Cobardias

Exibição:
16/01/1988 – 16/04/1988 (RTP 1)

Número de episódios:
13

Argumento e diálogos:
Miguel Rovisco

Música:
Tchaikovsky (Francesca da Rimini)
Ramiro Martins

Produção:
António Gomes

Realização:
Herlânder Peyroteo

Produção:
TV 5 Mhz

Elenco principal:
Carmen Dolores – Maria Teresa
Guida Maria – Francisca
Irene Cruz – Pomme
Manuel Coelho – Hugo
Isabel de Castro – Sofia
Jorge de Sousa Costa – Emídio
Guilherme Filipe – Diogo
Francisco Pestana – Afonso
Margarida Marinho – Xica
Rogério Samora – Vicente
Ângela Pinto – Marta
Eduardo Galhós – Jonas
Paulo Filipe – Vítor
Paulo Matos – Rogério
Lídia Franco – Ilda
Fernando Nascimento – Gustavo

Elenco adicional:
Adelaide João – Rosa
Rosa Lobato Faria – modista
Rosa do Canto – amiga de Francisca
Rui Anjos – Faria
Rui Luís – dono do restaurante
Amélia Videira – velha
Ana Otero
Celeste Severino
Cristina Buero
Custódia Gallego – convidada do casamento
Helena Pinheiro
Lídia Soeiro
Miguel Menezes
Teresa Mónica
Catarina Figueiredo – Pomme (criança)
Joana Machado – Pomme (criança)
Manuela Cassola – criada
Manuela Carona
Ladislau Ferreira
Laurinda Ferreira
Andreia Navais
Félix Heleno
Miguel Rodrigues
Luís Vasconcelos
Lucinda Loureiro
Ana de Sá – Adelaide
João Baião – jornalista
Luís Beira
João Soromenho
Francisco Brás
Margarida Leonor
António Fonseca – jovem
Teresa Côrte-Real – criada de Pomme

Cobardias narra a história de quatro mulheres pertencentes a uma abastada família em diferentes períodos históricos, ao longo de meio século. O que é comum às quatro é que nenhuma delas foi feliz, por cobardia delas e dos homens a quem se ligaram.

São elas: Maria Teresa (Carmen Dolores), que, aparentemente bem casada, é uma mulher frustrada; a filha, Francisca (Guida Maria), que nunca conseguiu aceitar o facto de ter sido abandonada pelo noivo e que por cobardia não afasta o desejo de se vingar; a neta, Afonsina (Irene Cruz), que está sempre contra a mãe, aceita casar-se com um político da moda e entrega-se ao álcool, tentando superar a infelicidade que sente; e a bisneta, Xica (Margarida Marinho), que prefere fugir para o estrangeiro, julgando que assim se libertará da sua cobardia congénita.

A ação desenrola-se entre o cenário da Quinta de S. José, no Ribatejo, e a casa de Lisboa da família Aguilar.

É uma crónica sentimental de uma família portuguesa, uma saga que começa nos anos trinta e atinge o início da década de oitenta.

Os quatro primeiros episódios são passados nos finais dos anos trinta, os quatro seguintes nos finais dos anos cinquenta e os cinco últimos, no princípio dos anos oitenta.

Maria Teresa (Carmen Dolores)
Mãe de Francisca. Enviuvou muito cedo, quando a filha tinha apenas 10 anos, e desde então foi a ela que dedicou a sua vida. As suas preocupações atingem o ápice quando a filha se torna mãe solteira, situação que a envergonha.

Francisca (Guida Maria)
Aos 20 anos, está noiva de Afonso. Encontra-se grávida quando ele a abandona no dia do casamento. Embora não deixe de o amar, torna-se uma mulher revoltada e recusa-se a casar com outro homem, para desgosto da sua mãe. Rejeitará a sua filha, Afonsina.

