Hotel Bon Séjour

Exibição:
04/09/1999 – 18/09/1999 (RTP 1)

Número de episódios:
03

Argumento e diálogos:
António Torrado

Narrador:
Rui Pinto de Almeida

Música:
Luís Cília

Produção:
Ramos Teixeira
António Plácido

Realização:
Ferrão Katzenstein

Elenco:
Rogério Samora – Carlos Manuel
Laura Soveral – Felismina
Cidália Freitas – Madalena
Teresa Jardim Gedge – Madame
John Kelsey – Mister Henry
Francisco Pestana – Notário
António Plácido – Médico
Eduardo Luís – Benjamim
Robert Wynford – Michel
Plácido Júnio – Fernando
Virgílio Teixeira – Miguel

Elenco adicional:
Jorge de Freitas – Chefe de redação
Duarte Araújo – Jornalista atual
Dinarte de Freitas – Groom
António Ascensão – António
Patrícia Perneta – Criada
Miguel Vieira – Jornalista
Carlos Melim – Sócio do clube
Paulo Sérgio – Sócio do clube
Vicente Silva – Fotógrafo
David Vallat – Turista
Norberto Ferreira – Jornalista 1
Carlos Correia – Jornalista 2
José Luís Coelho – Sócio do clube
Cláudio Semião – Hóspede
Petar Semião – Hóspede
Paulo Sérgio – Hóspede
Bruno Olm – Antiquário
Luísa Morton-Hicks – Enfermeira
Ferrão Katzenstein – Penhorista
Fátima Rocha – Georgette
Margarida Gonçalves – Floriette
José Carlos Ramos – Oficial de registos
Magda Paixão – Amiga da noiva
José Ferreira – Popular
Carlos Varela – Bombeiro
Pedro Ascensão – Moço
Duarte Rodrigues – Sargento
Jorge dos Ramos – 1.º Soldado
Marco Gouveia – 2.º Soldado
Carlos Cabral – Leiloeiro

O ano de 1914, com o início da 1.ª Guerra Mundial, põe fim à Belle Époque. Num luxuoso hotel do Funchal, preferido pela aristocracia europeia, ecoa o estrépito do grande cataclismo internacional. Mas não só o turismo se ressente. A dificuldade de abastecimentos, consequência da guerra submarina, e o declínio das exportações tradicionais abalam o arquipélago.

É neste clima de crise que o Hotel Bon Séjour vai mudar de mãos. Carlos Manuel (Rogério Samora), o herdeiro do hotel, um jovem continental, julgava receber uma fortuna tranquila, mas vê-se a braços com uma calamidade. Preso às obrigações de um legado em favor de Madalena (Cidália de Freitas) – afilhada de Madame (Teresa Jardim Gedge), antiga proprietária do hotel –, aguarda, em desespero de causa, que a guerra acabe. Mas ela recrudesce. Submarinos alemães chegam a bombardear o Funchal e a provocar mortes entre a população civil. Náufragos de múltiplas nacionalidades, a salvo na Madeira, passam a ocupar, por requisição do Governo, as instalações do hotel, onde antes repousava, descuidada a alta-sociedade europeia.

Amores, conflitos, esperanças e desolação concentram-se na ilha que, surpreendida, se descobre parcela do mesmo mundo em ebulição. No entanto, 1918 aproxima-se. Com o armistício, tudo vai mudar. Mas nada será como dantes…

Carlos Manuel Viegas de Vasconcellos (Rogério Samora)
Sobrinho do falecido proprietário do Hotel Bon Séjour. É estudante universitário, mas parece pouco empenhado em terminar o curso. A pedido de Madame – que deseja ver cumprida uma vontade do falecido marido –, vem para o Funchal, com o intuito de assumir a direção do Hotel Bon Séjour. Apresenta-se como bom moço, mas com o tempo revela a sua verdadeira faceta: é boémio, ambicioso e vigarista.

Madame (Teresa Jardim Gedge)
Nascida na Bélgica, foi para a Madeira em 1874, por razões de saúde, acabando por aí se casar e fixar. O Hotel Bon Séjour, fundado pelo seu marido, recebeu essa designação em sua homenagem. Depois de enviuvar, tomou as rédeas do negócio, mas agora, enferma, entrega-o aos cuidados de Carlos Manuel e Madalena.

