Filhos do Vento

Exibição:
06/04/1997 – 14/09/1997 (RTP 1)

Número de capítulos:
150

Argumento:
Francisco Moita Flores

Diálogos:
Francisco Moita Flores
Rui Costa Correia
Maria Monteiro
Durval Lucena

Direção musical:
Paco Bandeira

Produção:
Pedro Miranda

Realização de estúdio:
Álvaro Fugulin

Realização de exterior:
Lourenço J. de Mello

Direção geral:
Nicolau Breyner

Elenco (1996):
António Assunção – Reinaldo
António Cordeiro – Afonsinho
António Rama – Carlos Vieira
Armando Cortez – Quitério Vieira
Canto e Castro – Grelinhos
Carla Pires – Mónica
Cecília Guimarães – Rosinha
Constança Esparteiro – Madalena Simões
Filomena Gonçalves – Margarida
Guida Maria – Emília
Guilherme Filipe – Dr. João Gouveia
Helena Isabel – Octávia Rocha
Helena Ramos – Lúcia
Henriqueta Maya – Marília Abrantes
Isabel Medina – Cidália Abrantes
Joaquim Rosa – Pedro Vieira
José Fiúza – Agente Jordão
Luís Esparteiro – Luís Simões
Luís Vicente – Padre António Reis
Márcia Breia – Amélia
Margarida Carpinteiro – Anica
Manuel Cavaco – Sargento Raimundo Alves
Miguel Hurst – Artur Fanica
Miguel Mendes – Chico Rocha
Morais e Castro – Laureano
Orlando Costa – João Faria
Patrícia Tavares – Céu Abrantes
Paulo Matos – Tenente Raul Oliveira
Pedro Górgia – Leonel Abrantes
Ricardo Carriço – Ramón
Rita Alagão – Laurinha
Rodolfo Neves – Henriques
Rui Rim – Manel
Sílvia Rizzo – Dr.ª Ana Maria Simões
Simone de Oliveira – Paula Vieira
Sofia Alves – Lurdes
Sofia Grillo – Joaninha
Sofia Sá da Bandeira – Rita
Sónia Jerónimo – Cristina Vieira
Sylvie Rocha – Gisela
Virgílio Castelo – Jorge Abrantes

Elenco (1970):
António Cordeiro – Afonsinho
António Pedro Cerdeira – Carlos Vieira
Armando Cortez – Quitério Vieira
Canto e Castro – Grelinhos
Carlos César – Padre Tomé Vieira
Carlos Santos – Inácio
Catarina Seabra – Margarida
Eduardo Viana – Osório
Fátima Belo – Paula Vieira
Fernanda Lapa – Carolina Vieira
Gonçalo Waddington – Jorge Abrantes
Henriqueta Maya – Marília Abrantes
Joaquim Rosa – Pedro Vieira
José Eduardo – Horácio Abrantes
Márcia Breia – Amélia
Manuel Cavaco – Cabo Raimundo Alves
Rodolfo Neves – Henriques
Sofia Cerqueira – Rita

Participações especiais:
Rosa Guerra – Senhora na clínica
Ivan Coletti – Homem na clínica
Henrique Santos – Afonso Vieira (1970)
Jorge Almeida – Capanga contratado por Afonsinho que alveja Amélia
Henrique Pinho – Vasconcelos (notário subornado por Carlos e Emília)
Carlos Martins – Fiscal das Finanças
João Nuno Fonseca – Jornalista que tenta entrevistar Jorge
Abdul Razac Seco – Jornalista que tenta entrevistar Jorge
Roger Madureira – Criança cigana
Jorge Rondão – Operador de câmara
Joaquim Nicolau – Ex-combatente do Ultramar (1970)
Paula Marcelo – Professora de Madalena
Rui Fernandes – Gregório
Gil Vilhena – Cliente de Octávia
Manuela Carona – Olívia (1970)
Patrícia Bull – Cliente do Café Paris
Alexandra Maló – Engrácia
Filipa Maló Franco – Criança doente
José Gomes – Oliveira
Benjamim Falcão – Julião (1970)
António Cid – Médico que trata a esposa de Oliveira
Rogério Jacques – Falcão
Maria Hernâni – Habitante de Alcaides
Roberto Candeias – Capanga contratado por Reinaldo
Fernando Tavares Marques – Inspetor da PJ
Carlos Gonçalves – Jornalista colega de Gisela
Armando Venâncio – Professor Romão
Jacinto Ramos – José Oliveira Serra Antunes Vieira (1970)
António Aldeia – Mendigo que pede esmola a Afonsinho
Augusto Portela – Funcionário da Junta (1970)
Amadeu Caronho – Vidal
Luís Romão – Guarda GNR (1970)

Por Alcaides, vila perdida na lezíria ribatejana, a família Vieira espalhava a sua perversidade. O velho Afonso Vieira (Henrique Santos) acabara de falecer, corria o ano de 1970. Quem lhe ocupou, de forma pacífica, a cadeira de Morgado da Herdade da Estrela foi o seu filho Pedro (Joaquim Rosa). Os outros filhos, Quitério (Armando Cortez) e Tomé (Carlos César), tinham as suas vidas arranjadas: o primeiro, enquanto perene médico de Alcaides, homem liberal, anárquico, de costas voltadas a Deus, impoluto perante a tradição do apelido que ostenta; e o segundo, padre do lugarejo e devoto aos valores da família. Mais do que tudo, o que Pedro cobiçava era o poder na latifundiária Herdade da Estrela. Casado quase por favor com Carolina (Fernanda Lapa), sofrida e submissa, tinha dois filhos: Carlos (António Pedro Cerdeira), afeiçoado aos valores paternos de casta e tradição, e Paula (Fátima Belo), espevitada, espalha-brasas que rompe com as tradições.