Emídio (Jorge de Sousa Costa)
Irmão de Leopoldo, o falecido marido de Maria Teresa. Após a morte do irmão, acolheu a cunhada e a sobrinha em sua casa. Dirige com eficiência os negócios da família.

Sofia (Isabel de Castro)
Esposa de Emídio. Considera-se feliz no casamento, apesar do desgosto por nunca ter tido filhos. Descobrirá padecer de um grave problema de saúde. É apaixonada por flores, um elemento de grande simbologia na sua vida.

Afonso de Sá Gaspar (Francisco Pestana)
Noivo de Francisca, dez anos mais velho que ela. Sempre levou uma vida estouvada, o que bem à baila quando decide fugir para a Argentina com uma amante e o filho de ambos, abandonando Francisca.

Diogo de Sá Gaspar (Guilherme Filipe)
Irmão mais novo de Afonso, advogado, apaixonado por Francisca. Transmite-lhe a dolorosa notícia da fuga do irmão. Depois disso, será o seu porto de abrigo, ajudando-a a manter-se escondida numa vivenda em Sintra.

Jonas Belchior (Eduardo Galhós)
Vizinho de Francisca em Sintra. Judeu. Embora formado em Medicina, assume-se como pintor. Auxiliará Francisca no parto e, mais tarde, viverão um romance, ainda que ela não o ame.

Pomme (Irene Cruz)
Filha de Francisca. O seu nome de batismo é Afonsina, mas Maria Teresa, não gostando do nome, atribui-lhe a identidade de Pomme, devido às suas bochechas rosadas. Tem uma relação de amor e ódio com a mãe, que sempre a rejeitou, pois preferia ter tido um rapaz. Na juventude, é catequista; em adulta, entrega-se ao álcool.

Hugo Saraiva (Manuel Coelho)
Noivo de Pomme. Formou-se em Direito com a brilhante classificação de 18 valores. Mais tarde, volta-se para a política, fundando o Partido para o Futuro na Europa (PFE).

Vicente de Sá Gaspar (Rogério Samora)
Filho de Afonso. Gigolô, viciado no jogo. Fascinado pela figura de Francisca, aproxima-se dela com um nome falso (Vítor), e envolvem-se.

Marta (Ângela Pinto)
Amiga de Pomme. Acha-se gorda e feia, fatores aos quais atribui a sua dificuldade em encontrar um homem que a despose.

Xica (Margarida Marinho)
Filha de Pomme e Hugo. Assume, orgulhosamente, o papel de ovelha negra da família, revivendo com Pomme a relação conflituosa que esta sempre teve com Francisca.

Vítor (Paulo Filipe)
Filho de Francisca e Vicente. Vive com a mãe e estuda Belas Artes. Nunca conheceu o pai, de quem se limitou a receber uma única carta.

Rogério (Paulo Matos)
Tem uma relação de grande proximidade com Vítor, que por vezes parece ir além dos limites da amizade, o que não o impedirá de se envolver com Xica.

Ilda (Lídia Franco)
Dama de companhia de Maria Teresa. É também amante de Hugo, caso que é do conhecimento de Pomme, que finge não se importar.

Gustavo (Fernando Nascimento)
Membro do PFE, homem de confiança de Hugo. Apaixonado por Xica, com quem sonha casar-se.

1. (23/01/1988)
Na quinta dos Aguilar, fazem-se os últimos preparativos para o casamento de Francisca. Maria Teresa está radiante com a cerimónia e rodeia a filha de atenções, cuidando de todos os pormenores. Na sala, os convidados conversam entre si. De repente, um carro chega velozmente e dele sai Diogo de Sá Gaspar, o irmão do noivo. Sem querer dar nas vistas, ele confessa que tem uma triste notícia a dar a Francisca: o seu irmão Afonso acaba de fugir com uma antiga amante. Francisca decide abandonar a quinta e, quando todos os convidados esperavam ver surgir uma noiva radiante de felicidade, no cimo das escadas, veem apenas uma jovem com uma mala nas mãos, que entra no carro de Diogo e parte sem dar mais explicações. Mais tarde, acaba por confessar-lhe que está grávida do noivo que a abandonou. Nos nove meses seguintes, Francisca recusa-se a aparecer diante da mãe, que, entretanto, se encontra em Lisboa em casa dos cunhados. Sofia e Emídio Aguilar tentam ajudá-la a recompor-se, mas ela tem apenas um desejo: que a filha se case antes de ter a criança.


