A Quinta do Dois

Exibição:
16/10/1986 – 02/04/1987 (RTP 2)
11/04/1987 – 27/06/1987 (RTP 1)

Número de programas:
37

Uma ideia de:
Carlos Cruz

Desenvolvida por:
Artur Couto e Santos
José Duarte
Maria João
Rolo Duarte

Apresentação:
Carlos Cruz

Locutores:
Cândido Mota
Maria Helena d’Eça Leal
Filomena Crespo

Direção musical:
Jorge Costa Pinto

Produção:
Isabel Fragata
Luís Fialho Rico

Realização:
Oliveira Costa (I: 01-07)
José Nuno Martins (I: 08-15)
José Vitório (I: 16)
Margarida Gil (I: 17-24)
Ricardo Nogueira (II)

Elenco de A Conquilha:
Carlos Cunha – Zé da Viúva
Marina Mota – Maria da Conceição
Virgílio Castelo – Toni
Adelaide João – Hortência
Vítor de Sousa – Coronel
Maria Helena d’Eça Leal – Gertrudes
Cândido Mota – Diretor

Gravado com público no Cinema Europa, A Quinta do Dois é um programa de entretenimento onde o humor, a música e o diálogo se aliam, como garantia de um serão bem passado.

Carlos Cruz é a vedeta que recebe todos os intervenientes, convidados dos mais diversos setores da vida nacional e das mais variadas atividades.

1.ª série

Na primeira série, A Quinta do Dois procura reconstituir o ambiente das grandes cadeias de rádio dos anos 30, com os seus múltiplos estúdios, onde, em simultâneo, atuavam orquestras, eram entrevistadas personalidades, havia concursos, etc.

O programa abre com Carlos Cruz a comentar algumas notícias inusitadas, encontradas na imprensa escrita.

Seguem-se as “Conversas na Quinta”, diálogos mantidos com convidados de diferentes setores, permitindo aos “teleouvintes” conhecer melhor as áreas em que se movimentam.

Os momentos de variedades são preenchidos com a atuação de estrelas da música nacional e estrangeira.

Tina Turner

Os elementos que compõem o programa são ligados por uma cabina de rádio, onde dois locutores – Maria Helena d’Eça Leal e Cândido Mota, mais tarde substituído por Vítor de Sousa – apresentam e comentam as várias rubricas de forma muito característica, como se de um programa de rádio ao vivo se tratasse.

A orquestra do Maestro Jorge Costa Pinto é responsável pelo tom musical do programa.

Ao coro feminino da orquestra, composto por Mila Ferreira, Fátima Antunes e Cláudia Krasmann, compete defender o jingle da Cola Cao, patrocinador do programa, suportando-se num belo visual da autoria de Augustus.

O humor é um elemento importante do programa, em diversas rubricas:

As Nossas Notícias

Em direto do “Estúdio 20”, este telejornal apresenta atualidades – com locução de Filomena Crespo – e reportagens do exterior.

O repórter de exterior, Talvez Sousa (Virgílio Castelo), vive à procura da personalidade, do acontecimento, com um frenesim incontrolável, com um querer sôfrego. Fala, mas não diz nada; escuta e repete.

Rádio Teatro

Espaço da responsabilidade dos Parodiantes de Lisboa, que a cada semana apresentam uma rábula diferente.

A Nossa Agenda

Já perto do final do programa, nesta agenda (pouco) cultural, o Dr. Taciturno (Vítor de Sousa) divulga as suas recomendações. Em tom de salmo responsorial, o adido cultural incita o público do Europa a clamar “que bonito que é” o nosso país.

Zé da Viúva

Zé da Viúva (Carlos Cunha), o esfuziante proprietário do restaurante A Conquilha de Lisboa, surge para dialogar com Carlos Cruz, a quem chama familiarmente “o Príncipe de Campo de Ourique”.

2.ª série

Ao transitar para a RTP 1, o programa ganha um novo figurino, passando a decompor-se em seis módulos.

Imprevistos

Nesta rubrica, apresentam-se situações insólitas ocorridas em gravações de filmes, programas de televisão ou anúncios (maioritariamente estrangeiros), montadas em Lisboa e contando com Carlos Cruz como apresentador. Esporadicamente, surgem também alguns momentos de grande hilaridade gravados em Portugal e que continuam inéditos.

Prova oral

Jogo disputado por duas figuras públicas de sexos opostos em que, a partir de imagens em que crianças discorrem sobre determinadas palavras (sem nunca se lhe referirem diretamente), têm de adivinhar de que palavras se trata.