Bem diferente era a família Abrantes: abnegados proprietários rurais, homens de palavra dada e afeiçoados aos cavalos e à terra. Horácio (José Eduardo) era o respeitado patriarca, que Pedro desconsiderava no seu frémito de poder, ateando o rastilho de uma guerra onde tudo valia, numa desavença que acabou com Horácio encarcerado em Peniche. Cumprida a pena, não se resignou ao fardo. Levantou a moral e a cabeça, passando uma herança de honradez aos filhos – Jorge (Gonçalo Waddington), Rita (Sofia Cerqueira) e Margarida (Catarina Seabra) –, contando com a ajuda da mulher, a implacável Marília (Henriqueta Maya), a quem nenhum furacão era capaz de domar. Com Jorge formado como regente agrícola, sedento de ideias modernas para rasgar o bafiento tempo de uma agricultura arcaica, à base da mão-de-obra, Horácio hesita em avançar com a mecanização, mas, quando dá o aval, a burocracia e o cadastro sujo pela estadia em Peniche travam-lhe o ânimo. Jorge decide avançar e vincar as suas raízes em Alcaides, onde se apaixonara em perdição por Paula Vieira. Esta, cada vez mais incompatibilizada com os limites tacanhos da vila e os rigores opressores da sua família, debanda até Lisboa, à procura de um futuro novo. Apesar da dura indignação do pai, que a escorraça de casa, Paula vence na vida de cantora, graças à voz e à paixão dedicada com que se entregou à vocação. Por Lisboa, também constrói Carlos o seu futuro na medicina. Em Alcaides, fica Jorge Abrantes, construindo na terra o seu futuro.

1996 corre em brando armistício quando a morte de Pedro bate à porta, trazendo o luto à família Vieira: Paula (Simone de Oliveira), sentimental, despede-se do pai, a quem nunca mais dirigira a palavra, e, sentindo a tradição familiar a apelar-lhe, Carlos (António Rama) larga provisoriamente a medicina e encafua-se em Alcaides como agricultor. Sedento de poder, para compensar o sacrifício, tenta colar os cacos de uma vida ensarilhada: mantém um casamento de conveniência com Emília (Guida Maria), saloia rapariga viva que retirara do cabeleireiro de bairro onde trabalhava; mantém uma relação oportunista com a enfermeira Lurdes (Sofia Alves) e um negócio sujo de automóveis de matrícula falsificada com o meio-irmão, Afonsinho (António Cordeiro), nervoso e canalha, que lhe aspira o lugar. Agitado no fulgor da ambição, quer apoderar-se das sesmarias, terrenos baldios a cargo da Junta de Alcaides, para lhe forrar ainda mais de dinheiro os bolsos, tencionando vendê-los posteriormente para aí ser construída uma autoestrada. Encrespado pela falta de eficácia das suas negociações com Jorge (Virgílio Castelo), o Presidente da Junta de Alcaides, faz a história repetir-se. Jorge recebe ordem de prisão, por ter sido da sua espingarda que foi disparado o tiro à queima-roupa que alvejara Amélia (Márcia Breia), a empregada da Estrela, supondo-se que o alvo fosse o morgado. O sabujo plano dá resultado, atingindo novamente, quase fatalmente, o coração da família Abrantes. Carlos celebra, triunfante, mais uma vitória.

Se a sua carreira profissional de Carlos toca o brilho, escarcéu irrompe num problema que abre uma fenda profunda na relação com o seu sócio na clínica, Luís Simões (Luís Esparteiro): a eutanásia. Os clamores de fim do suplício agoniante de uma doente em estado vegetativo e de seu marido (José Gomes) comovem Luís, deixando vir à tona a forma mercantil de fazer medicina do cirurgião Vieira, que no imediato despreza a ideia, fazendo de tudo para lhe prolongar a bem remunerada estadia na clínica. Misteriosamente, o ventilador é desligado e, com a morte da doente caída do céu, Carlos, lesto, aponta o dedo ao seu sócio, denegrindo-lhe a reputação. A vida pessoal de Luís, entretanto, ensarilhara-se, já que o casamento com Gisela (Sylvie Rocha), do qual resultara a filha, Madalena (Constança Esparteiro), caminhava inapelavelmente para o divórcio. Igualmente prestes a cair estaria a máscara de Carlos de bom gestor: os seus repetidos e avantajados desfalques às contas da clínica ameaçavam ser denunciados.

