O Conde de Monte-Cristo

Título original:
Le Comte de Monte-Cristo

Exibição:
16/10/1980 – 20/11/1980 (RTP 1)

Número de episódios:
06

Adaptação televisiva:
Jean Chatenet

Diálogos:
André Castelot

Música:
Nino Rota

Produção:
Claude V. Coen

Realização:
Denys de La Patellière

Elenco:
Jacques Weber – Edmond Dantès (Conde de Monte-Cristo)
Carla Romanelli – Mercédès
Jean-François Poron – Gérard de Villefort
Christiane Krüger – Heloïse de Villefort
Roger Dumas – Danglars
Christine Kaufmann – Baronesa de Danglars
Manuel Tejada – Fernand Mondego (Conde de Morcerf)
Claude Brosset – Caderousse
Carlos de Carvalho – Franz d’Epinay
Marie Matile – Valentine de Villefort
Henri Virlogeux – Abade Faria
Patrick Laplace – Albert de Morcerf
Diogo Dória – Maximilien Morrel
Jean Vinci – Lucien Debray
Sigfrit Steiner – Noirtier de Villefort
Hervé Hiolle – Beauchamp
Gerhard Acktun – Benedetto
Virginie Vidal – Haydée
Wolf Ackva – De Boville
François Florent – De d’Avrigny
Carlos César – Bertuccio
Laurence Libier – Renée de Saint-Méran
Françoise Lugagne – Madame de Saint-Méran
Jean Turlier – Luís XVIII
Robert Party – Barão de Dandré
Michel Ruhl – Duque de Blacas
Yves Brainville – Salvieux
Fred Personne – Barrois
Luís Santos – Louis Dantès

Atores portugueses (não creditados):
Paulo Renato – Pierre Morrel
Sinde Filipe – Responsável da prisão
Manuel Cavaco – Guarda
Carlos Gonçalves – Guarda
Vicente Galfo – Jacopo
Isabel de Castro – Mulher de Caderousse
Elsa Wellenkamp – Julie Morrel
Luís Cerqueira – Criado
Morais e Castro – Pastrini
Vitorino – Luigi Vampa
Sérgio Godinho – Peppino
Leonor Pinhão – Eugénie Danglars
António Anjos – Coclès
Alexandre de Sousa – Guarda
Baptista Fernandes – Juiz
Curado Ribeiro – Marquês de Becqueville
Artur Semedo – Marquês Cavalcanti
Alexandre Melo
Suzana Borges

Elenco secundário:
Georgio di Nella – Diretor de gabinete
Janine Souchon – Guarda doente
Hubert de Lapparent – Telegrafista
Alexandre Oulman – Édouard
Antony Gary – Oficial
Michel Caron – Inspetor de polícia
Jacques Dichamp – Valete Busoni
Philippe Castelli – Porteiro
Paul Handford – Notário
Bernard Cazassus – Passante

1815. O barco “Faraó” chega ao porto de Marselha, coincidindo a sua chegada com a morte do comandante, que adoecera em pleno mar. O comando do navio é então assumido pelo imeadito Edmond Dantès (Jacques Weber), causando agitação e inveja no contabilista Danglars (Roger Dumas), que ambicionava assumir o posto.

Ao mesmo tempo, Dantès está apaixonado por uma catalã, Mercédès (Carla Romanelli), que é igualmente pretendida por Fernand Mondego (Manuel Tejada), seu conterrâneo. Este, para tirar Dantès do caminho, resolve aliar-se a Danglars. As intrigas vão-se avolumando e Dantès é preso, no próprio dia do casamento, com a acusação de ser bonapartista.

Na prisão, Dantès trava conhecimento com o Abade Faria (Henri Virlogeux), que lhe revela o segredo de um tesouro escondido na ilha de Monte-Cristo. Catorze anos após a sua prisão, Dantès consegue evadir-se. De novo em liberdade, chega à ilha de Monte-Cristo, onde descobre o tesouro. Não se esquece, porém, das causas da sua longa prisão, e lança-se à procura dos seus “velhos amigos”…

O Conde de Monte-Cristo

Edmond Dantès (Jacques Weber)
Filho de Louis Dantès e namorado de Mercédès. No início, é imediato a bordo do navio “Faraó” e futuro capitão do mesmo. Denunciado como espião bonapartista, é preso no Castelo de If (prisão situada ao largo da costa de Marselha), onde permanece preso por 14 anos. Após a sua fuga, realiza pacientemente os seus planos de vingança, utilizando para isso diversos disfarces.