Existem três rondas, em que a pontuação máxima vai aumentando. Na terceira ronda, a palavra não é mostrada, para que também o público tenha a oportunidade de tentar adivinhar.

Tozé Martinho e Manuela Moura Guedes

Triângulos

Homenagem a figuras que pela sua obra se distinguem, através dos seus gostos pessoais.

Homenagem a Eunice Muñoz

Agora ou nunca

Nesta rubrica, dá-se oportunidade a cinco telespectadores para mostrarem uma sua habilidade, durante o tempo máximo de dois minutos.

O melhor e o pior são votados pelo público, por telefone, e convidados a regressar no programa seguinte, repetindo as suas “proezas”.

A Conquilha

Depois de, na primeira série do programa, tanto se ter ouvido falar na Conquilha, o famigerado restaurante de que é proprietário o Zé da Viúva (Carlos Cunha), temos agora a oportunidade de acompanhar as peripécias que por ali acontecem.

staff do restaurante é composto por Maria da Conceição (Marina Mota), a mulher do dono, Toni (Virgílio Castelo), empregado e amante da patroa, e a traumatizada cozinheira Hortência (Adelaide João).

Zé da Viúva (Carlos Cunha)

Maria da Conceição (Marina Mota)

Toni (Virgílio Castelo)

Hortência (Adelaide João)

Entre os mais fiéis clientes estão o Coronel (Vítor de Sousa), que aplica de forma literal todos os sinais de pontuação; o Diretor (Cândido Mota), rei dos trocadilhos e das piadas secas; e Gertrudes (Maria Helena d’Eça Leal), que, enquanto faz o seu crochet, observa atentamente o desenrolar dos acontecimentos.

Coronel (Vítor de Sousa)

Diretor (Cândido Mota)

Gertrudes (Maria Helena d’Eça Leal)

Variedades

Atuações de artistas nacionais e estrangeiros.

1.ª série

1. (16/10/1986)

Convidados:
Tina Turner
Nicolau Breyner
Tony de Matos
Mário Zambujal


2. (23/10/1986)

Convidados:
Paulo Gonzo
Artur Ravara
Manuel Vladimiro da Silva
Theresa Maiuko
Simone de Oliveira


3. (30/10/1986)

Convidados:
Dora
Sánchez Bueno
Nuno da Câmara Pereira
Carlos Mendes e seu grupo


4. (06/11/1986)

Convidados:
Gabriela Schaaf
Machado Macedo (cirurgião)
Jorge Perestrelo (jornalista desportivo)
Maria da Fé


5. (13/11/1986)

Convidados:
Manuel Cargaleiro (pintor)
Lena d’Água
Ana Paula Ribeiro de Jesus (árbitro de futebol)
Heróis do Mar


6. (20/11/1986)

Convidados:
Eugénio Salvador
Sandra
Luís Filipe
Carlos Cunha
Sérgio Godinho


7. (27/11/1986)

Convidados:
António Calvário
Raul Ouro Negro
Almeida Ribeiro
Conjunto de António Mafra
GNR


8. (04/12/1986)

Convidados:
Manuel das Galinhas
Michel
Paralamas do Sucesso
Rui Veloso


9. (11/12/1986)

Convidados:
Rodrigo
José Fonseca e Costa
Travadinha e o seu grupo
Paco Bandeira


10. (18/12/1986)

Convidados:
Jorge Sá Chaves
António Alçada Baptista
Marina Mota
Tó Neto
José Cid e a Banda Tribo


11. (25/12/1986)

Convidados:
Opus Ensemble
Artur Varatojo
Coro de Santo Amaro de Oeiras (dirigido por César Batalha)
Luís Fialho Rico
António Manuel Rolo Duarte
Ministars


12. (01/01/1987)

Convidados:
Igor Rampa
Mler Ife Dada
Palhaço Ermilita
Nanã Sousa Dias
Trovante


13. (08/01/1987)

Convidados:
Eugénia Melo e Castro
Luiz Villas-Boas
Marcos Resende
Marco Paulo


14. (15/01/1987)

Convidados:
Old Partimers
César de Oliveira
Paulo de Carvalho


15. (22/01/1987)

Convidados:
Fernando Farinha
Fernando Lopes
Quarteto 1111
Fernando Pereira


16. (29/01/1987)

Convidados:
Silvério Pereira Sereno
Celina Pereira
Doc Comparato
Xutos e Pontapés
Tristão da Silva Júnior


17. (05/02/1987)

Convidados:
José Medeiros
Suzana Coelho
Conceição Rodrigues (Maria Bifa)
Ávila Costa
Luís Bettencourt
Manitas de Plata


18. (12/02/1987)

