Amor de Perdição

Exibição:
12/11/1978 – 24/12/1978 (RTP 1)

Número de episódios:
06

Um filme de:
Manoel de Oliveira

Música e direção musical:
João Paes

Cenários e figurinos:
António Casimiro

Diretor de fotografia:
Manuel Costa e Silva

Diretor de produção:
Henrique Espírito Santo

Elenco:
António Sequeira Lopes – Simão Botelho
Cristina Hauser – Teresa de Albuquerque
Elsa Wellenkamp – Mariana
António J. Costa – João da Cruz
Ricardo Pais – Baltasar Coutinho
Ruy Furtado – Domingos Botelho
Henrique Viana – Tadeu de Albuquerque
Maria Dulce – Rita Preciosa
Teresa Colares Pereira
Maria Barroso – Abadessa de Monchique
Adelaide João – Madre Prioresa
Lia Gama – Madre Escrivã
Manuela de Freitas – Madre Organista
Duarte de Almeida – Comandante
Paula Soveral
Wanda França
Agostinho Alves
José Capela
Carlos Garcez
António Martins
Isabel Gonçalves
Maria Salomé
António Corte-Real
Carmen Santos – Joaquina Brito
Luiz Filipe
Luiz Filipe Morão
Ângela Costa
Bebiana Vitorino
Maria da Conceição
Pedro Pinheiro – voz do delator
Manuela de Melo – voz da providência

Em Viseu, Simão (António Sequeira Lopes), filho do corregedor Domingos Botelho (Ruy Furtado), enamora-se de Teresa (Cristina Hauser), filha do fidalgo Tadeu de Albuquerque (Henrique Viana), e é correspondido. Mas Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque são inimigos figadais, pelo que o amor entre os jovens é contrariado, resolvendo Tadeu casar a filha com o seu sobrinho Baltasar (Ricardo Pais).

Simão, a estudar em Coimbra, sabedor do projeto, regressa secretamente a Viseu, para se encontrar com Teresa, ficando aboletado em casa do ferrador João da Cruz (António J. Costa), que tem Mariana (Elsa Wellenkamp) por filha.

Simão, Mariana e João da Cruz

Simão, no encontro com Teresa, é ferido numa emboscada e tratado por Mariana, com muito desvelo e amor nascente. Por sua vez, Teresa é encerrada num convento de Viseu, aguardando transferência para um convento no Porto.

À porta do convento, Simão, que aguardava a saída de Teresa, é interpelado por Baltasar e mata-o, entregando-se depois às autoridades.

Simão mata Baltasar

Simão é preso e Teresa encerrada no convento de Monchique, no Porto, cidade para onde Simão é igualmente enviado, como preso da Cadeia da Relação, onde Mariana o acompanha, como criada.

Simão na Cadeia da Relação

Simão e Teresa carteiam-se amiúde, jurando-se mutuamente amor eterno, para além da própria morte.

Teresa no Convento de Monchique

Tadeu procura transferir a filha do Porto para Viseu, receoso da presença de Simão, mas a filha opõe-se e começa a definhar, tuberculosa. Recupera, porém, quando lhe consta que Simão já não irá à forca. O tribunal comutara a pena em dez anos de degredo na índia.

Simão no barco que o conduzirá ao degredo

No dia da partida de Simão, Teresa morre, despedindo-se dele com um acenar de lenço. Ao saber da morte de Teresa, Simão é tomado de febre maligna e morre também. No instante do lançamento do corpo de Simão ao mar, Mariana atira-se à água e morre abraçada a ele.

1. (19/11/1978)
Em 1779, Domingos Botelho casa-se em Lisboa com D. Rita Preciosa, dama da corte de D. Maria I, sendo em 1784 transferido para Vila Real, onde D. Rita é recebida com honra por toda a fidalguia local, que ela despreza, habituada que estava à fidalguia requintada da capital. Em 1801, o casal e os cinco filhos – 2 rapazes e 3 raparigas – passam a viver em Viseu. Os filhos varões estudam em Coimbra, onde Simão dá largas a distúrbios arruaceiros, ganhando assim a aversão dos pais. De volta a Viseu, depois de preso em Coimbra por propaganda dos princípios da Revolução Francesa, Simão apaixona-se aí por Teresa de Albuquerque, sua vizinha, cujo pai odeia os Botelhos por questões judiciais. Namoram-se os jovens às ocultas, mas, descobertos, Teresa é ameaçada de ir para um convento. Simão, por sua vez, volta para Coimbra, para estudos, porém com carta de Teresa, trazida por uma mendiga. Com surpresa geral, Simão torna-se um brilhante estudante. Tadeu de Albuquerque apressa o casamento de seu sobrinho Baltasar com Tresa, mas ela repele o primo, dizendo amar outro homem, que Baltasar sabe ser Simão e de cujas “garras” a pretende salvar. Tadeu opõe-se a que Teresa dê o coração ao filho do seu maior inimigo e diz-lhe que poderá esperar num convento a morte dele, para depois ser desgraçada à sua vontade. Dias depois, Tadeu anuncia à filha que, nesse mesmo dia, casará com Baltasar. Teresa pergunta ao pai se ele será feliz com o seu sacrifício, pedindo-lhe a seguir que a mate, em vez de a forçar ao casamento.


