Desencontros

Exibição:
01/02/1995 – 01/09/1995 (RTP 1)

Número de capítulos:
145

Argumento e diálogos:
Francisco Moita Flores
Luís Filipe Costa

Direção musical:
Guto Franco

Direção de produção:
Pedro Miranda

Realização:
Álvaro Fugulin
Jorge Paixão da Costa

Direção geral:
Nicolau Breyner

Elenco:
Adriana Barral – Donatilde
Almeno Gonçalves – Sérgio Oliveira
Álvaro Tavares – Luís Resende
Ana Zanatti – Madalena Serpa
Andrea Oliveira – Patrícia
Ângela Pinto – Isabel
António Cordeiro – Carlos
António Montez – Alfredo Silva
António Rama – Angelino Damião
Bruno Rossi – José Tomé
Canto e Castro – Cautelas
Carlos César – Rodrigues
Carlos Daniel – Miguel Serpa
Carlos Santos – Ezequiel Andrade
Cristina Carvalhal – Ricardina Araújo
Eduardo Viana – João Pinguinhas
Filomena Gonçalves – Clara Resende
Florbela Queiroz – Josefa Branco Matias
Guilherme Filipe – Pedro Fonseca
Henrique Viana – Roberto Matias
Henriqueta Maya – Aurora Damião
Igor Sampaio – Padre João
Isabel de Castro – Juvelina
Isabel Medina – Raquel Antunes
José Eduardo – Inspetor José Martins
José Gomes – Brás
Luís Esparteiro – Bernardo Pimenta
Luís Mascarenhas – Eduardo Perdigão
Luís Pavão – Tiago
Luísa Barbosa – Crisália
Manuel Cavaco – Inspetor Rincão
Margarida Carpinteiro – Alzira
Maria Tavares – Joana
Mário Pereira – Deodato (Minhocas)
Miguel Mendes – Alberto
Mónica Marta – Rita Resende
Morais e Castro – Chico Zé
Orlando Costa – Fernando Ribeiro
Paulo Matos – Mário Pereira
Rafael Leitão – Júlio
Ricardo Carriço – Emídio Carvalho
Sofia Alves – Ana Serpa
Sofia Sá da Bandeira – Margarida Oliveira
Suzana Borges – Manuela Branco
Sylvie Rocha – Marta
Vítor Emanuel – Nuno
Vítor Norte – André Resende
Vítor Rocha – José Augusto

Participações especiais:
Vítor de Sousa – Rafael Antunes
Jorge Sousa Costa – Jorge Castro
Manuela Carona – Carolina
Rui Fernandes – Empresário que se reúne com Brás
José Simão – Inspetor
Carlos Areia – Razões
Artur Mendonça – Santolas
Rosa Villa – Graciete
Noémia Costa – Júlia (mulher que pede ajuda a Bernardo)
Rui Luís – Empregado da bomba
Cremilda Gil – Testemunha do assalto
Carmen Santos – Maria Helena
Marques D’Arede – Amigo dos Serpa
Luís Zagallo – Médico legista
Pedro Pinheiro – Médico das Taipas
João Azevedo – Manuel (vizinho de Alfredo)
Lurdes Lima – Mulher de Manuel
António Évora – Presidente da reunião das Famílias Anónimas
Custódia Gallego – Teresa
Jorge Almeida – Preso
Rui Paulo – Homem que tenta burlar Roberto
Curado Ribeiro – Barão
Licínio França – Médico que trata Bernardo
Fernando Guerreiro – Artur
José Alves – Médico de Alberto
Helena Isabel – Rosália
Tozé Martinho – António Viana
Carla Pires – Secretária de Ricardina
Manuel Castro e Silva – José Bastos
Zita Duarte – Juíza
Rita Alagão – Procuradora
Rosa Guerra – Helena
António Aldeia – Agente

Em sangue se fazem os últimos momentos de vida de Rafael Antunes (Vítor de Sousa), engenheiro de profissão, casado com Raquel (Isabel Medina) e pai de três filhos. Assassinado no Guincho com dois tiros à queima-roupa, deixa enorme mistério para resolver: quem o matou? Dias antes, havia sido vítima de um assalto à mão-armada, no seu apartamento, tendo os meliantes levado o conteúdo do seu cofre. Estranho fora que Rafael saísse sem casaco e sem chaves de casa, e sem louça acumulada na pia ou a cama por fazer. Alvoraçada, sem notícias do marido, Raquel regressa do Algarve – onde era professora – e, ao não encontrar o marido, alerta a Polícia Judiciária.