2. (30/01/1988)
Nos nove meses seguintes, Francisca recusa-se a aparecer à sua mãe, que continua em casa dos cunhados. Mas Maria Teresa sabe o que se passa e sente-se desesperar, pois só deseja que a filha case antes do nascimento da criança. Diogo seria o marido ideal e é a ele que Teresa implora que salve a filha da vergonha de ser mãe solteira. Entretanto, Francisca vive em Sintra e espera ansiosa pelo nascimento do filho, a quem chamará Afonso, o nome do homem que ama mas a quem nunca perdoará tudo o que aconteceu. O momento do parto aproxima-se e, quando as coisas começam a correr mal, Diogo decide pedir a ajuda de um vizinho pintor, que cursara Medicina. A criança acaba por se salvar, bem como Francisca, que, coberta de suor, pergunta, sorrindo: “Como é o meu filho?”. Diogo mostra-lhe a criança: “É uma menina”. O sorriso desaparece dos lábios da mãe e Francisca recusa-se a ver a recém-nascida, pois acaba de sofrer o maior desgosto da sua vida.


3. (06/02/1988)
Francisca volta para casa dos tios, mas demonstra grande desinteresse pela filha, que a avó mima de mais, tentando resgatar-se do desejo de que Afonsina nunca tivesse chegado a nascer. Francisca vive dividida entre o amor do fiel Diogo e o pintor judeu, Jonas. Teresa tenta desesperadamente casá-la, mas nem Diogo nem Jonas estão dispostos a viver com Francisca. Entretanto, Afonso regressa. A família não o recebe e tudo faz para que ele não consiga emprego em Portugal Continental. O grande desejo de todos é que Afonso parta para as colónias. Afonso pretende falar com Francisca e explicar-lhe que desconhecia o facto de ela estar grávida. Francisca não o quer ver, mas acaba por pedir ao tio que arranje um emprego a Afonso, ainda que mal pago, no seu escritório.


4. (13/02/1988)
Jonas vê-se obrigado a deixar Portugal e despede-se de Francisca deixando-lhe um quadro nu, incompleto. Nesse mesmo dia, Francisca procura Afonso no escritório do tio e, depois de uma violenta discussão, os dois acabam por amar-se. Francisca sente que se libertou da raiva e da paixão que a unia a Afonso e diz-lhe que não o ama. Ao regressar a casa, pergunta, pela primeira vez, pela filha. Mas as criadas dizem-lhe que Pomme está com a avó, na quinta. Sentindo-se sozinha, Francisca telefona a Diogo, que depressa se dirige a sua casa. Mas, ao perceber as intenções de Francisca, Diogo recusa-se a preencher o lugar que é do irmão e, depois de beijar Francisca, deixa-a só.


5. (20/02/1988)
A tia Sofia morre e Maria Teresa casa-se com o cunhado, o “tio Emílio”, formando um casal muito feliz. Pomme tem agora quase vinte anos e vive com os dois, ora em Lisboa, ora na quinta do Ribatejo. Ela está noiva de Hugo Saraiva, um excelente rapaz, estudioso, que sempre obteve as melhores notas no liceu e no curso de Direito. Pomme é o oposto da mãe: feia, mantendo as bochechas que lhe valeram o diminutivo, submissa e muito religiosa. Pomme decide apresentar o noivo ao pai e telefona-lhe a marcar um encontro.


