Entre Marido e Mulher

Exibição:
07/05/1979 – 02/07/1979 (RTP 2)

Número de programas:
08

Tradução:
Carlos Manuel Oliveira

Textos:
Hélder Costa

Direção de atores:
Rui Mendes
José Gomes
Morais e Castro

Realização:
Fernando Matos Silva
João Matos Silva

Música original:
Fausto

Cantada por:
Paulo de Carvalho

Arranjo e execução:
Trovante

Produção:
Cinequipa
Grupo 4

Com textos de oito autores ingleses, Entre Marido e Mulher é uma série de episódios nos quais se descrevem os vários estágios da vida de um casal.

As oito histórias não têm ligação entre si, mantendo a série como único ponto de ligação a vida conjugal do casal. O primeiro episódio conta a história de um jovem casal, recém-casado, e o oitavo mostra os problemas da velhice e a preocupação da morte.

Vários estados de conflitos de casais são mostrados ao longo da série. Não se baseando em casos reais, os autores retratam, com fidelidade, o alegre e o triste do quotidiano de um casal, desde as gracinhas e sorrisos apaixonados até à indiferença dos velhos, passando pelas triviais discussões dos casais de meia-idade.

No início de cada história, é lido um texto, da autoria de Hélder Costa, que introduz o tema focado.

1. A melhor amiga do homem (07/05/1979)
Este episódio conta-nos a história de um casal acabado de contrair matrimónio que, de comboio, vai a caminho da lua-de-mel.

Título original:
A Man’s Best Friend

Autoria:
James Saunders

Intérpretes:
Manuel Cavaco
Adelaide Ferreira

Prólogo:
O padre

Título original:
The Vicar

Autoria:
George Melly

Direção de atores:
Rui Mendes

Realização:
Fernando Matos Silva

2. Quantos há? (14/05/1979)
Este episódio narra a história de um marido que sobe na vida em pouco tempo. Durante um jogo de ténis, surgem as primeiras discussões, as primeiras crises de ciúmes.

Título original:
Score

Autoria:
Lyndon Brook

Intérpretes:
Morais e Castro – Henrique
Helena Isabel – Sara

Prólogo:
O gerente do banco

Título original:
The Bank Manager

Autoria:
George Melly

Direção de atores:
José Gomes

Realização:
João Matos Silva

3. Chuva de Agosto (21/05/1979)
Helena e Raul são um casal já “gasto” pelo quotidiano. Ela ocupa-se da casa e dos filhos. Ele sai cedo para o trabalho e chega tarde para jantar. Vem cansado de mais para a olhar, para lhe dar atenção. O inevitável surge: de um dia para o outro, Helena, a mãe, a mulher, a doméstica, tem uma aventura. Raul tem conhecimento da situação. Conversam e chegam à conclusão de que o importante é continuarem juntos e esquecer este episódio. Agora as coisas podem mudar. Raul talvez não chegue a casa tão cansado, e Helena poderá ter, quiçá, alguém que olhe para ela…

Título original:
Norma

Autoria:
Alun Owen

Intérpretes:
João Perry
Irene Cruz – Helena

Prólogo:
O advogado

Título original:
The Lawyer

Autoria:
George Melly

Direção de atores:
José Gomes

Realização:
João Matos Silva

4. A noite (04/06/1979)
Este episódio mostrará a rotura de um casal e o início da rotina doentia. Durante o jantar, em ambiente um pouco deprimente, falam das circunstâncias do seu conhecimento. Os dois, sentados à mesma mesa, contraditoriamente: “Foi na ponte que nos beijámos pela primeira vez”, diz ele. “Foi na margem, junto à água”, afirma ela.

Título original:
Night

Autoria:
Harold Pinter

Intérpretes:
Orlando Costa
Henriqueta Maya

Prólogo:
A ama

Título original:
The Nannie

Autoria:
George Melly

Direção de atores:
Rui Mendes

Realização:
Fernando Matos Silva

5. Permanência (11/06/1979)
“O amor e uma tenda de campismo” poderia ser o subtítulo deste episódio, que conta como se desenvolve a indiferença de um casal perante o seu quotidiano. Durante 18 anos, passaram as férias numa tenda de campismo, mas as próximas serão gozadas em casa alugada. Apesar dessa agradável mudança, a tenda ficará como recordação de outras férias. Afinal, o casal debate-se com duas verdades e duas necessidades. Ela, quarenta anos, e as primeiras rugas a marcarem o seu rosto, pretendendo falar de um “erro” dos primeiros anos de casados. Ele, que já esqueceu esse “erro” e que ama a mulher com quem vive e a filha.

Título original:
Permanence

Autoria:
Fay Weldon

Intérpretes:
José Gomes – Pedro
Maria do Céu Guerra – Luísa

Prólogo:
O psicanalista

Título original:
The Psychoanalyst

Autoria:
George Melly

Direção de atores:
Rui Mendes

Realização:
Fernando Matos Silva

6. Bodas de prata (18/06/1979)
Neste episódio, focar-se-ão as várias roturas possíveis entre marido e mulher. No dia em que comemoram as bodas de prata, ele chega atrasado a casa – ficou retido por uma reunião que se prolongou. Ela acha que ele não se esforçou por sair mais cedo do trabalho…

Título original:
Countdown

Autoria:
Alan Ayckbourn

Intérpretes:
Ruy de Carvalho – Júlio
Lourdes Norberto – Adriana

Prólogo:
O sindicalista

Título original:
The Union Official

Autoria:
George Melly

Direção de atores:
Morais e Castro

Realização:
João Matos Silva

7. Conversas de circunstância (25/06/1979)
Um casamento que já ultrapassou a barreira dos 25 anos apresenta fortes sinais de corrosão, mas tanto ele como ela preferem guardar para si essa perceção, tecendo críticas em silêncio ao seu cônjuge.

