Fisga

Exibição:
17/10/1987 – 05/12/1987 (RTP 1)

Número de programas:
08

Autoria:
Zita
Piedade Maio

Apresentação:
Manuel Jorge Roque
Manuela Cunha

Reportagens:
Lina Castro

Crónicas escritas por:
Eduardo Rodil

Interpretadas por:
João Grosso

Direção musical:
Armindo Neves

Produção:
João Rodrigues
Piedade Maio

Realização:
Zita

Fisga é um programa especialmente dedicado aos jovens portugueses. Pretende animá-los e pô-los a mexer, dando-lhes espaço para falarem de si e dos seus anseios, ou para apresentarem as suas realizações. Um programa com lugar para muitas ideias possíveis de contrariar o “tempo morno” em que a juventude de Portugal passa os seus dias.

Da autoria de Piedade Maio (produtora) e Zita (realizadora), Fisga conta com a apresentação de Manuel Jorge Roque e Manuela Cunha, perante uma audiência jovem, em direto do Cinema Europa.

Manuela Cunha e Manuel Jorge Roque

Algumas emissões versam sobre determinados temas. Noutras, dá-se destaque a determinado distrito, evidenciando a vivência da juventude fora dos grandes centros urbanos, através de depoimentos de alguns dos seus representantes.

No domínio da música, para além da presença fixa do Quinteto de Armindo Neves, há lugar, em cada programa, à apresentação de uma nova banda e de um solista.

Quinteto Armindo Neves

Outra forma de arte presente é a representação, através da encenação de pequenas rábulas.

Promove-se ainda, de forma pouco convencional, a divulgação do trabalho de jovens artistas plásticos.

Por fim, um dos momentos mais aguardados de cada emissão: a intervenção de João Grosso, com a sua provocadora crónica semanal.

João Grosso

1. A infância e o crescimento (17/10/1987)

Atuações:
Anamar
Delfins

Convidado:
Jorge Barreto Xavier

Artista:
Júlio Quaresma


2. Aveiro (24/10/1987)

Atuações:
Essa Entente
Mafalda Veiga

Artista:
Sérgio Taborda


3. Beja (31/10/1987)

Atuações:
Coro Misto dos Unidos de Cuba
Pablo Milanés
Trigo Limpo

Artista:
Rigo


4. Braga (07/11/1987)

Atuações:
Tóinas
Duplex Longa

Convidados:
Domingos Castro e Dionísio Castro (atletas)


5. Gerações anteriores (14/11/1987)

Atuações:
Aníbal Coelho
Paula Vale e Carlos Carvalho (Ballet Gulbenkian)
Fernando Chaby e o seu grupo
Janita Salomé

Convidados:
Fernando Chaby
João Romão


6. Bragança (21/11/1987)

Atuações:
Pauliteiros de Miranda
Jorge Palma
Melleril de Nembutal

Moda:
José António Tenente


7. Castelo Branco (28/11/1987)

Atuações:
Finisterra
Paula Fernandes e Benvindo Fonseca (Ballet Gulbenkian)
Mler Ife Dada

Convidados:
Luís Rodrigues e Justino Pamplona (autores do livro “Perfeito como nos Filmes”)


8. Nacionalidades (05/12/1987)

Atuações:
Luís Duarte
Cristina Maciel e Alfredo Gesta (Companhia Nacional de Bailado)
Mário Mata
Ocaso Épico

Convidado:
Tó Simões (estilista)

Artista:
Fernando Alvim

Apostando num formato diferente e arriscado, Fisga pretendia falar com os jovens, trazendo-os ao primeiro plano da atualidade nas suas preferências e até nas suas mais secretas ambições.

A ideia de fazer um programa para o público mais jovem não era nova: poucos meses antes, a programação da RTP contara com 20 Anos, programa essencialmente feito por jovens e para jovens.

As sessões eram feitas em direto do Cinema Europa, para uma audiência de cerca de 200 pessoas.

Pretendia-se, a cada semana, apresentar uma banda desconhecida (que nunca tivesse gravado, mas que dispusesse já de trabalhos com um mínimo de qualidade).

Os artistas convidados atuavam ao vivo, sem o apoio de qualquer playback. O grupo Barbarela, previsto para atuar no programa de estreia, escusou-se a fazê-lo, tendo sido substituído pelos Delfins.

As entrevistas aos jovens dos diversos distritos foram da responsabilidade de Lina Castro, finalista do curso de Comunicação Social.

Lina Castro

Nos momentos dedicados à representação, assistimos à participação de alguns atores que, ainda pouco conhecidos, viriam a tornar-se, mais tarde, familiares ao grande público.

André Maia
Paulo Oom
Rui Luís Brás
Maria Vieira

Manuela Cunha apresentou apenas as três primeiras emissões. A partir da quarta, Manuel Jorge Roque assumiu sozinho a condução do programa.

Manuela Cunha
Manuel Jorge Roque

Fisga teve um final prematuro, associado a uma grande polémica. No programa do dia 05/12/1987, dedicado ao tema “Nacionalidades”, o ator João Grosso cantou, na sua rubrica habitual, uma versão em ritmo acelerado do Hino Nacional, com o público – puxado pelo ator – a bater com os pés no chão.

Nesse mesmo dia, pouco depois da transmissão do Jornal de Sábado, a locutora de continuidade anunciou a imediata suspensão de Fisga por parte da Direção de Programas, liderada por Carlos Pinto Coelho.

A realizadora Zita Rocha esclareceu que João Grosso introduzira “buchas” no texto original (da autoria de Eduardo Rovil), interpretando o Hino Nacional “de uma maneira que ninguém esperava”, o que considerou serem “contingências do direto”. Apesar disso, solidarizou-se com o ator, o que fez questão de frisar numa carta de nove páginas que dirigiu a Carlos Pinto Coelho, classificando a decisão de suspensão como “desajustada e precipitada”.

Zita afirmou ainda que João Grosso era “um dos grandes responsáveis pela crescente popularidade do programa junto das camadas jovens”. Com efeito, Fisga conseguira, ao longo dos seus dois meses de exibição, alavancar a sua audiência de 16% para 24%.

Tendo sido registada na Polícia Judiciária uma queixa-crime pelos responsáveis da RTP, a rábula foi considerada ofensiva dos símbolos nacionais e João Grosso foi levado a julgamento. A sentença apenas seria proferida em 1992, ditando a sua absolvição.

João Grosso salientou, em entrevista ao Se7e de 28/03/1991, o quanto o episódio o marcara negativamente:

Como é que ficou depois da «celebrada» história do programa «Fisga», do hino nacional em ritmo rock e do processo-crime? Como é que vê esse episódio agora à distância?
Odeio. Odeio, porque fico profundamente perturbado. A Zita Rocha e o meu advogado dizem: «Mas você é um homem de teatro; estas coisas…» Acho que eles não compreendem a profundidade em que isto me toca, porque eu odeio tribunais, culpas, processos, réus. A sério, dá-me cabo da cabeça completamente. Isto arrasta-se desde 5 de Dezembro de 1987…

Os efeitos foram muito perniciosos…
Foram. Na altura, foi um bocado terrível. Não sei exatamente porquê, mas só sei que esta história foi em Dezembro, eu estava a ensaiar «O Lagarto do Âmbar» ao mesmo tempo, e fi-lo até ao fim de Janeiro. E no fim de Janeiro, fiquei sem trabalho, nada, zero.

O programa encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

Fisga