Madalena (Cidália Freitas)
Afilhada de Madame, por quem foi criada depois de perder os pais, na epidemia de cólera que assolou a Madeira. A Madame deixa-lhe em legado uma parte do hotel. Inexperiente no campo amoroso, deixa-se seduzir por Carlos Manuel, com quem Madame gostaria que ela se casasse.

Felismina (Laura Soveral)
Governanta do hotel. É bisbilhoteira e não tem tento na língua, o que incomoda a Madame. Apesar das desavenças, existe entre as duas uma relação de confiança e amizade. Sempre de olho aberto, desconfia das intenções de Carlos Manuel.

Fernando (Plácido Júnio)
Neto de Felismina. Perdeu os pais na epidemia de cólera. Acompanha Mister Henry nas suas deambulações pela ilha da Madeira.

Mr. Henry Garfield (John Kelsey)
Pitoresco pintor inglês que se hospeda com frequência no hotel. Velho amigo e confidente de Madame. Desconfia-se da existência de um romance de longa data entre os dois, algo que ela nega.

Dr. Veredas (Francisco Pestana)
Notário “das falinhas mansas”, acusa Felismina. Bem-falante, frequentador das rodas sociais funchalenses.

Dr. Figueiredo (António Plácido)
Médico de Madame. Habitual interlocutor do Dr. Veredas.

Benjamim (Eduardo Luís)
Antigo funcionário do Bon Séjour, que abandonou para abrir o seu próprio estabelecimento hoteleiro. Com um património em franco crescimento, para ele, adquirir o Bon Séjour seria a cereja no topo do bolo.

Michel (Robert Wynford)
Náufrago luso-canadiano que Madalena conhece no hospital, quando trabalha como enfermeira. Com ele, Madalena conhecerá o verdadeiro amor, esquecendo a deceção vivida com Carlos Manuel.

António (António Ascensão)
Rececionista do hotel.

Groom (Dinarte de Freitas)
Paquete do hotel.

Miguel (Virgílio Teixeira)
Filho de Madalena e Michel. Na atualidade, é o proprietário do Hotel Bon Séjour, que conseguiu reaver, cumprindo um desejo da sua mãe.

1. (04/09/1999)
No início do século XX, a ilha da Madeira atraía um turismo de longa permanência, proveniente, sobretudo, de Inglaterra, mas também de outros países europeus. O Hotel Bon Séjour era o ponto de encontro ideal dessa alta sociedade da Belle Époque. Dirigido por uma viúva belga, com apoio da governanta Felismina e da jovem Madalena, afilhada da velha proprietária, o hotel prosperava. Quem dera ao Benjamim, dono de um hotel concorrente, deitar a mãozinha sapuda ao magnífico Bon Séjour! Bem pode esperar… O futuro dono do Bon Séjour já está escolhido. Vai ser Carlos Manuel, sobrinho do falecido proprietário, vindo de Lisboa para ganhar apego ao que passará a pertencer-lhe. Mas, na herança de Madame belga, também será contemplada a afilhada Madalena, com um legado que Carlos Manuel terá de cumprir. O que a senhora gostaria era que os dois jovens se apaixonassem, e até parece que está tudo a correr ao sabor dos íntimos desejos de Madame. É testemunha do enamoramento um pitoresco pintor inglês, Mister Henry, velho amigo e confidente da dona do Bon Séjour. Nas deambulações do pintor pela ilha, acompanha-o um garoto, o Fernando, neto da governanta do hotel. Mas, se a paisagem madeirense permanece exuberante e sedutora, já a paisagem europeia vai sofrer um violento abalo com o início da guerra mundial de 1914-1918. Ninguém acredita que a tranquilidade da ilha venha a ser afetada, embora os primeiros sinais de alteração sejam já preocupantes.


2. (11/09/1999)
A Madeira, aparentemente longe do teatro da guerra europeia de 1914-1918, sofreu os trágicos efeitos do conflito. Os turistas abandonam os hotéis. As exportações tradicionais deixam de se fazer. Os abastecimentos, em consequência da guerra submarina, tornam-se escassos. O Hotel Bon Séjour, dantes preferido pela alta sociedade europeia, esvazia-se. Ocorre a morte da proprietária, a Madame belga, e a passagem das responsabilidades, por herança, para as mãos de Carlos Manuel, o sobrinho. O rapaz, dantes tão cativante, transforma-se por completo. Desliga-se, sem uma justificação, da enamorada Madalena e passa a sentir-se cercado e manietado pelo legado em favor de Madalena. O pintor inglês, o simpático Mister Henry, responde ao apelo da pátria e vai para a guerra, deixando inconsolável o seu amigo e “discípulo”, o pequeno Fernando. Os últimos hóspedes, antes de regressarem aos seus respetivos países, assolados pela guerra, até nos salões do hotel se sentem arrebatados pelo instinto guerreiro. Trava-se uma batalha campal, onde antes imperava a cortesia. Só uma Polonaise serenará os ânimos. Madalena, agora enfermeira, num superlotado hospital, cuida dos náufragos da guerra submarina, que encontraram na ilha da Madeira a derradeira salvação. Entre eles, um luso-canadiano, chamado Michel.