A brigada da PJ que toma conta do desaparecimento, que depois vira homicídio, é composto por quatro agentes heterogéneos, com idades e experiências díspares: o mais maduro, Alfredo (António Montez), o sedutor Bernardo (Luís Esparteiro), o comprometido André (Vítor Norte) e o apaixonado Emídio (Ricardo Carriço), o delfim do grupo. A comandar as operações está o hipocondríaco chefe José Rincão (Manuel Cavaco), enquanto que o Inspetor (José Eduardo) dá cunho jurídico às operações dos agentes.

Cada um dos membros da brigada tem dramas e ilusões que são trazidos para primeiro plano: Alfredo vive em sofrimento pelo sobrinho Alberto (Miguel Mendes), que cuida como se fosse seu filho e que vive penosamente o drama da dependência da droga; André vive a obsessão pelo trabalho de forma frenética, descurando por completo o casamento com Clara (Filomena Gonçalves); e Emídio vive uma fulgurante paixão, perturbada por ultrapassadas convenções sociais.

Truculento é o caminho que a Polícia tem que percorrer até chegar à chave do assassínio de Antunes: percorrendo-lhe a vida nos últimos tempos, desde que chegara de Macau e se estabelecera em Lisboa, esbarra em Angelino Damião (António Rama), o sócio e amigo dileto do defunto, que, sofrendo da tentação do dinheiro fácil, deixara o seminário sem ser ordenado padre. As suas manigâncias depressa o colocam no olho do furacão. Angelino é mais do que diz ser: não é apenas um perene procurador de emigrantes, mas um jogador que, através de complexas engenharias financeiras, vai especulando com a compra e venda de propriedades. O sucesso foi-se-lhe colando à ambição desmedida, não conseguindo controlar a raquítica situação em que se encontra o seu casamento com Aurora (Henriqueta Maya), dona de uma loja de bugigangas.  O grande frémito no coração, sente-o Angelino por Manuela (Suzana Borges), uma contrabandista que negoceia diamantes do Zaire e do Congo.

Depressa a Polícia fila o empresário e percebe ser parte do quinhão para desatar o nó: Angelino é apenas a ponta, o vértice de um triângulo de interesses escondidos e sedentos. Os irmãos Brás (José Gomes) e Rodrigues (Carlos César) preenchem os outros lados. Brás é gestor de uma dependência bancária e uma importante ponte para fazer circular os interesses e os negócios, de dedos untados pela seu serviço escuso, o oposto do que é em casa, onde é permeável à mulher Alzira (Margarida Carpinteiro) e aos seus ditames, e incapaz de resolver os problemas da filha, a rebelde Marta (Sylvie Rocha). Menos problemático é o filho, Nuno (Vítor Emanuel). Rodrigues é o típico novo-rico, de gosto pavoroso, dono de uma ourivesaria onde escoa o material traficado e roubado.

Na agência de Brás, trabalha a mulher de André, Clara, amiga e cúmplice da colega Margarida (Sofia Sá da Bandeira), que, ao cruzar-se com Sérgio (Almeno Gonçalves) no comboio, desperta uma paixão que a faz questionar se valerá a pena sacrificar um casamento insosso e corroído pelo tempo, como é aquele que vive com Carlos (António Cordeiro). Ainda na agência, trabalha o esquisito Pereira (Paulo Matos), sendo os espetadores incapazes de alvitrar o que esconde por debaixo de uma personalidade atada e machista.

Ao balcão da ourivesaria de Rodrigues está Josefa (Florbela Queiroz), casada com Roberto (Henrique Viana), a quem o mercado comum roubou a profissão de aduaneiro e que, aos 50 anos, se vê com sérias dificuldades em reentrar no mercado de trabalho. Josefa é irmã de Manuela e leda relativamente aos negócios da irmã.

Distante, mas ao mesmo tempo presente pelas evasivas que coloca na família em desconfiado frenesim, o engenheiro Miguel Serpa (Carlos Daniel), educado, ex-dandy de peito brasonado, é casado com Madalena (Ana Zanatti), fiel depositária das tradições mais finas do jet set, que torce o nariz ao romance da filha Ana (Sofia Alves) com o agente Emídio, sendo, para o evitar, capaz de tudo. Contando com o auxílio da melhor amiga da filha, Patrícia (Andrea Oliveira), Madalena faz o que pode para envenenar Ana contra o polícia, a quem acusa de se ter aproximado por interesse. Já o filho, José Augusto (Vítor Rocha), também abre fundo conflito com os pais: é devoto aos computadores e, sobre a sua sexualidade, abrem-se dúvidas na mente de Miguel, que também ele oculta segredo importante. Quem os conhece é o irmão de Madalena, o padre João (Igor Sampaio), cujo trabalho com crianças necessitadas recebe o auxílio de Ana, que dá aulas de xadrez às crianças do bairro.