Por entre as revoltas e a guerra que ensurdece Alcaides, a vila movimenta-se, respirando entre o consultório obsoleto e decrépito de Quitério e o café Paris, propriedade de João Faria (Orlando Costa) e da mulher, a truculenta Anica (Margarida Carpinteiro), onde fumegando e bebendo os problemas da vila são discutidos. Por lá, pára o vagabundo Grelinhos (Canto e Castro), o maior mistério da novela, cuja vida desfraldada no fim faz abrir de espanto a boca a quem assistiu, percebendo o porquê do amparo de Quitério, velho, resmungão, cujo amor secreto pela cunhada Carolina calou e ensimesmou anos a fio.

O turbilhão entre Vieiras e Abrantes agita-se em novo retalho de paixão desenfreada que nasce, subitamente, entre Leonel (Pedro Górgia) e Cristina (Sónia Jerónimo), colocada em causa pela suspeita de ser Carlos o pai que a mãe dele, Rita (Sofia Sá da Bandeira) toda a vida lhe ocultara. Para ela – e nesse sentido não mentira ao filho –, o pai estava morto. Um frémito de paixão unira Rita e Carlos, e, com o extinguir do amor – da parte dela, já que Carlos sempre preterira Leonel –, germinara nela ainda mais asco aos Vieiras. Rita é mãe solteira, uma das três advogadas de Alcaides, num escritório que mantém com Octávia (Helena Isabel) e com o filho desta e de Afonsinho, Chico (Miguel Mendes). A irmã de Rita, Margarida (Filomena Gonçalves) anseia ser mãe. Massacrada por um casamento violento e insípido com o sôfrego Reinaldo (António Assunção), de apetite voraz, machão tradicional, Margarida vê o sonho cada vez mais ser adiado pela certeza de que não seria com aquele marido que sonhara. De amores contrariados se faz fugaz história entre Céu (Patrícia Tavares), filha de Jorge, e o misterioso Artur Fanica (Miguel Hurst), abatido à queima-roupa no largo de Alcaides, desconfiando-se que por saber demais, e não pela diferença de cor, que o torna alvo da língua viperina e remordente de Anica. Céu é quase o espelho da mãe, Cidália (Isabel Medina), que tenta respirar num casamento com Jorge, onde se sente ofuscada pela sombra de Paula Vieira. Procurando valorizar-se, Cidália vai lutando contra os seus próprios fantasmas e vai deixando perceber interiormente que aquilo que a une a Jorge é amor, sim.

Por Alcaides, instala-se um bando de ciganos bravios, andaluzes, comerciantes de cavalos e de sapatos nas feiras, que lutam contra a fama velhaca que carregam. São chefiados por Laureano (Morais e Castro) e, por entre eles, Ramón (Ricardo Carriço), o seu cunhado, luta por um amor sem barreiras com Octávia, esburacando a tradição empoeirada. Também por lá se discute um casamento marcado, sem amor, que prometera fazer de Manel (Rui Rim) esposo de outra, quando o seu coração bate por Joaninha (Sofia Grillo).

Entre bravios e encrespados humores ribatejanos, a paz e a ordem são asseguradas pelo tenente Raul Oliveira (Paulo Matos) e pelo sargento Raimundo Alves (Manuel Cavaco), homem empírico, que aprendera em encontrar nos clássicos gregos filósofos as recomendações sábias que lhe permitem decifrar e escarafunchar a mente humana. Raimundo vive um longo romance encoberto com a irmã de Anica, a solteirona Rosinha (Cecília Guimarães). Figura frígida, linguaruda, Rosinha pouco é vista no Café Paris, onde taramela o Delegado do Ministério Público, o pacato João Gouveia (Guilherme Filipe), e o padre Reis (Luís Vicente), o padre filósofo que substituíra Tomé na devoção a Nossa Senhora das Candeias. Gouveia é misteriosamente substituído por Ana Maria Simões (Sílvia Rizzo), que guarda um segredo sobre as suas origens.

Por entre pensamentos e filosofias, desmontam-se os mistérios que formigam em Alcaides e surpreendentes revelações vão surgindo. Fica cristalino que o espavento de Carlos e a sua loucura fingida de nada valeram, ele que se julgara tão dono de tudo e de todos, que arriscara tudo quando se sentira no fio do arame, e com que tudo resolvido, larga bafo de calmaria que se seguiu à perigosa tempestade. Galopando no dorso dos bravios filhos do vento, cujo passado colado ao presente vem frequentemente escrever a história de homens que, como o Grelinhos, se conformaram por terem sido adultos sem terem sido meninos…

Família Vieira

Pedro Vieira (Joaquim Rosa)
Grande proprietário rural, conservador e tradicionalista. Apregoa, em discursos inflamados de patriotismo, a honra familiar. É o todo-poderoso Morgado de Alcaides e dono da Herdade da Estrela, que gere com pulso firme. Devoto de Salazar, torce o nariz a Caetano. Secretamente, compra os discos da filha Paula, a quem expulsou de casa e com quem apenas se reconcilia às portas da morte. Nunca amou a mulher, Carolina, usando-a apenas como mero adereço.

Carolina Vieira (Fernanda Lapa)
Mãe de Carlos e de Paula. É uma mulher de personalidade, mas que vive anulada pela força do marido. A lealdade que julga dever a Carlos torna-a fraca e submissa. O grande amor da sua vida foi o Dr. Quitério. Os seus últimos dias de vida são penosos e consumidos num febril estado de loucura e de desespero.