6. (27/02/1988)
O filho de Afonso, Vicente, já conhece Pomme. É um rapaz ambicioso e deseja, em virtude disso, conhecer a mulher que desgraçou a vida de seu pai, pensando que talvez ela lhe consiga arranjar um emprego, agora que sabe a situação financeira da família Aguilar. Assim, dirige-se à galeria de arte e conhece, desse modo, Francisca. Sorri-lhe e, mostrando-se interessado em comprar um quadro, deixa-lhe um cartão de visita com um nome falso. Francisca sente-se inexplicavelmente atraída por este jovem, que parece trazer com ele um início de romance…


7. (05/03/1988)
Francisca está apaixonada, mas a vida não é fácil para ela. Todos acabam por desconfiar, e é o próprio Afonso quem vai falar com ela para lhe dizer que Vicente é seu filho e irmão de Pomme. O escândalo ameaça estalar, mas Francisca está apaixonada e mostra-se disposta a lutar contra tudo e contra todos para defender o seu amor. Para ela, Vicente é apenas um homem, o homem que ama… e, desafiando o antigo noivo, Francisca diz que está disposta a casar com Vicente. Mas tudo se complica e a própria família de Hugo intervém, opondo-se ao casamento, tal como Hugo, que ameaça romper o noivado com Pomme, caso a sua futura sogra não saiba comportar-se. Francisca não está disposta a ceder, e Pomme resolve ter uma conversa com ela. Uma conversa violenta que vai opô-las ainda mais.


8. (12/03/1988)
Maria Teresa e o marido, cansados e velhos, refugiam-se no Ribatejo, recusando-se a enfrentar um novo escândalo. Pomme busca apoio no pai. Francisca continua a sentir-se muito feliz ao lado do jovem Vicente, que se sente radiante com o sarilho causado pela sua pessoa e que continua a dizer a Francisca que a ama e que deseja o casamento. Francisca sonha com uma existência muito feliz no Brasil, mas Diogo acha os seus sonhos ridículos. Conhecendo o sobrinho, e certo de que ele apenas deseja dinheiro, Diogo paga-lhe para que abandone Francisca. E, mais uma vez, a filha de Teresa vê-se abandonada à beira do casamento e, também desta vez, à espera de um filho. Só que agora está mais só do que nunca. Sete meses mais tarde, dá à luz um rapaz, que chamar-se-á Vítor. Francisca sente que, no fundo, não valeu a pena passar por tudo o que passou.


9. (19/03/1988)
1978. O tio Emílio faleceu e a fábrica de bolachas foi ocupada pelos trabalhadores, assim como as outras propriedades dos Aguilar. Apenas lhes resta, miraculosamente, a quinta do Ribatejo, onde Maria Teresa vive os seus últimos dias. Pomme e o marido, agora com excelentes possibilidades de vir a ser nomeado ministro, visitam-na frequentemente com a sua filha Xica. Afonsina deu o nome de Francisca à filha, por saber que o facto irritaria a sua mãe. Contrariamente ao que aconteceu com os Aguilar, os Saraiva navegam pelas boas águas da fortuna: Hugo deu-se ao luxo de oferecer à sua esposa uma boutique, e Pomme leva a vida numa azáfama de revistas de moda e passagens de modelos. Xica, jovem calada, embora inteligente, acompanha-a para todo o lado.


10. (26/03/1988)
Hugo e Pomme vivem um casamento que se assemelha a uma condenação antecipada ao purgatório. Pomme arrasta-se pelo caminho decadente do alcoolismo e Hugo é vítima de um chantagista que ameaça destruir a sua promissora carreira política. Xica sente-se cada vez mais isolada e estranha em sua própria casa. Na noite de mais uma trágica discussão familiar, sai de casa, procurando algum conforto em casa de sua avó, Francisca. Esta dá-lhe um “abanão” com as suas respostas de uma filosofia de choque. Mais tarde, Francisca almoça com o fiel Diogo e a educação de Xica é o principal tema de conversa. Conhecedora da amizade ambígua que existe entre Vítor, o seu jovem tio, e Rogério, Xica provoca-o com a hipótese de vir a dormir com ele. Das palavras aos atos, Rogério tem uma enorme surpresa quando chega a casa e abre a porta do seu quarto.