Por entre investigações que não se esgotam neste caso, mas que apanham meliantes assaltantes de bombas de gasolina, soltam-se revelações na tasca vizinha da PJ, a de Chico Zé (Morais e Castro), onde o bas-fond lisboeta convive. Entre cadastrados e prostitutas, por lá assenta arraias Cautelas (Canto e Castro), que já pagou a dívida à sociedade por um passado dissoluto, e Juvelina (Isabel Castro), uma das mais conhecidas prostitutas de lisboa.

O caso de Antunes chega a julgamento, onde os culpados são punidos com severas penas. E por entre os (des)encontros da vida com a justiça, juntam-se os estilhaços da história.

Família Serpa

Miguel Serpa (Carlos Daniel)
Patriarca da família Serpa, é um homem honesto, sério e tradicional. Empresário da construção civil abastado e invejado por muitos, dono de uma vasta riqueza. Teve a fama de ser um playboy, um autêntico galã a derreter os corações das moças de Lisboa. Pôs a aliança no dedo a Madalena e com ela teve dois filhos: José Augusto e Ana. Desconfia que o filho possa ser homossexual, o que o incomoda profundamente.

Madalena Serpa (Ana Zanatti)
Casada com Miguel, com quem vive um casamento cordato, na base da boa educação. É uma afetada representante do jet set lisboeta. Para ela, quase tudo é uma “ideia extravagante”, como não se cansa de dizer. Torce o nariz às escolhas de Ana, sendo capaz de tudo para impedir a filha de ser feliz com Emídio. Desconfiada com as evasivas do marido, faz de tudo para o proteger.

Ana Serpa (Sofia Alves)
Filha de Miguel e Madalena, estudante universitária. Apaixonada por cinema, sente frémito no coração por Emídio, que é o seu primeiro grande amor. É capaz de tudo para levar adiante a sua paixão pelo polícia. Amiga de Patrícia, de quem não desconfia das más intenções. Vai dar umas aulas de xadrez no centro do Beato.

José Augusto Serpa (Vítor Rocha)
Filho de Miguel e Madalena. Estudante finalista do curso de informática, apaixonado por computadores, vive indiferente aos acontecimentos sociais da família. Ampara a irmã, Ana, ajudando-a nas crises dos pais acerca de Emídio. Guarda sobre um si um segredo, que coloca Miguel em polvorosa e com teias de aranha na cabeça.

Padre João (Igor Sampaio)
Irmão de Madalena, embora bastante diferente desta. É o primeiro a saber do segredo do cunhado e apoia o romance da sobrinha com Emídio. Presta apoio aos desvalidos no bairro do Beato.

Família Antunes

Rafael Antunes (Vítor de Sousa)
Marido de Raquel, com quem teve três filhos. Engenheiro civil de profissão, é sócio de Angelino e o seu melhor amigo. Vê a sua casa ser assaltada e, posteriormente, é assassinado na estrada do Guincho. Em torno da sua morte, a PJ abre um inquérito que ocupa parte significativa do enredo. Esventrando-se-lhe os segredos, passamos a conhecê-lo melhor, percebendo que não era o que dizia ser, ou como os outros diziam que era.

Raquel Antunes (Isabel Medina)
Mulher de Rafael Antunes. É professora e vive no Algarve com os filhos. Pelas evasivas e taramelas com que tenta embrulhar a polícia, é a primeira a entrar na lista de suspeitos. Carente, sofrida, vai mudar de vida, abrindo um ateliê de moda.

Tiago Pereira (Luís Pavão)
Irmão de Raquel, que lhe presta todo o carinho e atenção. Sofreu um acidente na Guiné, durante a guerra, e vive vegetativamente, internado numa clínica há mais de vinte anos.

Família Damião

Angelino Damião (António Rama)
O melhor amigo de Antunes (diz ele). Abandonou o curso de Teologia, mas mantém bem ardente a sua paixão pela filosofia e pelo latim, e a mais fechada tradição católica. Posa com um ar angelical, beático, falso-sonso, que desperta a atenção de André sobre si. Dirige a Lisconstrói, que usa para negociatas fraudulentas com que acumula fortunas, canalizadas para contas na Suíça. Proclamando ser apenas um singelo procurador que administra propriedade de emigrantes, mostra ser muito mais do que isso: um hábil manipulador que, aproveitando-se de procurações, perverte o sistema de poupanças-crédito. É casado com Aurora, numa relação quase à beira do fim, e tem uma paixão obsessiva por Manuela.

Aurora Damião (Henriqueta Maya)
Mulher de Angelino, determinada e lutadora, cujo casamento não vive os melhores momentos. Penou juntamente com o marido para que o sucesso lhes batesse à porta, mas foi “trocada” pela sua cobiça. Não deixa baratas as traições de que é vítima. É dona de uma loja de bugigangas, onde mais tarde Roberto irá trabalhar.

