Cambalacho

Exibição:
05/01/1987 – 07/09/1987 (RTP 1)
11/04/1987 – 12/09/1987 (RTP 2)

Número de capítulos:
174

Produção:
Rede Globo (1986)

Novela de:
Sílvio de Abreu

Direção geral:
Jorge Fernando

Leonarda Furtado (Fernanda Montenegro) é uma mulher pobre que vive de pequenos golpes para sustentar várias crianças abandonadas que recolhe das ruas, bem como uma filha de sangue, Daniela, que estuda no estrangeiro há muitos anos. Nessa labuta, conta com a cumplicidade de Gegê (Gianfrancesco Guarnieri), o seu companheiro de sempre.

Naná e Gegê

Um dia, por acaso, os dois ficam a saber que o milionário Antero Souza e Silva (Mário Lago) procura desesperadamente uma filha com a mesma idade de Leonarda. Esta resolve fazer uma tatuagem onde a suposta herdeira teria um sinal e apresenta-se na mansão Souza e Silva.

Entretanto, Antero desposa uma mulher quarenta anos mais nova, a maquiavélica Andreia (Natália do Vale). Rogério (Cláudio Marzo), advogado de Antero, e Amanda (Suzana Vieira), mulher dele e irmã de Andreia, tentam alertá-lo para o mau negócio que ele está a fazer, mas Antero mostra-se irredutível. Andreia, por seu turno, pretende assassiná-lo para ficar com toda a fortuna, já que Tiago (Edson Celulari), o filho legítimo, não quer saber do dinheiro do pai. Assim, durante um passeio de lancha, Andreia envenena Antero e provoca um acidente mortal. No entanto, não leva nem um tostão da herança, pois todo o património é deixado a Leonarda, aparentemente uma estranha.

Andreia

Já a morar na mansão, Leonarda está prestes a reencontrar Daniela (Louise Cardoso), que se encontra noiva do conde Jean-Pierre (Luís Fernando Guimarães), filho do duque Armand Grimaldi de la Croix (Oswaldo Loureiro), quando fica a saber que os títulos que Antero lhe deixou em fortuna não têm valor económico. Toda a fortuna encontra-se depositada num banco a aguardar que seja descoberta a verdadeira filha desaparecida, que, inacreditavelmente, pode muito bem ser Leonarda.

Ao saber desta possibilidade, Andreia toma uma medida drástica para a afastar do seu caminho e convence Athos (Flávio Galvão), seu cúmplice, a dizer na polícia que viu Leonarda envenenar Antero.

Paralelamente, é revelada a verdadeira identidade de Jean-Pierre e Armand, que não são nem conde nem duque. Armand é Armandinho, o grande amor de Lili Bolero (Consuelo Leandro), a cunhada de Gegê. A própria Daniela também não é filha de Leonarda, mas uma oportunista interessada na herança.

Nos últimos capítulos, Andreia reconhece ter sido inútil todo o seu plano, uma vez que Antero sofria de cancro na medula e estava ciente que seria assassinado por ela, mais tarde ou mais cedo. Enquanto Leonarda é julgada pelo crime de Andreia, esta consegue apropriar-se do dinheiro e fugir.

Revelado o estratagema, todos tentam impedi-la de sair do país, mas não conseguem. Andreia mata Athos e desaparece. Todavia, mais tarde é localizada pela polícia e extraditada para o Brasil para cumprir a pena máxima. Por fim, depois de vários contratempos, Leonarda descobre que é a filha desaparecida de Antero e concretiza o sonho de se casar com Gegê, numa festa aparatosa, onde aparece de surpresa a verdadeira Daniela (Cristina Pereira).

Seguindo o exemplo de Vereda TropicalCambalacho também foi um grande sucesso. Todavia, ao contrário do habitual, não foi dado grande destaque à estreia desta telenovela. A grande preocupação no início de janeiro de 1987 era publicitar Palavras Cruzadas, com anúncios introduzidos nos intervalos de todos os programas, para que ninguém perdesse o primeiro capítulo da telenovela portuguesa. Assim, Cambalacho acabou por ser anunciada apenas no programa Sete Folhas, não havendo lembrança de chamadas ou de comentários nas aparições das locutoras de continuidade. De facto, as locutoras apareciam para anunciar a programação do primeiro e do segundo canal ao serão e Cambalacho estava agendada para o meio-dia e quinze.

