Manhã Submersa

Exibição:
18/10/1979 – 22/11/1979 (RTP 2)

Número de episódios:
04

Telefilme de:
Lauro António

Adaptação do romance de:
Vergílio Ferreira

Realização e produção:
Lauro António

Elenco

Joaquim Manuel Dias – António

1. Na Serra

Eunice Muñoz – D. Estefânia
Adelaide João – Mãe de António
Miguel Franco – Sr. Capitão
José Severino – Dr. Alberto
Maria de Lurdes Martins – Carolina
Maria Olguim – Joana
Rui Luís – Tio Gorra
Alexandra Reis do Prado Coelho – Mariazinha
Fátima Marta – Aldeã

… E ainda o povo de Linhares (Serra da Estrela)

2. No seminário

Vergílio Ferreira – Reitor
Jacinto Ramos – Padre Martins
Canto e Castro – Padre Tomáz
Joaquim Rosa – Padre Alves
Carlos Wallenstein – Padre Lino
Jorge Vale – Padre Fialho
Camacho Costa – Padre Pita
António Santos – Padre Cunha
Manuel Cavaco – Criado
António Marques Silvestre – “Mão Negra”
Bruno Vasconcelos Beltrão – Gaudêncio
Vítor Manuel Candeias – Gama
Carlos Alberto Macedo – Amílcar
Luís Almerindo da Silva – Florentino
Carlos Manuel Dias da Silva – Taborda
Hugo César de Matos Ferreira – Peres

Outros seminaristas:
Rui de Oliveira Duarte – Tavares
António Luís Magina
Jorge Manuel Fernandes
Miguel Sérgio Bernardino

António Santos Lopes (Joaquim Manuel Dias) é um jovem oriundo de uma família carenciada. Por ter poucas posses, a mãe (Adelaide João) entregou-o aos cuidados de D. Estefânia (Eunice Muñoz), uma mulher amarga que põe a religião acima de tudo.

Aos doze anos, António é pressionado a frequentar o seminário, apesar de não ter vocação para o sacerdócio. Deixa a sua aldeia natal, na Serra da Estrela, e parte para o seminário, onde passa a ter uma vivência profundamente infeliz.

António
(Joaquim Manuel Dias)

D. Estefânia
(Eunice Muñoz)

Mãe de António
(Adelaide João)

Tio Gorra
(Rui Luís)

Reitor
(Vergílio Ferreira)

Padre Martins
(Jacinto Ramos)

Padre Tomáz
(Canto e Castro)

Padre Alves
(Joaquim Rosa)

Padre Lino
(Carlos Wallenstein)

Padre Pita
(Camacho Costa)

Padre Fialho
(Jorge Vale)

Criado
(Manuel Cavaco)

Sr. Capitão
(Miguel Franco)

Dr. Alberto
(José Severino)

Mariazinha
(Alexandra Reis do Prado Coelho)

Carolina
(Maria de Lurdes Martins)

Joana
(Maria Olguim)

Aldeã
(Fátima Marta)

1. O seminário (25/10/1979)
António, jovem de uma aldeia da Serra da Estrela, cuja família vive pobremente, tem de escolher entre o trabalho do campo e a carreira eclesiástica. Embora contrafeito, e seguindo os conselhos de sua madrinha, parte para o que irá ser a sua nova morada – uma mansão de solidão e tristeza. O rigor do isolamento e as saudades da terra e da família irão criar problemas ao jovem seminarista.


2. As férias (01/11/1979)
De regresso à aldeia de Linhares, António irá reencontrar o mesmo ambiente e as mesmas pessoas. Ele, porém, sente-se um estranho, apesar de a madrinha tentar integrá-lo naquela que irá ser a sua nova vida. António tenta, em vão, explicar à madrinha que não sente vocação eclesiástica, mas D. Estefânia ameaça-o de forma velada. No dia-a-dia, marcado por missas e terços, meditações e exames de consciência, António ainda encontra tempo para uma “fuga” à casa da mãe, ou um olhar furtivo à criada Carolina. Mas as férias chegam ao fim e a lembrança do seminário torna-se mais pungente.


3. O regresso (08/11/1979)
Com o retorno ao seminário, António regressa à rotina das lentas marchas pelos claustros gélidos, ao levantar de madrugada, aos tampos frios de mármore do refeitório e às aulas. O ambiente do seminário ficará ainda mais opressivo, após a tentativa de fuga de alguns seminaristas. As revelações de um criado, antigo seminarista, a expulsão de um colega e castigos injustos adensam ainda mais a tristeza de António.


4. A fuga (15/11/1979)
O tempo vai passando e António espera em vão uma mudança na sua vida. De novo em férias, vai visitar a mãe, a quem confessa uma vez mais que não tem vocação para ser padre: quer ter um lar, uma mulher, uma família… Ao voltar para o seminário, tudo se precipita. Uma epidemia alastra entre os seminaristas e o seu grande amigo Gaudêncio é uma das vítimas. António sente que tem de partir, de fugir daquela vida que o sufoca. Na festa de anos do Dr. Alberto, irá encontrar a sua forma pessoal e premeditada de resolver o problema…

Série inspirada no romance de Vergílio Ferreira, publicado em 1954 e baseado em aspetos autobiográficos dos tempos de adolescência do autor, vividos no Seminário Menor do Fundão.

