Contos Fantásticos

Exibição:
07/01/1981 – 27/07/1983 (RTP 2)

Número de episódios:
07

Adaptação e realização:
Noémia Delgado

Produtor delegado:
João de Menezes Ferreira

Genérico:
Mário Neves

Laboratórios:
RTP
Tobis Portuguesa
Ulyssea Filme

1. A princesinha das rosas (07/01/1981)

Autoria: Fialho de Almeida
Primeira publicação: O País das Uvas (1893)

Seduzido pelo canto das sereias, o pescador Leandro começa a ir frequentemente às grutas onde se diz que elas se reúnem, antes de irem para o mar, atrás dos pescadores, levando-os à perdição e à morte. Dos amores de Leandro e da sereia Leonice, nasceu uma menina. Disposto a dar-lhe um destino diferente, Leandro lançou-a à água. Depois de muitas águas percorrer, o berço foi dar ao castelo do Rei Caçador e da Rainha Donzela. Como não podiam ter filhos, adotaram-na e deram-lhe o nome de Naíde. Um dia, já crescida, a princesinha recebe um chamado que lhe diz para deixar o castelo e regressar ao reino dos mares…

Elenco:
Suzana Borges – Leonice
Rui Baptista – Leandro
Matilde d’Orey M. – Princesa Naíde (bebé)
Catarina Leitão – Princesa Naíde (criança)
Ana d’Orey – Princesa Naíde (adolescente)
João Vaz – Janus (criança)
Rui Torres – Janus (adolescente)
Aurélia Marcelino – Aia
António Barahona – Rei
Isabel Morais – Rainha
Guilherme de Oliveira e Costa – Bobo
Zita Duarte (voz off)
Luís Gaspar (voz off)

Sereias: Filomena, Cristina, Adélia, Elsa, Susan
Pescadores: José Cadete, Barradinha, Joaquim, Tarciso, Zé Felim
Sábios e monges: Olly, José Matos-Cruz, Dodô, Luís Madeira
Bordadeira: Ivone Carla
Príncipes: João Piconê, Alexandre Delgado O’Neill, James
Barqueiros: Isidro Pinhão Rosa, José Luís Vicente

2. Tiaga (14/01/1981)

Autoria: Aquilino Ribeiro
Título original: A reencarnação deliciosa
Primeira publicação: Quando ao Gavião Cai a Pena (1935)

Algures, lá num cabeço, vivia, numa cabana paupérrima, uma velha de nome Tiaga. Nunca tinha amado, nunca tinha feito sofrer. Só e inútil, desejava que a morte a viesse buscar. Em sonhos, um profeta anuncia-lhe que terá de viver ainda, pois a sua vida era “como o rolo de papiro dado ao escriba para registar a lei, e que o escriba deixou em branco”. Acordou e, arrependida de não ter vivido, começou a chorar, desejando voltar aos seus “verdes anos”, até que uma tarde, estando a cismar, sentada à porta, lhe apareceu um peregrino pedindo guarida. Vendo-o tão pobre e cansado, Tiaga dividiu com ele o pouco que tinha. Grande surpresa estava reservada a Tiaga na manhã do dia seguinte. O peregrino era nem mais nem menos que um bom feiticeiro. E a vida de Tiaga sofreu fantásticas alterações. O pior foi que “o diabo se encontrava atrás da porta” e não deixou de pregar as suas partidas à pobre Tiaga…

Elenco:
Isabel de Castro – Tiaga
Jacinto Ramos – Peregrino
Ana Otero

Bailarinos:
Luísa Taveira
Jorge Grave

3. O visconde (21/01/1981)

Autoria: Álvaro do Carvalhal
Título original: Os Canibais (ou A Estátua Viva)
Primeira publicação: Revista de Coimbra (1865)

O Visconde, enquadrado num ambiente aristocrático do século XIX, conta a estranha história dos amores de Margarida, formosa moça filha do fidalgo Urbano Solar. A jovem Margarida apaixona-se pelo famoso Visconde de Aveleda, que, embora apaixonado, se mostra renitente em aceitar o amor da bela jovem. O estranho Visconde utiliza uma linguagem misteriosa e complexa que, no entanto, não dissuade Margarida, que, desvairada pela paixão, confessa a Aveleda: “Ainda que o leito nupcial fosse o cemitério, aí mesmo o aceitaria”. Perante semelhante confissão, o enigmático Visconde decide-se a casar com Margarida. Mas, na noite de núpcias, quando ela se prepara para receber o marido, depara com…

