Gabriela

Exibição:
16/05/1977 – 16/11/1977 (RTP 1)

Número de capítulos:
132

Produção:
Rede Globo (1975)

Novela de:
Walter George Durst

Inspirada no romance Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado

Direção geral:
Walter Avancini

A ação passa-se em São Jorge dos Ilhéus, na década de 20, onde a situação política é comandada pelos coronéis em geral e pelo coronel Ramiro Bastos (Paulo Gracindo) em particular.

Coronel Ramiro Bastos

Com a chegada do doutor Mundinho Falcão (José Wilker), os poderosos vêem a sua autoridade ameaçada, sendo as lutas políticas influenciadas por um acontecimento trágico que divide as duas fações: após apanhar em adultério a sua esposa, Dona Sinhazinha (Maria Fernanda), com o doutor Osmundo Pimentel (João Paulo Adour), o coronel Jesuíno Mendonça (Francisco Dantas) assassina-os à queima-roupa.

Osmundo e Sinhazinha

Enquanto os coronéis são solidários com o assassino, que defendeu a sua honra como qualquer um deles o faria na mesma situação, o doutor Mundinho opta por tomar o partido oposto e manda chamar Pimentel (Rubens de Falco), pai do doutor Osmundo, para que este testemunhe a sua dor perante o povo de Ilhéus. Malvina (Elizabeth Savalla), filha do coronel Melk Tavares (Gilberto Martinho), vai prestar uma última homenagem a dona Sinhazinha e, por causa dessa atitude, é severamente castigada.

Malvina

Paralelamente a estes factos, muitos retirantes migraram para São Jorge dos Ilhéus, em virtude de uma seca bastante prolongada. Entre eles encontra-se Gabriela (Sónia Braga), que irá trabalhar para Nacib (Armando Bógus), dono do bar Vesúvio. O romance de Gabriela com Nacib (Armando Bógus), a emancipação de Malvina, bem como a decadência do coronelismo, são os enredos principais da história desta telenovela.

Gabriela e Nacib

No final, contrariando as expectativas dos coronéis, Jesuíno Mendonça é condenado em prisão efetiva, sendo a sentença unanimemente aplaudida pela assistência do tribunal. Por seu turno, após a morte de Ramiro Bastos, Mundinho recebe permissão para namorar a sua neta, Jerusa (Nívea Maria), e consegue alcançar a posição que sempre quis ao se tornar aliado dos poderosos que sempre atacou.

Mundinho e Jerusa

Gabriela foi um sucesso sem precedentes na televisão portuguesa. Comprada por Carlos Cruz, então diretor de programas, estreou numa noite especialmente dedicada à cultura brasileira, que incluiu uma emissão especial transmitida em direto do Hotel Ritz, com a participação de Vinícius de Moraes, Toquinho, Maria Creuza e Raul Solnado. Foi ao ar ainda, na mesma noite, uma entrevista com o escritor Jorge Amado, cedida pela Rede Globo.

Para além de ser a primeira telenovela a passar na RTP, Gabriela foi um autêntico fenómeno de massas que fez parar Portugal do início ao fim. Pessoas de todos os estratos sociais e etários assistiam diariamente às peripécias da vida das personagens criadas por Jorge Amado. O êxito chegou ao ponto de as reuniões na Assembleia da República serem adiadas para uma hora posterior à exibição da telenovela. Foi o que aconteceu em 16/11/1977, dia em que foi ao ar o último capítulo.

Dois dias após o final da novela, foi exibida no seu horário uma edição especial do programa Tropicália, intitulada “Tropicália conta Gabriela”, que incluiu reportagens e entrevistas divulgando aspetos curiosos e interessantes relativos à novela.

Foram mostrados depoimentos de Demosthenes Berbert de Castro, que teria inspirado a figura de Mundinho Falcão (José Wilker); António Olímpio, prefeito de Ilhéus; Carlos Alberto Maron, na época proprietário do bar Vezúvio, um dos locais de ação da novela; e Sónia Braga, a protagonista, que se encontrava a gravar a novela Espelho Mágico (nunca exibida em Portugal).

Demosthenes Berbert de Castro
Carlos Alberto Maron
António Olímpio
Sónia Braga

Enquanto a telenovela esteve em exibição, foram vendidos milhares de exemplares do livro Gabriela, Cravo e Canela, aumentando também as vendas de outras obras do escritor baiano. Recrudesceu igualmente o interesse pela literatura brasileira em geral. Nesta época, em Lisboa, esteve em cena O Santo Inquérito de Dias Gomes, e pela primeira vez se fala na possibilidade de virmos a assistir à telenovela O Bem-Amado.

Foi lançado um LP com a banda sonora da telenovela. A capa do disco, apesar de ter a fotografia da atriz Sónia Braga, é bastante diferente da que ilustrou a banda sonora que saiu no Brasil, em 1975.

