O Passeio dos Alegres

Exibição:
1.ª temporada: 15/02/1981 – 26/07/1981 (RTP 1)
2.ª temporada: 25/10/1981 – 27/06/1982 (RTP 1)

Número de programas:
58

Autoria e apresentação:
Júlio Isidro

Produção:
Piedade Maio

Realização:
José Nuno Martins
João Serradas Duarte
Luís Filipe Costa

Estávamos no início de 1981 quando surgiu este que foi um dos maiores fenómenos televisivos de sempre da televisão portuguesa. Maria Elisa lançou o desafio e Júlio Isidro aceitou: em pouco mais de uma semana e com um orçamento limitado, teria de criar um programa de entretenimento que ocupasse 4 a 5 horas nas tardes de domingo.

O Passeio dos Alegres tinha como objetivo criar entretenimento que reunisse a família portuguesa em frente ao ecrã, em contraposição ao habitual “passeio dos tristes” que alguns faziam ao domingo à tarde, reduzindo desta forma o consumo de combustível, uma das principais preocupações do Ministério da Energia.

Transmitido, em direto, a partir do Estúdio 1 do Lumiar, O Passeio dos Alegres era preenchido com muita música e passatempos, mas incorporava também a exibição de outros programas.

Assim, nas primeiras 18 emissões, tínhamos um filme de fundo, que ia sendo transmitido ao longo da emissão.

Havia ainda espaço para séries de cariz humorístico como Os MarretasA Pantera Cor-de-Rosa ou The Goodies.

Na rubrica “Peça que passa”, foram mostrados diversos telediscos.

A informação não ficou esquecida, havendo um bloco noticioso com apresentação de Carlos Franco.

Contudo, o prato forte eram as rubricas e passatempos saídos da imaginação de Júlio Isidro. Um dos mais populares foi “O Artista Sou Ele” (rebatizado de “Papel Químico” na segunda temporada), que consistia em imitações de cantores ou grupos musicais famosos, em que os concorrentes deveriam caracterizar-se o mais fielmente possível como os cantores que pretendiam imitar.

Ao longo de ano e meio de emissões, O Passeio dos Alegres foi palco para grandes nomes da música portuguesa, mas também revelou novos talentos na rubrica “Pontapé de Saída”. Um caso frequentemente citado é o de António Variações. Como é sabido, antes de se tornar conhecido como cantor, António Variações era barbeiro, e foi enquanto cortava o cabelo a Júlio Isidro que lhe falou do seu gosto pela música. No dia 03/05/1981, deu-se, nesta rubrica, a sua primeira passagem pela televisão.

A primeira série tinha como mascote um papagaio chamado Baixinho, cuja voz era feita por João Henriques Oliveira Duarte, professor de ginástica no Ginásio Clube Português. O seu talento foi descoberto por Júlio Isidro um pouco por acaso: “Durante uma aula de ginástica, o Júlio Isidro disse-me que precisava de um indivíduo que fizesse a voz de um papagaio. Como eu tenho o hábito de contar anedotas de papagaios usando uma voz adequada, mostrei-lhe como o fazia e ele achou que era o necessário. Daí, gravei logo o genérico, seguindo-se uma experiência que, no fim das 24 sessões, posso dizer que foi agradável”.

Nos primeiros programas, Júlio Isidro usava, para atender as chamadas dos telespectadores, um telefone portátil, cuja utilização foi entretanto censurada pelos serviços telefónicos, sob a ameaça de ser interrompida a transmissão.

Finda a primeira temporada, foi anunciado que Júlio Isidro regressaria com um programa nos mesmos moldes, com o título de Mais Vale a Tarde. Contudo, acabou por ser mantido o título original.

Uma das novidades da nova temporada prendeu-se com Herman José, que passou a ocupar um espaço próprio, fazendo duas ou três rábulas por programa. As principais figuras incorporadas eram Tony Silva (um cantor de música ) e Salette Pureza (uma encantadora brejeira).

Júlio Isidro com Tony Silva...
... e com Salette Pureza

Para além de Salette Pureza, apareciam em cenas alguns familiares seus, como Cipriana Pureza e Nelito Pureza.

Com Cipriana Pureza...
... e com Nelito Pureza

Estes “bonecos” ficaram para a posteridade, sobretudo Nelito Pureza e Tony Silva, que reapareceram em O Tal Canal (1983/1984).

O sucesso de Tony Silva complementou-se com uma crónica escrita no semanário Se7e.

Nesta nova temporada, a mascote principal passou a ser Xoné, um chimpanzé, surgindo como a consciência crítica do programa. Nas palavras de Júlio Isidro, Xoné seria “o fim da macacada”.

O Baixinho manteve-se no programa como correspondente do Passeio no Brasil.