Carlos Vieira (António Pedro Cerdeira / António Rama)
Filho varão de Carolina e de Pedro. Médico-cirurgião e sócio na Clínica de São Cristóvão. Ambicioso, frio, mercantilista. Para ele, a Medicina assenta na rendibilidade e no lucro. Diz-se que a guerra lhe transformou o coração afetuoso em aço. Tem um casamento de interesses com Emília, de quem se serve como peão no furioso jogo de autoridade em que se vê embrenhado. Com a morte do pai, herda o estatuto de Morgado, copiando Pedro nos modos e na tirânica obsessão do “querer é poder”. Martela as contas da clínica e, atraído pelo fervor do dinheiro, quer colocar as sesmarias sob o seu domínio. É meio-irmão de Afonsinho, numa relação de fria camaradagem nos negócios esconsos de automóveis de matrículas falsificadas e de droga. Oculta ser o pai de Leonel e tem com a enfermeira Lurdes uma relação de chantagem lasciva de sedução. Não imagina é que o seu poder, afinal, não é tanto quanto acredita ser, enquanto evidentes laivos de loucura parecem soltar-se de dentro dele.

Emília (Guida Maria)
Mulher de Carlos. Antes de se casar, era cabeleireira de bairro. Ambiciosa, cínica, compactua com as artimanhas do marido – que não ama –, apenas para satisfazer os seus próprios interesses. Ao contrário do seu segundo nome, não faz da Paciência uma arma, parecendo por vezes ser demasiado impulsiva. Guarda a paternidade de Cristina em segredo. Vai dando umas facadas no matrimónio.

Cristina Vieira (Sónia Jerónimo)
Filha de Emília. Acostumada à vida mundana de Lisboa, não entra em choque com o bucolismo de Alcaides. Tem uma relação de faca afiada com Carlos, que julga ser seu pai. Vive o seu amor de perdição com Leonel.

Paula Vieira (Fátima Belo / Simone de Oliveira)
Dos filhos de Pedro Vieira, é a mais contranatura, ou a ovelha ronhosa da família perfeita, esculpida sobre a égide do Estado Novo. Sempre com a língua em afronta, faz da liberdade e da sinceridade os seus maiores valores. Antes de ser escorraçada pelo pai – que nunca conseguiu ou sequer tentou compreendê-la –, viveu um amor temperamental, sem pudores, com Jorge Abrantes. Em Lisboa, venceu nas cantigas, superou doença nas cordas vocais e parece realizada. Quando Pedro está moribundo, não hesita em ir despedir-se dele, sentimental. Em Alcaides, guarda especial carinho pelo tio Quitério.

Afonso Vieira (Henrique Santos)
Morgado de Alcaides. Pai de Pedro, Quitério e Tomé. Morre no dia em que Carlos regressa do Ultramar.

Quitério Vieira (Armando Cortez)
É o médico de Alcaides e herdeiro da personalidade de João Semana. Embora seja um Vieira de sangue, é o mais diferente dos irmãos que se pode ser. Anárquico e ateu, troca consultas por bens consumíveis, num consultório obsoleto e ultrapassado. Diz que arrasta os ossos num espírito vadio, são e livre. Passa os dias no café em amena cavaqueira com Grelinhos, que ampara como se fosse o filho que nunca teve. É algo rabugento (devido à idade) e vai-se sentindo ultrapassado pela medicina tradicional que pratica, em oposição ao talento natural que Carlos, certo dia, lhe demonstra ter no consultório. Guarda alguns segredos da vila dentro dele, e no seu coração permanece um frémito especial pela cunhada.

Padre Tomé Vieira (Carlos César)
Irmão de Pedro e Quitério. Religioso, vai fazendo a ponte entre a intolerância de Pedro e a liberalidade de Quitério. A personalidade de Carolina fascina-o.

Família Abrantes

Horácio Abrantes (José Eduardo)
Patriarca da família Abrantes. Homem de boa índole, é perseguido por Pedro Vieira, por não aceitar vender-lhe a várzea, e é injustamente preso em Peniche, o que lhe mancha o cadastro de forma irreparável. Ama a terra e a família. É algo conservador e aceita a custo as ideias modernas de Jorge.

Marília Abrantes (Henriqueta Maya)
Mulher de Horácio. Mãe de Jorge, Rita e Margarida. Ama profundamente o marido e defende a família com unhas e dentes, aprendendo com o casamento a cartilha de Alcaides, que manda uma Abrantes desconfiar de um Vieira. Autoritária e rabugenta, é uma mulher de fibra: todos lhe gabam a força hercúlea que emana numa vida em que venceu vários obstáculos.

Jorge Abrantes (Gonçalo Waddington / Virgílio Castelo)
Homem tolerante, íntegro e fraterno. Herdou o espírito combativo do pai e a honradez da mãe. Tem o curso de regente agrícola e é o Presidente da Junta de Alcaides, cuja gestão é colocada em causa e inspecionada devido às manigâncias de Carlos Vieira. Apaixonado por cavalos, foi o primeiro amor de Paula Vieira. Tem um casamento cordato com Cidália, com quem tem uma filha, Céu. Sofre na pele com o jogo sujo do Morgado de Alcaides, penando na prisão por um crime que não cometeu. Defende uma agricultura moderna, mais mecanizada, e esforça-se pelo bem estar da terra onde nasceu.

