O Astro

Exibição:
16/10/1978 – 05/07/1979 (RTP 1)

Número de capítulos:
186

Produção:
Rede Globo (1977/1978)

Novela de:
Janete Clair

Direção geral:
Daniel Filho

Herculano Quintanilha (Francisco Cuoco) vive numa pequena cidade do interior onde, após aplicar um golpe à população local, é perseguido e obrigado a fugir, deixando para trás a mulher e o filho. Instala-se no Rio de Janeiro, onde ganha a vida como vidente e astrólogo.

Paralelamente, ficamos a conhecer a história da família Hayalla. O magnata Salomão (Dionísio Azevedo) pressiona o filho Márcio (Tony Ramos) para que assuma os negócios da família. Mas a vocação de Márcio é ser músico, o que o leva a tomar atitudes de extrema rebeldia, como atirar dinheiro pela janela do escritório ou sair de casa completamente nu, demonstrando um total desinteresse pelo dinheiro do pai.

Márcio é internado num hospício e, quando consegue fugir, o seu caminho cruza-se com o de Herculano, que aproveita o facto para se infiltrar nos negócios da família Hayalla. É no apartamento do “professor” que Márcio conhece Lili (Elizabeth Savalla), com quem acaba por se casar. Mas a felicidade do casal é interrompida por uma armação de Clô (Tereza Rachel), mãe de Márcio, que, com a ajuda de Herculano, provoca a prisão de Lili.

Entretanto, Salomão é assassinado. Procurando cumprir os desejos expressos numa carta deixada pelo pai, Márcio regressa à mansão Hayalla, torna-se presidente da empresa e casa-se com Jôse (Sílvia Salgado). Após algum tempo, Jôse adoece gravemente, acabando por falecer, proporcionando assim um reencontro entre Márcio e Lili.

As falcatruas de Herculano são desmascaradas e, procurado pela polícia, o vidente acaba por fugir para um país da América Latina, abandonando Amanda (Dina Sfat), com quem se casara. No novo território, Herculano é astrólogo particular do presidente, ocupando um lugar de grande influência. Amanda descobre o seu paradeiro e vai procurá-lo, mas desilude-se e acaba por voltar para o Rio, enquanto Herculano é aclamado nas ruas…

O Astro foi a quarta telenovela brasileira a estrear em Portugal, tendo obtido um êxito assinalável junto do público.

O episódio 119 não foi exibido no dia previsto, devido a um atraso da empresa inglesa que fazia a conversão de sistemas necessária para a exibição na RTP. A TV Guia publicou uma justificação especificando todos os pormenores técnicos. Certamente as donas de casa que leram o artigo ficaram a perceber o mesmo…

Chegou a ser cogitada a hipótese de ser gravado um final diferente para a exibição na RTP, uma vez que o assassinato de Salomão Hayalla (Dionísio Azevedo) constituía o principal mistério da novela e era difícil controlar totalmente uma revelação antecipada por parte da imprensa.

O Diário de Notícias de 22/03/1979 faz mesmo referência a uma intenção de Janete Clair em escrever o dito final. Note-se que o jornal refere que haviam decorrido três anos desde o final da novela na Rede Globo, quando efectivamente isso tinha acontecido há menos de um ano…

No entanto, acabou por ser exibido em Portugal o mesmo final que no Brasil.

Mas o caso mais inusitado sobre O Astro deveu-se a um outro crime, esse sim bem real. Aconteceu na Brandoa, concelho da Amadora, no dia 21/03/1979. Um soldado da GNR chegou a casa e, encontrando o jantar por fazer, pediu explicações à mulher, que se recusou a ir para a cozinha enquanto não terminasse a novela. A violenta discussão do casal culminou com o homicídio da mulher…

Outro caso noticiado foi o de uma miúda de 10 anos que, com uma mala cheia com 360 contos (em notas e jóias), abalou de casa de seus tios, em fuga programada para o Porto, como “vingança” pelo castigo que lhe fora imposto: não ver O Astro durante uns dias…

Na última semana da novela, a RTP 2 exibiu, no mesmo horário em que iam ao ar os derradeiros episódios, uma série de 4 programas intitulada O Astro em Debate, com apresentação do encenador Ricardo Pais.

