O Tempo

Merecendo maior ou menor destaque ao longo destas décadas que compõem a nossa história televisiva, a divulgação das previsões meteorológicas sempre esteve presente, notando-se porém alguma evolução, quer na forma de apresentação, quer no visual do respetivo programa.

Numa cena da telenovela Vila Faia (1982), D. Ifigénia (Mariana Rey Monteiro) faz uma pequena alusão ao boletim metereológico, referindo ser este o seu programa de televisão preferido.

Nos primórdios, havia um quadro verde, com os contornos geográficos, no qual o meteorologista tinha de reproduzir, a giz, toda a informação.

Anthímio de Azevedo foi o mais famoso meteorologista ao serviço da RTP, posto que ocupou desde 1964 até final dos anos 80.

Em 1983, por exemplo, o boletim meteorológico era inserido no Telejornal, mas, ainda assim, havia um propósito firme em aprofundar a informação, sendo inclusivamente apresentada a carta de prognóstico de superfície por um meteorologista creditado, que se colocava por detrás de painéis geográficos, onde tocava, com as mãos abertas, nos pontos que pretendia destacar.

Por outro lado, para além de ser feita a previsão do tempo para os dias que se avizinhavam, o apresentador aludia por vezes a fenómenos meteorológicos passados, como as baixas temperaturas do inverno de 1945 ou de 1976, comparando-as com as do ano anterior ou do ano corrente.

Não faltava também a oportuna alusão a ditados populares, cuja observação é mister ter em conta em dias de mau tempo. Cite-se a este propósito a máxima segundo a qual “vale mais chegar tarde ao destino que cedo ao hospital”.

Era recorrente o uso de termos técnicos como depressão, anticiclone, crista de altas pressões ou sistema frontal. Mesmo podendo não conhecer os fundamentos científicos de tais fenómenos, o público facilmente associava o A e o B da carta de prognóstico de superfície a bom e mau tempo, respetivamente.

No ano de 1984, a RTP voltou a ter um programa autónomo dedicado a este tema e que era transmitido após a passagem dos créditos finais do Telejornal. O genérico, que perdurou até 1986, exibia um cubo com desenhos alusivos às várias estações do ano, ao mesmo tempo que se ouvia a música correspondente à Primavera das Quatro Estações de Vivaldi.

Mais uma vez, temos um meteorologista a dar conta da previsão do tempo, mas que já não se encontra por detrás do painel e sim em frente ao mesmo, apontando para as imagens de satélite, para a carta de prognóstico de superfície ou para os mapas de Portugal continental e das regiões autónomas.

No que concerne especificamente à previsão do tempo, o apresentador ia colando cartões com um sol, nuvens brancas, nuvens pretas, pingos de água ou barras horizontais, consoante viesse a estar céu limpo, céu pouco nublado, céu muito nublado, chuva ou nevoeiro.

O programa, de um modo geral, manteve-se nos mesmos moldes durante os anos seguintes, à exceção do genérico, que ia mudando.

1986-1987
1987-1990

Para além de Anthímio de Azevedo, outros profissionais exerceram a função de apresentação do estado do tempo.

Anthímio de Azevedo
José Manuel Prista
Manuel Costa Alves
António Loureiro

No ano de 1990, desaparece o meteorologista. Continua a ser apresentada a carta de prognóstico de superfície, bem como os mapas em formato digital, onde surgem os desenhos com o sol, a nuvem e os pingos, mas quem debita a previsão é uma locutora em voz off.

1991
1993

Outra grande novidade é a introdução da previsão do tempo para os outros países da Europa, que se manteve daí em diante.

1991
1993

Foi também nesta altura que a RTP 2 passou a ter o seu próprio boletim meteorológico, anteriormente exclusivo do primeiro canal.

1990
1992

As músicas usadas como fundo, nesta fase, eram Memory of Antarctica e Antarctic Echoes, ambas interpretadas pelos Vangelis e extraídas da banda sonora do filme japonês Antarctica, de 1983.

Durante a década de 90, o boletim meteorológico foi diversas vezes arredado do horário nobre devido à guerra de audiências, que não se compadecia da perda de dois ou três minutos de publicidade. Ainda assim, continuou a fazer parte da programação, não obstante visse o seu formato e visual ligeiramente alterados.

Destarte, em 1994, passamos a ter do lado esquerdo do pequeno ecrã o mapa de Portugal Continental dividido em regiões e do lado direito imagens de bom tempo, nuvens, chuva ou neve. Ao meio, uma seta vai-se movendo na vertical entre estes quadros, indicando qual a previsão para a região assinalada a uma cor diferente.

A música de fundo continuou a ser do já referido álbum dos Vangelis, mas passou a ser usado o Theme from Antarctica.

Entretanto, as televisões privadas, que surgiram nesta época, também não foram indiferentes à necessidade de divulgar a informação meteorológica. Se a SIC lançou locutoras atraentes para desempenharem esta tarefa, a TVI resgatou os meteorologistas profissionais que haviam sido as estrelas da RTP até há uma década.

Atualmente e já há alguns anos, a previsão do tempo continua a merecer destaque, mas é apresentada nos blocos informativos, de um modo geral antes do encerramento.

Ocasionalmente, os meteorologistas que nos habituámos a ver diariamente aparecem nos noticiários para dissertar acerca de determinados fenómenos climatéricos.

Manuel Costa Alves comenta as alterações climáticas no Jornal 2 (03/11/2014)

Uma aparição curiosa foi a do Dr. Costa Alves num programa da série Isto É Magia!, de Luís de Matos, exibido em janeiro de 1993. O tema do programa era, precisamente, a “magia meteorológica”.

Desde 2007 e até há bem pouco tempo, a meteorologia dispunha de um tempo de antena mais alargado nos programas Bom Dia Portugal e Portugal em Direto, com direito à presença de um meteorologista, que apresentava a informação com o apoio de um enorme ecrã tátil.

Maria João Frada no Bom Dia Portugal (15/12/2008)

Ainda assim, muitos consideravam exíguo o tempo dedicado a esta temática, o que motivou uma discussão no programa Voz do Cidadão – o programa do Provedor do Telespectador – exibido em 05/05/2012.

Anthímio de Azevedo e Teresa Abrantes intervieram no programa, ressaltando a importância da informação meteorológica para o quotidiano de diversas atividades.

Não obstante, a RTP resolveu suspender este serviço, tendo a última apresentação por um meteorologista sido feita no dia 30/04/2014.

Teresa Abrantes na despedida do Bom Dia Portugal

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