Humor de Perdição

Exibição:
03/04/1988 – 05/06/1988 (RTP 1)

Número de programas:
12

Um programa de:
Herman José

Elenco:
Ana Bola – Pureza
Artur Semedo – Amadeu Pato
Herman José – Azevedo Perdição / José Estebes / Maximiana
Lídia Franco – Catarina
Manuela Maria – Rosalina
Maria Vieira – Maria
Miguel Guilherme – Bentinho
Rosa Lobato Faria – Cândida
São José Lapa – Berta
Virgílio Castelo – Porfírio
Vítor de Sousa – Almeida Garrett

Textos:
Herman José

Apoio e textos do Show do Estebes:
António Tavares-Teles
Tozé Brito

Cantigas do Estebes:
Carlos Paião

Entrevista Histórica:
Miguel Esteves Cardoso

Inspirações poéticas:
Rosa Lobato Faria

Violino e imitações:
João Canto e Castro

Direção de atores:
Herman José

Cenografia:
Conde Reis

Direção de produção:
Thilo Krasmann

Realização:
Nuno Teixeira

Produtora:
Edipim

A ação de Humor de Perdição desenrola-se na produtora dos Estúdios Perdição, propriedade de Azevedo Perdição (Herman José) que, para além de gerir o seu lote de funcionários com muito bom humor, se dedica à prestidigitação. Divorciado de Berta (São José Lapa), continua a manter um caso com ela, sem saber que é vítima de uma conspiração.

Com efeito, o empresário Amadeu Pato (Artur Semedo) quer construir um grande empreendimento no local onde está instalada a produtora e, para coagir Perdição ao seu desígnio, planeia levá-lo à falência. Para tal, conta justamente com Berta e promete-lhe um teatro onde ela possa apresentar as suas peças. Berta torna-se portanto a primeira espia de Pato, mas irá levar consigo outros funcionários insatisfeitos.

À medida que a ação avança, o telespectador pode acompanhar o dia-a-dia dos empregados de Azevedo Perdição: a moderna Catarina (Lídia Franco), o efeminado Almeida Garrett (Vítor de Sousa), responsável pelas entrevistas às grandes figuras da História de Portugal, a máscula Rosalina (Manuela Maria), o seu filho Bento (Miguel Guilherme), o traumatizado Porfírio (Virgílio Castelo), a rececionista Maria (Maria Vieira) e a pedante Pureza Madredeus Teixeira da Cunha (Ana Bola).

Neste contexto, é admitida uma nova funcionária que prestará serviços de limpeza e de atendimento no bar: falamos da campónia Maximiana (Herman José), embalada no intuito de estar mais perto da sua filha Marisol. Ora, a sua filha Marisol é precisamente Pureza, que não quer de modo algum que os seus colegas venham a conhecer as suas origens humildes.

Ficamos entretanto a saber que Rosalina tem um romance secreto com Porfírio e que morre de medo de vir a ser descoberta pelo filho. Quando isto acontece, Bento revolta-se e, seduzido por Berta, dispõe-se a destruir os Estúdios Perdição de acordo com os planos de Amadeu Pato. Os dois colocam uma bomba no gabinete do patrão, mas esta acaba por ser ingerida por Adozinda (Margarida Carpinteiro), uma vizinha de Maximiana que aparece na produtora para revelar que a mãe de Pureza recebeu uma herança avultada.

Enquanto isso, Amadeu Pato mostra a sua personalidade crescentemente maquiavélica. Ele tem sob o seu poder Cândida Lápis Lazúli (Rosa Lobato Faria), Cande para os amigos, que o detesta, conquanto seja sustentada pelo empresário. O verdadeiro amor de Cândida, no entanto, é José Estebes (Herman José), o comentador desportivo. Ao descobrir tal paixão, Amadeu Pato desafia-o para um duelo, mas leva a pior e fica inválido. Cândida pensa que ficou com o caminho livre para conquistar Estebes, mas, quase em simultâneo, ele encanta-se por Catarina, pelo que a matrona resolve envenená-la com a poção Pós de Jacaré de Paraguaçu, deixando-a entrevada durante algum tempo. Outra novidade, porém, irá mudar o percurso de Cândida: ela reencontra o filho, abandonado há muitos anos, e que não é nada menos do que Porfírio, explicando-se assim os complexos dele e a paixão por uma mulher mais velha como Rosalina. Cândida conclui nunca ser tarde e passa a dedicar-se à missão de o educar de forma rígida, com bofetadas e advertências para se calar constantemente (Se cale!), além de lhe impor um namoro e um casamento por correspondência com Pureza, a mulher ideal segundo o seu ponto de vista.