Foi lançada uma colecção de 34 fascículos sobre a novela.

De entre as oito mil cartas recebidas por esta revista, algumas merecem especial destaque:

– Uma leitora de Camarate, arredores de Lisboa, é directa: “Sempre que vejo o Tony Ramos na televisão, sinto-me apaixonada por ele”. Faz ainda um pedido: “Vejam se eu também posso entrar na telenovela”…

– A opinião feminina sobre Tony Ramos parece ser unânime. Uma outra leitora afirma: “Eu adoro o Márcio. Cheguei a um ponto em que já não sei mesmo se estou amando um homem que nem sequer conheço”…

– Uma telespectadora de Guimarães, admiradora de Jôse (Sílvia Salgado) quer salvar-lhe a vida: “Será que posso pedir para ela não morrer?”

– Já uma leitora de Setúbal, torcendo por Lili (Elizabeth Savalla), não esteve com meias medidas: “Eu queria pedir à RTP que cortasse a telenovela, de modo a não exibir as cenas do casamento da Jôse com o Márcio” porque “eu quero que o Márcio se case com a Lili”.

– Um leitor do Porto quis “medir” as relações entre Clô (Tereza Rachel) e Herculano Quintanilha (Francisco Cuoco): “A quanto equivalem, em escudos, os 800 mil cruzeiros que a mãe de Márcio emprestou a Herculano?”. Eram quase 1600 contos…

– Um grupo de alunas de um liceu portuense faz um apelo à autora: “Sabemos que no Brasil o povo dá a sua opinião sobre o fim da telenovela e que Janete Clair ouve e atende. Nós não achamos justo que um amor como o de Amanda e Herculano termine mal. Janete Clair, como mulher, não pode ser contra o amor e aquele amor tão ardente, aquele dar-se daquela mulher soberba seriam justamente compensados com um final feliz”.

Herculano Quintanilha despertou alguma curiosidade do público em relação às ciências esotéricas, embora fosse evidente que a sua atuação era de puro charlatão, como foi afirmado pelo conhecido astrólogo português Horus (pseudónimo de Raul Lapa) em entrevista ao Se7e.

A banda sonora foi lançada em LP.

UM JEITO ESTÚPIDO DE TE AMAR – Maria Bethânia
SACO DE FEIJÃO – Beth Carvalho
ESTADO DE FOTOGRAFIA – Vanusa
NÊGA – Emílio Santiago
OLHA – Marília Barbosa
BIJUTERIAS (Abertura) – João Bosco
QUE PENA – Peninha
TROCANDO EM MIÚDOS – Francis Hime
BOI DA CARA BRANCA – Hélio Mateus
AMBIÇÃO – Rita Lee
É HORA – Djavan

Curiosamente, quando em 2007 a editora Som Livre relançou, no Brasil, uma série de bandas sonoras de telenovelas, a capa e a contracapa para o CD de O Astro foram recriadas a partir da edição portuguesa, que continha menos músicas que a original.

Foi também editado um single com o tema Oração de São Francisco, interpretado por Paulo Henrique.

A história de O Astro foi publicada numa versão romanceada em dois volumes, escrita por Eduardo Borsato, lançada pela Agência Portuguesa de Revistas.

A revista Plateia lançou dois números especiais dedicados à novela.

Após o término de O Astro, houve um hiato nas telenovelas brasileiras. Foi exibida na RTP 2 a novela venezuelana D. Bárbara, de 24 capítulos.

Em abril de 1979, chegou às salas de cinema portuguesas o filme Amante Muito Louca, protagonizado por Tereza Rachel e também com Stepan Nercessian no elenco. O filme era anunciado fazendo referência a “Clô e Alan”.

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