Convidados:
Hermínia Silva
Delfins
Carlos Quintas


19. (19/02/1987)

Convidados:
Century
Maria João Pavão Serra
Alberto Carlos
Manuel Augusto
Grupo Cigano de Danças e Cantares


20. (26/02/1987)

Convidados:
Grupo de Baile
José da Cruz (Zurc)
Dany Silva
Fafá de Belém


21. (05/03/1987)

Convidados:
Quinteto Harmonia
Vasco Morgado Jr.
Images
Manuel de Almeida


22. (12/03/1987)

Convidados:
José Pedro Cierco
Augusto Pereira Brandão
Grupo Coral “Sempre Jovens”, da Comissão de Reformados de Queluz
Doris


23. (19/03/1987)

Convidados:
Anamar
Kalidás Barreto
Júlio Lopes da Veiga (Julinho da Concertina)
Afonsinhos do Condado


24. (26/03/1987)

Convidados:
Glória Bento (acompanhada ao piano por Pedro Osório)
Mário Borrego
Laborinho Lúcio
Nile Thompson
Maria Armanda


25. Melhores momentos musicais dos programas anteriores (02/04/1987)

Grupos I:
Trovante
Quarteto 1111
Afonsinhos do Condado

Fadistas:
Fernando Farinha
Rodrigo
Nuno da Câmara Pereira

Artistas estrangeiros I:
Sandra
Paralamas do Sucesso
Century

Solistas:
Simone de Oliveira
Tony de Matos
António Calvário

Artistas africanos:
Travadinha
Celina Pereira
Julinho da Concertina

Grupos II:
Xutos e Pontapés
Mler Ife Dada
Grupo de Baile

Portugueses a cantar em inglês:
Theresa Maiuko
Paulo Gonzo
Doris

Grandes nomes:
Sérgio Godinho
Paulo de Carvalho
Rui Veloso

Artistas estrangeiros II:
Manitas de Plata
Fafá de Belém
Tina Turner

2.ª série

1. (11/04/1987)

Prova oral:
Lia Gama
Carlos Mendes

Triângulos:
Eunice Muñoz
Fernando Cardinalli
João Lourenço

Variedades:
UP GO – Grupo de Saltos do Clube Atlético de Alvalade
Lee Prentiss
Patxi Andión

Participação em A Conquilha:
José Mensurado – Fiscal


2. (18/04/1987)

Prova oral:
Fialho Gouveia
Rosa Lobato Faria

Triângulos:
Rui Veloso
Julinho da Concertina
José Cabral
Carlos Tê
Sétima Posição

Variedades:
Patxi Andión
Pedro Caldeira Cabral
Trio Odemira
Cidália Moreira

Participação em A Conquilha:
Afonso Praça – Tancredo


3. (25/04/1987)

Triângulos:
Bento
Marco Paulo
Manuel Fernandes
Sétima Posição

Prova oral:
João David Nunes
Ana Bola

Variedades:
Maika
Jodivil & Margot
Nuno da Câmara Pereira


4. (02/05/1987)

Triângulos:
Maestro Tavares Belo
Sétima Posição
Maria de Lurdes Resende
Maestro Silva Pereira

Prova oral:
Helena Isabel
Humberto Coelho

Variedades:
Onda Choc
Maria Guinot
Carlos Alberto Moniz

Participação em A Conquilha:
Fernando Mendes
Adriano Cerqueira
Maria do Céu Guerra
Michel
Carlos Cruz


5. (09/05/1987)

Triângulos:
Ruy de Carvalho
Paulo Santiago
Mara Abrantes
João Mota

Prova oral:
Manuela Moura Guedes
Tozé Martinho

Variedades:
Coro Auditae Nova
Samurai
Avalanche

Participação em A Conquilha:
Amílcar Botica
Manuel Cavaco
Rui Mendes


6. (16/05/1987)

Triângulos:
Artur Jorge
Manuel Alegre
Maria Viana
Vítor Santos
Trovante

Prova oral:
Maria Alexandra
Fernando Pessa

Variedades:
Táxi
António Pinho Vargas
Tony de Matos

Participação em A Conquilha:
Thilo Krasmann – Pastor Alemão


7. (23/05/1987)

Triângulos:
José Fonseca e Costa
Baptista Bastos
Rui Veloso

Prova oral:
Lídia Franco
Jaime Fernandes

Variedades:
António Pinho Vargas
Ronda dos 4 Caminhos
Jorge Fernando
Radar Kadafi


8. (30/05/1987)

Triângulos:
Maestro Fernando Lopes Graça
Orquestra “La Folia”
Fernando Serafim
Armando Vidal
José Manuel Bettencourt da Câmara
Coro da Academia de Amadores de Música