Isabel Monteiro (Ângela Pinto)
Irmã de Aurora, é a diligente e competente secretária de Angelino, por quem alimenta uma assolapada paixão, típica das boas secretárias de novelas. Mostra-se disposta a tudo para proteger o cunhado. Mantém um casamento discreto, do qual quer fugir.

Família Branco/Matias

Manuela Branco (Suzana Borges)
Tem com os homens um perigoso jogo de sedução. Sente-se poderosa ao cantar-lhes, convicta, a canção do bandido. É uma ambiciosa traficante de diamantes, que vai comprar ao Zaire, para depois especular no preço e os vender a Rodrigues. É o alvo de uma paixão não correspondida (pelo menos no vigor e no desenfreio) por Angelino.

Josefa Branco (Florbela Queiroz)
Irmã de Manuela, casada com Roberto. É funcionária da ourivesaria de Rodrigues, sem desconfiar das trafulhices do patrão.

Roberto Matias (Henrique Viana)
Marido de Josefa. Era aduaneiro e, com a abertura das fronteiras, foi atirado para o desemprego. Aos 50 anos, pena por um trabalho que lhe coloque algum alento na vida e comida na mesa. Arranjará, através de Angelino, emprego na loja de Aurora.

Polícia Judiciária

Agente André Resende (Vítor Norte)
Agente da Judiciária há quase 20 anos. Gosta de fazer cumprir a lei e a ordem. Deixou o curso de Direito incompleto e combateu no Ultramar. A obstinação é o seu maior defeito (ou a sua maior virtude), que faz com o que o casamento com Clara entre em turbulência.

Agente Alfredo Silva (António Montez)
É o mais maduro da brigada. Tem um apurado faro policial, alicerçado na tarimba. Os pais morreram cedo, ficando aos cuidados da avó. Quando esta faleceu, foi para a Casa Pia. A mulher, farta de o ver trocá-la pela profissão, deixou-o. Tem a seu cargo um sobrinho, Alberto, filho de um irmão que anos atrás morreu num acidente de automóvel. Cuida dele com primor, tentando dar-lhe o amparo de que precisa, apesar do seu parco rendimento. Bebe para esquecer os problemas. Em tempos felizes, pintava.

Agente Bernardo Pimenta (Luís Esparteiro)
Agente da PJ.  Brincalhão, bem-disposto, bonacheirão. Leviano nos romances e nos estudos, já que deixou o curso de Medicina por acabar. Salta de cama em cama, apregoando a sua faceta de galã. Em serviço, não brinca, e chega por vezes a ser violento. Tem uma considerável coleção de anedotas secas, que usa a toda a hora. Numa discoteca, conhece Manuela, por quem sente uma atração irresistível.

Agente Emídio Carvalho (Ricardo Carriço)
O mais novo agente da brigada da Polícia. Ex-estudante de Direito. Namora Ana Serpa às escondidas dos pais desta. É paranóico por cinema e um romântico por natureza.

Chefe Rincão (Manuel Cavaco)
Chefe da brigada, perito em computadores. Hipocondríaco e quezilento. Passou vinte e tal anos nos “colarinhos brancos”, mas, por uma razão desconhecida, foi transferido para os homicídios, caindo de paraquedas num grupo de quatro agentes que já trabalham juntos há muito tempo e cuja cumplicidade é muito forte. À primeira vista, é um chato: picuinhas, minucioso, manga-de-alpaca. Faz tudo o que deve ser feito, como se tivesse decorado o manual de procedimentos da PJ. Tem em boa conta Angelino, que foi seu colega de seminário.

Inspetor José Martins (José Eduardo)
Superior hierárquico da brigada. Homem dedicado, mais permeável do que Rincão, gosta de ajudar os seus colegas. Estimula-os e apoia-os nas ações difíceis.

Família Resende

Clara Resende (Filomena Gonçalves)
Tem um casamento na corda bamba com André, do qual nasceram Luís e Rita, a quem tenta dar tudo, fazendo vezes sem conta o papel de mãe e de pai. Trabalha no balcão da agência bancária de que Brás é o gerente e, ao aperceber-se de algumas trafulhices, avisa André. Amiga e confidente de Margarida.

Luís Resende (Álvaro Tavares)
Filho de Clara e de André. Reage mal às ausências do pai.

Rita Resende (Mónica Marta)
Filha de Clara e de André.

Família Brás

Brás (José Gomes)
Gerente bancário, é irmão de Rodrigues, com quem partilha o nome, invertendo-se apenas a ordem dos nomes próprios: enquanto o negociante de diamantes é João Manuel Rodrigues Brás, ele assina Manuel João Rodrigues Brás. Subiu na vida, passando de moço de recados à cadeira da gerência, embora sejam evidentes as suas poucas qualificações. Se em casa é domesticado pela mulher, Alzira, que faz dele “gato-sapato”, na agência bancária empina o peito e arrota grandeza – ele que, bem vistas as coisas, é medricas. Presta alguns favores a Angelino, recebendo dinheiro por debaixo da mesa. Tem dois filhos, Marta e Nuno, a quem está sempre a lembrar que são incapazes. É algo sovina e fascinado por dinheiro: recorre aos transportes públicos para ir para o banco e, para poupar as solas dos sapatos, coloca as pantufas mal entra em casa.