2. (26/11/1978)
Tadeu resolve meter Teresa num convento e diz ao sobrinho que não pode dar-lhe Teresa, por ela já não ser sua filha. Baltasar pede ao tio que não enclausure Teresa e que espere a vinda de Simão a Viseu. Tadeu assim faz, e de tudo dá Teresa notícia a Simão. Dando saber a Teresa que irá a Viseu vê-la, responde-lhe a jovem que lhe abrirá a porta do quintal na noite em que estarão a festejar os seus 18 anos de idade. Teresa sai da sala e dirige-se à porta do jardim para se encontrar com Simão, mas, vendo um vulto a segui-la, só tem tempo para pedir a Simão que volte no dia seguinte. Simão interpela um vulto que encontra, mas que não se dá a conhecer e se retire ante a ameaça de uma pistola. Simão, desconfiado com o vulto, que lhe pareceu ser Baltasar, hesita em voltar ao quintal de Teresa, mas carta desta sossega-o e atiça-lhe a coragem. Mariana, filha do ferrador João da Cruz, na casa do qual Simão se albergara, avisa este da desgraça que antevê. João da Cruz, que devia favores à família Botelho, conta a Simão que Baltasar lhe oferecera dinheiro para o matar, mas ele recusara. Diz-lhe que se acautele, pois espera uma cilada da parte de Baltasar. Mariana pede a Nossa Senhora que vele por Simão e sai da sala a chorar. Baltasar, com dois homens seus, monta espera a Simão na noite seguinte. João da Cruz, antecedendo Simão na sua visita ao quintal de Teresa, estabelece plano para o livrar da armadilha. Simão consegue sair sem ser visto pelos homens de Baltasar e o ferrador manda-o seguir para casa, enquanto ele e o arrieiro procuram chegar ao local onde pensam terem-se escondido os da espera, antes de Simão, mas não conseguem, pelo que Simão é ferido a tiro. João da Cruz mata os dois homens emboscados. Simão piora do ferimento, com Teresa aflita por nada saber dele, encerrada no quarto, por ordem do pai, que resolve interná-la num convento local antes de a mandar para o Convento de Monchique, no Porto.


3. (03/12/1978)
Teresa contacta com a vida monacal, com grande desilusão sobre as suas virtudes, e consegue enviar carta a Simão. Só, no quarto de Simão e como sua enfermeira, Mariana diz-lhe que sabe tudo sobre a espera e que todos os dias pede ao Senhor dos Passos que dê remédio à sua paixão por Teresa. Sonhara que vira muito sangue derramado e uma pessoa amiga a ser enterrada. Confirmando que Simão está sem dinheiro, Mariana combina com o pai maneira de lho fornecer. Simão vislumbra que é amado por Mariana, o que o lisonjeia. Simão, ouvindo de Mariana que o coração lhe diz que os trabalhos dele ainda estão no começo, suspeita que Mariana o quer afastar de Teresa, para se fazer amar por ele. O ferrador volta a casa com dinheiro supostamente enviado pela mãe de Simão, mas que é afinal dinheiro de Mariana. Teresa escreve do convento, falando da atmosfera viciosa que ali se vive, e repete que não quer professar. Tadeu de Albuquerque comunica à filha a partida para o convento do Porto. Teresa procura avisar Simão. Desvairado, este quer dirigir-se ao convento para libertar Teresa, mas Mariana oferece-se para levar uma carta. Simão aceita e ela parte. Mariana fala no convento com Teresa, que está de partida para o Porto, e acha-a linda. Teresa quer pagar-lhe o serviço com um dos seus anéis, que Mariana recusa.