Variedades:
Edmundo Falé
Carlos Nascimento
Cock Robin

Prova oral:
Luísa Barbosa
Camilo de Oliveira

Participação em A Conquilha:
Vítor Norte – Armando
Henrique Santos – Embaixador 1
Carlos Coelho – Embaixador 2


9. (06/06/1987)

Triângulos:
Maria Leonor
Carla Seixas
Artur Agostinho
Carlos Guilherme

Prova oral:
Irene Cruz
Carlos Ribeiro

Variedades:
Manuel Azevedo Coutinho
Pop Dell’Arte
Rão Kyao

Participação em A Conquilha:
Guida Maria – Espanhola


10. (13/06/1987)

Triângulos:
Amália Rodrigues
Grupo de Baile da Juventude da Galiza
Vítor Pavão dos Santos

Prova oral:
Eugénia Melo e Castro
Henrique Garcia

Variedades:
Romanças
Rádio Macau
Dany Silva

Participação em A Conquilha:
Eugénio Salvador


11. (20/06/1987)

Triângulos:
Augusto Cabrita
Companhia Nacional de Bailado
João Soares Louro

Prova oral:
Maria João Avillez
Herman José

Variedades:
Fernanda Baptista
Paulo Gonzo
Heróis do Mar


12. (27/06/1987)

Prova oral:
Maria Alberta Menéres
João Lourenço

Triângulos:
Raul Solnado
Tony de Matos
César de Oliveira
Rui Veloso
Teresa Pinto Coelho

Variedades:
Michelle Shocked
Manuel Escórcio
Fernando Marques
Titina (acompanhada por Luís Morais)
Sétima Posição

A primeira série de A Quinta do Dois foi exibida na RTP 2, às quintas à noite – o que explicava o seu título –, e retransmitida aos sábados de manhã, na RTP 1, na abertura da emissão (09:00).

O programa era gravado no “Estúdio 8”, designação atribuída ao Cinema Europa.

Depois do estrondoso sucesso com três temporadas do concurso Um, Dois, Três, Carlos Cruz pretendia ficar mais tempo afastado do ecrã. Optou, por isso, por ter um papel mais discreto e menos marcante em A Quinta do Dois, procurando funcionar quase como convidado do seu próprio programa.

Os dois programas tinham ainda em comum o alto patrocínio da Cola Cao.

Para além de serem exibidos os anúncios do produto, o seu jingle era interpretado pela orquestra e pelo coro da Quinta.

Semanalmente, era sorteado um automóvel, de entre os milhares de rótulos de Cola Cao enviados para a Nutrexpa (fabricante do achocolatado).

O primeiro sorteio, ao ser mostrado na íntegra, ocupou um tempo significativo (seis minutos), com a extração de vários postais que não continham a identificação de nenhuma criança, necessária para a atribuição das bicicletas. Optou-se, posteriormente, por fazer uma edição destes momentos “mortos”.

Carlos Cruz telefonava para o vencedor do automóvel no decorrer do programa, o que constituía um dos momentos mais divertidos da noite.

A título de exemplo, em determinada ocasião, o apresentador liga para o café do irmão da premiada, que diz que só pode chamá-la dez minutos depois, porque está a confecionar algumas comidas.

No 6.º programa, a vencedora do automóvel foi convidada a comparecer no estúdio, por morar em Campo de Ourique, muito próximo do Cinema Europa.

Os nomes dos vencedores das bicicletas eram anunciados na reposição do programa, ao sábado de manhã.

O teleouvinte que ganhava o carro escolhia uma instituição (entre quatro) de apoio à criança, à qual a Nutrexpa oferecia um cheque correspondente aos quilos de cartas recebidos naquela semana, multiplicados por 100$00.

Foi comercializado um mini-rádio com a marca do programa, a Orelhinha Q2.

As Nossas Notícias e A Nossa Agenda retratavam momentos de humor caracterizados pelo não vulgar; poder-se-ia dizer pelo absurdo. A proposta passava pela irreverência de um humor que trocava o fácil pela necessidade de pensar.

A partir do 12.º programa, foram introduzidas algumas modificações. A equipa manteve-se essencialmente a mesma, com mudanças de posto.

– Cândido Mota deixou a cabina de rádio e passou a apresentar As Nossas Notícias;

– Vítor de Sousa abandonou A Nossa Agenda para fazer companhia a Maria Helena d’Eça Leal na cabina;

– Carlos Cunha trocou o papel de pivot do telejornal pelo de Zé da Viúva;

– Mariema assumiu um novo sketch, a Crónica Social, mas que esteve poucas semanas no ar.