Alzira Brás (Margarida Carpinteiro)
Mulher de Brás. Mãe de Marta e de Nuno. Pouco percebe o temperamento dos filhos, esbarrando frequentemente no típico conflito de gerações. Tagarela, fala pelos cotovelos, tentando imitar (sem sucesso) os modos de Madalena Serpa. Mística, recorre aos serviços da bruxa Crisália.

Marta Brás (Sylvie Rocha)
Filha de Brás e de Alzira.  Faz tudo para chamar a atenção dos pais, exagerando na excentricidade do vestuário e do linguajar. A vida coloca-a à prova quando, vítima de uma violação, fica grávida.

Nuno Brás (Vítor Emanuel)
Filho de Brás e de Alzira, e amigo dos filhos dos Serpa. Estuda História, o que é motivo de discórdia entre pai e filho. É jornalista estagiário e não gestor, como o pai gostaria que fosse.

Rodrigues (Carlos César)
Irmão de Brás. Negociante de ouro, dono de uma ourivesaria onde trabalha Josefa, e vigarista. Um novo-rico serôdio, emproado, que gosta de estar rodeado do esbelto feminino para se sentir realizado. Parece sentir um fraquinho por Manuela, a quem chama de “borrachinho”. Já esteve preso. Quando sente o chão a fugir-lhe dos pés, foge, medroso. Tem mulher e filha no Brasil.

Outros personagens

Ezequiel Andrade (Carlos Santos)
Advogado de Angelino. Nas areias movediças do Direito, move-se com grande à-vontade. Cínico, brusco, de ironia malandra, assume de forma discreta o controlo das situações.

Álvaro Perdigão (Luís Mascarenhas)
É o notário por cujas mãos passam centenas de procurações forjadas.

Chico Zé (Morais e Castro)
Natural de Mata de Lobos. Tem uma tasca vizinha da PJ, local de encontro entre polícias, drogados e prostitutas, onde todas as notícias se espalham rapidamente e onde os agentes largam sentimentalismos e desabafos. É viúvo, bom ouvinte e um fiel devoto do canário, o Isaías. Futebolisticamente falando, é um fervoroso adepto do Benfica.

Cautelas (Canto e Castro)
Cauteleiro, frequentador assíduo da taberna. Chama-se Joaquim Maria da Conceição e, no passado, foi bandido. Conhece como poucos o meandro do crime lisboeta e por três vezes experimentou o cárcere.

Juvelina Mendonça (Isabel de Castro)
No passado, foi orgulhosamente uma das prostitutas mais célebres de Lisboa. Agora, aposentada, é dona de uma casa de passe, onde aluga quartos a raparigas de vida alternada. É amiga de Cautelas.

Donatilde (Adriana Barral)
Prostituta de profissão, protegida de Juvelina. Carente e frágil.

Alberto Silva (Miguel Mendes)
Sobrinho do agente Alfredo. Ficou órfão de pai e mãe aos 14 anos. Vive com o tio, a quem encobre que é consumidor de droga. Enquanto tenta sair do inferno em que se meteu, atravessa novo flagelo: é portador do vírus da SIDA.

Margarida Oliveira (Sofia Sá da Bandeira)
Colega de Clara na agência bancária. Mulher frágil, carente. Casada com Carlos, vive um matrimónio rotineiro, carente de fogachos e de paixões. No comboio que a leva de casa para o trabalho, entra-lhe paixão pelo coração.

Carlos Baptista (António Cordeiro)
Marido de Margarida. Gosta de ter a vida organizada, calendarizada, rotinada. Vive para o trabalho. Tem como ponto de honra, ao domingo, ir almoçar a casa dos pais.

Pereira (Paulo Matos)
Ganha o troféu do chato da agência bancária onde trabalha, sendo miudinho e meticuloso, prestável, servil. Mal Brás vira as costas, também ele despe o fato de sonso. Tem uma visão retorcida das mulheres.

Sérgio Oliveira (Almeno Gonçalves)
Arquiteto, casado e com dois filhos, vai envolver-se sentimentalmente com Margarida. É o contrário de Carlos: é aventureiro, gosta do desconhecido e foge dos marasmos.

Júlio (Rafael Leitão)
Arquiteto, amigo e confidente de Sérgio.