Com o passar do tempo, a audiência foi crescendo e, com a chegada das férias do Carnaval e da Páscoa, Cambalacho tornou-se bastante popular. O único inconveniente, claro, era o horário, pois apenas as pessoas que iam almoçar a casa podiam acompanhar as aventuras de Leonarda e Jerónimo. Uma vez que eram bastantes os pedidos para a apresentação da telenovela num horário diferente, a partir do dia 11/04/1987 começaram a ser transmitidos aos sábados, às 13 horas na RTP 2, os capítulos que tinham ido ao ar na semana anterior. Nesse primeiro dia, foi feito um apanhado dos melhores momentos para que o telespectador ficasse perfeitamente a par do ponto em que a novela estava.

Por conseguinte, Cambalacho revelou-se um êxito notável e, durante o verão, foi o maior sucesso do momento. O último capítulo mereceu destaque no Jornal da Tarde, onde vários trabalhadores da construção civil expressaram a sua admiração por Tina, a personagem de Regina Casé.

A imprensa também foi dando algum destaque, à medida que a telenovela se ia desenrolando. O termo “cambalacho”, que já era conhecido da literatura portuguesa (por exemplo em A Brasileira de Prazins de Camilo Castelo Branco), tornou-se corriqueiro.

Cambalacho seguia o tom de comédia de Guerra dos Sexos e Vereda Tropical, telenovelas de muito sucesso nos ecrãs portugueses. Tal como em Guerra dos Sexos, Fernanda Montenegro voltava a aparecer como protagonista, mas, desta vez, numa personagem completamente diferente: uma mulher de origens muito humildes que recorre a pequenos golpes para sobreviver.

Cambalacho tinha também uma trama policial forte, centrada em Andreia (Natália do Vale), a grande vilã da história. De uma forma geral, as vilãs eram intriguistas, mentirosas, falsas, dissimuladas, mas Andreia foi muito mais do que isso, revelando-se uma assassina cruel, determinada a matar o marido desde o início da trama, algo pouco vulgar a essa altura.

Na semana de estreia da novela, o Se7e colocou na capa uma foto de Andreia e Athos, os dois vilões da trama. Note-se que a frase “Cambalacho é o diabo!” é uma clara alusão ao personagem de Flávio Galvão em Corpo a Corpo, que termináramos de ver há poucos meses.

Na mesma edição, foi publicada uma entrevista com Natália do Vale, na qual a atriz se mostrou fascinada com Andreia, a personagem que mais gostara de interpretar até à altura.

Esta foi a primeira telenovela brasileira a ter uma reedição antes de ser exibida em Portugal. Não se tratava ainda das versões internacionais, que passámos a ver a partir de 1989. A reedição deveu-se ao facto de alguns capítulos de Cambalacho terem ido ao ar com numeração repetida. Pretendeu-se tornar a numeração sequencial, transformando os 179 capítulos originais (sendo que o último estava numerado como 173) em 174.

Na última semana, a TV 7 Dias publicou um artigo em que fazia referência a um final alternativo que, supostamente, teria sido exibido pela Rede Globo em 1986. Esse final foi efetivamente escrito por Sílvio de Abreu, mas não chegou a ser gravado.

Em linhas gerais, este seria o “falso final” de Cambalacho:

– Amanda fica com Aramis, depois de chorar desesperadamente a morte de Rogério.

– Andreia foge para as praias do Mediterrâneo e terá oportunidade de começar a sua vida de novo, sem o dinheiro de Antero, mas com a disposição para lutar que lhe é característica.

– Dona Ubiratânia revela que Biju é o verdadeiro filho de Antero. Com isto, Leonarda regressa às suas origens e tem de voltar aos seus cambalachos.

Nos Açores e na Madeira, Cambalacho ocupou o horário nobre, indo ao ar depois do telejornal, às 20:30.

A telenovela veio a repetir no canal GNT, da TV Cabo, de junho a dezembro de 2001. Nesta ocasião, foi exibida uma versão de 174 capítulos com duração exata de 35 minutos, sendo certo que o início e o fim de quase todos coincide com os da versão que tínhamos visto em 1987.

No entanto, é de referir um lapso bastante estranho: devido a um erro de edição, não existe o capítulo 55. O capítulo 56 começa com as últimas cenas do capítulo 54 e salta logo para a cena que se sucede à última do capítulo 55.

Esta versão foi feita essencialmente para o mercado latino-americano e o genérico está em espanhol. A equipa responsável pela colocação da telenovela no ar tinha a função de sobrepor, durante os minutos correspondentes, o genérico original, em português, mas em situações pontuais houve um esquecimento e, quer o genérico, quer as vinhetas, quer os créditos finais, foram transmitidos em espanhol. Por conseguinte, nessas ocasiões pudemos ler no logotipo Cambalache em vez de Cambalacho.

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