Berros e Bocas

Exibição:
18/07/1982 – 10/10/1982 (RTP 1)

Número de programas:
13

Apresentação:
Luís Filipe Barros
Manuela Moura Guedes

Produção:
João Henrique

Realização:
João Serradas Duarte

Berros e Bocas é, essencialmente, uma emissão musical que inclui também passatempos e concursos.

O programa caracteriza-se pela participação de música jovem e pela apresentação de telediscos.

A apresentação está a cargo de Luís Filipe Barros (“berros”) e Manuela Moura Guedes (“bocas”).

Em cada edição, há também a presença de uma figura pública, que se mantém em cena durante as três horas de programa.

Os apresentadores com Humberto Coelho

Concebido para ser uma espécie de boîte televisiva, Berros e Bocas veio ocupar as tardes de domingo, em substituição do bem-sucedido O Passeio dos Alegres.

Tratava-se de um programa feito especificamente para o mapa-tipo de verão. As três horas de duração eram preenchidas com entrevistas, passatempos e alguns telediscos, mas o forte eram, sem dúvida, as atuações musicais.

Ney Matogrosso com Luís Filipe Barros

A transmissão, feita em direto, contava com uma grande dose de improviso. O local de emissão era um dos estúdios da RTP no Lumiar, que, não sendo o ideal para os responsáveis do programa, era o possível, num momento em que a televisão mantinha ocupado o seu maior espaço com as gravações da série A Tragédia da Rua das Flores.

Em jeito de inovação, ou talvez para reforçar o ambiente de discoteca, o público permanecia de pé, fazendo ouvir os seus “berros” mas dando também as suas “bocas”.

Apesar de ser feito em estúdio, Berros e Bocas tinha alguns momentos de exterior, através de apontamentos de reportagem que incluíam passatempos, contando com uma equipa que integrava elementos do Café com Leite, programa radiofónico de Luís Filipe Barros na Rádio Comercial.

Na primeira emissão, por exemplo, um dos momentos que mais “tocou” os telespectadores foi a figura de Fernando Silva e Reis, que recorreu à televisão para encontrar namorada. Na realidade, foi um personagem “inventado” para se parodiar a rubrica Namoro na TV, que existia no Brasil, apresentada por Sílvio Santos. Quem o interpretou foi Fernando Maria, assistente do Café com Leite.

O humor estava semanalmente presente na figura do Professor Stragavarius (José Lúcio), cientista especializado na construção de instrumentos. Também José Lúcio, o seu intérprete, trabalhava na Rádio Comercial, como assistente do Rock em Stock e colaborador do Café com Leite.

Luís Filipe Barros estreava-se em televisão, e Manuela Moura Guedes fazia pela primeira vez um programa deste tipo. O resultado foi, nas palavras da apresentadora, “uma experiência dolorosa”.

A principal justificação dada foi a incompatibilidade de conceções e feitios dos dois responsáveis pelo programa. Disse Manuela Moura Guedes: “Nós temos pontos de vista diferentes, somos a antítese um do outro, o que deu origem a que o produto final do nosso trabalho se revelasse uma salgalhada”.

Por seu turno, Luís Filipe Barros desabafou: “Tudo o que tinha imaginado para o programa acabou por não se concretizar, devido às características pessoais da Manuela, que são diferentes das minhas. […] O principal defeito do programa talvez tenha sido a falta de ritmo: entrevistas longas e mal preparadas quebravam o ritmo, servindo apenas de estágio à Manuela, que pretende ser futura jornalista da RTP. Compreendi o que ela queria. Um caso lamentável, do qual sempre discordei, foi a história dos namorados, que só podia ter graça se fosse feita a brincar, o que não acontecia”.

Manuela Moura Guedes apontou ainda outros defeitos, de cariz mais técnico: “Um espaço televisivo como o de Berros e Bocas deve ser muito movimentado e sem paragens. Nós enfrentámos os problemas resultantes de haver muitas pessoas no estúdio. Muitas vezes, a câmara mal conseguia passar. Isso criou graves dificuldades de realização”.

Apesar do descontentamento e das críticas generalizadas, o programa teve mais de 50% de audiência, o que, numa altura em que as pessoas iam para a praia, era considerado muito bom.

Luís Filipe Barros não voltou a apresentar programas na televisão.

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