Nesta fase, ambas as vozes eram feitas por José António de Sousa (filho de Max), que deu as caras no último programa.

Álvaro Patrício foi o criador das versões das mascotes em desenho.

O macaco Xoné era, na realidade, uma macaca chamada Joana.

Foram distribuídos prémios – “Baixinhos de ouro” e “Xonés de ouro” – a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para o grande sucesso do programa, incluindo a equipa técnica e alguns convidados.

As atuações do “Pontapé de Saída” eram avaliadas por um júri composto por “cinco magníficos”, presidido por Asdrúbal Tudo-Bem (Herman José).

Inicialmente, os quatro vogais eram:

Anucha Mil-Homens
(Ana Bola)

Silvina Tigresa
(Lídia Franco)

Morais & Morales
(José Severino)

Janeca Penso Rápido
(Vladimiro Franklin)

Lídia Franco foi obrigada a ausentar-se e, no seu lugar, entrou D. Dores Paciência (Margarida Carpinteiro), um dos maiores destaques de O Passeio dos Alegres.

D. Dores Paciência
(Margarida Carpinteiro)

Margarida Carpinteiro revelou à TV Guia que D. Dores Paciência fora a personagem que, até à altura, mais gostara de interpretar, pois dera-lhe a oportunidade de dizer coisas que considerava importantes.

O personagem Morais & Morales retirou-se, mais tarde, marcando o regresso de Silvina Tigresa. A sua saída deu-se sem grandes explicações, gerando mesmo o boato de que o motivo teria sido o tom excessivamente crítico que aquele imprimia às suas intervenções. Contudo, o seu intérprete, José Severino, reapareceu no último programa.

Independentemente das opiniões manifestadas, a avaliação do júri somava sempre 2222 pontos.

Foi também n’O Passeio dos Alegres que surgiu o Avô Cantigas, figura criada por Carlos Alberto Vidal, dedicada aos mais pequenos, e que se tornaria a sua principal identidade enquanto cantor.

O primeiro programa no exterior foi o do dia 10/01/1982, no Casino de Monte Gordo, para euforia da população local, embora as condições de captação da RTP no Algarve não fossem, nessa altura, as mais satisfatórias, e se pudesse ver muito melhor a televisão espanhola. Segundo opiniões de técnicos, a causa da má visibilidade devia-se a interferências, nomeadamente as que vinham do Norte de África, em particular de Marrocos.

No início de 1982, uma novidade na ficha técnica: Luís Filipe Costa passa a assinar a realização, sucedendo deste modo a João Serradas Duarte e tornando-se o terceiro realizador do Passeio (o primeiro fora José Nuno Martins, aquando do arranque do programa).

Os últimos quatro programas foram transmitidos a partir do Teatro Aberto, à Praça de Espanha, logo com uma assistência em número maior do que era habitual.

No derradeiro programa, Júlio Isidro apresentou um “relatório de contas”, com algumas curiosidades sobre o programa, nomeadamente a poupança de combustível que teria sido conseguida com as excecionais audiências, e a contagem de artistas que por ali passaram.

Em entrevista ao diário A Capital, em maio de 1982, Júlio Isidro referiu que, durante O Passeio dos Alegres, “nunca saiu um dólar para o estrangeiro, pois os artistas que vêm de fora, são borlas. A televisão nunca lhes pagou nada. A sua vinda e atuação no programa são fruto apenas do relacionamento das editoras comigo”.

Júlio Isidro com a produtora Piedade Maio

O último programa encerrou com imagens de Júlio Isidro a ir para o camarim, ao som do seu “hit” Pizza 4 Estações.

O Passeio dos Alegres contou com a visita de inúmeras figuras públicas, tendo Amália Rodrigues sido uma das mais marcantes.

Quando foi ao Passeio, Carlos Paião declamou um poema que ele próprio escrevera em homenagem ao programa.

Foram vários os lançamentos no mercado discográfico ligados ao programa:

– Single de Tony Silva, o grande criador de toda a música ró:

– Single com os temas das mascotes – o Samba do Baixinho e o Batuque do Xoné:

– Tema de D. Dores Paciência:

– Álbum do Avô Cantigas:

Em outubro de 1982, Júlio Isidro regressou com um novo programa, Festa É Festa, exibido aos sábados.

Júlio Isidro fez uma reedição d’O Passeio dos Alegres em 2002.

Em 16/04/2010, a RTP Memória dedicou um dia aos 50 anos de carreira de Júlio Isidro e foi exibido o último O Passeio dos Alegres, o único que sobreviveu nos arquivos da RTP.

No livro O programa segue dentro de momentos, autobiografia de Júlio Isidro, quase 100 páginas são dedicadas ao Passeio dos Alegres, embora alguns dos factos que lhe são atribuídos tenham acontecido nos programas Festa É Festa A Festa Continua.

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