Mercédès Herrera (Carla Romanelli)
Noiva de Edmond Dantès no início da história, fica desesperada com o seu desaparecimento. Acaba por casar-se com um conterrâneo, Fernand Mondego, que há muito a cortejava.

Fernand Mondego (Manuel Tejada)
Pescador catalão, é um dos denunciantes de Edmond Dantès, com quem rivaliza pelo amor de Mercédès. Torna-se Conde de Morcerf após uma carreira militar em Janina.

Albert de Morcerf (Patrick Laplace)
Filho de Mercédès e Fernand de Morcerf. Torna-se amigo do Conde de Monte-Cristo durante uma aventura em Roma, inteiramente manipulada pelo Conde.

Franz d’Epinay (Carlos de Carvalho)
Amigo de Albert de Morcerf. Trava conhecimento com Dantès no seu refúgio na Ilha de Monte-Cristo, onde ele se apresenta como Sindbad, o Marinheiro. Reencontra-o, mais tarde, em Roma.

Beauchamp (Hervé Hiolle)
Jovem e influente jornalista d’O Imparcial, jornal de opinião de oposição ao regime de Luís Filipe I. Amigo de Albert de Morcerf. É autor do artigo que desmascara e desonra Fernand de Morcerf.

Gérard de Villefort (Jean-François Poron)
Substituto do Procurador de Marselha que aprisiona Edmond Dantès. Automaticamente, é nomeado Procurador do Rei em Paris, por ter fornecido importantes informações acerca do desembarque de Napoleão em França, proveniente da Ilha de Elba. Dantès era portador de uma carta destinada a seu pai, Noirtier de Villefort, um bonapartista, e Gérard mantém-no preso para proteger a sua própria carreira.

Renée de Saint-Méran (Laurence Libier)
Primeira esposa de Villefort e mãe de Valentine.

Madame de Saint-Méran (Françoise Lugagne)
Mãe de Renée.

Heloïse de Villefort (Christiane Krüger) 
Segunda mulher de Villefort, de quem tem um filho, Édouard. É ambiciosa e mostra-se disposta até a matar, para tirar do caminho os possíveis herdeiros da fortuna da família.

Noirtier de Villefort (Sigfrit Steiner)
Pai de Gérard de Villefort. Importante membro do partido bonapartista, a ele estava endereçada a carta enviada da Ilha de Elba pelo Marechal Bertrand, que provocou a prisão de Dantès. Concentra todo o seu afeto na neta Valentine. Apesar da sua doença (síndrome do encarceramento), luta de forma enérgica para que ela se case com o homem que ama.

Valentine de Villefort (Marie Matile)
Filha de Gérard de Villefort, do primeiro casamento. É apaixonada por Maximilien Morrel, mas a família quer obrigá-la a casar-se com Franz d’Épinay.

Barrois (Fred Personne)
Servo de confiança de Noirtier de Villefort.

Dr. d’Avrigny (François Florent)
Médico da família Villefort, É o primeiro a detetar a origem criminosa das mortes que ocorrem na mansão da família.

Danglars (Roger Dumas)
Antigo contabilista da empresa de Morrel. É invejoso, arrivista e o principal mentor do plano contra Dantès. Muito à custa de desfalques financeiros, torna-se um rico banqueiro. Marido complacente, ele é informado sobre a política doméstica e fora do governo por Lucien Debray, amante da sua própria esposa.

Baronesa Danglars (Christine Kaufmann)
Esposa de Danglars. Teve uma relação amorosa com Gérard de Villefort, da qual nasceu um filho ilegítimo, Benedetto.

Eugénie Danglars (Leonor Pinhão)
Filha do Barão e da Baronesa Danglars.

Lucien Debray (Jean Vinci)
Secretário particular (e muito indiscreto) do Ministro do Interior. É amante da Baronesa Danglars.

