O Processo de Camilo e Ana Plácido

Exibição:
20/10/1990 – 03/11/1990 (RTP 1)

Número de episódios:
03

Guião:
Luiz Francisco Rebello

Produção:
Luísa Maria Jacinto

Realização:
Herlânder Peyroteo

Elenco

Glória Férias – Ana Plácido
Luís Vicente – Camilo Castelo Branco
Eduardo Galhós – Manuel Pinheiro Alves

O tribunal:
Benjamim Falcão – Dr. Pinto Basto
Joaquim Rosa – Dr. Couto Magalhães
Mário Jacques – Dr. Marcelino de Matos
Carlos César – Dr. Guedes de Carvalho
Norberto Barroca – Miranda de Lemos
João d’Ávila – Custódio Vieira
Rui Anjos – Oficial
Mendes da Silva
Manuel Seleiro – Jurado

Testemunhas:
Couto Viana – Joaquim Pinto Leite
Rui Pedro – Agostinho Velho
Igor Sampaio – Joaquim José Ferreira
Álvaro Faria – Vieira de Castro
Orlando Costa – Novais Vieira
Mário Sargedas – Luís Pereira da Silva

E:
Mariana Villar – Eufrázia
Júlio Cardoso – Burguês
António Capelo – Marido
Lurdes Rodrigues – Mulher
Luís Beira – Amigo de Camilo
Agostinho Macedo – Frequentador do Palheiro
Carlos Lacerda – Frequentador do Palheiro
Amadeu Costa

Comediantes:
Estrela Novais – Ana Augusta
Jorge Sousa Costa – Eduardo
José Brás – João Pinto
Tomás Gonçalves
José Escaleira

Manuel Pinheiro Alves (Eduardo Galhós) assiste à peça O Último Ato, da autoria de Camilo Castelo Branco (Luís Vicente), e sente-se ofendido, uma vez que o escritor resolveu adaptar para cena o seu próprio drama conjugal, batizando a protagonista de Ana Augusta, nome daquela que o trai à vista de todos.

Ficamos, portanto, ao corrente de que Pinheiro Alves desposou Ana Augusta Plácido (Glória Férias) quando ela tinha dezoito anos e ele quarenta e três, após um arranjo combinado entre as famílias. O casamento não foi feliz e Ana acabaria por se envolver com Camilo, sendo precipitada a sua partida para a casa de Agostinho Velho (Rui Pedro), um conhecido de Pinheiro Alves, até que as poeiras assentassem.

Contudo, Eufrázia (Mariana Villar), hospedeira e amiga de Camilo, faz-se passar por prima de Ana Plácido, para a poder visitar e combinar a melhor forma de os amados se reunirem. Os dois irão morar em diversos lugares, até Ana Plácido, por pressões de Pinheiro Alves, ingressar num convento a título provisório, onde fica pouco tempo, uma vez que Camilo a resgata para viver com ela maritalmente.

Indignado, Pinheiro Alves conclui que, perante a vergonha pública, apenas lhe restam duas saídas: um duelo ou a instauração de um processo-crime, onde ela seja acusada de adultério e Camilo de manter relações com mulher casada.

Ana Plácido é presa e fica encarcerada durante um ano e meio, enquanto Camilo permanece na mesma cadeia (da Relação no Porto) por pouco mais de um.

O juiz do processo seria, à partida, Teixeira de Queirós, que é substituído pelo magistrado Pinto Basto (Benjamim Falcão), provavelmente devido à conhecida tolerância do primeiro para com casos análogos.

Começa o julgamento, na cidade do Porto, que monopoliza a opinião pública. Todos querem saber, perante os factos, qual será a decisão. Enquanto o advogado de defesa, Marcelino de Matos (Mário Jacques), pugna pela inexistência de qualquer razão para condenar os seus constituintes, o causídico da acusação, Couto Magalhães (Joaquim Rosa), espera que seja decretado o degredo. Curiosamente, a intervenção do delegado do Ministério Público (Carlos César) não é demasiado incisiva, dada a matéria tocar questões de consciência e não ter havido flagrante delito ou confissão.

Camilo e Ana Plácido negam ter praticado qualquer crime e, sem entrarem em pormenores, afirmam não haver nada de que possam ser acusados.