Título original:
Silver Wedding

Autoria:
John Bowen

Intérpretes:
Rogério Paulo
Anna Paula

Prólogo:
O médico

Título original:
The Doctor

Autoria:
George Melly

Direção de atores:
Morais e Castro

Realização:
João Matos Silva

8. Lugar de repouso (02/07/1979)
Este episódio trata os problemas relativos à velhice, resignação e morte. Um casal de reformados conversa num banco. Adivinham o futuro sem medo e com resignação. Ela gostaria de ficar na memória dos outros: uma última morada que desse nas vistas. Ele diz que não vale a pena gastarem dinheiro com isso…

Título original:
Resting Place

Autoria:
David Campton

Intérpretes:
Ruy Furtado
Josefina Silva

Prólogo:
Realizador de TV

Título original:
The Director

Autoria:
George Melly

Direção de atores:
José Gomes

Realização:
Fernando Matos Silva

Recém-casados, relações marido/mulher, alguns anos depois do casamento, os flirts, os amantes, o cansaço, as discussões, a velhice, a resignação, foram alguns dos temas que Entre Marido e Mulher se propôs transportar para a TV.

Histórias de Casais foi o título originalmente pensado para a série.

Com situações completamente distintas, os episódios tinham em comum o facto de retratarem cenas de quotidiano conjugal (ou extraconjugal, como no caso do terceiro episódio), com fácil possibilidade de reconhecimento ou mesmo de identificação, por parte dos espectadores.

Os diálogos revestiram forma de comédia, embora o quarto e o oitavo tenham sido um pouco mais “pesados”.

Os textos foram traduzidos e adaptados de um conjunto de oito pequenas peças levado ao palco em Londres, pela primeira vez, em 1969, com o título de We Who Are About To… No ano seguinte, o espetáculo foi reposto com um novo título, Mixed Doubles: an Entertainment on Marriage.

As cenas de ligação entre as peças eram os monólogos da autoria de George Melly, que na série serviram de prólogo a cada um dos episódios.

As edições publicadas dos textos trazem dois monólogos extra em apêndice (The Headmaster e The Advertising Man), que não foram incluídos na representação teatral.

Entre Marido e Mulher resultou de uma união entre uma cooperativa de cinema, a Cinequipa, e uma companhia de teatro, o Grupo 4.

O elenco da série incluiu 17 atores. 16 deles atuaram em apenas um episódio.

Manuel Cavaco e Adelaide Ferreira
Morais e Castro e Helena Isabel
João Perry e Irene Cruz
Orlando Costa e Henriqueta Maya
José Gomes e Maria do Céu Guerra
Ruy de Carvalho e Lourdes Norberto
Rogério Paulo e Anna Paula
Ruy Furtado e Josefina Silva

O outro, Rui Mendes, interpretou os pequenos prólogos comuns a todos eles, em oito personagens diferentes, no sistema da “câmara subjetiva” (o ator a falar com a câmara/espectador).

Como afirmou ao Se7e Fernando Matos Silva, um dos realizadores da série (o outro era seu irmão e sócio – João Matos Silva), os diretores de cinema portugueses só conseguiam fazer, na melhor das hipóteses, um filme de fundo em cada dois ou três anos, o que lhes dava pouca prática na direção de atores. Essa foi uma das razões para a aliança com o Grupo 4, que “emprestou” as encenações de Rui Mendes, Morais e Castro e José Gomes. Acompanhando a realização, estes atores encarregaram-se da direção artística, tendo tido, também, responsabilidades no campo da produção.

Tratava-se da primeira experiência dramática da Cinequipa para a TV. Acrescentou Fernando Matos Silva: “Foi uma boa oportunidade de trabalhar com 17 atores e de construir uma série com unidade de tema, apesar de feita por 2 realizadores diferentes. Trouxe-nos outras experiências, como por exemplo o enquadramento no espaço dramático especial que é a televisão. E tudo isto com extrema rapidez, numa demonstração de que, em Portugal, também é possível fazer filmes com qualidade e velocidade, apesar de condicionalismos económicos e do orçamento apertado”.

A música original era de Fausto, interpretada pelo grupo Trovante, e incluía a bela canção “Três Amores”, cantada por Paulo de Carvalho.

Os episódios, de 30 a 40 minutos cada, foram filmados em 16 mm, a preto e branco.

O Grupo 4 e a Cinequipa trabalharam com o orçamento normal da televisão para este tipo de emissões – 276 contos para as despesas de produção de cada episódio, com exceção do laboratório e das películas, que foram fornecidos pela própria RTP.

Toda a série foi realizada em dezembro de 1978 e janeiro de 1979, tendo havido, para cada episódio, uma semana para ensaios e outra para filmagens.

Rui Mendes mostrou-se satisfeito com o resultado: “Todos os diálogos estão bem representados, embora se note uma melhoria à medida que a série vai correndo. Ganhámos com o tempo e a experiência. Penso que Entre Marido e Mulher pode ser um divertimento inteligente, não alienante. Não é uma obra-prima para ficar na história, nem para concorrer com O Astro, nem era essa a nossa intenção, mas poderá abarcar grande fatia de público e dar-lhe alguma confiança nas produções portuguesas”.

A série foi reposta em 1986, às sextas-feiras às 16:00, entre 11/07/1986 e 29/08/1986.

Na RTP Memória, foi reposta pela primeira vez no verão de 2018.

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