoso – General António de Spínola
Júlio Mesquita – Mascarenhas
Luís Alberto – General Adriano Pires
Luís Esparteiro – Major Costa Neves
Luís Lucas – Capitão Santos Ferreira
Luís Mascarenhas – Dr. Silva Cunha
Manuel Coelho – Delfim Moura
Manuel Wiborg – Capitão Salgueiro Maia
Marcantonio del Carlo – Tenente Coronel Garcia dos Santos
Marcello Urgeghe – Capitão Santos Coelho
Márcia Breia
Marco Delgado – Capitão Luís Pimentel
Marques d’Arede – Coronel Álvaro Fontoura
Nelson Cabral – Soldado
Paulo Filipe – Comandante Coutinho Lanhoso
Paulo Matos – Major Hugo dos Santos
Paulo Oom – Oficial do CIAAC
Pedro Laginha – Fernando Humberto
Pedro Lima – Alferes Maia Loureiro
Ricardo Afonso – Tenente Alfredo Assunção
Rui Luís Brás – Tenente Ponces de Carvalho
Rui Mendes – General Andrade e Silva
Sérgio Silva – Capitão Tavares de Almeida
Vasco Machado – Capitão Mira Monteiro
Vítor Norte – Major Comando Jaime Neves
Vítor Rocha – Capitão Correia Pombinho

A Hora da Liberdade é uma megaprodução que reconstitui, passo a passo, a Revolução de Abril. Trata-se de mostrar os factos tal como eles ocorreram e na própria altura em que se verificaram.

24 de abril

22:53

Os oficiais revoltosos do MFA iniciam, dentro dos quartéis, as ações preparatórias para a saída das tropas. A senha que assinala o arranque da operação é dada através dos Emissores Associados de Lisboa, quando João Paulo Diniz anuncia a canção E Depois do Adeus, de José Niza, interpretada por Paulo de Carvalho.

Identificam-se os militares que constituem o núcleo principal do posto de comando, onde se destaca a figura de Otelo Saraiva de Carvalho (António Capelo).

Major Otelo Saraiva de Carvalho
Comandante Vítor Crespo
Major Sanches Osório
Tenente Coronel Lopes Pires
Tenente Coronel Garcia dos Santos
Major Hugo dos Santos
Capitão Luís Macedo

O Coronel Belo de Carvalho (Benjamim Falcão), comandante da Escola Prática de Artilharia, é preso pelos capitães revoltosos, por ser conhecedor do movimento, mas opositor do mesmo.

Coronel Belo de Carvalho

25 de abril

00:20

Nos estúdios da Rádio Renascença, o locutor de serviço, Leite de Vasconcelos, transmite a segunda canção-senha do movimento revoltoso: Grândola, Vila Morena, de José Afonso.

Ações no interior de vários quartéis até à hora de saída das tropas.

01:30

“O MFA vai, finalmente, esta noite, derrubar o regime”, anuncia Salgueiro Maia (Manuel Wiborg), na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. “Existem vários tipos de Estado: os estados comunistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Nós vamos a Lisboa acabar com o estado a que chegámos. Ninguém é obrigado a seguir-nos. Quem for voluntário, dê um passo em frente”. Todos dão um passo em frente.

Capitão Salgueiro Maia

No posto de comando, os militares aguardam notícias da saída das primeiras tropas sublevadas.

Nas formaturas, os revoltosos pedem a adesão das tropas antes da saída para as ruas.

Insucesso da revolta no Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e de Costa, em Cascais.

03:00

As tropas revoltosas tomam o Quartel-General de Lisboa. Não há resistência. A guarnição esconde-se e deixa o portão no trinco. Um dos soldados ocupantes salta o portão para o abrir, antes que o oficial mande disparar um tiro de bazuca para rebentar o portão.

Saída de colunas militares de alguns quartéis.

Tomada pelos revoltosos do Rádio Clube Português, na Rua Sampaio e Pina.