Cidália Abrantes (Isabel Medina)
Professora, presidente do Conselho Diretivo da Escola de Alcaides. É mulher de Jorge Abrantes e mãe de Céu. Ama o marido, mas é profundamente insegura, sentindo a sombra de Paula Vieira como uma ameaça permanente ao seu casamento. Investiu na sua formação, tirando um mestrado em Lisboa. Um problema de saúde vai ajudá-la a ultrapassar as inseguranças da vida.

Maria do Céu Abrantes (Patrícia Tavares)
Filha de Jorge e Cidália. Estudante universitária. Vivaça, trata a mãe pelo nome próprio e gosta de meter o bedelho nos assuntos, comentando espirituosamente as inseguranças da mãe. Apoia o primo Leonel no seu amor com Cristina. Apaixona-se por Artur.

Rita Abrantes (Sofia Cerqueira / Sofia Sá da Bandeira)
Advogada e irmã mais velha de Jorge Abrantes. Simboliza o estigma da mãe solteira. Criou sozinha Leonel, inventando uma falsa viuvez para esconder do filho o nome do pai.

Leonel Abrantes (Pedro Górgia)
Filho de Rita. Acredita na história que lhe contam, de que o seu pai morreu. Gosta de escrever e sonha com uma “gata borralheira” que encontrará em forma de amor proibido.

Margarida Abrantes (Catarina Seabra / Filomena Gonçalves)
Irmã de Rita e de Jorge. Professora de Matemática no Ensino Preparatório. Sofre pela ausência de afeto do marido, Reinaldo, fingindo ser a esposa feliz, amargando numa relação fria e onde é perpetuamente adiado o sonho de ser mãe.

Reinaldo (António Assunção)
Marido de Margarida. É um alarve: come desalmadamente, pelando-se por leite creme e farófias. Violento, é dono de um aviário e tem um temperamento arrebatado e difícil, onde tem sempre a última palavra. Está envolvido em negócios pouco dignos.

Família Rocha

Afonsinho (António Cordeiro)
Filho bastardo de Pedro Vieira com uma senhora de Santarém. Carrancudo, embirrento, odeia a família do pai, em especial Carlos, com quem, apesar disso, tem negócios sujos. Detesta ciganos e faz o que pode para os prejudicar.

Octávia Rocha (Helena Isabel)
Filha de Amélia e Henriques. Advogada. Mulher-joguete nas mãos de Afonsinho, martirizada pela clausura e pela repressão do marido. A infelicidade no casamento leva-a a apaixonar-se facilmente pelo cigano Ramón.

Chico Rocha (Miguel Mendes)
Filho de Afonsinho e Octávia. É um advogado que vai torcendo o nariz à forma como decorre o casamento dos pais, atribuindo as culpas a Afonsinho pela infelicidade da mãe. Vive uma intensa paixão com Margarida.

Ciganos

Laureano (Morais e Castro)
Chefe do grupo cigano. Homem orgulhoso, mariola, velhaco, de origem andaluza e sotaque carregado. Devoto da Virgem de Guadalupe. Gosta de cavalos e sente na pele alguma ostracização pela sua condição de cigano.

Laurinha (Rita Alagão)
Mulher de Laureano e irmã de Ramón. Está sempre de olho no marido, para que este não se meta nos copos nem em alhadas.

Ramón (Ricardo Carriço)
Irmão de Laurinha. Vende sapatos nas feiras com primor. Apaixona-se por Octávia.

Joaninha (Sofia Grillo)
Afilhada de Laurinha. Quer casar-se com Manel.

Manel (Rui Rim)
Sobrinho de Laureano. Quer casar-se com Joaninha, mas está prometido a outra cigana.

Outros habitantes de Alcaides (1996)

Grelinhos (Canto e Castro)
É o marginal – mas não delinquente – amigo inseparável do Dr. Quitério. É uma espécie de menino no corpo de adulto, um espírito inquieto e maçante, a inquirir tudo e todos sobre o porquê das coisas. As suas origens são um mistério. Ninguém sabe de onde veio e para onde vai. Diz-se que é filho do vento.

Amélia (Márcia Breia)
Governanta da Herdade da Estrela. Mãe de Octávia e Gisela. Amargurada por ter perdido um filho na guerra, na Guiné, conhece um segredo comprometedor para Carlos, de quem não parece gostar muito.

Henriques (Rodolfo Neves)
Marido de Amélia e pai de Gisela e de Octávia. Caseiro da Herdade da Estrela, amigo de Jorge Abrantes e apaixonado por cavalos.

Cabo Raimundo (Manuel Cavaco)
Típico guarda-republicano do interior. Fascinado pela alma humana, marca a vida comunitária pelo seu jeito simples de interpretar a vida. É um fanático leitor dos clássicos, que parafraseia assiduamente, à procura de lógica nos seus raciocínios, cometendo por vezes algumas injustiças. Gosta de gasosa e nunca bebe vinho. Mantém um romance escondido de mais de vinte anos com Rosinha.

Tenente Raul (Paulo Matos)
É a face moderna da GNR. Vive em permanente conflito com o sargento Raimundo. É amigo de Jorge Abrantes e vai testar os limites dessa amizade quando tiver de o prender. Foi casado duas vezes e vai voltar a amar.