Manhã Submersa descreve o despertar para a vida de uma criança, entre a austeridade da casa senhorial de D. Estefânia, a neve e a sensualidade da sua aldeia natal, e o silêncio das paredes do seminário.

O autor negou que esta obra fosse um ataque à Religião: “Manhã Submersa pertence a uma fase da minha vida que foi ultrapassada. Liga-me à minha infância. É uma espécie de «catarse». Materialmente a experiência não foi agradável e corresponde, por isso, a uma expurgação dessa fase”.

Coube a Lauro António escrever e realizar este que foi o seu primeiro filme de ficção.

Em entrevista ao programa Regresso ao Passado, em 1991, Lauro António revelou que a escolha da obra se deu pelo facto de ter ficado para sempre marcado pelo romance, que leu quando tinha 12 anos de idade.

Inicialmente, este filme tinha um subsídio do Instituto Português de Cinema e seria somente destinado ao circuito comercial, com a duração de duas horas. Lauro António planificou o trabalho para uma máquina de 35 mm e com película colorida. Mas as dificuldades surgiram, sobretudo de ordem financeira, e apareceu um segundo projeto: rodar também para a televisão, em 16 mm, também a cores.

Foi assim que, paralelamente à rodagem da longa-metragem, Lauro António pôs em prática (com outra planificação) o projeto para a RTP, anulando, de certa forma, alguns dos problemas, mas redobrando todo um trabalho.

As gravações feitas simultaneamente com duas câmaras

Em comparação com o filme, Lauro António definiu a série desta forma: “é mais desenvolvida, tem mais peripécias, enquanto o filme tem, talvez, uma outra contenção e, sobretudo, uma outra construção”. No seu entender, tinha sido “um erro apresentar na televisão filmes exclusivamente rodados para o cinema”, citando como exemplo desse erro o caso de Amor de Perdição, de Manoel de Oliveira.

A versão para televisão contou com 4 episódios de 50 minutos cada, a cores, para além de uma média-metragem, a preto e branco, com o título de Vergílio Ferreira numa Manhã Submersa.

No plano inicial, as quatro partes deste último filme seriam curtas-metragens que antecederiam cada um dos episódios da série. Contudo, acabou por servir como introdução, sendo exibido uma semana antes da estreia, no dia 18/10/1979.

Nesta introdução, Vergílio Ferreira falou, ele próprio, da sua obra e vida, com especial enfoque na sua infância em Melo, aldeia do concelho de Gouveia, na Beira Alta.

O filme mostrou também o momento em que o autor regressou ao Seminário Menor do Fundão, que, nessa altura, se encontrava ocupado por famílias carenciadas vindas de Angola. Vergílio Ferreira circulou pelas várias dependências do seminário e visitou antigos colegas que enveredaram pelo sacerdócio.

Vergílio Ferreira e Lauro António junto ao velho seminário

Em 1975, Lauro António já realizara um documentário de 14 minutos sobre o escritor, intitulado Prefácio a Vergílio Ferreira, com narração do próprio.

Lauro António propôs a Vergílio Ferreira uma atuação no filme, no papel de Reitor. O autor não só não se opôs à ideia, como acompanhou de perto o trabalho de adaptação, dando total liberdade ao realizador, mas participando na escolha de atores e na opção dos lugares de filmagem.

Vergílio Ferreira no papel de Reitor

Por não reunir o Seminário do Fundão as condições necessárias às filmagens e devido à sua distância da capital, Lauro António optou por filmar noutra locação, nos arredores de Lisboa.

Os claustros que aparecem são do Museu Nacional do Azulejo.

Já as cenas na casa de D. Estefânia foram filmadas no Palácio-Hotel de Seteais, em Sintra.

O ator Carlos Alberto Macedo, que se dedica sobretudo a dobragens, fez o papel de um dos jovens seminaristas.

A menina Mariazinha foi vivida pela jornalista Alexandra Prado Coelho, filha do Prof. Eduardo Prado Coelho e enteada de Lauro António.

Alexandra Prado Coelho no filme...
... e na atualidade

Na semana seguinte ao último episódio (22/11/1979), foi exibido um debate sobre a série.

O filme chegou às salas de cinema em 1980. Ganhou alguns prémios e foi selecionado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro (1981).

Em abril de 1983, foi exibido na RTP 2, na rubrica Cabra Cega. Nessa altura, realizou-se novo debate, subordinado ao tema “As vocações”. Nele participaram o jornalista Afonso Praça, o Dr. Abílio Tavares Cardoso, antigo reitor do Seminário dos Olivais, e o padre Feitor Pinto. A moderação esteve a cargo do jornalista José Manuel Barroso.

Em 1984, a série foi reposta entre 17/10/1984 e 07/11/1984, novamente na RTP 2, às quartas-feiras, às 20:00.

O edifício do velho seminário foi restaurado e ampliado para ser convertido no Hotel Príncipe da Beira.

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