Outro reencontro importante é o de Maria com Amadeu Pato. A rececionista dos Estúdios Perdição e o empresário, amantes no passado, recuperam o tempo perdido e ela revela estar grávida. É então que, depois de tentarem raptar sem sucesso Almeida Garrett, Berta e Bento veem que não ganharão nada se tudo continuar como está e têm uma ideia de génio: sequestrar Maria e pedir um resgate a Amadeu Pato, que se encontra completamente apaixonado pela mãe do seu futuro filho. Porém, inválido e impedido de se deslocar, o empresário pede dinheiro a Maximiana, que agora é rica, em virtude da herança que recebeu. Pureza, após receber da mãe uma resposta torta devido ao seu cunho interesseiro, rouba o chorudo montante e coloca-se do lado dos sequestradores, com quem divide o dinheiro. A sequestrada Maria também fica com uma quota do lucro e todos regressam felizes à produtora.

Quem fica furioso é Amadeu Pato, ainda mais porque Maria perde todo o sentimento que nutria por ele. Debaixo das asas de Cândida Lápis Lazúli, vê uma boa oportunidade para se ver livre dela ao apoderar-se do livro de prestidigitação de Azevedo Perdição e transforma-a numa galinha. Cândida ficará nessa condição durante algum tempo, até ser desfeito o feitiço e o livro regressar à mão de quem de direito. Por sua vez, arrependida por se ter aliado a Pato, Berta reata com Perdição, para desespero de Bento, que os surpreende juntos no quarto.

Todavia, como se aproxima o último episódio, urge providenciar um final feliz para todas as personagens e Bento acaba por se conformar, encontrando em Pureza o amor da sua vida. Berta e Perdição decidem contrair matrimónio em casa de Cândida Lápis Lazúli, com a condição de Estebes e Maximiana não aparecerem para Herman José não ter de mudar de roupa e, durante a festa, Rosalina e Almeida Garrett reconhecem que foram feitos um para o outro.

Azevedo Perdição (Herman José)
Proprietário das Produções Perdição, Lda. Dirige o negócio com pulso firme, mas também com muito sarcasmo. Berta diz que é narcísico, egocêntrico e manipulador.

Berta Perdição (São José Lapa)
Ex-mulher de Azevedo Perdição. É uma mãe ausente, ao ponto de não ver o filho há cinco anos. Sente um apelo carnal pelo ex-marido. Psicologicamente, é instável e sente-se frustrada por não ter sido atriz. Alia-se a Pato para se vingar de Perdição, que lhe fez a vida negra.

Pureza (Ana Bola)
Assistente de realização. Usa a falsa identidade de Pureza Madredeus Teixeira da Cunha, que criou para se infiltrar no jet set. Na realidade, o seu nome é Marisol e é filha de Maximiana. Rejeita a progenitora e tenta, a todo o custo, esconder as suas origens humildes.

Maximiana (Herman José)
Camponesa natural da Merdaleja. Vai trabalhar no bar das Produções Perdição, embora seja mantido em segredo o seu parentesco com Pureza, que fala dela como uma ex-empregada da família. Os seus gritos estridentes repentinos testam os tímpanos dos mais sensíveis espetadores.

Catarina Valente (Lídia Franco)
Caracterizadora. Pseudo-revolucionária, hippie e intelectualóide. Terá um romance com Estebes.

Almeida Garrett (Vítor de Sousa)
Apresentador da Entrevista Histórica, o principal programa da produtora. Atende pelo pseudónimo de Almeida Garrett – o seu verdadeiro nome é Manuel Antunes. Tem uma visão otimista da vida, mas foi pouco agraciado pela inteligência.

Maria (Maria Vieira)
Empregada do bengaleiro. É uma criatura aparvalhada e sem cultura, passando o dia em telefonemas e fuxicos. Explora os frequentadores dos estúdios vendendo café a preços exorbitantes. Quer fazer uma operação plástica que custa uma fortuna e, para ganhar uns trocos, vai tentando vender peças de roupa íntima. É meia-irmã de Cândida.

Rosalina (Manuela Maria)
Anotadora. Um tanto máscula no linguajar e no visual. Mãe de Bentinho, a quem trata como uma criança, oferecendo-lhe sempre uma gemada. Controladora, tem pavor de que o filho arranje outra mulher. Mantém um romance secreto com Porfírio.