Patrícia Delgado (Andrea Oliveira)
Amiga e confidente de Ana. Oriunda do Alentejo. Vende-se a Madalena, ajudando-a a interferir no namoro de Ana com Emídio, por quem também é apaixonada.

Fernando Ribeiro (Orlando Costa)
Foi colega de André no curso de Direito. Defende os interesses de Raquel.

Pedro Fonseca (Guilherme Filipe)
O psiquiatra de Tiago. Apaixona-se, em vão, por Raquel.

Crisália (Luísa Barbosa)
A “bruxa” que é a conselheira espiritual de Alzira Brás.

Joana (Maria Tavares)
Empregada dos Serpa.

Carolina (Manuela Carona)
Amiga do casal Serpa.

Jorge Castro (Jorge Sousa Costa)
Marido de Carolina, com quem julga ter uma relação intocável.

Minhocas (Mário Pereira)
O seu nome é Deodato Reboredo e, no seu cadastro, lê-se ser um dos marginais mais conhecidos da capital. Adora ginjas e de jogar à defesa com a Polícia, medindo bem as palavras, sentindo na pele a fúria de colegas de cela. Foi um dos assaltantes do cofre de Antunes.

João Pinguinhas (Eduardo Viana)
Ladrão cadastrado. Foi apanhado com heroína. Apresenta-se como sendo vendedor de automóveis. Na farsa em casa de Antunes, fez-se passar por representante da imobiliária.

Ricardina Araújo (Cristina Carvalhal)
Advogada de Pinguinhas, desperta paixão em Bernardo.

José Tomé (Bruno Rossi)
Advogado de Angelino no julgamento. Berra e tenta encostar André contra a parede, jogando por vezes sujo para salvar o constituinte.


Amigo de Marta, embora deseje ser mais do que isso.

Participações especiais

Razões (Carlos Areia)
Amigo de Juvelina e antigo chulo. Sempre que a PJ se lhe atravessa ao caminho, é violentamente tratado.

Maria Helena (Carmen Santos)
Amiga do casal Serpa. Sonha ser eleita deputada independente.

Barão (Curado Ribeiro)
Velho conhecido de Cautelas, contador de histórias.

Artur (Fernando Guerreiro)
Empresário que Angelino denuncia como suspeito pela morte do Eng. Antunes.

Rosália (Helena Isabel)
Professora de Filosofia, ex-revolucionária. Frequenta o bar onde Marta trabalha. Conhece André desde os tempos da faculdade e desenvolve com ele uma certa cumplicidade.

António Viana (Tozé Martinho)
Médico. Vive no mesmo bairro que Clara. É chamado para debelar a laringite de Ritinha e desperta Clara para o amor.

José Bastos (Manuel Castro e Silva)
Advogado “decente” que defende Manuela no julgamento. No passado, os seus préstimos foram necessários para defender Antunes.

Juíza (Zita Duarte)
Presidente do coletivo de juízes que julga o assassinato de Antunes.

Procuradora (Rita Alagão)
Representante do Ministério Público: a voz do Estado no julgamento.

Helena (Rosa Guerra)
Secretária de Aurora, quando ela assume a direção da Liscontrói. É cortejada por Ezequiel.

Depois da exibição de uma novela inteiramente humorística, Na Paz dos Anjos, a RTP voltou a surpreender o público, encomendando à NBP a primeira novela de cariz policial da televisão portuguesa.

Inicialmente concebida para o formato de série, Desencontros foi escrita a meias por Francisco Moita Flores (agente e investigador científico da Polícia Judiciária) e Luís Filipe Costa (jornalista e realizador), ambos estreantes neste género televisivo. Cada um trouxe para o guião o seu conhecimento e a sua sensibilidade. As cenas policiais ficavam a cargo de Moita Flores, enquanto que as que abordavam questões sociais eram escritas por Luís Filipe Costa.

Em novembro de 1993, numa entrevista à TV Guia, Luís Filipe Costa afirmara que jamais seria capaz de escrever uma telenovela: “Telenovela? Não, obrigado. Já viu o que são 130 episódios? Deve ser a obra completa do John Ford. 130 episódios? Por favor, devolvam a liberdade ao espectador”. Certo é que, pouco tempo depois, estava a escrever Desencontros

Os guiões foram escritos à mão e datilografados por uma empresa. Moita Flores terminou a novela com uma luxação no pulso, e Luís Filipe Costa com uma distensão muscular no ombro.

Francisco Moita Flores era conhecido do público pela sua participação no programa Casos de Polícia, da SIC.

A trama baseava-se em factos reais ocorridos em Lisboa na década de 80, na época em que Moita Flores ainda estava na investigação criminal na Judiciária.