4. (10/12/1978)
Simão, ao saber da partida de Teresa, quer ir vê-la, e João da Cruz, embora não aprovando a decisão, prontifica-se a arranjar-lhe um homem que o acompanhe para o rapto. A chorar, Mariana pede-lhe que não saia, porque o coração lhe diz que não tornará a vê-lo. Simão insiste em sair, não aceitando a companhia de João da Cruz, nem de ninguém. Mas, a rogos do ferrador, promete não sair nessa noite, nem no dia seguinte. Simão sai, no entanto, noite alta. Mariana assomando a uma janela, despede-se dele e fica-se a orar pela sua salvação. Simão chega ao convento ainda de noite. De madrugada, chega a comitiva que há de acompanhar Teresa e na qual vem Baltasar, que Simão interpela e com quem luta, matando-o com um tiro à queima-roupa. Os criados cercam Simão. Surge João da Cruz e diz a Simão que fuja. Simão recusa e entrega-se à prisão, na pessoa do meirinho-geral, que lhe quer dar a fuga, o que ele de novo recusa, por querer assumir a responsabilidade plena do seu ato. Domingos Botelho sabe pelo juiz de fora da prisão do filho e diz-lhe que lhe dê o tratamento devido a qualquer criminoso, sem contemplações. Admirando-se o juiz, afirma-lhe o corregedor Botelho desconhecer o homem de quem lhe falava. Um criado da casa leva o almoço a Simão, a mando da mãe e às escondidas do pai. Desculpa-se a mãe de não ter dinheiro para lhe enviar, pelo que Simão vem a saber que o dinheiro que recebera era do ferrador. Recusa o almoço. Mariana, em pranto, vem perguntar a Simão se precisa de alguma coisa e ele pede uma mesinha, uma cadeira, um tinteiro e um papel, ficando então a saber que Teresa fora levada para o Porto, desmaiada. Mariana diz a Simão que ele não há de morrer ao desamparo, pois ela será para ele uma irmã. A família de Simão retira-se de Viseu para Vila Real. Simão é condenado à forca.


5. (17/12/1978)
Mariana, ao saber da sentença, enlouquece e, no seu delírio, pede que a matem primeiro. Simão compreende finalmente que ela o amava a ponto de morrer. Teresa definha a pouco e pouco, desejando com alegria a morte. Sabendo da condenação de Simão, consegue fazer-lhe chegar uma carta, em que diz morrer com ele. Sabedor da doença grave da filha, Tadeu de Albuquerque resolve tirá-la do convento, até porque Simão ia ser transferido para a Cadeia da Relação do Porto. Mas Teresa ainda recebe a última carta de Simão, a pedir-lhe que não morra, porque a sentença ia-lhe ser comutada ou anulada. Teresa já não quer morrer e exclama que, se isso tiver de acontecer, melhor teria sido não ter recebido a carta, com Simão a pedir-lhe que vivesse. Tadeu de Albuquerque apresenta-se à porta do convento para levar a filha e recebe a nova de que ela está muito melhor, mas incapaz de aguentar a viagem demorada de cinco dias, como é a do Porto a Viseu. Tadeu diz querer levar Teresa do Porto (por Simão já aí se encontrar), mas Teresa, cujo estado físico o surpreende, recusa-se a sair do convento, onde quer morrer confessando ao pai já saber da presença de Simão. Tadeu fica irado, exige a saída da filha e o despedimento da criada, mas nada consegue, por a tudo se oporem as regras conventuais. Procura depois demover as autoridades judiciais do Porto do perdão a Simão, mas nada consegue também. Na cadeia, Simão escreve as suas meditações. Aparece, de surpresa, João da Cruz, com a notícia de que Mariana recobrara o juízo. Simão entrega-lhe carta para Teresa, que chega ao destino, com possibilidades de recebimento de outras, com o que Simão se alegra. O ferrador informa que a filha viera com ele, para ficar ao serviço de Simão, mas este observa que ela corre perigo, sozinha no Porto. João elogia a bravura da filha e declara reconhecer ser sina de Mariana ter “paixão de alma” por Simão. Este lança-se nos braços de João, exclamando: “Pudesse eu ser marido de sua filha, meu nobre amigo!”. O ferrador fica emocionado. O irmão de Simão vai visitá-lo à prisão, mas é recebido friamente. Um corregedor amigo informa-o de que a pena de Simão será comutada em dez anos de degredo na Índia, já que era impossível absolve-lo, por ele “soberbamente” se confessar culpado, e de que Teresa recobrar a saúde. O corregedor escreve depois a Domingos Botelho, a informá-lo de que lhe mandara um abraço pelos filhos (Manuel e a concubina deste, que ele supusera sua irmã). Botelho parte para Vila Real, onde trata do repatriamento da amante do filho para os Açores e da prisão de Manuel como desertor. João da Cruz, saudoso da filha, resolve ir ao Porto vê-la.