Bentinho (Miguel Guilherme)
Realizador. Filho de Rosalina, a quem reprova o excesso de zelo com que esta o trata. Faz todos os esforços para se soltar das saias da mãe. Pretensioso na linguagem e com ouvido de tísico. Torna-se aliado de Berta.

Porfírio (Virgílio Castelo)
Operador de câmara. Frágil, carente de afetos. Talvez por falta de uma figura materna, apaixona-se por Rosalina.

José Estebes (Herman José)
Famoso adepto fervoroso do Fê-Quê-Pê, mudou-se de armas e bagagens para Lisboa, durante três meses, para a gravação do seu show nas Produções Perdição. De sotaque carregado e bochechas rosadas, aluga um quarto em casa de Cândida, que terá com ele relações de profunda amizade.

Cândida (Rosa Lobato Faria)
Possidónia das Avenidas Novas. O seu marido, Sebastião, desapareceu de casa há vinte anos, numa abafada manhã de nevoeiro. Só com umas ações no bolso, viu-se obrigada a vender tudo o que era seu. Preservou apenas a sua identidade. Mora num apartamento cujo senhorio é Pato e no qual aluga um quarto a José Estebes. No passado, não tendo dinheiro para pagar a Pato, sujeitou-se a ir para a cama com ele.

Amadeu Pato (Artur Semedo)
Dono de uma conceituada construtora, quer construir um centro comercial no terreno onde estão implantados os estúdios das Produções Perdição. Como Perdição se recusa a vendê-lo, Pato quer levá-lo à falência, contando para isso com a ajuda de Berta, a troco de erguer, no centro comercial, o Teatro A Berta, com 666 lugares.

Violinista (João Canto e Castro)
Aparece inesperadamente nas cenas mais dramáticas, sempre pronto a tocar o seu violino.

1. (03/04/1988)

Entrevista histórica:
D. Afonso Henriques

Artista convidado:
Tony de Matos

Convidados do Estebes:
Rui Águas e Lena d’Água


2. (10/04/1988)

Entrevista histórica:
Marquês de Pombal

Artista convidado:
Carlos Mendes

Convidado do Estebes:
Carlos Valente


3. (17/04/1988)

Entrevista histórica:
Infante D. Henrique

Artista convidado:
Luís Represas

Convidado do Estebes:
António Morais


4. (24/04/1988)

Entrevista histórica:
Camões

Artista convidado:
João Braga

Convidado do Estebes:
Diamantino


5. (01/05/1988)

Entrevista histórica:
Fernando Pessoa

Artista convidada:
Adelaide Ferreira

Convidado do Estebes:
Valentim Loureiro


6. (08/05/1988)

Entrevista histórica:
D. Sebastião

Artista convidado:
Sérgio Godinho

Convidado do Estebes:
Humberto Coelho


7. (15/05/1988)

Entrevista histórica:
Florbela Espanca

Artista convidada:
Teresa Silva Carvalho

Participação especial:
Margarida Carpinteiro – Adozinda
António Alçada Baptista


8. (22/05/1988)

Artista convidado:
Rui Veloso

Convidado do Estebes:
Ribeiro Cristóvão

Participação especial:
Joaquim Letria
Carlos Paião – Médico
Armando Cortez – Inspetor Barbosa
Margarida Carpinteiro – Adozinda


9. (29/05/1988)

Entrevista histórica:
Afonso de Albuquerque

Artistas convidados:
Vitorino e Janita Salomé

Convidado do Estebes:
Manuel Fernandes

Participação especial:
Armando Cortez – Inspetor Barbosa


10. (05/06/1988)

Artista convidada:
Dora


11.

Entrevista histórica:
Rainha Santa Isabel

Artista convidado:
Raul Indipwo

Convidado do Estebes:
Jorge Fagundes


12.

Entrevista histórica:
Almeida Garrett

Artista convidado:
Rão Kyao

Convidado do Estebes:
Marinho Peres

Participação especial:
Raul Solnado – Conservador

Programa sofisticado, com um humor inteligente e aprazível, Humor de Perdição será sempre considerado um dos melhores momentos da carreira de Herman José.

Ao contrário do que acontecia em Hermanias (1984/1985), em que por vezes se tinha a sensação de haver várias cenas feitas à pressa, desta vez Herman José esmerou-se nos pormenores, que iam ao ponto de o telespectador ser atraído pelas palavras que passavam nos televisores dispersos pelo cenário.

As ideias de Humor de Perdição surgiram de Rebéubéu Pardais ao Ninho, programa de Herman José na Rádio Comercial.

