Exibição:
20/09/1989 – 03/08/1990 (RTP 2)
Número de capítulos:
89
Produção:
Rede Manchete (1986)
Novela de:
Wilson Aguiar Filho
Direção geral:
Herval Rossano
Exibição:
20/09/1989 – 03/08/1990 (RTP 2)
Número de capítulos:
89
Produção:
Rede Manchete (1986)
Novela de:
Wilson Aguiar Filho
Direção geral:
Herval Rossano
Dona Beija conta a biografia romanceada de Ana Jacinta de São José (Maitê Proença), a mais famosa cortesã do Araxá, desde o momento em que nasce até abandonar a vida de prostituta de luxo que escandalizou a sociedade conservadora da época.
O destino de Dona Beija é traçado quando Joaquim Inácio Silveira da Mota (Carlos Alberto), o ouvidor do rei D. João VI de Portugal (Jorge Cherques), se encanta com a sua beleza e decide raptá-la. Após presenciar o assassinato do seu avô (Aldo César), Beija é levada do Arraial de São Domingos e torna-se protegida do ouvidor. Todavia, no seu íntimo não lhe perdoa e, para assegurar o futuro, passa a traí-lo com homens ricos e poderosos que a presenteiam com jóias caras. Quando Mota é chamado pelo rei, deixa-a numa boa situação financeira, mas com a honra ultrajada, nada mais resta a Dona Beija senão manter-se como cortesã. Regressa então ao Arraial de São Domingos, onde se encontra com António (Gracindo Jr.), seu antigo noivo, que agora está comprometido com Aninha (Bia Seidl), filha do fazendeiro Elias Felizardo (Sérgio Mamberti). Devido à reputação de Beija, António não a aceita como esposa, o que aumenta o ressentimento da parte dela.
Dona Beija resolve então abrir uma chácara para receber diariamente os homens que a queiram ver, um dos quais é escolhido para dormir com ela no fim da receção. Essa atitude, muito embora tolerada pelo padre Aranha (Sérgio Brito), escandaliza as matronas moralistas do Arraial de São Domingos, nomeadamente dona Ceci (Maria Fernanda), mãe de António, dona Genoveva (Arlete Salles), mãe de Aninha, e dona Augusta (Marilu Bueno), esposa do corregedor Costa Pinto (Lafayette Galvão).
Com o passar do tempo, António acaba por procurar Beija na chácara e esta, por seu turno, elege-o como o seu preferido. A família dele, entretanto, não se conforma e o romance dos dois é mais uma vez sacrificado após o nascimento de uma filha, Teresa Tomásia (Sílvia Buarque). O preferido de Beija passará então a ser João Mendonça (Marcelo Picchi), filho do promotor José Mendonça (Jonas Mello), desencadeando por parte de António um ódio profundo que o levará a uma atitude extremamente cruel: inspirado por uma obsessão doentia, manda açoitar violentamente Beija, que, por sua vez, ao se recuperar das lesões, contrata um escravo para o assassinar.
Após a morte de António, a vida de Beija perde o sentido. Muito embora seja absolvida do crime, o remorso acompanha-a, a ponto de decidir abandonar o Arraial de São Domingos para passar a velhice longe daquela terra que só lhe trouxe desgraças.
Um grande sucesso da Rede Manchete e sem dúvida o maior êxito desta produtora até à data da sua exibição.
Dona Beija foi, efetivamente, um êxito junto do público português, êxito que nem mesmo a concorrência de Missão Impossível conseguiu abalar. Dona Beija começou por ser exibida às quartas-feiras, anunciada não como uma telenovela, mas como uma série, indo sempre ao ar dois capítulos de cada vez.
A partir da primeira semana de 1990, passou a ser transmitida às sextas-feiras e a audiência disparou. Com certeza que o êxito ainda teria sido maior se Dona Beija tivesse sido exibida diariamente e não apenas uma vez por semana. Saliente-se, a este propósito e como já se disse, que, às sextas-feiras, e justamente às 21:30, a RTP 1 chegou a exibir o clássico Missão Impossível, enquanto nos outros dias iam ao ar programas muito menos chamativos. Independentemente disso, a história de Ana Jacinta de São José, as cenas de nudez de Maitê Proença e a interpretação dos veteranos que compunham o elenco conquistaram os telespectadores portugueses, que ainda hoje se lembram desta produção bastante inovadora para a época.
Segundo o jornal O Século, logo em 1986, a RTP teria cogitado comprar Dona Beija, mas as cenas mais ousadas teriam levado a televisão portuguesa a retroceder e a adiar a aquisição para uma altura mais oportuna.
Ora, tais cenas ousadas foram precisamente o maior chamariz para os públicos diversificados que a telenovela conquistou em Portugal nos anos de 1989 e 1990. O jornal Expresso deu inclusivamente alguma cobertura a esta produção, fazendo uma resenha histórica da vida de Ana Jacinta.