Elenco:
Adelaide João
Maria Albergaria – Baronesa
Mário Sargedas – Urbano Solar
Fernando Gomes
Filipe Crawford
Fernando Heitor – Anselmo
Canto e Castro
João Bom
Afonso Dias
Carlos Azevedo
José Rocha Santos
Maria José Belo Marques – Margarida

4. O defunto (28/01/1981)

Autoria: Eça de Queiroz
Primeira publicação: Gazeta de Notícias (1895)

Esta história, situou-a Eça de Queiroz no século XV, e conta como, por ciúmes não justificados, um velho e rico fidalgo, D. Alonso de Lara, tenta matar o cavaleiro D. Rui de Cardenas, que, por sua mulher D. Leonor, se enamora perdida e secretamente. D. Leonor, jovem e pura, está alheia a todas as maquiavélicas intrigas do marido, pois ignora mesmo a existência do cavaleiro apaixonado. E assim quis a mão do destino que, por intermédio de um malfeitor enforcado que tinha uma “missão” de bem a cumprir, a fé, a generosidade e a coragem do cavaleiro D. Rui, faz com que nada aconteça como havia previsto o malvado e ciumento fidalgo.

Elenco:
Adelaide João – D. Urraca
João Guedes – D. Alonso de Lara
José Caldeira
Argentina Rocha – D. Leonor
Rosário Gonzaga
Álvaro Corte Real
José Russo
Avelino Duarte
Alexandre Passos

5. O canto da sereia (13/07/1983)

Autoria: Júlio Dinis
Primeira publicação: Serões da Província (1870)

Num dia em que o mar está pouco convidativo, o velho Tio Cabaça conta aos seus discípulos de companha uma história que lhe fora transmitida pelos seus antepassados e que teria ocorrido há mais de cem anos, acerca de uma sereia que ficou presa numa rede. Pedro, um dos jovens pescadores, fica impressionado com o que ouve e confessa ao Tio Cabaça que também ele tem sido atormentado pelo canto da sereia…

Elenco:
João Guedes – Tio Cabaça
Adelaide João – Coríntia
Dino Luz
Rui Torres
João Pinto Nogueira
Pedro Seabra

6. A noite de Walpurgis (20/07/1983)

Autoria: Hugo Rocha
Primeira publicação: Histórias Fantasmagóricas (1969)

A Noite de Walpurgis é um conto fantástico de Hugo Rocha, assumidamente inspirado pelo Fausto de Goethe. O protagonista-narrador revela aos seus leitores uma história que lhe terá sido contada por uma terceira pessoa. Aqui, a terceira pessoa é uma velhota beirã, bem camponesa, que o protagonista encontra num passeio pela serra, e que lhe relata uma história que por sua vez lhe teria sido contada pela avó. Esta, segundo reza a história, ao andar um belo dia pelas serranias, teria deparado com uma cena inesperada: uma assembleia de bruxos e bruxas, alguns dos quais seus conhecidos, que prestavam culto a alguém que a velhota (à época ainda nada velhota) deduz tratar-se de Satanás. Segue-se uma descrição da cerimónia, e o desfecho milagroso.

Elenco:
Fernanda Coimbra – Avó
Adelaide João – Tia Beatriz
Vladimiro Franklin – Leonardo / Satanás
Rita Cardoso Pires
Margarida Barreto

7. A estranha morte do Professor Antena (27/07/1983)

Autoria: Mário de Sá-Carneiro
Primeira publicação: Céu em Fogo (1915)

O Professor Antena era há muito conhecido pela sua competência e génio. O seu trabalho orientava-se no sentido de descobrir as possíveis e sucessivas reencarnações do homem. Com o Professor Antena trabalhava um assistente que colaborava em todos os seus projetos de pesquisa. Um dia, tendo o mestre chegado ao fim de uma investigação, convidou o assistente a ir ter com ele a determinado local, onde esperava poder confirmar as suas teorias. Foi então que algo de terrível e inesperado aconteceu…

Elenco:
João Lagarto – Assistente
Adelaide João – Marta
João Guedes – Professor Antena
Vladimiro Franklin – Mário
Afonso Gouveia O’Neill
Manuel Cintra
Miguel Seabra Lopes
Judite Rosa Trigueiro
Joaquim Silva
Zé Manel

Esta série é uma adaptação de sete contos fantásticos portugueses, feita pela realizadora Noémia Delgado.