Vítor de Sousa voltou a fazer A Nossa Agenda, excecionalmente, no último programa da 1.ª série.

Carlos Cunha alcançou um tal êxito popular com o seu Zé da Viúva que fez o ator temer ser “abafado” pelo boneco.

O ator considerou que as razões que contribuíram para a adesão imediata do público prenderam-se, essencialmente, com dois aspetos: o caracterizar um tipo de português que existia de facto, o chamado “chico-esperto”, com a mania que sabe tudo, mas com uma grande dose de humanidade, e o focar, a brincar, alguns problemas da atualidade: “Acima de tudo, ele foi alguém que falou com as pessoas e dizia coisas que elas percebiam”.

Inquirido pela TV Guia, Raul Solnado revelou não ser fã de Zé da Viúva: “Não gosto da personagem do Zé da Viúva. Em minha opinião, o Carlos Cunha é que a defende bem. Penso que é uma personagem sem base sólida, sem personalidade e sem consistência. Se o Zé da Viúva fosse uma figura melhor estruturada, mais rica, estou convencido que o êxito popular atingiria ainda maior dimensão”.

O programa fez a RTP 2 bater recordes de audiência, que chegou a cifrar-se acima dos 40 por cento.

A partir de 11/04/1987, embora mantendo o título, a segunda série de A Quinta do Dois foi exibida apenas na RTP 1, aos sábados à tarde.

Nesta fase, cada programa era gravado em dois dias (à segunda e à quarta), para que o público do Europa não se sentisse tão fustigado com o prolongado tempo de gravação.

Apesar do sucesso que conquistara até então, o programa sofreu modificações significativas, que lhe deram uma nova aragem, tentando agradar a um público cada vez mais vasto:

– O cenário foi completamente alterado, desaparecendo o estúdio de rádio e os locutores, cuja presença não fora bem compreendida pelo público.

– O programa passou a estar dividido em seis módulos bem marcados.

– Deixou de existir a entrevista de fundo.

– A orquestra foi aumentada em cinco figuras, mas foi suprimido o coro de três vozes femininas.

– O humor passou a estar concentrado em A Conquilha, uma espécie de sitcom protagonizada por Zé da Viúva.

Nesta fase, manteve-se o sorteio do automóvel e das bicicletas. Porém, atendendo às reclamações de alguns espectadores, que consideravam que a extração dos sobrescritos a partir de uma piscina não era completamente aleatória, estes passaram a ser despejados e baralhados a partir de um armário.

Maria da Conceição (Marina Mota), a mulher de Zé da Viúva, já havia aparecido no último programa da 1.ª série, como forma de apresentação para o que viria a seguir.

Artur Couto e Santos, um dos autores, partilhou no seu blog O Coiso algumas memórias sobre o programa, em particular sobre a experiência dolorosa que foi escrever A Conquilha:

(…) iniciámos a primeira experiência de “sitcom” na televisão portuguesa – “A Conquilha de Lisboa”. Eram episódios de cerca de 25 minutos, sempre passados no cenário do restaurante do Zé da Viúva e que eram transmitidos como um dos segmentos da Quinta. Não posso dizer que a coisa tenha corrido muito bem. Nenhum de nós tinha experiência neste campo; estávamos habituados aos textos curtos do Pão Comanteiga ou, no máximo, aos diálogos entre o Carlos Cruz e o Carlos Cunha. Escrever as falas de cinco ou seis personagens, construindo um enredo, à maneira das “sitcom” americanas, exige uma técnica que não dominávamos. Mas foi um princípio e desenvolvemos algumas ideias interessantes: o Vítor de Sousa, por exemplo, interpretava a personagem de um militar, que frequentava a Conquilha e que falava com pontuação (“Uma estalada ponto e vírgula. Deixem-me dar-lhe uma estalada ponto de exclamação!”). Mas enfim, para quem idolatrava a já referida série inglesa “Fawlty Towers” – passada num hotel, mas também com cenas de restaurante – “A Conquilha de Lisboa” era uma miséria!…

Com a mudança de canal e de horário, deixou de existir a reposição matinal. O espaço Juventude e Família, que aos sábados se iniciava por volta das 11 horas, passou a abrir a emissão, às 9 horas.

No final do programa, o jornal Se7e propôs uma brincadeira a Carlos Cruz: ele e Marina Mota submeteram-se à Prova Oral, perante um grupo de seis crianças. Carlos Cruz saiu vencedor, com 135 pontos, contra os 55 de Marina Mota.

O programa encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

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A Quinta do Dois