Pierre Morrel (Paulo Renato)
Honesto e virtuoso armador de navios comerciais e empregador de Dantès no “Faraó”. Tem dois filhos: Maximilien e Julie. É o único a ajudar Louis Dantès após a prisão do seu filho. Dantès salva-o do suicídio, liquidando as suas dívidas com a casa de créditoThomson & French – sob a identidade de Lord Wilmore e com a “ajuda” de Sindbad, o Marinheiro.

Maximilien Morrel (Diogo Dória)
Filho de Morrel. Apaixona-se por Valentine de Villefort.

Louis Dantès (Luís Santos)
Pai de Edmond Dantès. Após a sua detenção, fica na miséria, sendo ajudado por Pierre Morrel.

Gaspard Caderousse (Claude Brosset)
Alfaiate, vizinho e amigo dos Dantès. Sabendo do plano contra Dantès, mantém-no em segredo por medo de represálias. Abandona o ofício de alfaiate e passa a gerir uma estalagem na província.

Abade Faria (Henri Virlogeux)
Padre italiano. Condenado em 1811 por crimes políticos, ele conhece Edmond Dantès no Castelo de If, onde ambos estão detidos. Tido como louco pelos guardas, faz amizade com Dantès, com quem elabora um plano de evasão. Antes de morrer, ele revela a localização de um tesouro na Ilha de Monte-Cristo, que permitirá a Dantès financiar a sua vingança.

De Boville (Wolf Ackva)
Inspetor das prisões. Ao conhecer Dantès, promete-lhe analisar o seu caso.

Haydée (Virginie Vidal)
Filha de Ali de Tepelenë – paxá de Janina, líder nacionalista grego –, foi vendida como escrava aos Turcos por Fernand de Morcerf, na sequência da sua traição. O Conde de Monte-Cristo “adquire-a” ao comerciante de escravos e leva-a para Paris com o objetivo de desonrar Fernand de Morcerf.

Bertuccio (Carlos César)
De origem corsa, é um antigo contrabandista que se tornou mordomo do Conde de Monte-Cristo. É também pai adotivo de Benedetto.

Benedetto (Gerhard Acktun)
Filho ilegítimo de Gérard de Villefort e de Hermine de Nargonne (Baronesa Danglars). Foi salvo por Bertuccio quando o seu pai ia enterrá-lo vivo, e criado com a ajuda de sua cunhada, Assunta Rogliano. Assume a identidade do príncipe Andrea Cavalcanti, num plano arquitetado pelo Conde de Monte-Cristo para atingir Danglars.

Marquês Cavalcanti (Artur Semedo)
Velho homem que desempenha o papel de pai do príncipe Andrea Cavalcanti.

1. O prisioneiro do Castelo de If (16/10/1980)
O “Faraó”, embarcação pertencente ao armador Morrel, atraca, no dia 24 de fevereiro de 1815, no porto de Marselha, proveniente de Smyrne. Tendo o capitão falecido no mar, foi o imediato Edmond Dantès que trouxe o navio a bom porto. Morrel, satisfeito, oferece-lhe o cargo de comandante do “Faraó”. Previamente, Dantès pede 15 dias de escala para casar-se com Mercédès. Contudo, Danglars, contabilista do navio, sonha ser ele o comandante do “Faraó”. Alia-se então ao alfaiate Caderousse e ao pescador Fernand, apaixonado por Mercédès, para impedir Dantès de assumir o cargo. Denunciado como agente bonapartista, Edmond é condenado e encarcerado na prisão de If, devido às maquinações dos seus inimigos. Torna-se amigo e discípulo de um dos seus companheiros de cativeiro, o Abade Faria.


2. O tesouro do Cardeal (23/10/1980)
O Abade Faria, ao morrer, lega a Dantès uma fabulosa fortuna escondida na ilha de Monte-Cristo. Após a morte do abade, Dantès evade-se a nado e é salvo por contrabandistas. Na ilha de Monte-Cristo, consegue livrar-se dos seus “salvadores”, segue à risca as instruções do abade e fica na posse do tesouro. Decide, então, vingar-se de todos os que o levaram à prisão. Disfarçando-se de Abade Busoni, encontra-se com Caderousse, que o põe a par da vida de Danglars, Mercédès, Fernand, Villefort e Morrel. Usando os mais diversos disfarces, Dantès consegue aproximar-se de todas as pessoas, tal como deseja, sem que estas reconheçam a sua verdadeira identidade.