Cabo Jordão (José Fiúza)
Cabo da GNR de Alcaides.

João Faria (Orlando Costa)
Proprietário do Café Paris, estabelecimento que montou no local onde se situava a taberna do pai, Inácio, depois de ter regressado de França. Gosta de meter uma colherada nas conversas que se desenrolam no café, enquanto vai soltando o lamento da personalidade aferrolhada da mulher, Anica.

Anica (Margarida Carpinteiro)
Beata conservadora, puritana. Foi emigrante em França, de onde desejaria não ter regressado, o que exterioriza resmungando com os clientes do café. Conserva algumas expressões francesas, que vai soltando amiúde, e alguma amargura por uma vontade jamais confessada de ser mãe.

Rosinha (Cecília Guimarães)
Beata, irmã de Anica. Mantém, há vinte anos, um relacionamento secreto com Raimundo e uma vontade inesgotável de comentar a vida da cidade.

Padre António Reis (Luís Vicente)
É o pároco de Alcaides desde a morte de Tomé Vieira. Padre moderno, progressista, é uma das presenças assíduas no Café Paris, onde se comenta o dia-a-dia da vila. É também membro do conselho diretivo da escola de Alcaides. Vai ter o coração em fervor.

Dr. João Gouveia (Guilherme Filipe)
Delegado do Ministério Público. Tem um espírito prático, acolitando as ideias de Raimundo. Queixa-se das condições precárias em que exerce o seu trabalho. Esconde um perigoso segredo.

Dr.ª Ana Maria Simões (Sílvia Rizzo)
Vem substituir o Dr. João Gouveia na função de delegada. É de origem cigana, facto que oculta de todos. À noite, dança incognitamente na praça principal de Alcaides, impressionando Grelinhos.

Artur Fanica (Miguel Hurst)
Engenheiro mecânico, vem para Alcaides dar aulas de trabalhos oficinais. Misterioso, parece esconder algo, inclusivamente se é mesmo professor. Ajuda a informatizar a escola e tem uma paixão por Céu.

Outros habitantes de Alcaides (1970)

Osório (Eduardo Viana)
Feitor da Herdade da Estrela. É ele quem, a mando de Pedro Vieira, suja as mãos sempre que necessário.

Inácio (Carlos Santos)
Dono da taberna onde os homens de Alcaides vão afogar as mágoas e soltar a língua. Pai de João Faria. Fervoroso oposicionista ao Antigo Regime, é ele quem incute o vício da leitura em Raimundo.

Clínica de São Cristóvão

Lurdes (Sofia Alves)
Enfermeira da clínica. Bonita, fogosa, mantém uma relação extraconjugal com Carlos Vieira, a quem já ajudou em alguns negócios sujos. Aparentemente, está presa a ele por algum tipo de chantagem. Vai servir de ponte na relação clandestina entre Leonel e Cristina.

Luís Simões (Luís Esparteiro)
Médico e sócio da clínica. É um profissional dedicado, não fazendo a menor ideia da personalidade de Carlos, que admira fervorosamente. Tem um casamento rotineiro com Gisela e uma filha, Madalena. É um aberto defensor da eutanásia, manifestando posição oposta à de Carlos.

Gisela (Sylvie Rocha)
Filha de Amélia e Henriques. Mulher de Luís. Jornalista na RTP, divide-se entre a família e a carreira, privilegiando a segunda. Dá pouca atenção à filha, Madalena, deixando-a aos cuidados de Luís.

Madalena Simões (Constança Esparteiro)
Filha de Luís e de Gisela.

Mónica (Carla Pires)
Enfermeira da clínica a quem Carlos “canta a canção do bandido”, tentando fazer dela a sua nova amante.

Vera
Rececionista da clínica.

Participações especiais (1996)

Lúcia (Helena Ramos)
Jornalista da RTP. Colega de Gisela e também sua confidente.

Gregório (Rui Fernandes)
Contabilista da clínica que tenta alertar Carlos para os excessivos desvios de dinheiro, que assim se tornam quase impossíveis de serem maquilhados no relatório e contas.

Criança (Filipa Maló Franco)
Criança gravemente doente, curada pelo Dr. Quitério.

Engrácia (Alexandra Maló)
Mãe da criança que Quitério trata.

Oliveira (José Gomes)
Marido da “doente do quarto 13” da clínica, que suplica para morrer.

Falcão (Rogério Jacques)
Homem contratado por Emília para afastar os ciganos de Alcaides.

Capanga (Roberto Candeias)
Bandido contratado por Reinaldo para matar o amante de Margarida.

Inspetor (Fernando Tavares Marques)
Inspetor da PJ que investiga o caso de eutanásia na clínica.

Professor Romão (Armando Venâncio)
Colega de Margarida que Reinaldo ameaça com uma arma, por pensar que é amante da sua mulher.

Mendigo (António Aldeia)
Vagabundo que ronda a casa onde Afonsinho e Emília se escondem.

Juiz
Juiz do caso da custódia de Madalena.

José Vidal (Amadeu Caronho)
Falso psiquiatra e colega de faculdade de Carlos. Observa-o na Herdade da Estrela e, a troco de dinheiro, ajuda-o a evadir-se.

