Sebastião Ribeiro (João Perry) simula a própria morte, fazendo explodir o laboratório onde trabalha, em França. Com o passado envolto numa nuvem de fumo e vítima de uma doença fatal – pensa ele –, regressa à terra onde nasceu e onde pretende morrer, Ribeira dos Anjos. A vila, outrora uma importante instância balnear, definha numa pacatez modorrenta de uma completa paz dos anjos. Esse cenário de encantos amargurados testemunha a guerra por tudo e por nada entre o engenheiro Arsénio Mota Costa (António Montez), o industrial mais próspero da cidade, e o presidente da Junta de Freguesia, Maurício Lourosa (José Gomes). O que um tem de ronha, sobra ao outro em matreirice. Por entre eles, insinua-se o espírito esquentado em empáfia da Condessa Olímpia de Alencastre (Fernanda Borsatti), sempre vigilante e atenta para que nenhum deles ponha o “pé em ramo verde”.
Arsénio é casado com a espampanante Filomena (Florbela Queiroz), que tudo faz para chamar a atenção do marido, e tem uma filha, Dora Maria (Sofia Alves) a rapariga mais sensual de Ribeira dos Anjos. Com o sonho de expandir as instalações da fábrica, a afamada Bobex, o engenheiro recorre à ajuda de dois influenciadores de Lisboa: Francisco de Malva e Cunha (Filipe Ferrer) e sua esposa Mimi (Isabel Medina), cujas manigâncias exasperam qualquer um. É que, na verdade, o casal não tem um tostão furado, arrotando grandeza e influência que não tem, com uma larga prosápia.
Na Bobex, trabalha Crispim Saraiva (Manuel Cavaco), um bota-de-elástico, manga-de-alpaca, servil e demasiadamente medroso para retorquir qualquer ordem, e a sua mulher, Melita (Catarina Avelar), cujo passado é comentado à boca cheia pelas artérias de Ribeira dos Anjos. Os dois têm um filho, o furriel Constantino (Ramon de Mello), que volta à terra em ocasiões festivas. Operária da fábrica, de veia sindicalista apurada é Laurinda (Cucha Carvalheiro), casada com o dono do único táxi da vila, o abnegado Hélder (Varela Silva). O filho deles, Cândido (Diogo Infante) cumpre pena em Pinheiro da Cruz.
No dia-a-dia insípido da vila, a agitação chega do Salão Rosy, cuja proprietária, a fogosa cabeleireira Rosa Maria (Rita Ribeiro), já quase que perdeu a conta ao número de casamentos que teve no papel – tudo para ajudar no processo de naturalização de jogadores contratados pelo clube da terra, o Fluvial Ribeirense, presidido de modo quase vitalício por Arsénio, o amante de Rosa Maria. O seu último enlace deveria ter sido com o brasileiro Miltinho Pé de Canhão, mas uma troca de papelada fez com que se contraísse matrimónio com o cabeleireiro Claudionor (Miguel Mendes). Este vai tentando subir na vida com os seus negócios excêntricos, que lhe demonstram imaginação em fogo. Fulgor foi o que em tempos experimentara Quim Carreiras (Vítor Norte). Uma lesão grave precipitou-lhe o adeus ao futebol. Consolação apanhou num vício que não conseguiu mais largar – o da bebida –, lançando-se, surpreendentemente, noutra aventura: a criação de pombos. Em sonhos, parece viver a sobrinha de Rosa Maria e (até meio da trama) de Quim: a pacata Marta Sofia (Sandra Faleiro) muito apegada à leitura, para poder escapar a uma realidade maçadora que é a sua vida. A praguejar com o seu destino de manicura, anda também Raquel (Paula Pedregal), sempre de olho posto nas previsões astrológicas.
Do outro lado da rua, cuidando dos hóspedes com esmero, o Café-Pensão Central oferece boa cama e boa mesa para quem passa por Ribeira dos Anjos. Os proprietários são os Fontainhas, gente pacata, vinda de França, à procura de sossego e de paz, depois de um passado em vendaval. João Carlos (Rui Mendes) agita-se com as curvas insinuantes das hóspedes, para desespero de Teresa (Guida Maria), cujo fogacho de atriz frustrada ainda pulsa ferventemente em si. Com a libido em alta e o receio a atamancar-lhe a engrenagem, está o filho, Pedro (João Cabral), ansioso de se estrear sexualmente com a tímida e recatada professora do Colégio Ateneu, Esperança (Helena Laureano), que tenta agitar. A filha, Catarina (Ana Brito e Cunha) viu o sonho de entrar na universidade a esfumar-se por décimas, e demonstra o seu recalcamento no seu praguejar e casmurrice constantes.
Com Ribeira dos Anjos em truculência pela posse dos terrenos de um casino em ruínas, sucedem-se em catadupa acontecimentos dignos de parangonas no jornal mensal da vila, O Clarim, dirigido pelo velho Macário (Armando Cortez), cuja resistência ao progresso lhe vai causar amargos de boca. Do outro lado do patamar, fica o ganha-pão da família: o videoclube e paredes-meias a Foto Paraíso. Com pouco que fazer, António (António Assunção), filho de Macário, põe a cabeça em água à sua mulher, ao deitar largas à imaginação. Quem lhe coloca, amiúde centelha no sonho, é João Carlos Fontainhas. Reticente é a conservadora mulher de António, Lala (Estrela Novais) que tenta desfazer-lhe os devaneios, chamando-o à terra, com a cabeça em combustão com um erro do passado que ameaça vir à tona. Na ânsia de viver a sua vida tranquila, está Julinho (Ricardo Carriço), o filho do casal, traído pelo coração.
Ao chegar a Ribeira dos Anjos, Sebastião vê o destino atacá-lo à primeira esquina: o seu passado começa a vir à tona e, arrastados por rumores ferventes do seu paradeiro, dois facínoras chegam com único objetivo: levar a fórmula da cisão a frio que Sebastião criara. Ainda antes de por lá passarem, já Sebastião se antecipara, escondendo o desejado microchip na igreja, onde o padre José Eduardo (José Pedro Gomes) vai pastoreando a custo o rebanho de fiéis.
Com as névoas do passado cada vez mais claras, Sebastião afeiçoa-se a D. Fernandinho (Luís Aleluia), o sétimo conde de Alencastre, enteado da Condessa, que vem a descobrir-se ser a mãe de Sebastião. Sebastião vai tentando refazer a sua vida sentimental e ajuda Fernandinho a largar de vez as saias da “madrinha”, cuja cabeça fervilha pela organização das Festas de Santa Apolónia, cargo que lhe foi parar às mãos e que esquenta a ânsia de Filomena. Na luta pelo estatuto e pelo zelo de figurar entre os notáveis da vila em festa, Filomena levará a melhor e fará subir ao palco o desprimorado artista Manolito Caracol (Fernando Mendes) e sua bailarina Narcisa (Rosa do Canto).
Por entre a batalha dos diabos pela posse dos terrenos do casino, lutas de egos, ultrajes e máscaras, assombram o enredo as insinuantes pernas do fantasma do casino. Num jogo de máscaras onde nem tudo parece ser, comprovando-se que, de facto, em Ribeira dos Anjos se vive na proclamada Paz dos Anjos.