3. O retornado (30/10/1980)
Franz d’Epinay faz escala na ilha de Monte-Cristo e trava conhecimento com o misterioso Conde de Monte-Cristo, que ali habita num palácio subterrâneo. Tempos depois, no Carnaval de Roma, o Conde reencontra-o e ao seu amigo Albert de Morcerf. Com a ajuda do bandido Luigi Vampa, o Conde arma uma situação, levando a que Albert lhe fique grato e o convide a visitá-lo em Paris. E Monte-Cristo assim o faz: três meses depois, encontra-se na capital francesa, onde dá início à sua vingança contra Danglars, Villefort e Fernand de Morcerf.


4. Os impostores (06/11/1980)
Através do telegrafista, o Conde de Monte-Cristo consegue dificultar os negócios de Danglars e introduzir no meio da sua família um ex-presidiário, de nome Benedetto, disfarçado de príncipe Cavalcanti. Benedetto é o filho ilegítimo de Villefort e da Senhora Danglars. Entretanto, a Senhora de Saint-Méran morre por envenenamento em casa do ex-genro Villefort.


5. Duas mortes súbitas (13/11/1980)
Noirtier resolve apresentar-se como o assassino do pai de Franz d’Épinay. Assim, o noivado entre Franz e Valentine fica desfeito. Caderousse procura Benedetto com o intuito de assaltar a casa do Conde de Monte-Cristo, mas Benedetto resolve matá-lo. Monte-Cristo assiste à cena disfarçado de Busoni, mas revela depois a sua verdadeira identidade. Haydée resolve denunciar Fernand de Morcerf, em plena Assembleia da Câmara dos Pares, e aquele vê-se forçado a abandonar a sala. Indignado com as acusações feitas contra seu pai, Albert de Morcerf descobre que tudo fora preparado por Monte-Cristo e desafia-o para um duelo…


6. É feita justiça (20/11/1980)
Valentine encontra-se muito doente. Benedetto revela quem são os seus pais e Villefort cai na desgraça. Como Villefort descobre que foi a sua mulher que preparou a morte da Senhora de Saint-Méran e de Barrois, esta resolve suicidar-se ao mesmo tempo que põe fim à vida do próprio filho. Por seu lado, Danglars não consegue aguentar os seus negócios e, em Roma, é preso por Luigi Vampa, que, mais tarde, o liberta, deixando-o na miséria total. Entretanto, Valentine, que todos julgam morta, encontra-se com Maximilien na ilha de Monte-Cristo. Finalmente, o coração endurecido do Conde de Monte-Cristo deixa-se tocar pelo amor de Haydée, e os dois partem para o Oriente, deixando toda a fortuna a Maximilien.

Esta série é, por muitos, considerada a mais fiel adaptação do famoso romance de Alexandre Dumas, publicado entre 1944 e 1946, em três partes, no Journal des Débats.

Nesta co-produção internacional, participaram produtoras e cadeias televisivas de diversos países:

FR3 | Europa Films (França)
Bavaria Atelier (Alemanha)
Edizioni Farnese | Rex Cinematografica (Itália)
RTP (Portugal)
Atelier Films | Juan Estelrich (Espanha)
SSR (Suíça)
RTBF (Bélgica)

A RTP participou com mais de 60 técnicos, além de numerosos atores em papéis de destaque e cerca de 1600 figurantes.

O seu papel foi também determinante na produção: as filmagens, que decorreram entre março e junho de 1979, foram realizadas em Portugal, devido à beleza dos décors naturais que o nosso país possuía, assim como ao “cansaço do público francês em ver sempre os mesmos cenários, geralmente utilizados neste género de filmes”, segundo explicação do realizador, Denys de la Patellière:

Quando, em França, fazemos um filme de época, rodamos sempre na região de Paris. E isso, sempre nos mesmos décors, porque temos autorização para uma dúzia de castelos, cinco ou seis palacetes particulares. O que acontece, então, é que todas as histórias parecem desenrolar-se nos mesmos sítios. Queria por todos os meios que o “Monte-Cristo” tivesse décors originais, que as pessoas nunca tivessem visto. Era, portanto, necessário ir rodar o filme no estrangeiro.

