Olhai os Lírios do Campo

Exibição:
15/10/1981 – 19/03/1982 (RTP 1)

Número de capítulos:
108

Produção:
Rede Globo (1980)

Novela de:
Geraldo Vietri
Wilson Rocha

Inspirada no romance homónimo de Érico Veríssimo

Direção geral:
Herval Rossano

Porto Alegre, 1923. Eugénio (Cláudio Marzo), um jovem estudante de Medicina, revolta-se a cada dia com a pobreza e chega a sentir vergonha pelo facto de o seu pai, o alfaiate Ângelo (Ferreira Leite), estar sempre a fugir dos credores e também por sua mãe, Alzira (Lourdes Mayer), lavar a roupa dos seus colegas. Enquanto os pais de Eugénio se sacrificam para pagar os seus estudos, deixam de lado o segundo filho, Ernesto (João Paulo Adour), que se torna um revoltado e chega a odiar o irmão.

Mas o destino coloca no caminho de Eugénio um pouco de luz ao fazê-lo conhecer Olívia (Nívea Maria), sua colega de faculdade. É ela quem vai amenizar o seu complexo de inferioridade.

Olívia e Eugénio

No entanto, este amor não impede que Eugénio abandone a sua verdadeira vocação para satisfazer a sua ambição. Ao conhecer Eunice (Thaís de Andrade), uma jovem rica e mimada, ele vê a grande chance de fazer um casamento por dinheiro e, finalmente, se ver livre da pobreza. Abandona Olívia e faz de Eunice sua mulher. Como médico, passa a exercer um alto cargo na indústria do sogro, Cintra (Sérgio Britto).

Dececionada, Olívia vai trabalhar para Nova Itália, um lugarejo a 200 km de Porto Alegre, e fica hospedada na casa da italiana Rafaela (Nair Bello). Por seu lado, Eugénio sente-se frustrado por realizar um trabalho que nada tem a ver com a sua profissão. Ele só atende doentes ricos, quando existe muita gente pobre que necessita dos seus cuidados.

Olívia com Carlo (Mário Cardoso) em Nova Itália

O conflito toma conta de Eugénio e, apercebendo-se dos erros que cometeu, pede o divórcio a Eunice. Entretanto, Olívia ficara grávida, sem que Eugénio soubesse que era o pai. Quando a menina completa três anos, Olívia adoece gravemente e acaba por sucumbir à doença. Através de uma carta de Olívia, Eugénio fica a saber que Anamaria é sua filha e toma para si a sua criação.

A novela conta também a história de Dora (Sónia Regina) e Simão (Jonas Bloch), um repórter judeu. Felipe Lobo (Jardel Filho), famoso arquiteto e pai de Dora, é radicalmente contra esta união, até ao momento em que Simão lhe salva a vida. Dora e Simão podem enfim ser felizes.

Dora e Felipe Lobo

Apesar de ter ido ao ar quando todas as telenovelas brasileiras faziam grande sucesso, Olhai os Lírios do Campo foi, provavelmente, a telenovela mais criticada entre todas aquelas que tinham sido exibidas pela televisão portuguesa até à data.

Numa época em que era vista apenas uma telenovela brasileira, ou no máximo duas, a expectativa em relação às estreias era muito maior. Quando Água Viva estava a chegar ao fim, chegou a noticiar-se a estreia de O Bem-Amado em sua substituição, uma telenovela já muito aguardada, cuja demora em chegar aos ecrãs portugueses nunca foi muito bem explicada. Porém, de um dia para o outro, foi divulgada a informação de que afinal iríamos ver Olhai os Lírios do Campo, uma produção que passara quase despercebida no Brasil.

Questionada pela TV Guia sobre a compra de Olhai os Lírios, Maria Elisa respondeu que não era tarefa fácil adaptar para televisão um livro tão emblemático como a obra mais lida de Érico Veríssimo, daí não tecer juízos de valor sobre as críticas feitas a esta novela. Por outro lado, esclareceu não ser do seu interesse que a RTP adquirisse uma telenovela do horário “das sete” ou “das oito”, dado serem produtos para grandes audiências com um cariz comercial excessivo. Portanto, a última aquisição à Globo teria de ser, com certeza, uma “novela das seis”, adaptada de uma importante obra da literatura, como, por sinal, eram à data todas as novelas desse horário. Ficou por discutir a baixa audiência de Olhai os Lírios do Campo comparativamente às outras “novelas das seis”, mas ficou implícito que a escolhida não era Ciranda de Pedra, apenas pelo facto da sua exibição na Rede Globo ainda não ter acabado.

Ciranda de Pedra estrearia poucos meses depois, à hora do almoço, quando Olhai os Lírios do Campo ainda ia a meio.

Embora não tenha sido um fracasso em Portugal, devido à época em que passou por aqui, esta telenovela também foi muito criticada pela imprensa portuguesa. Ainda antes da estreia, a TV Guia publicou alguns artigos em que eram transcritos excertos da imprensa brasileira a atacar duramente Olhai os Lírios.

Em outra ocasião, foram dadas algumas informações sobre o autor, Geraldo Vietri, que, desiludido com o resultado, não havia escrito a novela até ao fim, tendo sido substituído por Wilson Rocha, cujo trabalho já conhecíamos do Sítio do Picapau Amarelo.

Com o decorrer do tempo, qualquer referência a Olhai os Lírios é pejorativa. Citada como “os lírios murchos” ou como “uma telenovela que não deixou saudades”, talvez tenha contribuído para que fosse muito boa a aceitação da primeira telenovela portuguesa, Vila Faia, exibida logo a seguir.

Na semana em que foram ao ar os últimos capítulos, a revista Maria regozijou-se, comentando que Érico Veríssimo finalmente poderia descansar em paz.

Porém, dentro dos programas que eram transmitidos na televisão portuguesa durante esses meses, Olhai os Lírios sempre teve um lugar cativo. O êxito relativo levou a que fosse comercializado um LP com os temas da telenovela.

ESSES MOÇOS – Fábio Jr.
CANTO TRISTE – Jane Duboc
ABANDONO – Ivor Lancellotti
GIRA… GIRA (YIRA… YIRA) – Cauby Peixoto
OLHA A LUA – Olívia
AGORA – Joana
SUBLIME TORTURA – Miucha e Tom Jobim

Por outro lado, o livro de Érico Veríssimo, há muito lançado pela Livros do Brasil, tornou a esgotar-se, sendo publicadas novas edições.

No final da novela, a revista Plateia, numa das suas edições, publicou um destacável sobre a novela.

Em fevereiro de 1982, Thaís de Andrade e Mário Cardoso vieram a Portugal e foram reis do Carnaval de Tomar.

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