Exibição:
1986-1997 (RTP 1 / RTP 2)
Produção e realização:
José Maria Pimentel
Música:
José Calvário
Intérpretes:
Isabel Campelo (I)
Dulce Neves (II)
Eugénia Melo e Castro (III)
Paulo de Carvalho (IV)
Exibição:
1986-1997 (RTP 1 / RTP 2)
Produção e realização:
José Maria Pimentel
Música:
José Calvário
Intérpretes:
Isabel Campelo (I)
Dulce Neves (II)
Eugénia Melo e Castro (III)
Paulo de Carvalho (IV)
Foi pelas mãos inspiradas do ilustrador e publicitário José Maria Pimentel que, em 1984, no âmbito de uma campanha para lançamento de uma nova gama de flocos de cereais – Miluvit –, nasceu o Vitinho.
O objetivo da Milupa era cobrir um novo segmento de clientes, dos 4 aos 10 anos.
A campanha idealizada pela equipa de José Maria Pimentel propunha uma “humanização do produto, através da criação de uma figura facilmente identificável por e com a camada de consumidores potenciais das papas, figura essa à volta da qual girava toda a campanha”.
“Vida saudável”, “liberdade” e “identificação” eram as palavras de ordem que deveriam nortear a criação. Como o produto era à base de cereais, resultou num menino do campo, com quatro anos, descalço, de jardineiras e chapéu de palha, e muito reguila. José Maria Pimentel admite que buscou alguma inspiração na figura de Huckleberry Finn, o companheiro inseparável de Tom Sawyer.
Após o lançamento, o Vitinho manteve-se como veículo de comunicação da marca, dando a cara num sem-número de brindes distribuídos com os cereais e, mais tarde, nas próprias embalagens do produto.
Em 1986, dá-se a encomenda de um filme de “Boa Noite”, a ser veiculado diariamente na RTP. Seria a afirmação definitiva do Vitinho como figura acarinhada pelo público infantil, com o qual já existia uma relação de simpatia e cumplicidade.
A proposta foi aprovada por Carlos Pinto Coelho, então diretor de programas, e por Maria Alberta Menéres, consultora para os programas infantis.
A estreia ocorreu em outubro desse ano, com a entrada do novo mapa-tipo. O horário de exibição era após a telenovela (cerca das 21:00), na sequência da rubrica Uma História ao Fim do Dia.
No início de 1991, pela primeira vez, o Boa Noite passou a ser exibido antes da telenovela, embora tenha, em determinadas alturas, regressado ao horário inicial.
José Maria Pimentel foi responsável não só pelos guiões dos filmes – quatro no total –, como teve também um forte envolvimento na componente de animação.
Tornou-se inesquecível o jingle do primeiro filme, interpretado por Isabel Campelo. Intervinham também Maria Helena d’Eça Leal e José Nuno Martins, as vozes dos pais do Vitinho, e Gonçalo Mendes Martins – filho do administrador da Milupa, João Mendes Martins –, responsável pela gargalhada e pelo bocejo do Vitinho.
LADO A
BOA NOITE, VITINHO (I) – Isabel Campelo
LADO B
CANTIGA DO MILUVIT – Isabel Campelo
Rapidamente o Vitinho tornou-se um fenómeno de popularidade, acabando por ganhar vida própria em relação ao produto que lhe dera origem.
A Milupa cedeu os direitos de exploração à RTC, passando a beneficiar de condições especiais na colocação de anúncios em horário nobre.
Embora não houvesse qualquer alusão a cereais no filme, a RTP e a Milupa foram alvo de uma ação em tribunal, interposta pelo Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, que considerava tratar-se de um caso de publicidade oculta. A defesa foi assumida por António Costa (longe de vir a tornar-se Primeiro Ministro), tendo o Tribunal da Relação considerado a ação improcedente.
Mais tarde, uma fonte do instituto declarou que “o Vitinho só se safou porque a Justiça portuguesa é atrasada”. António Costa baseou-se no facto de o boneco já não estar conotado com os anúncios do Miluvit e que adquirira “notoriedade e vida própria”. Porém, segundo a mesma fonte, “isto não era verdade quando o Vitinho apareceu. Mas a Justiça atrasou-se tanto que, na altura do julgamento, a alegação já não fazia sentido”.
