Ligações Perigosas

Exibição:
07/05/1996 – 06/08/1996 (RTP 1)

Número de programas:
13

Autoria:
Henrique Oliveira
Rui Taborda

Moderadores:
BB (Anabela Mota Ribeiro)
Paula Moura Pinheiro
Nuno Rogeiro

“Achas p’rá fogueira”:
Júlio Machado Vaz

“Ambrósio”:
Rui Rocha

Produção:
Maria Luís Oliveira

Realização:
Henrique Oliveira
Rui Taborda

Amores e desamores, fidelidade e traição, ciúme e sedução, assédio sexual e poder, afetos e desencontros: a complexidade do comportamento humano e as diferentes formas usadas pelos homens e pelas mulheres na gestão destes problemas são o pretexto para Ligações Perigosas.

Trata-se de um programa de debate que aborda as relações entre homens e mulheres nas suas mais diversas vertentes, pondo em evidência as diferenças de mentalidade existentes entre os dois sexos.

Em cada semana, é debatido um tema novo com os convidados. Coloca-se uma pergunta que serve de mote para a conversa em estúdio.

O “atear da fogueira” é dado a partir de um excerto de um filme ilustrativo da questão abordada.

Em seguida, os convidados fixos, Paula Moura Pinheiro e Nuno Rogeiro – representando, respetivamente, os sexos feminino e masculino –, e os da semana, variáveis todas as sessões, partem para o debate e defendem com “unhas e dentes” as suas próprias opiniões.

Nuno Rogeiro
Paula Moura Pinheiro

A conversa é moderada pela apresentadora virtual BB.

BB

Júlio Machado Vaz, psiquiatra e sexólogo, contribui para o calor da discussão, deitando mais “achas p’rá fogueira” – não vá a discussão esmorecer –, numa fita pré-gravada com três ou quatro minutos.

Júlio Machado Vaz

No estúdio, assistem à conversa cerca de 50 pessoas, na sua maioria alunos universitários. Alguns deles, selecionados pelo “mordomo” Ambrósio (Rui Rocha), participam colocando perguntas aos convidados.

Ambrósio (Rui Rocha)

O programa conta com a presença semanal da banda Os Amigos da Salsa e de um grupo de baile especializado em danças latino-americanas.

1. (07/05/1996)

Tema:
Será que um homem pode ser amigo de uma mulher atraente sem pensar em sexo?

Convidados:
Ana Bola
António Victorino d’Almeida

2. (14/05/1996)

Tema:
A infidelidade é uma aventura para os homens e um pecado para as mulheres?

Convidados:
Simone de Oliveira
Virgílio Castelo

3. (21/05/1996)

Tema:
Os homens querem-se bonitos?

Convidados:
Clara Pinto Correia
Joaquim de Almeida

4. (28/05/1996)

Tema:
O macho latino em vias de extinção?

Convidados:
Alexandra Lencastre
João Braga

5. (04/06/1996)

Tema:
Porque é que as meninas brincam com as Barbies e os meninos com os Power Rangers?

Convidados:
Manuel Serrão
Clara Ferreira Alves

6. (11/06/1996)

Tema:
Homens e mulheres seduzem de maneira diferente?

Convidados:
Graça Lobo
Pedro Abrunhosa

7. (18/06/1996)

Tema:
Casamento: um sonho para as mulheres, um pesadelo para os homens?

Convidados:
Sofia Sá da Bandeira
Nicolau Breyner

8. (25/06/1996)

Tema:
É possível um amor e uma cabana? São os diamantes os melhores amigos das raparigas?

Convidados:
Margarida Mercês de Mello
Sérgio Godinho

9. (02/07/1996)

Tema:
O que faz as mulheres ficarem à beira de um ataque de nervos com os homens e vice-versa?

Convidados:
Catarina Furtado
Luís de Matos

10. (09/07/1996)

Tema:
Amor para os homens, sexo para as mulheres

Convidados:
Inês de Medeiros
Rui Reininho

11. (16/07/1996)

Tema:
Duas carreiras cabem na mesma casa?

Convidados:
Margarida Pinto Correia
Artur Albarran

12. (30/07/1996)

Tema:
O ciúme

Convidados:
Catarina Portas
Pedro Burmester

13. (06/08/1996)

Tema:
Será que existe uma guerra dos sexos?

Convidados:
Júlio Machado Vaz
Isabel Leal

Exibido às terças-feiras, Ligações Perigosas foi gravado no Porto, nos estúdios da produtora Miragem.

talk-show tinha como apresentadora a deslumbrante BB, uma “mulher” virtual criada em computador por uma novíssima tecnologia.

Foi a primeira vez que se levou a cabo a verdadeira proeza de se utilizar uma moderadora virtual em substituição de uma apresentadora real, algo completamente inovador em termos nacionais e mundiais.

O equipamento necessário foi alugado pela Miragem à empresa californiana Real Cartoons, assentando na utilização de RTA (Real Time Animation), um sofisticado sistema desenvolvido por um conjunto de técnicos suecos.

A boneca virtual era comandada como se de uma marioneta se tratasse, através de um capacete e de um fato especial envergado por uma apresentadora real. Aos olhos, boca, nariz, braços, mãos e tronco estavam ligados inúmeros sensores ótico-magnéticos, capazes de traduzir todos os seus movimentos à medida que iam sendo feitos para um poderoso computador. Este, por sua vez, “passava” os gestos para a BB, cuja imagem era sobposta no décor do estúdio, por um processo técnico de grande qualidade, designado Ultimate.