11. (02/04/1988)
Hugo, completamente apavorado, cede à chantagem de que é alvo e marca um encontro com o chantagista, levando consigo o dinheiro que irá comprar as fotos e documentos comprometedores. Na quinta, prepara-se o aniversário de Xica. Pomme e Ilda, a dama de companhia de Teresa e amante de Hugo, enfrentam-se no escritório, enquanto Diogo oferece a Xica a possibilidade de ir trabalhar em Bruxelas. Entretanto, Xica revela a Vítor que dormiu com o seu amigo, na mesma altura em que Pomme descobre que a filha não é a rapariga recatada que seria de desejar. Durante a festa de anos, Pomme resolve fazer uma cena e repreende a filha, acabando por bater-lhe. Francisca censura-a, mas Pomme põe-na na rua. Francisca sai no carro de Hugo, que se desespera ao ver que não conseguirá encontrar-se a tempo com o chantagista. Pega numa pistola e no dinheiro e sai, por sua vez, no carro de Gustavo.


12. (09/04/1988)
Hugo sente necessidade de desabafar com alguém e vai até casa de Francisca. Na sala, repara numa pasta amarela. Francisca abre o jogo e diz que a mala contém os documentos comprometedores. Para seu espanto, Francisca diz-lhe que o homem que ele atropelara naquela noite era Vicente de Sá Gaspar. Xica mostra-se decidida a aceitar o emprego que Diogo lhe arranjou em Bruxelas, o que leva Pomme a embriagar-se, pensando no vazio em que se tornará a sua vida: é a segunda vez em que perde um filho. Sem revelar toda a verdade, Francisca conta a Vítor que o seu pai morreu.


13. (16/04/1988)
Gustavo pede Xica em casamento e tenta, sem sucesso, convencê-la a não ir para Bruxelas. Contudo, parece não haver nada que a prenda à família e a Portugal. Maria Teresa encontra-se à beira da morte. Pomme manda chamar Francisca, mas Maria Teresa incomoda-se com a sua presença, expulsando-a do quarto. É Pomme que está junto da avó nos seus últimos instantes de vida…

Cobardias foi exibida aos sábados à noite, na RTP 1.

Inicialmente concebida para ser uma telenovela, foi antes “moldada” a série, devido à beleza e intensidade da obra, aliadas ao facto de a RTP não se mostrar interessada numa telenovela.

Também o título original – O Nome de Francisca – foi mudado pela direção da RTP.

O texto, escrito em apenas 30 dias, surgiu do argumento de um romance que o jovem autor Miguel Rovisco tencionava escrever.

Discutindo a “evolução” da condição feminina no século XX, abordaram-se temas caracteristicamente rovisquianos: liberdade, amor, paixão, medo, coragem, esperança e morte.

A série passou-se em 3 épocas diferentes, entre as décadas de 30 e de 80.

As atrizes Carmen Dolores, Guida Maria, Irene Cruz e Margarida Marinho deram corpo às figuras de quatro gerações de mulheres da família Aguilar. As personagens apareciam com 20, 40 e 60 anos.

Carmen Dolores, Guida Maria e Guilherme Filipe foram os únicos atores a participar nas três fases.

O facto de as mesmas atrizes assumirem os seus papéis nos diferentes períodos, com um hiato de 20 anos entre cada um, originou algumas situações pouco verosímeis aos olhos do telespectador, como Irene Cruz, do alto dos seus 43 anos, a interpretar uma mocinha de 20, acrescendo o facto de ser filha de Guida Maria, 7 anos mais nova que ela.