Toda a ação se desenrolava nos Estúdios Perdição, como se de uma telenovela se tratasse. Cada episódio, por sinal, começava sempre na última cena do capítulo anterior e acabava no auge do suspense. As personagens contracenavam todas elas entre si e, quando se queriam isolar, iam refletir para a casa de banho, onde se demoravam ponderando os prós e os contras das decisões a tomar.

O elenco contava com alguns atores que nos tínhamos habituado a ver em programas de Herman José e com outros pouco usuais nestas lides, como Virgílio Castelo, Manuela Maria e Artur Semedo, realizador do filme O Querido Lilás, protagonizado por Herman José no ano anterior.

Esta foi a estreia de Maria Vieira na parceria com Herman José, que se repetiria noutros programas.

Tal como em O Tal Canal e Hermanias, este programa também transmitia anúncios fictícios, que eram exibidos nos televisores dos Estúdios Perdição.

Também havia um bloco noticioso – o Telegiornale –, a preto e branco, onde os atores falavam com sotaque italiano.

Na mesma linha dos programas anteriores, Humor de Perdição contou com a presença do comentador desportivo José Estebes, uma das mais populares personagens de Herman José que, neste programa, era a principal estrela de um show gravado nos Estúdios Perdição.

Estebes com Valentim Loureiro

Todavia, Maximiana, a campónia da Merdaleja, revelou-se a personagem mais carismática do programa.

Cada episódio contava com um convidado musical diferente. Porém, ao contrário do que era habitual acontecer em programas recreativos, as suas intervenções não se limitavam à interpretação de canções, por vezes desconexas do restante conteúdo do programa. Neste caso, os artistas cantavam, mas também interagiam com os personagens, que habitualmente interrompiam as atuações.

Carlos Mendes
Rui Veloso

É deste programa a conhecida rábula onde Herman José imita Natália Correia que, na altura, apresentava na RTP o programa Mátria, sobre figuras femininas da História de Portugal.

Outro sketch memorável é o de uma cantora, interpretada por Herman José, que entoa a melodia Planície, de Mafalda Veiga, enquanto excrementos de várias aves lhe desabam sobre a cabeça.

Ao chamar a sua personagem de Azevedo Perdição, Herman José fazia uma brincadeira com o nome do primeiro presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Azeredo Perdigão, ainda vivo à época.

Contudo, Humor de Perdição será sempre lembrado pelas célebres Entrevistas Históricas, escritas por Miguel Esteves Cardoso, que levaram à proibição do programa, em resultado de uma atitude tão deplorável como bizarra em plena democracia, da responsabilidade do Conselho de Gerência da RTP. Verdadeiro atentado à inteligência do telespectador, esta postura será sempre lembrada pelas piores razões. Vale a pena registar ainda que, ainda no ano anterior, a RTP suspendera o programa Fisga após um quadro humorístico de auditório, protagonizado por João Grosso a propósito do patriotismo.

Rezava a posição oficial da RTP:

O produtor foi avisado que as Entrevistas Históricas tinham que ter um sentido diferente, tendo este facto sido implicitamente reconhecido pelo produtor. É obrigação da RTP defender os valores históricos e culturais de Portugal. Logo que estes requisitos sejam observados, as Entrevistas Históricas continuarão segundo os poderes conferidos à RTP no contrato realizado com o produtor do programa.

Não tardaram a surgir as reações negativas por parte do elenco:

Herman José:
Agora são valores históricos, depois podem ser sexuais ou políticos. Não sei até onde isto pode ir. Com estes pressupostos, em Inglaterra, 80% dos programas tinham que ser suspensos. Só se a nossa democracia for menos democrática que a deles.

Lídia Franco:
É uma questão cultural. O que chateia muito as velhas cabeças da nossa terra é tocar em assuntos que continuam a ser tabu. […] A RTP devia publicar um livrinho para explicar quais são as regrazinhas morais, sexuais, estéticas, etc. Porque antes do 25 de Abril, nós sabíamos, mas, agora, como é?

Artur Semedo:
Recebem chuvas de telefonemas de pessoas que se divertem e que depois telefonam a dizer horrores. Porque não telefonam a protestar contra a série do Victorino d’Almeida, do Clubíssimo e do programa do Luís Pereira de Sousa, que são altamente pornográficos, intelectual e culturalmente?

Antes da chegada do entrevistado, Azevedo Perdição recebia um telefonema do professor Saraiva, uma imitação de José Hermano Saraiva levada a cabo por João Canto e Castro, de maneira que o telespectador quase sempre já sabia a personalidade que estava para chegar.

