1. (04/09/1999)
No início do século XX, a ilha da Madeira atraía um turismo de longa permanência, proveniente, sobretudo, de Inglaterra, mas também de outros países europeus. O Hotel Bon Séjour era o ponto de encontro ideal dessa alta sociedade da Belle Époque. Dirigido por uma viúva belga, com apoio da governanta Felismina e da jovem Madalena, afilhada da velha proprietária, o hotel prosperava. Quem dera ao Benjamim, dono de um hotel concorrente, deitar a mãozinha sapuda ao magnífico Bon Séjour! Bem pode esperar… O futuro dono do Bon Séjour já está escolhido. Vai ser Carlos Manuel, sobrinho do falecido proprietário, vindo de Lisboa para ganhar apego ao que passará a pertencer-lhe. Mas, na herança de Madame belga, também será contemplada a afilhada Madalena, com um legado que Carlos Manuel terá de cumprir. O que a senhora gostaria era que os dois jovens se apaixonassem, e até parece que está tudo a correr ao sabor dos íntimos desejos de Madame. É testemunha do enamoramento um pitoresco pintor inglês, Mister Henry, velho amigo e confidente da dona do Bon Séjour. Nas deambulações do pintor pela ilha, acompanha-o um garoto, o Fernando, neto da governanta do hotel. Mas, se a paisagem madeirense permanece exuberante e sedutora, já a paisagem europeia vai sofrer um violento abalo com o início da guerra mundial de 1914-1918. Ninguém acredita que a tranquilidade da ilha venha a ser afetada, embora os primeiros sinais de alteração sejam já preocupantes.
2. (11/09/1999)
A Madeira, aparentemente longe do teatro da guerra europeia de 1914-1918, sofreu os trágicos efeitos do conflito. Os turistas abandonam os hotéis. As exportações tradicionais deixam de se fazer. Os abastecimentos, em consequência da guerra submarina, tornam-se escassos. O Hotel Bon Séjour, dantes preferido pela alta sociedade europeia, esvazia-se. Ocorre a morte da proprietária, a Madame belga, e a passagem das responsabilidades, por herança, para as mãos de Carlos Manuel, o sobrinho. O rapaz, dantes tão cativante, transforma-se por completo. Desliga-se, sem uma justificação, da enamorada Madalena e passa a sentir-se cercado e manietado pelo legado em favor de Madalena. O pintor inglês, o simpático Mister Henry, responde ao apelo da pátria e vai para a guerra, deixando inconsolável o seu amigo e “discípulo”, o pequeno Fernando. Os últimos hóspedes, antes de regressarem aos seus respetivos países, assolados pela guerra, até nos salões do hotel se sentem arrebatados pelo instinto guerreiro. Trava-se uma batalha campal, onde antes imperava a cortesia. Só uma Polonaise serenará os ânimos. Madalena, agora enfermeira, num superlotado hospital, cuida dos náufragos da guerra submarina, que encontraram na ilha da Madeira a derradeira salvação. Entre eles, um luso-canadiano, chamado Michel.
3. (18/09/1999)
Com a entrada de Portugal na guerra de 1914-1918, a Madeira passa por uma das suas maiores crises. Os reflexos da agitação social do continente também chegam ao Funchal. Mas alguns prosperam, tirando partido da calamidade. O hoteleiro Benjamin, aconselhado pelo notário Dr. Veredas, um estratega de salão, com fortes inclinações germanófilas, compra fábricas e propriedades em ruína. O que ele pretendia era chegar ao Bon Séjour, onde começara como groom. Carlos Manuel, também ele uma ruina humana, endivida-se. Se não fosse o legado em favor de Madalena, Carlos Manuel já teria vendido o hotel, agora requisitado pelo governo para acolher as vítimas dos naufrágios provocados pela guerra. O Funchal é bombardeado por um submarino alemão. Houve vítimas e estragos, entre os quais uma casa pertencente, logo por caricata coincidência, ao notário germanófilo. A situação militar de Carlos Manuel não é clara. Vem a saber-se que escamoteou cartas que o chamavam ao dever das armas. Tem de fugir. A governanta Felismina dá-lhe abrigo, na casinha da montanha. O desertor acaba cercado por militares. Foge, desesperado, e, no meio do nevoeiro, despenha-se no abismo. Madalena, entretanto, enamorara-se do marinheiro luso-canadiano. Casam-se, ainda que, no dia seguinte, o marinheiro tenha de voltar para o mar. Escasseiam as notícias. O neto de Felismina morre, vitimado pela pneumónica. Na caixa de tintas, que o excêntrico e amável pintor inglês lhe deixara de recordação, descobre-se um tesouro imprevisto: as jóias perdidas da Madame, proprietária do hotel nos bons tempos. Desses tempos, só restam Felismina, a governanta do hotel, e Madalena, que espera bebé. Nasce a criança, quando termina a guerra. Vai chamar-se Miguel, como o pai, o marinheiro que a guerra terá levado. O Hotel Bon Séjour vai a leilão. Benjamim tomará conta do que sobrou, mas Madalena é assaltada por uma quimérica miragem, onde vê o seu amado marinheiro regressar, na jovial companhia do pintor inglês. Foi um sonho? Oitenta anos depois, Miguel, filho de Madalena, dá uma entrevista a um jornalista, no terraço do velho hotel, que Miguel conseguiu reaver, em boa hora. Valeu a pena esperar tanto tempo, até se consumar o sonho de Madalena.