Irene Cruz com "20" anos

O aspeto mais marcante de Cobardias aconteceu fora de cena: em outubro de 1987, quando apenas estavam prontos alguns episódios da série, Miguel Rovisco suicidou-se, aos 27 anos. Este foi o seu único trabalho em televisão, e o último da sua efémera carreira de dramaturgo.

Rovisco terá ficado desagradado com o tratamento dado pelo realizador Herlânder Peyroteo ao seu texto, conforme declarou numa carta deixada ao amigo Mário Viegas, aquando do suicídio: “Bem que tu me dizias para eu não me meter com os tipos da televisão: alteraram tudo, nem respeito ao menos pelo começo e fim de cada episódio, é de fugir de péssimo”.

O ator, que era seu amigo pessoal, relatou ainda no seu livro Auto-Photo Biografia (Não Autorizada): “O Rovisco precipitou o seu suicídio ao ver a merda que o Herlânder Peyroteo fez da sua série”.

Numa entrevista ao Expresso, em 2017, Carmen Dolores recordou ter conhecido Rovisco no primeiro dia de filmagens, após o qual este não voltou a dar as caras. Segundo a sua irmã, Graça Pedroso, “odiou tudo”.

No dia 16/01/1988, uma semana antes da estreia, foi exibido um especial de apresentação, que contou com intervenções de Norberto Barroca, Filipe La Féria, Afonso Botelho, Artur Ramos, Carmen Dolores e José Matos Silva.

O roteiro da série foi publicado pelas Edições Ática. Miguel Rovisco dedicou o texto à sua mãe, que teria servido de inspiração a todas as personagens femininas, e a Guida Maria.

Os resumos publicados na revista Nova Gente para os dois últimos episódios revelaram um desenlace bastante diferente daquele que foi mostrado.

12.
A convivência de Xica com a sua avó levam a jovem a comportar-se de forma diferente, e Pomme começa a preocupar-se com a maneira de a filha agir e, ao descobrir que Xica se dá bem com a avó, resolve ter uma conversa séria com a mãe. Chama-a à quinta e faz-lhe uma terrível cena. Hugo também está presente e apoia a mulher quando esta exige que Francisca não volte a encontrar-se com a neta. Francisca sente-se revoltada e, furiosa, sai da quinta guiando em grande velocidade. No dia seguinte, o corpo de um homem atropelado mortalmente aparece na estrada junto à quinta. Conclui-se que se tratava de Vicente de Sá Gaspar, regressado de África. As suspeitas recaem sobre Francisca, que jura a sua inocência. No entanto, Vítor abandona a mãe, o que é um golpe muito duro para aquela mulher a quem a vida nunca sorriu.

13.
Descobre-se que Vicente regressara de África após o 25 de Abril e que descobrira alguns segredos comprometedores, que poderiam arruinar a carreira do honesto Hugo e que com eles lhe fazia chantagem. Preparava-se mais uma entrevista com o promissor político quando foi atropelado. Quem conduzia o carro não era da família, mas o mal estava feito. Maria Teresa morre com mais um escândalo. Hugo é afastado do ministério. Pomme fala em divórcio. Vítor não regressa a casa. Pomme afasta-se de Hugo e aposta na sua vida profissional. Xica, que ama da mesma forma a mãe e a avó, resolve prosseguir sem influências, encontrando mais tarde um namorado com quem se supõe que virá a casar. Francisca, velha e só, fica a viver na velha quinta do Ribatejo. Nunca a felicidade usou o seu nome.

O último episódio teve um epílogo que contou, de forma resumida, a história das famílias Sá Gaspar e Aguilar.

Os atores, “despidos” dos seus personagens, apareceram no meio dos cenários, citando, cada um, uma passagem marcante do texto. O apontamento final foi dado pelo realizador, Herlânder Peyroteo, em jeito de homenagem a Miguel Rovisco.

A foto que aparecia de Leopoldo, o primeiro marido de Maria Teresa (Carmen Dolores), era de Herlânder Peyroteo.

A série encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

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