Helena

Exibição:
16/07/1988 – 15/02/1989 (RTP 2)

Número de capítulos:
161

Produção:
Rede Manchete (1987)

Novela de:
Mário Prata

Direção:
Denise Saraceni
Fernando Rodrigues de Souza

Após a morte súbita do Conselheiro Vale, é aberto o seu testamento, que revela a existência de uma bastarda, Helena (Luciana Braga), reconhecida como herdeira e perfilhada a título sucessório pelo falecido. A chegada desta personagem à cidade de Guaiçara desperta sentimentos contraditórios na família do defunto, a começar por Úrsula (Aracy Balabanian), a sua única irmã, que recebe a sobrinha com bastante arrogância.

Entretanto, Estácio (Thales Pan Chacon), o filho legítimo, está noivo de Eugénia (Mayara Magri), para grande alegria dos pais dela, o doutor Camargo (Othon Bastos) e a pérfida dona Tomásia (Isabel Ribeiro). Na verdade, a respeitável esposa do doutor Camargo foi em tempos uma aventureira, chegando a assassinar um certo senhor Brandão, com a cumplicidade da fiel Dorzinha (Yara Amaral), a sua melhor amiga. Com o passar do tempo, as duas subiram na vida, à custa dos excelentes casamentos que conseguiram: Tomásia com o doutor Camargo e Dorzinha com o político Amílcar (Sérgio Mamberti). O que elas não esperavam é que Bento Brandão (Chiquinho Brandão), o herdeiro da vítima fatal, aparecesse para as denunciar, o que dá origem a um novo assassinato.

Enquanto isso, Helena e Estácio apaixonam-se, mas existe um impedimento, motivado pelo alegado incesto que, com o tempo, verifica-se não existir. Com efeito, Helena não é filha do Conselheiro e sim de Salvador (Paulo Villaça), um artista misterioso, embora a afeição do primeiro o levasse à iniciativa de a perfilhar.

Estácio e Helena

Quando a verdade está prestes a ser descoberta, Eugénia confessa à mãe estar grávida de outro homem, um amigo que conheceu numa viagem pelos Estados Unidos. Tomásia obriga a filha a casar-se, enquanto os seus problemas, de dia para dia, vão aumentando. Depois de ter eliminado Bento Brandão, Bernardo, o seu irmão gémeo, aparece para lhe fazer frente. Mais uma vez, a solução é o homicídio. Todavia, Benício Brandão, trigémeo de Bento e Bernardo, conhece os podres de Tomásia e vem para Guaiçara à procura dos irmãos desaparecidos.

Todos os mistérios são desvendados no casamento de Eugénia, quando a megera bebe o soro da verdade, uma poção inventada pelo alienista de Guaiçara, o doutor Tales (Cláudio Mamberti). Tomásia confessa então que matou o Conselheiro Vale e que o filho de Eugénia não é de Estácio. Este corre para junto de Helena, mas ela encontra-se muito doente e acaba por falecer sem concretizar o seu grande amor. Por seu turno, Camargo vê-se confrontado com a miséria, Tomásia é condenada a prisão perpétua e Dorzinha dá entrada num hospício.

Juntamente com este final, o autor propõe um destino alternativo para as principais personagens: Tomásia e Dorzinha não seriam julgadas pelos seus crimes e escapariam ilesas da justiça. Voltariam a levar uma vida boémia num cabaré, onde se veriam frente a frente com um novo Brandão. Helena, após sobreviver à doença, casaria com Estácio e Úrsula teria uma nova oportunidade para se dedicar à sobrinha.

Helena foi o primeiro trabalho de Mário Prata que vimos em Portugal, autor que já tinha uma vasta experiência à data e que veio inclusive viver por aqui durante algum tempo.

Tal como aconteceu no Brasil, Helena não teve muita repercussão em Portugal, também devido ao horário em que foi exibida. Se do outro lado do Atlântico, Helena concorria diretamente com os últimos minutos de Brega & Chique e com o Jornal Nacional, na RTP o principal problema deveu-se ao facto da novela ir ao ar às 16:50.

A proposta apresentada pelo autor era fazer uma novela de época com uma linguagem atual, em que as personagens, com todas as limitações do século XIX, se comportassem como se estivessem nos anos 80. Assim, embora baseada numa obra de Machado de Assis, o enredo de Helena tomou uma forma própria que se distinguiu muito do romance. Foram inclusivamente inseridas personagens de outras obras de Machado de Assis: Tertuliano (Buza Ferraz) era baseado no protagonista de O Espelho, enquanto o doutor Tales (Cláudio Mamberti) mais não era que uma nova versão de Simão Bacamarte de O Alienista.

Misturar o antigo com o moderno seria aliás, uma das componentes de um grande sucesso apresentado pela Rede Globo dois anos depois, inédito em Portugal: a novela Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes, curiosamente o mesmo autor de Brega & Chique. Porém, se Que Rei Sou Eu?, localizada no imaginário Reino de Avilan, algures na Europa, era uma sátira política à situação vivida no Brasil na altura da redemocratização, a única componente política presente em Helena estava ligada às atrocidades cometidas contra os escravos pelos seus senhores.

Quase vinte anos depois, Mário Prata apresentou à Globo um projeto para uma outra novela de época em que as personagens se comportavam como no século XXI. A produção foi ao ar com o título Bang Bang, sendo um western passado nos Estados Unidos, no final do século XIX. Ao contrário de Que Rei Sou Eu?, porém, Bang Bang não fez sucesso e o autor retirou-se, alegadamente devido a problemas de saúde, depois de ter escrito à volta de 40 capítulos.

Numa visita pelos estúdios da Manchete, o então Presidente da República Mário Soares assistiu às gravações da telenovela Helena e fez-se fotografar com alguns atores do elenco.

Esta foi uma das poucas novelas, senão a única, em que o autor apresentou dois finais para algumas das personagens: Helena morre, mas na última cena aparece ao lado de Estácio e a união dos dois é celebrada com champanhe pela tia Úrsula. A megera Tomásia, nas palavras do seu marido, o doutor Camargo, é condenada a prisão perpétua, enquanto a sua cúmplice, Dorzinha, dá entrada num hospício. Todavia, logo a seguir as duas são vistas num cabaré onde dão continuação à sua carreira de criminosas.

Em 1975, a Rede Globo já tinha apresentado outra novela baseada no romance de Machado de Assis, com o mesmo título. No entanto, tratava-se de uma produção bastante fiel ao livro, com apenas 20 capítulos.

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