Encontrámos em Portugal décors soberbos que não são conhecidos dos franceses. Convinham perfeitamente ao estilo do filme, que deveria ter também interiores diferentes dos parisienses clássicos. Todos os interiores de grande classe são parecidos uns com os outros em Paris: móveis estilo Luís XV ou Luís XVI, todos iguais. Por outro lado, interessa-me utilizar atores desconhecidos em França, é agradável filmar rostos diferentes.

Denys de la Patellière durante as filmagens

Paisagens naturais e monumentos nacionais serviram, assim, de décor à superprodução. Os locais escolhidos para as filmagens incluíram:

– Porto de Peniche
– Convento de Mafra
– Grutas de Mira de Aire
– Loures
– Óbidos
– Algarve
– Forte de São João Baptista (Berlengas)
– Quinta das Torres (Azeitão)
– Sanatório Grandella (Montachique)
– Quinta da Penha Verde (Sintra)
– Palácio de Seteais (Sintra)
– Castelo de Sesimbra
– Palácio de Queluz
– Palácio dos Marqueses de Fronteira (Lisboa)
– Palácio Palmela
– Casa do Duque de Palmela
– Teatro de S. Carlos
– Teatro Nacional D. Maria II
– Hotel Avenida Palace
– Palacetes particulares

Peniche viu o seu porto transformar-se no porto da cidade francesa de Marselha no século XIX. O seu cais foi “inundado” com os típicos lampiões do fim do século passado.

Igualmente, Mafra “virou” Roma de 1838: um grandioso carnaval ao estilo da época desfilou pela rua fronteiriça ao convento de Mafra, transformada numa artéria de Roma. As fachadas dos prédios foram modificadas, reproduzindo fielmente a arquitetura daquele tempo.

Na impossibilidade de ser utilizado o grande estúdio da Tobis, a produção resolveu transformar uma garagem, para os lados de Caneças, num estúdio improvisado onde instalou o Castelo de If. Em menos de dois dias, montou-se todo um conjunto de estruturas que proporcionaram o ambiente necessário a uma prisão da época. E não faltaram os subterrâneos e os corredores para uma fuga.

As vozes dos artistas portugueses foram dobradas, depois de, nas filmagens, eles terem representado em português.

Para participar neste trabalho, Carlos de Carvalho interrompeu por alguns dias as filmagens da série Os Maias, que decorriam na mesma altura: “Estas filmagens vão ser uma espécie de férias, quando se está a fazer o papel de Carlos da Maia. Esta personagem é bastante mais fácil e tem uma certa piada”. Os Maias e O Conde de Monte-Cristo foram as únicas produções nacionais nas quais o ator, radicado em Itália, participou.

A série foi dobrada em várias línguas, visando a sua transmissão pelas televisões dos vários países co-produtores. Com trabalhos anteriores nesse domínio, Carlos de Carvalho dobrou-se em francês, inglês, espanhol e italiano.

De destacar, ainda, a curiosa participação dos cantores Vitorino e Sérgio Godinho, na pele dos bandidos Luigi Vampa e Peppino.

Independentemente do sucesso junto do público, e depois de uma forte propaganda feita pela circunstância de se tratar de uma realização com maioria de mão-de-obra nacional, a série trouxe algumas dores de cabeça aos nossos profissionais que nela participaram. Contra todas as regras deontológicas, os genéricos omitiam quase por completo o trabalho dos portugueses, sendo apenas referidos – e em situação de subalternidade – três dos mais de sessenta especialistas em tarefas diversas.

Esta situação deixou estupefactos os profissionais atingidos, tanto mais que era do seu conhecimento o envio à produção francesa de uma ficha completa, com os nomes de todos os que, pela importância da sua tarefa, teriam o legítimo direito de esperar a sua inclusão na lista do pessoal técnico do filme.