Coube a Anabela Mota Ribeiro – animadora de rádio e apresentadora, na altura, do programa Praça da Alegria, em parceria com Manuel Luís Goucha – emprestar a voz e os movimentos à capitosa e insinuante BB. Isolada numa sala e obrigada a dialogar com pontos marcados nas paredes, que lhe indicavam para onde se devia virar, ou seja, a “presença” dos seus interlocutores, sabia que, se algum dos gestos de corpo ou face fossem demasiados pronunciados ou impercetíveis, se arriscava a transmitir à boneca gestos e esgares faciais pouco prováveis e desagradáveis.

Anabela Mota Ribeiro teve cerca de um mês de treino prévio, de modo a calibrar os movimentos e as posições da boneca. Para além deste desafio, tinha ainda a tarefa difícil de dar vida a uma personagem inteiramente fabricada, que se pretendia uma boneca inteligente, sedutora e ao mesmo tempo desprovida dos sentimentos de uma personagem real.

A apresentadora revelou uma grande satisfação por participar neste arrojado projeto: “Tenho uma grande simpatia e carinho por ela. É uma interpretação da Anabela Mota Ribeiro. Apesar de autónoma, a boneca tem de ter o meu background cultural e intelectual e muito do meu mundo afetivo. Trabalho sem rede; tenho de reagir no momento, sem papéis nem teleponto, aos estímulos que me vão chegando, de acordo com a personalidade dada inicialmente à boneca. É muito engraçado e estimulante”.

Ainda que a participação neste projeto não estivesse isenta de grandes custos pessoais: “Quando chego ao final das gravações, estou extremamente tensa e cansada. Estou tão preocupada com a coordenação motora e intelectual da BB que não me posso distrair um segundo. É uma tarefa complicada. Talvez o trabalho mais difícil que já fiz até hoje. A minha concentração é tal que não tenho disponibilidade para sentir qualquer emoção senão quando vejo o resultado do meu esforço na televisão. É um desafio cuja gratificação é vivida a posteriori”.

As pessoas da mesa tinham o desafio de falar “para o boneco” (neste caso, para a boneca), ou seja, para uma cadeira vazia. Para os convidados e para o público, a BB só podia ser vista através dos vários monitores espalhados por pontos estratégicos no plateau. No fundo, toda a gente fingia ver quem na realidade não estava sequer próximo.

Este foi, para Paula Moura Pinheiro, o maior desafio: “Divirto-me bastante e estou a gostar imenso de trabalhar com a BB. A boneca virtual foi uma das razões que me fizeram aceitar este desafio. É desconcertante. […] O que mais me atrai continua a ser o facto de se contracenar com alguém que não está ali, fisicamente. Por outro lado, no que me diz respeito, agrada-me estar ligada à primeira experiência feita em televisão com imagem virtual em tempo real, sem pré-produção. É um evento importante em matéria de televisão, e eu sempre gostei do risco, de testar novas vias profissionais”.

Nuno Rogeiro, por sua vez, também considerou o projeto aliciante: “Achei, desde o início, que Ligações Perigosas era um espaço inteligente, que não tratava o público como se este fosse apenas um produto, uma amálgama de pessoas estúpidas. Pretendia-se tornar os telespectadores cúmplices, participantes ativos nos debates a apresentar semanalmente. Queríamos que a conversa proposta continuasse mais tarde em casa, na roda de amigos, à mesa do café. Já tive a oportunidade de assistir ao programa misturado no público, e vi que as pessoas tomam partido naturalmente, têm opiniões próprias, concordam e discordam, acaloradamente, de certos pontos. Por isso, penso que, para além de interessante, o programa está a ser útil para as pessoas”.

O analista político também não poupou elogios à sua parceira e considerou-a uma “mulher inteligente, uma profissional competentíssima e, o que é mais raro, uma pessoa com fortes convicções”.

Detentores de percursos e atitudes diferentes, de ideologias políticas distantes e de formas de estar na vida muito pouco semelhantes, sabiam ambos que as possibilidades de estarem de acordo nas conversas semanais sobre questões ligadas ao comportamento humano seriam altamente improváveis: “O nosso desacordo era mais do que previsível. Aliás, o convite que nos foi feito visava de antemão explorar esse antagonismo. Tudo o que acontece durante a feitura do programa é live on tape, ou seja, não preparamos nada um com o outro, não há pré-produção dos temas em discussão. As opiniões que expressamos são sempre sinceras, espontâneas. Ou concordamos ou discordamos, mas mostramos sempre o que realmente pensamos”, afirmou a jornalista.

Paula Moura Pinheiro e Nuno Rogeiro recusaram ver a crónica de Júlio Machado Vaz antes da sessão, colocando-se em igualdade de circunstâncias com os convidados.

Para além de colaborar com a rubrica “Achas p’rá fogueira” e de conversar com a produção sobre os temas selecionados, o “psi” foi um dos convidados do último programa.

O psicólogo considerou este programa uma “obra honesta”, apesar de apontar alguns aspetos que alteraria se o programa tivesse sido da sua autoria: “Para já, faz-me confusão ter tanta gente em cena. Se dependesse de mim, a BB e os dois convidados residentes, Paula Moura Pinheiro e Nuno Rogeiro, faziam o programa e discutiam os temas com o público em estúdio. Faz-me impressão a tendência atual para se terem em estúdio públicos tão passivos. Com meia hora de conversa prévia e com um certo estímulo, esses jovens poderiam trazer pontos de vista muito interessantes para o debate. Um formato deste tipo agradar-me-ia bastante mais”.

O programa contava com música ao vivo, interpretada por Raul Marques e os Amigos da Salsa.

O primeiro álbum da banda, lançado no ano seguinte, tinha por título, precisamente, Ligações Perigosas.

Quando esteve presente no programa, Simone de Oliveira, a respeito da BB, declarou: “Prefiro falar com pessoas de carne e osso”…

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