Embora o alinhamento do disco fosse o mesmo da banda sonora original, algumas músicas tinham outros intérpretes, nomeadamente as faixas 1 a 5 do lado B:

LADO A

1. MODINHA PARA GABRIELA – Gal Costa
2. CORAÇÃO ATEU – Maria Bethânia
3. PORTO – MPB-4
4. HORAS – Quarteto em Cy
5. QUERO VER SUBIR, QUERO VER DESCER – Walter Queiroz
6. RETIRADA – Elomar

LADO B

1. DOCES OLHEIRAS – Cézar Sampaio
2. ALEGRE MENINA – Emílio Santiago
3. CARAVANA – Cézar Sampaio
4. ADEUS – Emílio Santiago
5. SÃO JORGE DOS ILHÉUS – Coro dos Anjos
6. FILHO DA BAHIA – Fafá de Belém
7. GUITARRA BAIANA (Instrumental) – Moraes Moreira

Por esta altura, foi também gravada uma outra versão da música Modinha para Gabriela, interpretada pela cantora Mara Abrantes, num single cuja capa se assemelha em muito ao LP que foi vendido no Brasil, aquando da transmissão da telenovela pela Rede Globo.

Gabriela recebeu elogios de personalidades de várias áreas como Mário Dionísio, Mário Soares, Eduardo Prado Coelho e até mesmo Maria Barroso, crítica acérrima da televisão em geral. Na política, da esquerda à direita, todos são unânimes em aplaudir a telenovela. É conhecido o episódio em que Álvaro Cunhal, líder do PCP (Partido Comunista Português), convidado para participar no programa Moscovo, chegou atrasado aos Estúdios do Lumiar, por ter ficado a ver a Gabriela.

Durante o período de exibição, foi lançada uma coleção de revistas, que trazia a história de Gabriela em formato de fotonovela.

No final da novela, chegou às bancas uma revista intitulada “Gabriela para recordar”, uma compilação de várias informações sobre a novela.

Foram distribuídos, pelo Clube do Cromo, alguns fascículos contendo posters dos principais atores da novela.

A Agência Portuguesa de Revistas publicou também uma revista com Gabriela, Cravo e Canela em banda desenhada.

Vários atores deslocaram-se a Portugal em 1977, merecendo destaque nas primeiras páginas dos jornais. Foi o caso de Sónia Braga, Elizabeth Savalla, Fúlvio Stefanini e Nívea Maria. Também Paulo Gracindo veio ao nosso país, tendo sido convidado especial numa das sessões d’A Visita da Cornélia.

Paulo Gracindo com Raul Solnado

Gabriela foi exibida novamente na RTP 2. Foi criado um segundo horário, de segunda a domingo às 21:30, que esteve no ar entre 17/08/1977 e 09/02/1978.

O êxito de Gabriela em Portugal não passou despercebido além-mar e, em dezembro de 1977, a revista brasileira Amiga publicou um artigo que dava conta do impacto que a produção tivera no quotidiano dos portugueses.

Para ilustrar o artigo, coube ao fotógrafo Eduardo Gageiro a missão de fotografar, em suas casas, algumas personalidades defronte do televisor, durante a exibição da novela.

Mário Soares
Eusébio
Amália Rodrigues

Em 1983, a RTP tinha agendado a telenovela Os Imigrantes para substituir Cabocla, na RTP 2. O evento foi noticiado pela imprensa e, segundo a TV Guia, havia um acordo para a Rede Bandeirantes exibir Vila Faia, enquanto na RTP nós víssemos aquela que era considerada a melhor telenovela dessa rede de televisão. Porém, o acordo acabou por não ser concretizado, mesmo com toda a imprensa a anunciar a estreia da telenovela. Para colmatar a lacuna, e uma vez que o horário ficou por preencher, após as férias de verão, ficámos a saber que ia ser Gabriela a ocupar esse lugar na programação. Como justificação, a imprensa alegou o desejo dos portugueses de verem a primeira telenovela a cores, pois até 1980 todos os programas tinham sido transmitidos a preto e branco. Gabriela começou por ser exibida às 22:30, mas, devido a protestos dos telespectadores, passou a ir ao ar às 21:45.

Na senda desta reposição, o Círculo de Leitores lançou, em 1984, uma nova edição do romance de Jorge Amado.

Gabriela seria ainda reexibida pela SIC entre 2004 e 2005. A novela estreou à tarde, no dia 08/11/2004, mas os últimos capítulos foram exibidos no horário da manhã. Para esta reposição, foi criada uma nova abertura.

A SIC cometeu um erro grave de edição, invertendo a ordem de exibição durante vários dias. Assim, após o 5.º capítulo, foram exibidos, por esta ordem, os capítulos 8, 7 e 6. Só então foi retomada a normalidade, a partir do capítulo 9.

Em 2015, a revista Sábado publicou uma reportagem sobre telenovelas, convidando figuras públicas a representar alguns dos personagens mais marcantes. Cláudia Vieira foi a escolhida para dar corpo a Gabriela.

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