Participações especiais (1970)

Ex-combatente (Joaquim Nicolau)
Ex-combatente do Ultramar que fala com Dr. Quitério sobre a Guerra Colonial.

Olívia (Manuela Carona)
Mãe de Afonsinho. Tem um ódio de morte de Pedro Vieira, por este não reconhecer legalmente o filho de ambos.

Julião (Benjamim Falcão)
Banqueiro que recusa o empréstimo a Horácio, por este ter estado preso.

Oliveira Serra (Jacinto Ramos)
Tio de Pedro, Tomé e Quitério, e irmão de Pedro. Ex-ministro, foi exilado no Brasil, escondendo segredos que a sua conveniente morte perpetuou. Tem, para mal dos pecados de Carlos, um filho vivo: Pompeu.

Funcionário (Augusto Portela)
Funcionário da Junta de Freguesia que nega o direito de voto a Horácio.

Depois da razoavelmente bem-sucedida Desencontros, escrita a meias com Luís Filipe Costa, Francisco Moita Flores estreava-se a solo na autoria de uma telenovela.

A ação transferiu-se da agitada Lisboa para a bucólica e pacata Alcaides, sem no entanto abandonar a abordagem, com alguma profundidade, de temas de cariz social, entre eles: o racismo, a emancipação feminina, a violência doméstica, a monoparentalidade, a eutanásia e a segregação das minorias étnicas.

Uma vez mais, o autor serviu também ao público a investigação policial de um assassínio – desta feita, o de Artur Fanica (Miguel Hurst) –, apelando à sua experiência enquanto agente da PJ.

Os 150 capítulos de Filhos do Vento deixaram a nu algumas fragilidades do guião, que contribuíram para que a novela não fosse das mais conseguidas. A primeira metade revelou-se chocha, anémica, com uma trama que andava em círculos, repleta de cenas que nada acrescentavam à densidade narrativa. Por outro lado, verificou-se um pouco eficaz aproveitamento de algumas personagens que poderiam ter trazido mais “sumo” à história – casos de Emília (Guida Maria), de Paula (Simone de Oliveira) e de Lurdes (Sofia Alves).

Foi ousado e usado pela primeira vez na televisão portuguesa o recurso de situar a narrativa em dois tempos cronológicos diferentes, como que parecendo querer dizer que o caráter das pessoas se perpetua na família. A Rede Globo usara esse artifício em 1976, na novela O Casarão, um clássico da televisão brasileira.

Uma “dobra” no canto do ecrã foi o recurso gráfico utilizado para sinalizar os momentos em que a ação se situava no passado.

O título originalmente pensado para a novela foi Memórias.

A primeira fase situava-se em 1970, havendo referências a acontecimentos históricos como a chegada do Homem à Lua, que acontecera no ano anterior, e as mortes de Salazar e de Janis Joplin, ocorridas em julho e em outubro desse ano, respetivamente.

Houve, no entanto, um anacronismo (ou talvez uma pequena imprecisão): os frequentadores da tasca de Inácio (Carlos Santos) apareciam a ver o Zip Zip, programa que terminou no final de 1969.

Paula Vieira (Fátima Belo / Simone de Oliveira), Carlos Vieira (António Pedro Cerdeira / António Rama) e Jorge Abrantes (Gonçalo Waddington / Virgílio Castelo) foram interpretados por atores diferentes nas duas fases. Atente-se ao interessante pormenor de António Rama ter usado uma verruga postiça, idêntica à que António Pedro Cerdeira ostentava na época.

Carlos Vieira
Paula Vieira
Jorge Abrantes

Na caracterização dos atores que apareceram nas duas fases, foram utilizados recursos de envelhecimento ou, em alguns casos, de rejuvenescimento.

Depois de ter interpretado o vilão Angelino de Desencontros, António Rama deu, em Filhos do Vento, novamente vida ao mau da fita. O ator considerou Carlos Vieira “o melhor papel da sua vida”. Em declarações à TV Guia, afirmou: “Este papel absorveu-me tanto que se colou à minha pele a ponto de me extrapolar. Cheguei ao ponto de não o controlar. A culpa é do Moita Flores, que escreve muito bem. […] Mas o Carlos Vieira tem outros desafios: eu, enquanto Carlos Vieira, herdo os tiques do meu pai, o Joaquim Rosa, os tiques de outro ator que faz de mim em jovem, o António Cerdeira, e continuo o meu percurso individual como ator e como personagem. No começo, baralhava-se tudo na minha cabeça; depois, fui segmentando as personagens, mas mantendo as características comuns a todas elas”.

Paula Vieira herdou alguns traços biográficos de Simone de Oliveira, nomeadamente o facto de ser cantora e de ter perdido a voz.

Em terminada ocasião, a família de Paula assiste a um concerto seu pela televisão. Estas imagens foram extraídas do espetáculo Algumas Canções do Meu Caminho, gravado em 1991.

Filhos do Vento contou com uma importante percentagem de cenas exteriores. Arruda dos Vinhos foi o lugar eleito por Moita Flores para simular Alcaides: “Andava eu ainda a estruturar a novela quando me perdi por esses caminhos e vim dar a Arruda dos Vinhos. Dei uma volta pelo largo da igreja matriz, conheci o posto da GNR, o edifício da Junta de Freguesia e mais umas quantas casas, e achei que aquilo era uma autêntica cidade cenográfica. Não foi difícil imaginar onde ficaria o consultório do Dr. Quitério ou o Café Paris. Apresentei a sugestão à produção da NBP, e esta concordou”, explicou o autor.

