Teodorico Raposo (Júlio César) conta-nos as suas memórias na primeira pessoa, começando por evocar o seu avô materno, padre, teólogo e autor da obra Duma Devota Vida de Santa Filomena. Depois de uma resenha muito breve da sua primeira infância, ficamos a saber como ficou órfão de pai e mãe, o que o levou a ser enviado ao cuidado da sua tia, a senhora dona Maria do Patrocínio (Fernanda Coimbra).
Figura de destaque ao longo do enredo, a “titi”, como ele lhe chama, é uma velha católica fervorosa, que segue os mandamentos e os costumes religiosos com muita convicção, ao mesmo tempo que abomina tudo e todos aqueles que se afastam dos ensinamentos da Santa Madre Igreja, esbanjando o tempo que Deus lhes concedeu, na sua infinita misericórdia, com atos pecaminosos e relaxações.
Teodorico Raposo, o Raposão, é criado num ambiente onde ressoam as ladainhas e as intrigas de sacristia, mas cedo descobre os vícios em que deambulam os visitantes do domicílio da titi, e não demora muito para aprender como fazer para iludi-la, no que concerne aos seus rígidos preceitos morais. Deste modo, envolve-se amorosamente com várias mulheres, a empregada Vicência (Cremilda Gil) e principalmente Adélia (Rita Ribeiro), que conhece por intermédio de Rinchão (Manuel Cavaco), sem que a titi sequer suspeite, cobrindo-se com a máscara de devoto amantíssimo, para a qual contribuem os relatos de êxtases de natureza espiritual, experimentados nas principais igrejas de Lisboa.
Aconselhado pelo Dr. Margaride (Rogério Paulo), Teodorico aprimora essa sua vertente religiosa, não perdendo uma missa ou uma novena, na esperança de herdar a fortuna da titi, consciente de que tem na Santa Madre Igreja um adversário potente.
A titi, embora despótica e voluntariosa, não resiste ao aroma de incenso que o sobrinho Raposo vai aspergindo sobre as suas vestimentas para a cativar, e patrocina-lhe uma viagem à terra santa, de onde ele lhe deverá trazer uma relíquia religiosa que a ajude a aprimorar a sua devoção e a passar melhor os dias.
E, com efeito, Teodorico Raposo empreende essa peregrinação, vindo a conhecer Miss Mary (Maria Amélia Matta), em terras egípcias, com quem tem uma relação amorosa muito intensa. Já em Jerusalém, lembra-se embrulhar um galho com espinhos para o oferecer à titi, pois pretende fazer crer que se trata da coroa carregada por Nosso Senhor aquando da agonia.
Todavia, um acaso do destino faz com que o embrulho que contém a preciosidade seja trocado por outro, que guardava a camisa de noite que Miss Mary lhe deixara, a título de recordação. Assim, ao abrir o tesouro, a titi fica escandalizada com o que vê e, furiosa com tamanha deceção, expulsa-o da sua casa e da sua vida.
Despojado da expectativa da herança, o Raposão estabelece-se como comerciante de relíquias, passando, a partir de certa altura, a falsificá-las para melhorar os negócios. Mais tarde, porém, após um encontro com o antigo colega Crispim, casa-se com a irmã dele e torna-se um próspero comerciante na empresa da família.