Os imortais entrevistados por Almeida Garrett (interpretado por Vítor de Sousa) foram:

D. Afonso Henriques
Marquês de Pombal
Infante D. Henrique
Luís de Camões
Fernando Pessoa
D. Sebastião
Florbela Espanca
Afonso de Albuquerque
Rainha Santa Isabel
Almeida Garrett

Nos programas 8 e 10, não houve Entrevista Histórica. Alegadamente, teria sido gravada uma entrevista a Junot, que não chegou a ser transmitida.

Para quem assiste ao décimo episódio, o último exibido em 1988, não passa despercebida uma piada de Rosalina (Manuela Maria) dedicada “àqueles que querem proibir este programa”.

O décimo episódio acabava na cena em que Amadeu Pato (Artur Semedo) se apodera do livro de magia de Azevedo Perdição e transforma Cândida Lápis Lazúli (Rosa Lobato Faria) numa galinha. A personalidade histórica entrevistada no 11.º episódio seria a Rainha Santa Isabel, cuja publicidade terá desencadeado a retirada do programa.

Após o seu fim abrupto, Humor de Perdição foi substituído, na programação, pela série O Justiceiro. Os dois últimos episódios só seriam transmitidos em 1996, oito anos depois da exibição original do programa.

Antes disso, entre 1993 e 1994, Herman José voltou à carga com as entrevistas históricas do programa Parabéns, sem que houvesse qualquer polémica em sequência disso. O entrevistador era, novamente, Vítor de Sousa.

Entrevista a Marilyn Monroe

No último episódio, os atores despem várias vezes a personagem para fazer perguntas a Herman José. Com São José Lapa, o humorista mostra o estúdio do programa aos telespectadores. Na verdade, ambos querem ir a casa de Cândida Lápis Lazúli e descobrem que chegam lá muito mais rápido se não saírem do estúdio.

Da mesma forma que ocorreria em Casino Royal, também existe uma frase que, a partir do momento em que é dita por alguém, será repetida até ao fim do programa: A vida é como os interruptores: umas vezes para cima, outras vezes para baixo.

Carlos Paião, que deu letra aos originais cantados por José Estebes, surgiu também numa participação especial como um médico que examina Pato. O saudoso cantor era formado em Medicina, embora nunca tenha exercido. Esta foi, de resto, uma das suas últimas aparições em televisão.

Passaram ainda pelo programa Margarida Carpinteiro (Adozinda, vizinha de Maximiana), Armando Cortez (inspetor que investiga o desaparecimento dos botões de punho de José Estebes) e Raul Solnado (o conservador que preside ao casamento de Perdição e Berta).

Júlio César, Florbela Queiroz e Rosa do Canto, que se encontravam nos estúdios da Edipim a gravar a novela Passerelle, fizeram fugazes aparições em Humor de Perdição.

Herman José com Florbela Queiroz e Rosa do Canto

João Canto e Castro, por sua vez, foi uma presença constante. Para além de imitar a voz de José Hermano Saraiva, Cavaco Silva e Mário Soares, tocava temas soturnos no seu violino sempre que uma cena se tornava dramática.

A convite da direção da Edipim, o então Presidente da República, Mário Soares, visitou, no dia 12/04/1988, os estúdios da empresa, onde decorriam as gravações de Humor de Perdição.

O ponto alto desta visita teve lugar quando Mário Soares se dirigiu ao local onde estava a ser gravado o Telegiornale, apresentado por Virgílio Castelo, Miguel Guilherme e Herman José, durante o qual o imitador João Canto e Castro leu uma mensagem supostamente enviada pelo Presidente da República ao presidente francês, François Mitterrand.

No final da visita, Mário Soares teve oportunidade de ouvir imitações de Álvaro Cunhal, Lucas Pires e João Paulo II. O Presidente da República riu-se de tal modo que Herman José foi obrigado a despedir Canto e Castro, “pois já estás a ter mais sucesso do que eu”.

Estebes era acompanhado por três “Estebosas”, cada uma representando um dos três grandes clubes de futebol. Uma delas era a atriz Rosa Villa e outra era Maria João Lopes, que em 1989 se tornou conhecida como assistente de Nicolau Breyner no Jogo de Cartas.

Durante uma entrevista de Herman José a São José Lapa, no Parabéns, foi revelado que o nome da sua personagem era para ser Greta Berta. Contudo, a atriz, preocupada com as brincadeiras que pudessem fazer com a sua filha na escola, pediu ao humorista que ficasse apenas Berta.

O tema do programa – instrumental na abertura e cantado no encerramento – foi incluído no CD És Tão Boa – O Melhor de Herman José, lançado em 2005.

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Humor de Perdição