Noémia Delgado

Todos os contos fazem parte da Antologia do Conto Fantástico Português, publicada pela primeira vez em 1967 e reeditada em 1974.

Edição de 1967
Edição de 1974

Os primeiros quatro Contos Fantásticos foram exibidos em janeiro de 1981, às quartas-feiras, às 22:30.

Noémia Delgado mostrou-se surpresa quando viu a sua série – ainda incompleta – ir para o ar sem qualquer promoção por parte da RTP: “Foi pelo Se7e que tive conhecimento de que a minha série Contos Fantásticos ia começar a ser transmitida na RTP 2. Lia a entrevista com a Maria Elisa quando a informação se me deparou. E a minha surpresa não foi pequena. Perguntei-me mesmo: mas o que é isto? Tenho apenas quatro episódios concluídos, falta ainda realizar mais três e, assim, de repente, é anunciada a sua exibição?”.

Não conseguindo uma entrevista com a diretora de programas, Maria Elisa, que mendigava há quatro meses, a realizadora conseguiu falar com o Dr. Fialho Rico, um dos seus assessores, que lhe explicou que Contos Fantásticos havia avançado na programação porque faltara, de última hora, um programa que deveria vir do Porto.

A realizadora queixou-se também do impacto que as sucessivas mudanças internas na estação pública tinham nas produções em curso: “Entre os quatro primeiros e os restantes registar-se-á um hiato desagradável, de que não tenho a culpa. (…) Começámos em maio de 79, concluímos quatro episódios e depois tivemos que parar. Porquê? Porque cada vez que na televisão há uma mudança, quer na Direção de Programas, quer na Presidência do Conselho de Gerência, pára tudo naquela casa. Não tenho nada a ver com essas alterações, mas penso que elas não deveriam impedir que as coisas prosseguissem o seu rumo. Entendo que, quando há uma série aprovada, os filmes que a integram – e a minha, contratualmente, é formada por sete episódios – devem ser feitos de seguida, com a mesma equipa e com a mesma produção”.

Os restantes três filmes, cujos trabalhos se iniciaram em 1981, foram exibidos apenas em julho de 1983, no mesmo horário. Logo em seguida, foram repostos os quatro filmes que víramos em 1981.

Em 1984, a série foi reposta na íntegra.

A ideia para Contos Fantásticos surgiu em 1978, numa altura em que a RTP estava a aceitar trabalhos de realizadores externos. A cada filme, foi atribuída a módica verba de 700 contos.

De modo a fazer face aos limites orçamentais, as filmagens decorreram em ritmo acelerado, a uma média de 15 dias por filme. No caso de O Visconde, conseguiu-se fazê-lo em oito dias, o que, na opinião da realizadora, era “realmente incrível, sobretudo se se pensar que se trata de filmes com 50 minutos de duração, pouco menos do que uma longa-metragem, em que se dirigem cerca de 15 atores”.

Creditada como “Susana”, a sereia Leonice de A princesinha das rosas foi vivida pela atriz Suzana Borges, que aparecia desnuda, num dos seus primeiros trabalhos em televisão.

Nesse mesmo episódio, algumas cenas foram gravadas no Castelo de Almourol.

Merece destaque o excelente genérico, da autoria de Mário Neves. Contudo, os créditos que apareceram no primeiro episódio não foram bem-sucedidos, não só por não serem nítidos os contornos das letras, mas também por estas serem brancas em fundo branco… Assim, a partir do segundo episódio, os créditos passaram a ser ditos em voz-off.

Em 2016, os dois primeiros filmes – A princesinha das rosas e Tiaga – foram apresentados no MOTELX (Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa).

A princesinha das rosas
Tiaga – A reencarnação deliciosa

A série encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

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