3. (18/09/1999)
Com a entrada de Portugal na guerra de 1914-1918, a Madeira passa por uma das suas maiores crises. Os reflexos da agitação social do continente também chegam ao Funchal. Mas alguns prosperam, tirando partido da calamidade. O hoteleiro Benjamin, aconselhado pelo notário Dr. Veredas, um estratega de salão, com fortes inclinações germanófilas, compra fábricas e propriedades em ruína. O que ele pretendia era chegar ao Bon Séjour, onde começara como groom. Carlos Manuel, também ele uma ruina humana, endivida-se. Se não fosse o legado em favor de Madalena, Carlos Manuel já teria vendido o hotel, agora requisitado pelo governo para acolher as vítimas dos naufrágios provocados pela guerra. O Funchal é bombardeado por um submarino alemão. Houve vítimas e estragos, entre os quais uma casa pertencente, logo por caricata coincidência, ao notário germanófilo. A situação militar de Carlos Manuel não é clara. Vem a saber-se que escamoteou cartas que o chamavam ao dever das armas. Tem de fugir. A governanta Felismina dá-lhe abrigo, na casinha da montanha. O desertor acaba cercado por militares. Foge, desesperado, e, no meio do nevoeiro, despenha-se no abismo. Madalena, entretanto, enamorara-se do marinheiro luso-canadiano. Casam-se, ainda que, no dia seguinte, o marinheiro tenha de voltar para o mar. Escasseiam as notícias. O neto de Felismina morre, vitimado pela pneumónica. Na caixa de tintas, que o excêntrico e amável pintor inglês lhe deixara de recordação, descobre-se um tesouro imprevisto: as jóias perdidas da Madame, proprietária do hotel nos bons tempos. Desses tempos, só restam Felismina, a governanta do hotel, e Madalena, que espera bebé. Nasce a criança, quando termina a guerra. Vai chamar-se Miguel, como o pai, o marinheiro que a guerra terá levado. O Hotel Bon Séjour vai a leilão. Benjamim tomará conta do que sobrou, mas Madalena é assaltada por uma quimérica miragem, onde vê o seu amado marinheiro regressar, na jovial companhia do pintor inglês. Foi um sonho? Oitenta anos depois, Miguel, filho de Madalena, dá uma entrevista a um jornalista, no terraço do velho hotel, que Miguel conseguiu reaver, em boa hora. Valeu a pena esperar tanto tempo, até se consumar o sonho de Madalena.

Coproduzida pela RTP Madeira, RTP e RTP Internacional, Hotel Bon Séjour foi totalmente gravada na Região Autónoma da Madeira.

O projeto foi entregue ao realizador Ferrão Katzenstein, que encomendou a António Torrado uma história que se desenrolasse no arquipélago.

As cenas de exterior do hotel foram gravadas no Hotel Monte Palace.

Para conferir um maior realismo ao décor do hotel, o cenógrafo Luís Henrique Perneta conseguiu, de empréstimo, algum mobiliário antigo do Hotel Reid’s, que estava guardado em armazém.

Virgílio Teixeira, na altura já afastado da vida artística, aceitou fazer uma participação na história, a título quase simbólico.

Em 2017, o programa Puxa pra Trás, destinado a recordar as produções mais marcantes da RTP Madeira, teve uma emissão dedicada a Hotel Bon Séjour.

Apresentado pela jornalista Catarina Cadavez, teve como convidados em estúdio – o mesmo estúdio onde haviam decorrido as gravações da série – o realizador Ferrão Katzenstein e os atores Dinarte de Freitas e Eduardo Luís.

Catarina Cadavez
Dinarte de Freitas
Ferrão Katzenstein
Eduardo Luís

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