Apenas apareciam no genérico os nomes de Manuel Costa e Silva, responsável português pela produção; António Escudeiro, diretor de fotografia, relegado para terceiro lugar, depois de técnicos de imagem que não estiveram sequer em Portugal, onde se rodaram mais de 90% das cenas; e o segundo assistente de realização, José Torres.

Esquecidos ainda pela produção francesa foram muitos dos atores, também a rondar as várias dezenas.

O processo parece não ter passado do descontentamento generalizado, apesar de ter havido quem equacionasse recorrer aos tribunais de Paris para fazer valer os seus direitos, como foi o caso do diretor de caracterização, Luís de Matos.

Luís de Matos dando "os últimos retoques" em Jacques Weber

A própria RTP foi acusada de negligência, porque os contratos com a Europa Films mencionavam, supostamente, a obrigatoriedade de serem citados os nomes no genérico da versão portuguesa. Para colmatar essa falha, António Bívar, assessor da Administração, prometeu que, no último episódio, seriam acrescentados ao genérico os nomes dos portugueses, o que só não aconteceria antes porque “o genérico seria demasiado grande”…

Também os locais onde decorreram as filmagens não foram mencionados, com exceção do Palácio de Queluz. Teria havido, inclusive, acordos relativamente a algumas das localizações, como por exemplo as grutas de Mira de Aire, que condicionavam a cedência das mesmas a uma menção no genérico.

A RTP e a Agência Portuguesa de Revistas comercializaram um livro, um álbum e uma caderneta de cromos com a história em versão resumida, contendo fotografias da série.

Nestas publicações, aparecem imagens de cenas que foram suprimidas na edição, nomeadamente uma sequência em que se vê Jacopo (Vicente Galfo) com Dantès disfarçado de Lord Wilmore.

Vicente Galfo, aliás, interpretou o próprio Conde de Monte-Cristo, numa participação na telenovela Moita Carrasco, integrada no programa Eu Show Nico, em 1981.

Por sua vez, a Editora Europa-América lançou a obra original em 3 volumes, cujas capas também estampavam fotos da série.

Existem duas versões da série: uma com 4 episódios de 90 minutos, e a outra – vista na RTP –, com 6 episódios de 60 minutos, que foram exibidos às quintas-feiras à noite.

A série foi reposta às quartas-feiras, às 16:00, entre 02/07/1986 e 06/08/1986.

Em França, existe uma edição em DVD.

Para a escrita do romance, Alexandre Dumas inspirou-se na vida de Pierre Picaud, um sapateiro de Nîmes que também foi preso, vítima de uma conspiração.

A ilha de Monte-Cristo existe na realidade. É uma ilha rochosa e desabitada, situada a cerca de 80 km da Córsega.

Também o Castelo de If é real e, até hoje, um local alimentado pela fantasia de ali terem estado Edmond Dantès e o Abade Faria. Os visitantes que ali acorrem têm a oportunidade de observar duas celas unidas por um buraco escavado e procuram acreditar que estão perante uma realidade absoluta. Quando o número e a importância dos visitantes o justifica, são contratados dois figurantes que, nos próprios locais descritos por Dumas, “interpretam” a rigor os papéis dos famosos personagens.

O Abade Faria existiu mesmo, mas, ao que consta, nunca esteve preso no Castelo de If. Chamava-se José Custódio Faria, foi um religioso e cientista que nasceu na Índia em 1746 e morreu em Paris em 1819. Teve algumas passagens por Lisboa, onde aliás existe uma rua com o seu nome, no Areeiro. Foi nessa artéria que Dona Branca, a banqueira do povo, teve um dos seus escritórios.

Jacques Weber brilhou no papel de Edmond Dantès e das suas diversas identidades.

Edmond Dantès
Abade Busoni
Procurador da Thomson & French
Lord Wilmore
Sindbad, o Marinheiro
Conde de Monte-Cristo

Apaixonado pelo personagem, em 1987, o ator viveu novamente o papel do Conde, num espetáculo teatral.

Roger Dumas, que fazia o papel de Danglars, integrou o elenco de uma outra adaptação da obra, realizada em 1998 e protagonizada por Gérard Dépardieu. Aqui, fazia o papel de Coclès.

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