Igreja de Nossa Senhora da Salvação

Um edifício situado na Rua do Adro teve a sua fachada caracterizada de formas distintas, de modo a representar a tasca de Inácio (Carlos Santos), que mais tarde se transformava no Café Paris, gerido pelo seu filho João Faria (Orlando Costa).

Para gravar as cenas da operação de Pedro Vieira (Joaquim Rosa), no arranque da novela, foi montada nos estúdios da NBP uma sala de cirurgia. O equipamento foi supervisionado por uma equipa de médicos, enfermeiros e anestesistas – profissionais que, oriundos de diferentes hospitais de Lisboa, se misturaram com os atores no estúdio. Os órgãos que vimos os atores manusearem durante a cena eram vísceras de porco.

Para darem vida às suas personagens, os atores Virgílio Castelo, Sofia Sá da Bandeira, Filomena Gonçalves e Paulo Matos tiveram de aprender a andar a cavalo.

As cenas da Herdade da Estrela, pertença da família Vieira, foram gravadas na Quinta da Subserra, em Vila Franca de Xira. Este local serviu também de cenário a alguns episódios da série Duarte & C.ª (1985-1989).

Virgílio Castelo e Patrícia Tavares, depois de fazerem par romântico em duas telenovelas – Roseira Brava e Vidas de Sal –, interpretavam agora pai e filha.

Madalena, a filha de Luís Esparteiro na novela, foi vivida pela sua própria filha, Constança.

Helena Ramos, locutora da RTP, surgiu episodicamente como uma amiga de Gisela (Sylvie Rocha), personagem que era jornalista da televisão estatal. Em algumas cenas, as duas apareceram a conversar na redação da RTP.

Podemos destacar a intenção do autor em piscar subtil olho à literatura, tendo retirado de Os Maias, de Eça de Queiroz, os nomes dos três varões da família Vieira: Afonso foi o pai de Pedro e o avô de Carlos, como no livro do aclamado escritor realista. De Amor de Perdição, escrito por Camilo Castelo Branco, Moita Flores tentou reconstruir o sofrido amor entre Simão e Teresa, entregando-o às suas personagens Leonel e Cristina.

Antes de estrear, Filhos do Vento foi conotada como uma “novela de ciganos”. Contudo, estes eram apenas uma das componentes do enredo – que, aliás, foi-se desvanecendo com o desenrolar da história.

Alguns dias após a estreia, Nicolau Breyner, à época responsável máximo da NBP – e diretor-geral da novela –, foi o entrevistado de José Eduardo Moniz no programa Na Ponta da Língua, na RTP Internacional. A entrevista teve como tema central a produção de telenovelas em Portugal.

A banda sonora, dirigida por Paco Bandeira, era composta pelos seguintes temas:

Temas musicais:
ESTOU AQUI – Pedro Barroso (tema de Pedro Vieira / Carlos Vieira)
TEMA QUITÉRIO – Pedro Barroso
CREIO – José Cid (tema de Carolina)
MEU REINO POR UM CAVALO – Simone de Oliveira (tema de Paula)
TEMA DA LEZÍRIA – Margarida Bessa
CRÓNICA DO RIBATEJO – Samuel
TERNURA DOS QUARENTA – Paco Bandeira (tema de Jorge)
CIGANO HERÉDIA – Cidália Moreira
FADO – Ana Castelo
ROSA BRANCA DESMAIADA – Canto Chão
AMIGO DO PEITO – Margarida Bessa (tema de Margarida)
MARIA – Aura (tema de Octávia)
INTERIOR – Aura
MEU CARO JOÃO – Samuel
QUINTA SINFONIA – Paco Bandeira
CRIOULO – Rui Moura
COR – Rui Moura
SOL DO MENDIGO – Paco Bandeira (tema de Grelinhos)
PENA DE PAVÃO – Seara Jovem
LA CASA – Ciganos de Ouro
MAREZIA – Ciganos de Ouro
MADRE DE MI NIÑO – Ciganos de Ouro
GIPSY KING – Paco Bandeira
SETE LETRAS – Simone de Oliveira

Temas instrumentais:
FILHOS DO VENTO – Paco Bandeira (tema do genérico)
PEPE MORENO – Paco Bandeira
FANDANGO II – José Liaça
PADRE – José Liaça
TEMA DE EMÍLIA – José Liaça
FANDANGO – José Liaça
APÓS CASAMENTO – José Liaça
FANDANGO – Luís Duarte
ACASO – Raimundo Seixas
ROMANCE DE OUTONO – Raimundo Seixas

Foi feita, no programa Herman Enciclopédia, uma sátira à novela, que contou com a participação dos atores Manuel Cavaco e Paulo Matos, como agentes da GNR, papéis que interpretavam em Filhos do Vento. Foram usados temas musicais da autoria de Paco Bandeira, com as letras modificadas.

Filhos do Vento foi lançada em versão romanceada, pela Editorial Notícias.

A novela encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

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Filhos do Vento