Ana Plácido e Camilo no julgamento

Ouvidas várias testemunhas e apresentada uma carta escrita por Ana Plácido a um tio, o júri reúne-se e é dado o veredicto, lido pelo juiz Pinto Basto: Ana Plácido e Camilo são absolvidos por falta de provas, devendo o queixoso pagar as custas do processo.

Nessa sequência, Camilo e Ana Plácido ficam livres para viver a sua paixão, mas a vida não lhes revela boas surpresas. Ambos têm dois filhos, mas um enlouquece e o outro torna-se irresponsável. Escrevendo compulsivamente para se sustentar, Camilo sente que a vista a pouco e pouco lhe escasseia. Um dia sela a promessa de se suicidar caso fique cego.

O tiro fatal é disparado na têmpora direita, no dia 1 de junho de 1890, na casa de São Miguel de Seide.

Camilo Castelo Branco (Luís Vicente)
Afamado romancista do século XIX. Diz-se ter sido um dos primeiros portugueses a viver exclusivamente do seu ofício de escritor. A sua obra é moldada por uma vida atribulada, sobretudo no que aos amores diz respeito. Um romance proibido com Ana Plácido conduzi-lo-á à prisão, tornando-o protagonista de um dos mais mediáticos processos da Justiça Portuguesa.

Ana Augusta Plácido (Glória Férias)
Aos 18 anos, contrai matrimónio com Manuel Pinheiro Alves, 24 anos mais velho que ela. Seis anos depois, conhece Camilo num baile e com ele inicia uma relação extraconjugal, incorrendo, por conseguinte, em adultério, um crime punível com prisão.

Manuel Pinheiro Alves (Eduardo Galhós)
Abastado comerciante portuense, desposou Ana Plácido. Desonrado e ferido no seu orgulho, aconselhado pelo seu advogado, move um processo contra os adúlteros.

Dr. Jerónimo Pinto Basto (Benjamim Falcão)
Magistrado que preside ao julgamento do processo de adultério. Conservador e dono de princípios rígidos.

Dr. Couto Magalhães (Joaquim Rosa)
Advogado de acusação, ao serviço de Manuel Pinheiro Alves.

Dr. Marcelino de Matos (Mário Jacques)
Advogado de defesa de Camilo e Ana Plácido.

Custódio José Vieira (João d’Ávila)
Assistente do Dr. Marcelino de Matos na bancada da defesa.

Dr. Manuel Guedes de Carvalho (Carlos César)
Delegado do Ministério Público. Fidalgo de alta linhagem, grande respeitador da justiça, insensível a influências. Defende que o julgamento seja feito à porta fechada.

Miranda de Lemos (Norberto Barroca)
Procurador, simpatizante da causa de Manuel Pinheiro Alves, acompanha de perto o processo de adultério. É um dos frequentadores do Palheiro, sala reservada da Assembleia Portuense, onde se conspira contra Camilo Castelo Branco.

Joaquim Pinto Leite (Couto Viana)
Comerciante, amigo de Manuel Pinheiro Alves. Depõe contra Ana Plácido, afirmando que são inegáveis as evidências do adultério.

Agostinho Francisco Velho (Rui Pedro)
Amigo de Manuel Pinheiro Alves. Oferece-se para hospedar Ana Plácido na sua casa, durante uns dias, tentando reconduzi-la ao bom caminho e ao abandono da sua condição de adúltera.

Dr. Joaquim José Ferreira (Igor Sampaio)
Médico de Camilo e Ana Plácido. Depõe a favor do escritor.

Vieira de Castro (Álvaro Faria)
Amigo de Camilo Castelo Branco e de Ana Plácido, visita-os regularmente na cadeia. Acobertou Camilo e escreveu vários artigos – não assinados – em sua defesa, para o jornal Nacional.

João Augusto Novais Vieira (Orlando Costa)
Jornalista portuense. É inimigo de Camilo, sendo o seu testemunho no julgamento recusado pelo juiz.

Eufrázia Carlota de Sá (Mariana Villar)
Dona da hospedaria onde Camilo vive. Fazendo-se passar por prima de Ana Plácido, leva-lhe um recado do amante, quando ela se encontra a viver em casa de Agostinho Velho.

1. (20/10/1990)
Manuel Pinheiro Alves, abastado comerciante do Porto, assiste, num teatro de Lisboa, à representação de um drama de Camilo Castelo Branco, que sabe ser amante da sua mulher, Ana Augusta Plácido. Indignado, reconhece-se a si próprio e aos dois amantes nas personagens da peça, resolvendo processá-los pelo crime de adultério. Camilo e Ana Plácido são presos e aguardam o seu julgamento na Cadeia da Relação do Porto, onde são visitados por um amigo, o jovem escritor Vieira de Castro.