04:30

A primeira reação do governo surge quando, nos estúdios do Rádio Clube Português, é emitido o primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas. Joaquim Furtado (Eurico Lopes) era o locutor de serviço nessa noite.

Joaquim Furtado

06:00

Ocupação do Terreiro do Paço pelas tropas da Escola Prática de Cavalaria.

Ocupação de posições no Cristo-Rei, em Almada, pelas tropas da Escola Prática de Artilharia.

Rendição das primeiras forças do Governo aos revoltosos.

07:30

Reação das forças do Governo.

General Andrade e Silva (Ministro do Exército)
Dr. Silva Cunha (Ministro da Defesa)

Uma fragata da Marinha aproxima-se, ameaçadora, do Terreiro do Paço.

Forças da GNR ameaçam os revoltosos.

A artilharia instalada no Cristo-Rei aponta as bocas de fogo para a fragata.

Chegada de forças fiéis ao Governo à Rua Ribeira das Naus e à Rua do Arsenal.

Rua Ribeira das Naus
Rua do Arsenal

09:30

No Quartel do Carmo, Marcello Caetano (José Manuel Mendes) dá ordem para que a situação seja controlada.

Marcello Caetano

Os revoltosos enfrentam uma força blindada de Cavalaria 7, comandada por Junqueira dos Reis (Artur Ramos).

Brigadeiro Junqueira dos Reis

11:00

Militares das forças blindadas desobedecem ao brigadeiro Junqueira dos Reis e recusam atirar sobre os revoltosos.

O confronto no Terreiro do Paço, depois de longas horas de impasse, atinge o ponto de viragem. Marcello Caetano apercebe-se de que as ordens não estão a ser cumpridas.

14:30

As tropas de cavalaria do capitão Salgueiro Maia dirigem-se para o Carmo e cercam o quartel.

O Dr. Feytor Pinto (José Jorge Duarte) tenta negociar a rendição de Marcello Caetano.

Dr. Feytor Pinto

16:30

Salgueiro Maia enfrenta Marcello Caetano.

Chegada do general Spínola ao Carmo. Marcello Caetano rende-se incondicionalmente.

Spínola dá entrada no posto de comando dos revoltosos.

General António de Spínola

18:30

Últimas imagens no posto de comando. O Governo ditatorial cai com a rendição incondicional de Marcello Caetano.

26 de abril

01:30

A Junta de Salvação Nacional apresenta-se ao país, lendo um comunicado em direto pela RTP.

Este projeto da SIC, surgido no âmbito das comemorações dos 25 anos do 25 de Abril, visou retratar os acontecimentos mais relevantes ocorridos na revolução, desde a saída da coluna de Salgueiro Maia da Escola Prática de Cavalaria em Santarém, passando pela capitulação de Marcello Caetano, até ao culminar da nova ordem democrática, anunciada pela Junta de Salvação Nacional nos ecrãs da RTP.

A reconstituição dos vários acontecimentos, dividida em 13 blocos, foi para o ar à hora real a que tudo sucedeu, entre as 22:53 do dia 24 e a 01:40 do dia 26.

Por ser difícil, em termos humanos, acompanhar a emissão dos 13 blocos em tempo real, a SIC programou, para a noite do dia 26, a sua exibição em formato compacto.

Por detrás deste documentário, estiveram três nomes: Emídio Rangel, diretor da SIC, Rodrigo de Sousa e Castro, um dos Capitães de Abril, e Joana Pontes, a realizadora.

Para Joana Pontes, este trabalho teve dois grandes desafios: “O primeiro, escrever o guião e selecionar o que se ia filmar. O segundo, foi o trabalho com os atores e conseguir transmitir três coisas fundamentais: a extrema juventude dos participantes, a sua extraordinária coragem e a extrema maturidade que mostraram”.

Dada a sua credibilidade, o projeto teve a colaboração das Forças Armadas, que forneceram um vaso de guerra, 23 quartéis e cerca de um milhar de figurantes, para além do acesso aos arquivos onde estavam relatadas as instruções de campanha, necessárias para que se pudesse fazer a reconstituição histórica.

