O Meu Pé de Laranja Lima

Exibição:
21/12/1989 – 18/08/1990 (RTP 2)

Número de capítulos:
172

Produção:
TV Bandeirantes (1980)

Novela de:
Ivani Ribeiro

Adaptação da obra de:
José Mauro de Vasconcellos

Direção:
Antonino Seabra
Edson Braga

Supervisão:
Walter Avancini

O enredo da novela centra-se em Zezé (Alexandre Raymundo), uma criança muito criativa, que recorre à imaginação para fazer face às dificuldades da sua família, que é muito pobre. A mãe, Estefânia (Lucélia Maquiavelli), apesar de doente, trabalha de sol a sol, e o pai, Paulo (Rogério Márcico), desgostoso com a situação difícil a que está votada a sua prole, não raras vezes espanca o filho, por não ter onde descarregar as suas frustrações.

Zezé e Paulo
Estefânia

Zezé recorre a um mundo repleto de fantasias que lhe permite ser feliz à sua maneira, minorando o sofrimento que teria de suportar com uma postura realista. Nessa conformidade, cria um amigo imaginário chamado Minguinho, que nada mais é do que uma árvore, o pé de laranja lima aludido no título do livro e da novela. Com ele Zezé conversa diariamente, acreditando estar perante alguém que o ouve melhor do que qualquer outra pessoa da sua família, não obstante os laços afetivos muito fortes mantidos com as suas duas irmãs, Jandira (Baby Garroux) e Godóia (Cristina Mullins).

Jandira
Godóia

É neste contexto de menino travesso e inventivo que Zezé conhece Manoel (Dionísio Azevedo), um português de idade um tanto avançada com quem se desentende numa primeira abordagem. Manoel é muito zeloso da limpeza e da integridade do seu automóvel, suscitando comentários humorísticos por parte de Zezé, que logo criam alguma animosidade entre os dois. No entanto, passada essa primeira impressão, uma amizade muito forte começa a crescer. Manoel percebe que Zezé é uma criança carente e que as suas travessuras são uma maneira de chamar a atenção. Por seu turno, Zezé encontra em Manoel uma pessoa adulta disposta a ajudá-lo quando ele precisa e a única com quem pode falar do seu mundo sem ser olhado de través.

Zezé e Manoel

Manoel revela-se uma pessoa sem preconceitos, que sabe ouvir e conversar de igual para igual, apesar da diferença de idade, enquanto Zezé conhece pela primeira vez a generosidade de um ser humano real, cujas palavras reconfortantes não são produto da sua imaginação.

No entanto, de forma inesperada, Manoel tem um acidente de viação e morre, causando a Zezé um desgosto que ele nunca tinha experimentado. Zezé entra em depressão e cai de cama durante vários meses. É nesta altura que o seu pai começa a compreendê-lo, apercebendo-se do elo que o ligava ao “portuga”. Quando Zezé se recupera do trauma, é surpreendido com a notícia de que o seu pé de laranja lima terá de ser cortado para facilitar a construção de uma estrada. Contudo, os apelos dos moradores conseguem reverter o teor da decisão e a obra pública é construída em outra zona, para grande alegria de Zezé, que continuará a ter em Minguinho o seu amigo grande e confidente.

O Meu Pé de Laranja Lima conta a história do menino Zezé, já conhecida de quantos tinham lido o livro de José Mauro de Vasconcelos ou assistido ao filme de Aurélio Teixeira. A película de 1970, por sinal, já era à data um verdadeiro clássico, tal como o livro, tendo passado nos cinemas portugueses em diversas ocasiões, bem como na programação da RTP, designadamente no dia 01/11/1984.

Importa salientar que esta novela, datada de 1980, é um remake de uma outra, também assinada por Ivani Ribeiro dez anos antes. Em 1999, a Rede Bandeirantes voltou a gravar a mesma história, com Caio Romei e Gianfrancesco Guarnieri nos papéis principais, e a adaptação ficou a cargo de Ana Maria Morehtzon. No entanto, apesar de o nome de Ivani Ribeiro não ser creditado nesta adaptação, o telespectador atento, que conheça a obra de José Mauro de Vasconcelos, reparou sem grande dificuldade que a novela não era apenas baseada na obra literária, mas nas novelas de 1970 e 1980. De facto, a maioria das personagens desta versão não existem no livro e foram retiradas dos textos de Ivani Ribeiro.

Importa, pois, salientar que a autora não se limitou a adaptar para televisão a obra de José Mauro de Vasconcelos, tendo introduzido novas personagens, como o padre Rosendo (Elias Gleizer), a professora Cecília (Regina Braga), o resmungão Caetano (Dante Rui) ou o mexeriqueiro Gabriel Garcia (Sérgio Ropperto), e inúmeras situações que não existiam no livro. Em suma, Ivani Ribeiro criou uma trama ideal para o público infanto-juvenil sem trair a ideia original.

Padre Rosendo
Cecília

Alguns temas polémicos foram tratados, embora com muita subtileza, como a violência familiar ou a tolerância religiosa, discutida através da amizade entre Manoel e o padre Rosendo, que durante a trama corre o risco de ser denunciado ao bispo por receber em casa um homem ateu.

Diferentemente do que sucede no livro e no filme, Ivani Ribeiro, depois de muito sofrimento, reservou a Zezé um final menos infeliz. De acordo com a história original, o pé de laranja lima é abatido quando Zezé se vê privado da amizade de Manoel. Na novela, contudo, o pé de laranja lima foi poupado e Zezé pôde continuar a conversar com o seu “Minguinho”.

Com uma produção mais modesta, quando comparada com as outras telenovelas que passavam à época, O Meu Pé de Laranja Lima obteve um relativo sucesso. Se até esta altura as novelas que passavam em compacto ao fim-de-semana, na RTP 2, eram as do horário do meio-dia, com o final de Amor com Amor se Paga, também de Ivani Ribeiro, a RTP optou por repetir, ao sábado de manhã, O Meu Pé de Laranja Lima e não Fera Radical. Isto deveu-se ao facto de as novelas da Globo terem passado a ser adquiridas pela RTP em versões cujos capítulos tinham 50 minutos de duração, o que, num compacto semanal, ocuparia um tempo excessivo na programação. O Meu Pé de Laranja Lima, por sua vez, tinha capítulos substancialmente mais curtos.

A partir de abril, o compacto passou a ser transmitido ao fim da noite, gerando algum espanto, por se tratar de uma novela dirigida essencialmente a telespectadores de tenra idade.

Programação de 30/06/1990

Outra curiosidade digna de nota foi o facto de a atriz Maria Ferreira, que interpretava a personagem Helena, ter sido substituída a meio da trama por Ivanice Sena, sem que houvesse qualquer semelhança física entre as duas.

Maria Ferreira

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