6. (24/12/1978)
Chega a casa de João da Cruz um viajante encapotado que lhe desfecha o bacamarte no peito, por crime de morte antigo. João morre e Simão é informado, por carta, do sucedido. Mariana fica como louca e Simão pede-lhe que continue a seu lado. Mariana recolhe a herança do pai, que entrega a Simão, a quem diz segui-lo no degredo. Simão observa-lhe que não poderá ser para ela o que ela merecia – seu marido – e pede-lhe que não o acompanhe. Mas Mariana está determinada e replica que, quando vir não ser precisa, acabará com a vida. Simão aceita a decisão de Mariana. Simão, por intercessão do pai, é autorizado a expiar a pena na cadeia de Vila Real, o que não aceita, por desejar “a liberdade do degredo”. Teresa escreve a Simão, a pedir-lhe que aceite os dez anos de cadeia, na esperança de poderem um dia casar; no degredo, perdê-lo-á para sempre. Simão responde-lhe ser preferível a morte para ambos. Teresa despede-se, já nos últimos dias de vida. À notícia do embarque, Simão passa a ter “medonhos” lances de loucura e de letargia. Simão embarca para a Índia com Mariana. Um desembargador amigo entrega-lhe algum dinheiro em ouro, enviado pela mãe, e que ele de imediato manda distribuir por todos os outros degredados. À partida, no convés, com os olhos postos no convento de Monchique, Simão descobre o vulto de Teresa, que na véspera lhe enviara a trança de cabelos. Teresa despede-se das freiras e entrega a Constança, sua criada privativa, as cartas de Simão, para que lhas faça chegar. Vinda de bote, a mendiga, fiel mensageira entre os dois, entrega o maço de cartas a Simão, que se despede de Teresa com um aceno de lenço correspondido. É o instante da morte de Teresa, como Simão vem a saber pelo capitão do navio. Tomado pela dor, recolhe-se Simão, com Mariana, ao beliche. De madrugada, Simão lê, finalmente, a última carta de Teresa – uma pungente despedida. Assalta-o febre violenta, diagnosticada como febre maligna, mortal. Nove dias volvidos, de tormenta também no mar, Simão morre e Mariana beija-o pela primeira e última vez. O corpo é lançado à água e, ato contínuo, Mariana faz o mesmo, morrendo abraçada ao jovem que tanto amara em silêncio e em dedicação. A correspondência é recolhida, a boiar na água.

Adaptação da obra de Camilo Castelo Branco, feita por Manoel de Oliveira em duas versões: uma cinematográfica, com a duração de quatro horas e meia; e esta, em formato de minissérie, composta por 6 episódios de aproximadamente 45 minutos.

Amor de Perdição foi escrito por Camilo Castelo Branco aquando da sua permanência na Cadeia da Relação, no processo de adultério que resultou do seu envolvimento com Ana Plácido. A tese mais defendida é de que a obra reflete aspetos biográficos da vida do autor, transfigurados em Simão Botelho, que, na realidade, era seu tio. Camilo era filho de Manuel Botelho, irmão de Simão que também surge na obra.

A adaptação cinematográfica de Manoel de Oliveira, uma transposição literal do romance, foi a terceira a ser feita em Portugal: a primeira fora em 1921, ainda em cinema mudo, e a segunda em 1943, com realização de António Lopes Ribeiro.

Amor de Perdição foi apresentado ao público na televisão, em novembro de 1978, tendo a estreia nas salas de cinema ocorrido cerca de um ano mais tarde.

Os episódios foram exibidos semanalmente, na RTP 1, aos domingos.

Cada episódio tinha um prólogo, no qual era feito um resumo dos acontecidos anteriores por Rita, irmã de Simão.

No dia 12/11/1978, uma semana antes da estreia, foi exibido um episódio zero, no qual se analisaram alguns aspetos da obra de Camilo Castelo Branco e se fez um panorama da situação do cinema português na altura.

O programa incluiu ainda entrevistas com:

– António Sequeira Lopes, Cristina Hauser e Elsa Wellenkamp, os três protagonistas;

António Sequeira Lopes
Cristina Hauser
Elsa Wellenkamp

– Manoel de Oliveira.

A produção de Amor de Perdição iniciou-se em 1974, mas algumas dificuldades fizeram com que as filmagens se arrastassem por um longo período. Por se tratar de um filme de época, os custos de produção eram avultados e bastante acima do que era habitual, nomeadamente em décors (cerca de 80), vestuário e figurantes. O custo total do filme foi de 22 mil contos.

Amor de Perdição foi subsidiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e coproduzido pelo Instituto Português de Cinema, Centro Português de Cinema, Cinequipa, Tóbis e RTP.

Destaque para a participação de Maria Barroso, como Abadessa do Convento de Monchique.

A Porto Editora lançou uma edição ilustrada do romance, com fotos de cenas do filme.

A série foi reposta na RTP 2 – desta feita, a cores –, entre 05/09/1984 e 10/10/1984.

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Amor de Perdição