Exibição:
18/01/1992 – 10/10/1992 (RTP 1)
Número de capítulos:
115
Produção:
Rede Globo (1990/1991)
Novela de:
Dias Gomes
Lauro César Muniz
Ferreira Gullar
Direção geral:
Cecil Thiré
Exibição:
18/01/1992 – 10/10/1992 (RTP 1)
Número de capítulos:
115
Produção:
Rede Globo (1990/1991)
Novela de:
Dias Gomes
Lauro César Muniz
Ferreira Gullar
Direção geral:
Cecil Thiré
Araponga (Tarcísio Meira) pertence a uma organização secreta que pretende reativar o Serviço Nacional de Informações, cujos tempos áureos remontam ao regime militar. É nesse contexto que persegue o senador Petrônio Paranhos (Paulo Gracindo), quando ele promete dar uma importante entrevista à jornalista Magali Santana (Christiane Torloni), com a condição de que a mesma tenha lugar num motel. Porém, após ingerir uma refeição muito pesada e de tentar, sem sucesso, seduzir a entrevistadora, o senador morre subitamente com uma paragem cardíaca. O facto de a família encobrir as circunstâncias da morte para evitar um escândalo acende a suspeita no íntimo de Araponga, que passa a suspeitar de que Magali faz parte de uma máfia montada para assassinar o político.
Agindo com o apoio do seu superior hierárquico, o implacável Gavião (Rogério Fróes), Araponga começa a construir mentalmente o plano que terá sido executado com vista ao assassinato do senador e, nas horas vagas, tortura-se com os instrumentos herdados do regime militar. Para libertar a líbido, apenas se permite colecionar as cuequinhas das mulheres que detém e interroga, como é o caso de Magali.
À medida que Araponga cria e decifra as suas próprias charadas, entra em cena o simplório José das Couves (Milton Gonçalves), inventor de um combustível alternativo produzido à base de urina. Sempre na mira de factos direta ou indiretamente ligados ao senador, Araponga depara-se com o achado e conclui ter chegado ao verdadeiro móbil do crime: o senador morreu porque ficou ao corrente da existência do precioso combustível, alvo de uma disputa acesa por parte de capitalistas importantes.
Magali, por seu turno, atravessa uma fase complicada no matrimónio. Após descobrir que é um homem estéril, Érico (Paulo José), o marido, concorda com a gestação de um filho através dos métodos de procriação medicamente assistida, mas quando sabe que ela recrutou João Paulo (Flávio Galvão), o eterno apaixonado, para doador de sémen, rompe definitivamente a relação. Nesse contexto, a jornalista isola-se e, contra todas as suas expectativas, começa a sentir uma irresistível atração por Araponga. Ao mesmo tempo, deparamo-nos com outro facto completamente inesperado: o nosso herói sempre esteve certo nas suas conjeturas, pois uma autópsia ordenada pelas autoridades policiais demonstra que o senador foi mesmo assassinado por causa do novo combustível alternativo. Magali, estando com o político na hora H, teria sido escolhida como o bode expiatório perfeito.
Assim, no dia e que a organização lhe pede para parar as investigações, Araponga desobedece, apertando o cerco em torno do assassino, que não é nada mais nem menos do que Gavião, o seu chefe insuspeito. Desfeito o mistério, o criminoso é assassinado por Faisão Dourado (Roberto Frota), o supra sumo da organização secreta, mas Araponga não está em melhores lençóis, pois foi jurado de morte pelo assassino profissional contratado por Gavião. No entanto, como as munições do matador são feitas à base de tinta, desencadeia-se uma partida de paintball, em que todo o elenco participa, encerrando em clima de festa a telenovela.
Muito embora seja referida como uma produção idealizada para fazer concorrência a Pantanal, que, na TV Manchete, conseguia índices raros para uma novela transmitida fora da TV Globo, a verdade é que, já em abril de 1990, Araponga já estava planeada para ir ao ar, mas no horário das 20:30, em substituição de Rainha da Sucata.
Os mais curiosos poderão inclusivamente aceder ao site TV Pesquisa e confirmar o teor das notas dos jornais de abril a agosto de 1990, que previam para esse ano, em horário nobre, a estreia de uma novela com os títulos provisórios de Os Clones e Ponto Futuro, cujo argumento, começando com o decretamento do fim do Serviço Nacional de Informações, se centrava nas paranóias de um agente policial, bem como nas experiências de uma clínica de engenharia genética.
Em setembro de 1990, a novela já aparece com o título pelo qual ficaria conhecida. A decisão de colocar Araponga no horário das 21:30, em concorrência direta com Pantanal, surge por essa altura e tem duas explicações: uma delas prende-se efetivamente com a tentativa de evitar que o público mudasse de canal após o termo do capítulo da novela das oito, engrossando a audiência de Pantanal, mas a outra, que chegou a ser comentada pelo próprio Dias Gomes, tinha a ver com o facto de não se querer arriscar no horário das 20 horas uma produção com uma carga humorística tão forte. Com efeito, Rainha da Sucata já tinha enfrentado algumas dificuldades no início devido à sua componente fortemente satírica e, para evitar uma repetição do mesmo problema, foi produzida para o horário a melodramática Meu Bem Meu Mal, deixando-se que Araponga, uma novela à partida mais ousada, viesse na faixa seguinte.
Em Portugal, esse problema não existia. Sassaricando, apresentando uma trama onde o humor superava o drama em larga escala, tinha sido exibida há poucos anos às 20 horas, registando uma das maiores audiências da RTP. Araponga foi exibida no mesmo horário, mas ao fim-de-semana. Eram exibidos três capítulos por semana, um ao sábado e dois ao domingo.
Ao contrário do que aconteceu no Brasil, não se pode dizer que tenha sido um fiasco. É certo que não teve o mesmo êxito das outras novelas de Dias Gomes nem das comédias rasgadas de Sílvio de Abreu, mas é inegável que obteve um sucesso relativo e conquistou vários fãs, entre os quais, o então Presidente da República Mário Soares, que, segundo constava da imprensa, não perdia um capítulo das aventuras do agente secreto protagonizado por Tarcísio Meira.
Sem um fio condutor que se mantivesse ao longo do enredo, Araponga fugia ao estereótipo da novela bem comportada, em que os personagens mantêm o mesmo caráter do início ao fim da história. Pelo contrário, a personagem principal começa por um lunático com a mania da perseguição e, de um dia para o outro, transforma-se num verdadeiro herói, conquistando, inclusivamente, o coração da personagem feminina principal. Em simultâneo, o telespectador é surpreendido pela veracidade de todas as suas histórias de teor conspirativo propaladas durante mais de metade da novela e Araponga passa a ser visto como o mentor de uma investigação melindrosa contra o crime organizado. Esta reviravolta, bem como outros lances pouco convincentes, explicam que Araponga ficasse aquém das expectativas e não tenha ingressado para o cânone das grandes novelas. No entanto, as nuances bizarras do protagonista fazem desta personagem um tipo curioso, que decerto perdura na memória dos telespectadores. De facto, é impossível esquecer a coleção de cuecas de mulher que Araponga guardava num cofre do seu quarto, as torturas que ele se infligia voluntariamente, bem como o leitinho no biberão que todas as noites a mãe super-protetora lhe levava.