2. (27/10/1990)
Dá-se início ao julgamento, após várias peripécias e uma tentativa frustrada de acordo entre as partes. O juiz ordena que a audiência seja secreta, o que indigna o numeroso público. Camilo e Ana Plácido são interrogados pelo juiz, pelo Ministério Público e pelos advogados de acusação e defesa. Em flashback, são mostradas cenas dos primeiros tempos da sua relação.


3. (03/11/1990)
O julgamento continua e as testemunhas indicadas pela acusação e defesa prestam declarações, que servem para reconstituir os passos do doloroso percurso efetuado pelos dois amantes, até ao momento da sua prisão. Uma das testemunhas evoca a visita que o rei D. Pedro V efetuou à cadeia da relação e encontro que ali teve com o romancista. Depois das vibrantes alegações dos advogados, o júri considera Camilo e Ana Plácido não culpados do crime de adultério.

Esta minissérie foi transmitida pela RTP no âmbito das comemorações do centenário da morte de Camilo Castelo Branco.

Foi retratada a história verídica do processo judicial que envolveu o romancista e a sua amante, Ana Augusta Plácido, acusados de crime de adultério. A ação judicial, que apaixonou a sociedade burguesa portuense do século XIX, foi movida pelo marido de Ana Plácido, Manuel Pinheiro Alves, que se sentiu indignado por ver “denunciada” em palco a infidelidade da mulher.

A história de amor de Camilo com Ana Plácido começou em 1850, altura em que os dois se encontraram, pela primeira vez, num baile da Assembleia Portuense. Envolvidos sentimentalmente, os dois amantes viveram sem preocupações até 1859, data em que foi instaurado o processo.

O realizador, Herlânder Peyroteo, descreveu este trabalho como um “docudrama”, por se basear em factos e documentos reais.

As filmagens decorreram em Sintra e no Porto, e a cena inicial, aquela em que Pinheiro Alves vai assistir à representação da peça que motivou o processo, foi rodada no Teatro Sá de Miranda, em Viana do Castelo: “Viana foi uma opção nossa, uma vez que o Teatro D. Maria, depois do incêndio e das obras, já nada tem a ver com o que era. Como em Lisboa também tivemos algumas dificuldades, devido ao nosso calendário de produção, optámos pelo Teatro Sá de Miranda”.

Segundo a produtora Luísa Maria Jacinto, a estreante Glória Férias tinha o perfil ideal para interpretar Ana Plácido: “[…] a solução de compromisso entre aquela mulher horrorosa que o Camilo dizia ter uma beleza extraordinária. Portanto, arranjámos uma mulher que não é excessivamente bonita e que tem o mesmo ar possante que tinha a Ana Plácido”.

O tribunal onde Camilo foi julgado – na Praça D. Filipa de Lencastre, na esquina com a Rua da Picaria – já não existe. Era, na altura das gravações, uma estação de camionagem e uma pastelaria.

As cenas passadas na cela foram feitas em estúdio. No edifício original da Cadeia da Relação apenas foi gravada a passagem do rei D. Pedro V pelos corredores aquando da sua visita à cadeia, na altura em que Camilo lá estava preso.

No Porto, decorreram ainda gravações no Teatro São João, de um excerto da representação da peça de teatro de Camilo que desencadeou todo o processo: “Como há a coincidência da estreia da peça no São João, no mesmo dia em que se inicia o processo, decidimos vir aqui gravar um excerto”, referiu a produtora.

Em São Miguel de Seide, mais precisamente na casa onde Camilo e Ana viveram, foi feito um remate da série, com um comentário sobre as fotografias que lá se encontravam.

Da autoria de Luiz Francisco Rebello, o texto do teledramático foi publicado em livro em 1994. O conceituado dramaturgo foi, por esta obra, galardoado com o Grande Prémio de Teatro relativo a esse ano.

A história deste amor conturbado foi também retratada na série A Ferreirinha (2004), tendo como protagonistas do triângulo João Reis (Camilo Castelo Branco), Catarina Furtado (Ana Plácido) e João de Carvalho (Manuel Pinheiro Alves).

João Reis e Catarina Furtado

A série encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

O Processo de Camilo e Ana Plácido