Em 1988, considerando-se que havia já um certo desgaste do primeiro filme, pôs-se em marcha a produção do segundo. A nova música foi interpretada por Dulce Neves.
LADO A
BOA NOITE, VITINHO (II) – Dulce Neves
LADO B
CANTIGA DE EMBALAR – Isabel Campelo
Deram-se a conhecer os rostos dos pais do Vitinho, retratados como sombras no primeiro filme.
Outra novidade foi a almofada do Vitinho, criada para assumir o papel inicialmente destinado à mãe.
Pouco tempo depois, a almofada foi produzida e colocada à venda, com enorme sucesso.
Em 1990, o Vitinho tornou-se a mascote das duas primeiras temporadas do concurso Arca de Noé.
Figurou também na capa do primeiro disco com as músicas interpretadas no concurso, da autoria de Carlos Alberto Moniz.
Entre 1990 e 1991, o lugar do Vitinho no Boa Noite foi ocupado por outras películas de animação.
Após este interregno, deu-se início à produção do terceiro filme, em 1991. Considerado por muitos como o mais bem conseguido dos quatro – e certamente mais impactante que o antecessor –, foi inteiramente produzido em Portugal, ao contrário dos anteriores, realizados em Espanha.
Coube a Eugénia Melo e Castro dar voz à terceira canção. O single trazia de volta os dois temas anteriores, bem como as suas versões instrumentais.
LADO A
BOA NOITE, VITINHO (III) – Eugénia Melo Castro
BOA NOITE, VITINHO (II) – Dulce Neves
BOA NOITE, VITINHO (I) – Isabel Campelo
LADO B
BOA NOITE, VITINHO (III) – versão instrumental
BOA NOITE, VITINHO (II) – versão instrumental
BOA NOITE, VITINHO (I) – versão instrumental
O quarto e último filme, produzido em 1992, deveria ter como fundo musical Cantiga de Embalar, um dueto de Paulo de Carvalho e Lena d’Água. No entanto, o jingle foi reprovado por João David Nunes, administrador da RTC, obrigando à gravação de um novo, desta vez com Paulo de Carvalho a solo.
Para garantir harmonia entre a imagem e o som, foi necessário proceder à remontagem do filme em tempo recorde, de modo a não comprometer o prazo de entrega à RTP, já praticamente esgotado.
O single lançado continha ambas as músicas.
LADO A
BOA NOITE, VITINHO (IV) – Paulo de Carvalho
LADO B
CANTIGA DE EMBALAR – Paulo de Carvalho / Lena d’Água
Paralelamente, foi editado um álbum intitulado Vitinho apresenta: Êxitos da Pequenada, com uma capa idêntica à do single, que continha uma série de outros temas para a juventude.
DENTRO DE UMA BOTA (L’ITALIANO) – Popeline
FUI ONTEM À FEIRA – Onda Choc
NATAL NA NEVE (SLEIGHRIDE IN) – Jovens Cantores de Lisboa e Ana Faria
SUSANA (Susanna) – Queijinhos Frescos
A LUA É FEITICEIRA – Popeline
BIQUINI PEQUENINO ÀS BOLINHAS AMARELAS (ITSY BITSY TEENIE WEENIE YELLOW POLKADOT BIKINI) – Onda Choc
CANTIGA DE EMBALAR – Paulo de Carvalho / Lena d’Água
CANÇÃO DO LUÍS – Ana Faria e Pedro
MUITO MAIS – Popeline
O PAI NATAL – Jovens Cantores de Lisboa e Ana Faria
SERÁ QUE ELE PENSA EM MIM? – Onda Choc
PARABÉNS A VOCÊ – António Sala / Miguel Sala
SE FORES NO MEU CARRO (GET OUTTA MY DREAMS, GET INTO MY CAR) – Ultimatum
BOA NOITE, VITINHO (IV) – Paulo de Carvalho
Todos os filmes tiveram um cariz pedagógico, tendo como fio condutor o desligar da televisão e o difícil percurso até à cama, retratado com leveza. As próprias músicas, orquestradas pelo maestro José Calvário, seguiam essas orientações.