Alguns elementos da novela basearam-se nas vivências do autor: “Temos um agente da Polícia Judiciária alentejano [Emídio], que é de Reguengos; não sou eu, é um jovem. Não é muito autobiográfico, sendo também. Penso que não há ficção por ficção, a ficção parte sempre de um real, nem que seja o nosso imaginário, que é construído pelas nossas memórias e raízes”.

A capital lisboeta tinha um papel fundamental na novela, segundo Moita Flores: “O tema é Lisboa, toda a Lisboa, vista com várias leituras: a Lisboa poética, romântica, do underground, da corrupção, dos homicídios, das paixões, das violências, dos ódios. Como dizia o Joaquim Pessoa, em Lisboa é que nascem as gaivotas, e queríamos que nesta telenovela nascessem muitas gaivotas que fossem Lisboa”.

Tendo em conta este propósito, como não poderia deixar de ser, privilegiaram-se as filmagens de exteriores na capital.

Um dos cenários da novela, a tasca, procurou reconstituir a tasca galega do Chico Zé, que Moita Flores frequentava aquando da sua entrada para a Judiciária.

Na véspera da estreia, a RTP mostrou, no Telejornal, o ensaio de uma cena protagonizada por Ana Zanatti e Carlos Daniel, dirigidos por Álvaro Fugulin.

Ana Zanatti e Carlos Daniel

A novela estreou às 19:00, concorrendo com a brasileira Vidas Cruzadas (Pátria Minha no original), exibida pela SIC. Embora Desencontros estivesse longe de liderar as audiências, a RTP cedeu à pressão do público e da crítica, que consideravam que a novela deveria ir para ar em horário nobre, o que aconteceu a partir de 08/05/1995, em substituição de 74.5 Uma Onda no Ar. O anúncio formal desta alteração foi feito com pompa e circunstância, numa conferência de imprensa dada por Adriano Cerqueira, diretor de programação da RTP.

A mudança foi também assinalada no dia 07/05/1995, com o espetáculo Mais Portugal, que contou com a presença de todo o elenco.

Na primeira semana após a alteração de horário, foi exibido um compacto dos primeiros 68 capítulos, para que todos os telespectadores ficassem à la page.

No entanto, quando já estava relativamente próxima do fim, Desencontros perdeu o posto para a brasileira A Idade da Loba – que era exibida logo após o Telejornal –, e os seus episódios viram-se reduzidos a metade. Vários atores do elenco (e não só) manifestaram a sua revolta com esta decisão.

A BBC esteve presente nos estúdios da NBP, a fazer uma reportagem com a equipa da novela. Os atores Ricardo Carriço e Sofia Alves foram entrevistados para este programa, intitulado Como se Faz uma Novela.

Cansada de fazer revista, Florbela Queiroz, que regressara às novelas com a espampanante Filomena Mota Costa de Na Paz dos Anjos, vestiu um papel diametralmente oposto neste folhetim: a sofrida e discreta Josefa, que exigiu que Florbela largasse o loiro e usasse uma cabeleira castanha. Também Henrique Viana, seu marido na novela, fugiu ao registo cómico que lhe era característico.

Henrique Viana e Florbela Queiroz

O personagem Angelino Damião, vivido por António Rama, esteve no centro de uma polémica entre a RTP e o Partido Socialista. Tudo se passou aquando da transmissão de um tempo de antena do PS, durante a qual foram sobrepostas duas legendas a uma entrevista de António Guterres, contendo os dizeres: “Tele-Guia 1000 Contos | Angelino Damião”. O PS dirigiu uma reclamação à Alta Autoridade para a Comunicação Social, baseada na circunstância de Angelino Damião ser “caracterizado como o vilão e indivíduo sem escrúpulos”. A RTP esclareceu ter-se tratado de um lamentável incidente, que se deveu a um lapso do operador de serviço, enquanto procedia a um ensaio do concurso, que iria para o ar logo a seguir ao tempo de antena.

António Rama

António Rama iniciou as gravações ainda sem saber quem seria a sua “cara-metade”: Suzana Borges, intérprete da fria Manuela Branco, foi uma das últimas a integrar o elenco.

Em entrevista à TV Guia, a atriz fez a surpreendente revelação de que Maitê Proença era o nome inicialmente pensado para o seu papel, o que, a concretizar-se, não seria uma situação inédita. Recorde-se que, em 1993, Betty Faria havia feito um importante papel em Verão Quente.

Conhecedora do savoir faire brasileiro, que testemunhara no Brasil, onde vivera juntamente com Carlos Daniel a dupla de irmãos portugueses em Pedra Sobre Pedra, Suzana Borges não hesitou em afirmar que “Desencontros deu um salto qualitativo relativamente à sua antecessora [Na Paz dos Anjos]”, elogiando a qualidade do texto.