A escolha do elenco, quase que inteiramente masculino, teve em conta as semelhanças físicas com as figuras históricas retratadas.

Salgueiro Maia
Marcello Caetano

No documentário, não se recriou a emissão na qual o locutor Teodomiro Leite de Vasconcelos anunciava a canção Grândola, Vila Morena, marcando o início das operações militares. Optou-se antes por ouvir a fita magnética onde a mesma ficara registada.

Também a ocupação do Largo do Carmo foi ilustrada com as imagens reais.

Nos dias que antecederam a exibição do “docudrama”, foi exibido, a seguir ao Jornal da Noite, um making of, em pequenos blocos de 10 minutos.

Os militares que orquestraram a revolução assistiram às gravações, destacando-se Otelo Saraiva de Carvalho, que apareceu na sequência final, abandonando o posto de comando, numa transição entre o passado e o presente.

Um ano depois, Maria de Medeiros estreou o seu filme Capitães de Abril, que retratava igualmente a Revolução dos Cravos. Uma polémica estourou quando, em entrevista à TV Guia, a atriz, argumentista e realizadora insinuou que a SIC usara a sua ideia como base para A Hora da Liberdade:

Quando finalmente começou a rodar o filme, em abril de 1999, a SIC apresentou uma reconstituição da Revolução chamada A Hora da Liberdade. Não se sentiu ultrapassada?
Senti-me um bocadinho plagiada. Quando estávamos na fase de financiamento e procurávamos um parceiro televisivo, apresentámos o projeto à RTP e à SIC. A SIC ficou com o meu guião. Disseram-me que não estavam interessados em co-produzir o filme. Um ano depois, apareceram com um projeto com aspetos completamente copiados. No entanto, eu penso que os dois produtos são bastante diferentes. Digamos que a recriação que eles fizeram nada tem a ver com o Capitães de Abril.

A SIC reagiu e, na edição seguinte, foi publicado um comunicado à imprensa:

A revista TV Guia publicou, na edição desta semana, uma entrevista com a atriz Maria de Medeiros, na qual são produzidas afirmações que merecem o total repúdio da Direção de Programas da SIC e exigem uma pronta reposição da verdade.

A Direção de Programas da SIC confirma que Maria de Medeiros lhe apresentou um projeto de filme intitulado Capitães de Abril, projeto esse a que a SIC decidiu não se associar, por entender não existir correspondência entre o significado histórico dos acontecimentos invocados e a qualidade da ficção criada em torno deles e dos seus protagonistas.

Porém, ao contrário do que afirma Maria de Medeiros, a Direção de Programas da SIC desmente que aquele projeto tenha servido de inspiração para a produção do programa A Hora da Liberdade e afirma ser falso e absurdo que quaisquer “aspetos” desse programa tenham sido “copiados” da ficção alinhavada pela atriz.

Aliás, todo o trabalho da SIC foi concebido e começou a ser preparado muito antes de a atriz ter apresentado o seu projeto à estação e, como se poderá verificar em breve, é de natureza totalmente diferente: A Hora da Liberdade é uma rigorosa reconstituição dos momentos históricos que recria, baseada num exaustivo cruzamento dos testemunhos prestados pelos próprios protagonistas, enquanto o texto apresentado à SIC por Maria de Medeiros apenas usava o 25 de Abril como pano de fundo para uma história imaginária e de credibilidade e consistência discutíveis.

As afirmações de Maria de Medeiros à TV Guia, sendo falsas e caluniosas para a SIC, atingem, simultaneamente, todos aqueles que permitiram produzir A Hora da Liberdade, a começar pelos próprios Capitães de Abril. Por essa razão, a Direção de Programas da SIC irá proceder judicialmente contra a autora daquelas afirmações.

Foi lançada uma edição de A Hora da Liberdade em VHS.

Em 2012, foi publicado o livro A Hora da Liberdade – O 25 de Abril, pelos protagonistas, que reuniu os depoimentos que serviram de base à criação do argumento. A edição incluía igualmente um DVD com o programa.

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