Sempre que se dava início à produção de um novo vídeo, eram feitas entrevistas nas escolas primárias, em que as crianças, após visionarem os vídeos anteriores, mencionavam quais eram os aspetos que menos lhes agradavam. No primeiro vídeo, por exemplo, um dos elementos que causava um certo desconforto era o autoritarismo do pai ao mandar o Vitinho para a cama. Foi por esse motivo que, no segundo vídeo, quem assumiu essa função foi a almofada, embora José Calvário tivesse inicialmente destinado esse papel à mãe do Vitinho.
Ao primeiro filme, foi acrescentado pela RTP um “epílogo” com uma versão da banda sonora em “caixinha de música”, cujo objetivo era transmitir uma sensação de apaziguamento.
Nas versões seguintes, esse epílogo foi pensado durante a conceção do filme e integrado no seu contexto.
O Vitinho abandonou os ecrãs em 1997 – nos últimos tempos, aparecia na RTP 2 –, sendo sucedido, mais tarde, pelos Patinhos.
Porém, prosseguiu a sua carreira na Milupa, continuando a assumir um papel preponderante na imagem da marca.
Os flocos de cereais haviam perdido representatividade no volume de negócios e foi necessário adequar a mascote a outras gamas de produtos da empresa, como boiões, purés de fruta e bolachas. Surgiu, assim, a necessidade de existirem Vitinhos de diferentes faixas etárias, com idades compreendidas entre os 4 meses e os 12 anos.
Em 2004, a casa-mãe da Milupa, com sede na Alemanha, optou por uma estratégia de marketing global, cessando todo e qualquer plano de comunicação local. Foi assim decretado o fim do Vitinho enquanto mascote da marca.
José Maria Pimentel conseguiu, ainda assim, um acordo com a Milupa para exploração do boneco, com a condição de todos os projetos passarem pelo crivo da empresa. Surgiram várias ideias, como o quinto filme de “Boa Noite”, uma série diária para a SIC e uma longa-metragem, mas nenhuma delas viu a luz do dia.
A importância do Vitinho no quotidiano de várias gerações foi reconhecida quando o historiador José Mattoso decidiu incluir, no último volume da sua História da Vida Privada em Portugal, uma imagem do Vitinho em ambiente familiar.
Por sua vez, em fevereiro de 2011, a Google Portugal escolheu como mote do primeiro doodle comemorativo no nosso país o 25.º aniversário da estreia do Vitinho na televisão.
A propriedade do Vitinho foi detida pela Milupa até determinada altura, mas, ao fim de 25 anos, a empresa não renovou o registo, oportunidade que José Maria Pimentel agarrou para, finalmente, lançar mão da mesma e, deste modo, ter total liberdade no desenvolvimento dos seus projetos com o Vitinho.
Surgiu assim, nas redes sociais, o Clube Vitinho, como forma de evocação nostálgica do Vitinho e de promoção dos produtos que viriam a ser lançados.
Nesse domínio, destaca-se O Grande Livro do Vitinho, uma verdadeira bíblia que conta a biografia completa e profusamente ilustrada do Vitinho.
Deu-se também início a uma coleção de livros de histórias, cada uma em torno de um tema relevante para as crianças. Até ao momento, foram publicados três livros.
Foram também editados dois CDs:
– O primeiro, Vitinho – 30 Grandes Êxitos (2016), é uma coletânea de hits da época do Vitinho, contendo temas interpretados por: Onda Choc, Ana Malhoa e Popeline, entre outros.
– O segundo e o mais aguardado, Boa Noite, Vitinho (2018), reuniu as gravações originais utilizadas nos filmes do Vitinho.
Ainda existem planos para o lançamento de mais dois CDs desta coleção: Êxitos da Pequenada e É Natal! É Natal!…
Em 2017, José Maria Pimentel marcou presença nos programas A Praça e Agora Nós, como forma de promoção de vários destes produtos.
Em 2019, também a almofada do Vitinho foi relançada, pela Koala Rest. Naturalmente, foi retirada a menção à Milupa, substituída pela nova marca do Vitinho.
Em maio de 2018, o Vitinho, em versão 3D, foi a figura de uma campanha alusiva ao Dia Mundial da Asma.
Em 2023, a Olá levou a cabo uma campanha na qual dava ao público a possibilidade de eleger um gelado clássico para regressar ao cartaz da marca. O Vitinho, a par com o palhaço Batatinha e com o macaco Hadrianno, surgia como embaixador do Dedo.