Embora todos os atores tenham elogiado a qualidade da novela, que consideravam disruptiva, não conseguimos encontrar no catálogo de interpretações nenhuma capaz de merecer um destaque personalizado. O nível interpretativo não acusou nenhuma oscilação qualitativa, quedando-se por um nível satisfatório, que de resto se estendeu ao texto.

Com efeito, durante o visionamento dos 145 episódios, assaltou-nos a perceção de que a história é contada num ritmo morno, pachorrento, dispersando-se em cenas supérfluas, que pouco ou nada acrescentavam. Algumas subtramas, intencionalmente colocadas para mostrar a rotina de uma brigada de polícia, fizeram com que a ação se dispersasse por assuntos irrelevantes. Cenas de humor pouco inspirado entre os agentes da brigada são outro exemplo de algumas “gorduras” que em nada contribuíram para o produto final.

Da mesma maneira, a constante menção às “contas poupança-crédito” tornou-se fastidiosa para quem não dominava as questões financeiras e comerciais.

Sentiu-se a falta de um núcleo de humor capaz de aligeirar a carga da novela, que tocou como poucas o dedo nas chagas sociais. Foi impossível deixar de sentir o desamparo de Alfredo (António Montez) na luta contra a droga, levada a cabo pelo impotente Alberto (Miguel Mendes). Foi a primeira vez que se abordou, nas telenovelas portuguesas, o tema da SIDA, doença contraída pelo toxicodependente, numa perspetiva – por vezes excessivamente – pedagógica.

Miguel Mendes

Depois de 100 capítulos com a trama em “banho-maria”, os acontecimentos precipitaram-se no terço final da novela, atingindo o ápice na última semana, com o julgamento dos assassinos de Antunes, claramente a parte mais sugestiva e interessante do enredo.

A morte de Emídio foi outro momento que causou grande comoção. Foi desta forma que Moita Flores justificou o final escolhido para o agente: “Foram muitas as razões que me levaram a escrever este final. A primeira, porque se tratava da história sobre uma brigada policial. E morrer faz parte do risco inerente à profissão. Por outro lado, embora de forma efémera, havia que tenta humanizar os caminhos trilhados pela Polícia”.

Ricardo Carriço mostrou-se satisfeito com o destino do polícia: “A morte de Emídio baseia-se numa história real. Por isso, fiquei contente ao homenagear um agente da Judiciária morto nestas mesmas circunstâncias. […] Com a «minha morte», o final aproxima-se mais da realidade, longe das habituais cenas cor-de-rosa que dão cor à telenovela. E isso agrada-me!”.

O jovem Álvaro Tavares, que viveu o filho de André (Vítor Norte) e Clara (Filomena Gonçalves), é filho da atriz Maria Tavares, que também estava no elenco, como empregada da família Serpa.

Álvaro Tavares

Os escritórios da empresa de Angelino, a Lisconstrói, situavam-se no edifício Monumental, no Saldanha.

A redação do extinto vespertino A Capital serviu de cenário a algumas cenas do personagem Nuno (Vítor Emanuel), jornalista estagiário.

Alguns meses após o final das gravações, a TV Guia reuniu os cinco membros da brigada da PJ. Já “despidos” dos seus personagens, António Montez, Luís Esparteiro, Manuel Cavaco, Ricardo Carriço e Vítor Norte exaltaram o ambiente de camaradagem que haviam vivido durante as gravações, sugerindo até que a brigada pudesse dar origem a uma série.

A ideia foi avante, embora não exatamente nesses moldes. Em 1996, Francisco Moita Flores e Luís Filipe Costa escreveram Polícias, série que também retratava o dia-a-dia de uma brigada de polícia. Luís Esparteiro, Manuel Cavaco e Vítor Norte integraram o elenco, mas com novos personagens.

Desencontros foi a primeira telenovela portuguesa a ter a sua banda sonora lançada em CD.

TEMA DE “DESENCONTROS” – João Paulo Campos
DESEJO – Yolanda (tema de Margarida e Sérgio)
CONVITE AO MAL – Entre Aspas (tema de Emídio)
UMA OUTRA REALIDADE – Rui Siqueira (tema de André)
DOO BE DOO – Joel Xavier
MIL BEIJOS MIL – Laureano
NASCI PARA MORRER CONTIGO – Mísia
MÚSICA D’ALMA – Música d’Alma (tema de Roberto)
MULHER (QUERO CANTAR PARA TI) – José Cid (tema de Ana)
CADA QUAL É COMO É – Joel Xavier
A QUEDA DE UM ANJO – Delfins
LOUCA DE AMOR – Eugénia Melo e Castro (tema de Madalena e Miguel)
PRECE – Carlos Zel
VENHAM MAIS CINCO – Tubarões

Não incluídas no CD:
EU ESTOU BEM – Despe e Siga (tema de Marta)
FESTA – Despe e Siga

A novela encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

Partilhar:

Desencontros