Com efeito, Ana Jacinta de São José realmente existiu, celebrizando-se como uma mulher que marcou a sociedade mineira do século XIX pelo seu comportamento, após ter sido raptada pelo ouvidor do rei D. Pedro, Joaquim Inácio Silveira da Mota. Não obstante ser uma prostituta de luxo, a sua influência junto do poder foi decisiva ao ponto de ser a precursora da anexação do Sertão da Farinha Podre, que pertencia a Goiás, ao Estado de Minas Gerais. Este episódio histórico consta da telenovela da Rede Manchete, entrelaçando-se com a trama principal.
A sua beleza, cultivada com prolongados banhos na Fonte da Jumenta, ainda hoje é lembrada. Em 1965, foi criado, por Assis Chateaubriand, o Museu Histórico de Araxá Dona Beija, que atrai turistas e curiosos que desejam ver alguns objetos pessoais da cortesã.
Beatriz Costa, conhecida pelas suas posturas sempre muito críticas, confessou ser fã da telenovela Dona Beija, afirmando que esta telenovela era a melhor coisa que nos tinha chegado do Brasil desde Gabriela.
[…] a propósito da série D. Beija, que é obra notável da Rede Manchete. Eu já li o livro e conheço a história. É uma série muito bem cuidada, com uma atriz linda e talentosa, a Maitê Proença. Ela é parente de grandes amigos meus que vivem em Portugal. Tive o prazer de rever aquele magnífico ator que faz o ouvidor, Carlos Alberto. Ele era o galã «escalda corações» (ainda está um belo homem!) nas primeiras telenovelas, com a Yoná Magalhães. Outra figura fascinante é o belíssimo filho do Tarcísio Meira e Glória Menezes. Ele vive o príncipe D. Pedro I. Que lindo rapaz, e que talento! […] Em setembro de 1989 estive em Madrid e vi D. Beija com a maior audiência!… Infelizmente em Portugal passa no segundo canal, que é mais dedicado à bola, coisinhas sem graça e muita «parvoeira». Como é possível que uma jóia televisiva como esta seja dificultada às regiões que não apanham o segundo canal?!… «Há algo errado no reino da Dinamarca.» Na hora nobre, 9 da noite, passava aquela palhaçada com Paulo Autran, Sassaricando. Depois de Gabriela, D. Beija foi a coisa mais linda que o Brasil nos mandou. O fundo musical inclui as mais belas «modinhas» da época cantadas pelas mais lindas vozes da atualidade, porque o Brasil não tem só aquelas cantoras que cantam no Coliseu de seios de fora e pernas abertas. Por isso D. Beija é um grande trunfo prà Rede Manchete. Tudo nesta obra é cuidadosamente tratado. Ninguém é mais digno desta alegria do que este cidadão de Kiev nascido na Rússia, mas que tem dado ao Brasil o melhor da sua brilhante inteligência!… O Sr. Adolfo Bloch!…
Em agosto de 1989, o jornal Se7e publicou um artigo sobre as novidades para a rentrée televisiva, mas na legenda da foto em que aparece Maitê Proença, mencionou a novela Beija-Flor…
Em março de 1990, a revista semanal do Correio da Manhã anunciava na capa que apresentaria Maitê Proença completamente nua, mostrando para o efeito uma foto da personagem título da telenovela, mas, folheando a publicação, o leitor deparava-se com uma reportagem sobre uma peça em que Maitê Proença contracenava com Nívea Maria e Ângela Leal, Na Sauna.
Poucas semanas depois da estreia, a editora Caravela lançou o livro Dona Beija, a Feiticeira do Araxá, de Thomas Leonardos, um dos romances em que se inspirou a telenovela de Wilson Aguiar Filho (o outro é A Vida em Flor de Dona Beja, de Agripa Vasconcelos). O volume foi um sucesso de vendas e a primeira edição esgotou-se de imediato.
Durante os primeiros meses de 1990, foi lançada uma cassete pirata, pela editora Videofrequência, com temas da telenovela.
A popularidade da novela foi um facto não apenas em Portugal Continental, como também nas Regiões Autónomas. Nos Açores, existe uma instância termal que foi apelidada de “Poça da Dona Beija”.
É curioso lembrar que Dona Beija foi citada em outra produção da Rede Manchete, a telenovela Tudo ou Nada, que víramos anteriormente. E era a personagem Dulce, interpretada por Marilu Bueno (a dona Augusta de Dona Beija), que aludia ao sucesso cantando um trecho da música de abertura.
Em junho de 2011, durante as escavações levadas a cabo numa praça localizada em Estrela do Sul, povoação onde Dona Beija passou os seus últimos dias, foram encontradas umas ossadas que se crê pertencerem à cortesã. A hipótese foi reforçada ao descobrir-se que ali se localizava um cemitério, bem como ao facto de, junto das ossadas, serem resgatados enfeites de zinco semelhantes aos que supostamente enfeitaram o caixão de Dona Beija.