Exibição:
07/04/1984 – 30/06/1984 (RTP 1)
Número de programas:
12
Autoria e apresentação:
Mário Viegas
Cenografia:
Conde Reis
Produção:
J. M. Couceiro Netto
J. Belo Marques
Realização:
Nuno Teixeira
Exibição:
07/04/1984 – 30/06/1984 (RTP 1)
Número de programas:
12
Autoria e apresentação:
Mário Viegas
Cenografia:
Conde Reis
Produção:
J. M. Couceiro Netto
J. Belo Marques
Realização:
Nuno Teixeira
Mário Viegas foi uma das figuras mais carismáticas do teatro português do século XX. Mas antes de ser ator, foi um “dizedor” de poesia, como se auto-intitulava. Numa vida inteira dedicada às palavras, que interpretou e recitou com um estilo inimitável, foi sempre um divulgador de poesia. Achava que Portugal tinha alguns dos maiores poetas do mundo, que mereciam ser ditos em voz alta para serem escutados, sentidos, e, talvez, entendidos. Em Palavras Ditas, ouvimos os poetas pela sua voz.
1. A dificuldade está na escolha (07/04/1984)
Ator, encenador, declamador, habituado a utilizar a palavras dos outros, Mário Viegas escolheu Camões, António Gedeão e Manuel da Fonseca e muitos mais poetas para este Palavras Ditas. A dificuldade é mesmo escolher, confessa no primeiro programa.
Textos:
Os Bancos Antes da Nacionalização – António Aragão
Pêndulo – E. M. de Melo e Castro
Jorge – Alexandre O’Neill
Cantiga dos Ais – Mendes de Carvalho
Mãezinha – António Gedeão
Domingo – Manuel da Fonseca
Participação especial:
Raquel Maria
Pedro Caldeira Cabral
2. Guardador de rebanhos (14/04/1984)
Quem é Fernando Pessoa? Quem é Alberto Caeiro e como nasceu este heterónimo? Mário Viegas faz as perguntas ao poeta e escritor, convidado especial deste programa, numa reconstituição do quadro de Almada Negreiros. E diz poemas do livro Guardador de Rebanhos.
Textos:
10 poemas do livro Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro
Reconstituição do quadro Retrato de Fernando Pessoa, de José de Almada Negreiros
3. Europa (21/04/1984)
Mário Viegas escolhe dois poetas para dizer a paz neste programa. Recupera o poema Europa, escrito por Casais Monteiro em 1945, quando começaram a chegar a Portugal notícias dos horrores do nazismo. E diz um inédito de Eugénio de Andrade.
Textos:
Europa – Adolfo Casais Monteiro
Ao Miguel, no seu 4.º Aniversário, e contra o Nuclear, Naturalmente – Eugénio de Andrade
4. Claridade dada pelo tempo (28/04/1984)
O humor é uma forma de amor, mas deve também ser incómodo, diz-nos Mário Viegas neste programa, dedicado a um dos grandes humoristas portugueses, Mário-Henrique Leiria. Dos seus dois livros de Contos do Gin Tonic escolhe alguns que cumprem as duas funções.
Textos:
Contos do Gin Tonic – Mário-Henrique Leiria
Régua de Cálculo – Mário-Henrique Leiria
Projeto de Sucessão – António Maria Lisboa
Participação especial:
Manuela de Melo
João Perry
5. Poemas de cabaré (12/05/1984)
Foi através das palavras de José Gomes Ferreira que Mário Viegas começou a compreender melhor e a amar ainda mais a poesia. Para o ator e declamador, ele é um dos mais originais poetas do século XX português. Neste programa, recita poemas escritos em 1933.
Textos:
XIV Poemas de Cabaré – José Gomes Ferreira
Participação especial:
Argentina Rocha
6. Mulheres (19/05/1984)
Irene Lisboa e Maria Velho da Costa são as escritoras e poetisas escolhidas por Mário Viegas para fazer este programa. São palavras escritas por mulheres, sobre mulheres. A recitar alguns poemas estão também duas atrizes: Carmen Dolores e Lia Gama.
Textos:
Mulheres e Revolução – Maria Velho da Costa
Nova, Nova, Nova, Nova – Irene Lisboa
Se Eu Fosse… – Irene Lisboa
Participação especial:
Carmen Dolores
Lia Gama
7. O ator em estado geral de graça (26/05/1984)
O que é ser ator? Bette Davis, atriz norte-americana, disse um dia que ser ator é ter a capacidade de ser amado e odiado. A pergunta leva Mário Viegas a declamar poemas de Herberto Helder e Almada Negreiros que falam sobre os que se expõem nos palcos.
Textos:
Cena do Ódio – Almada Negreiros
Poemacto III – Herberto Helder
Participação especial:
Eugénio Salvador
Eunice Muñoz
Ruy de Carvalho
Reconstituição do quadro Retrato de Fernando Pessoa, de José de Almada Negreiros
8. ‘Poemas diz iguais’ (02/06/1984)
Ruy Belo, António Ramos Rosa, Bocage, Jorge de Sena, Raul de Carvalho, Florbela Espanca, Mário Cesariny, Alexandre O’Neill, Eugénio de Andrade. Estes são poetas de quem Mário Viegas gosta muito e, por isso, entram todos neste programa. Com poemas recitados.
Textos:
No País dos Sacanas – Jorge de Sena
Não Sei Nada – Ruy Belo
Poema dum Funcionário Cansado – António Ramos Rosa
Outra Coisa – Mário Cesariny
Quotidiano ‘Não’ – Alexandre O’Neill
Adeus – Eugénio de Andrade
Quando Eu Nasci… – Raul de Carvalho
Os Meus Versos – Florbela Espanca
Ser Poeta – Florbela Espanca
Auto-retrato – Bocage
Estando o Autor Preso, Quando Napoleão Vencia na Itália – Bocage
Participação especial:
Rosa Lobato de Faria
9. Esta é a ditosa pátria, minha amada (09/06/1984)
O ator e declamador dá corpo e voz a Luís de Camões para saber pormenores “da vida mais desgraçada que jamais se viu”. E diz que não há nenhum poeta português digno desse nome que não tenha dedicado um verso ao autor dos Lusíadas. Alguns estão no programa.
Textos:
Sonetos de Camões e Bocage
Camões e a Tensa – Sophia de Mello Breyner Andresen
Poema da Malta das Naus – António Gedeão
Fala da Velha do Restelo ao Astronauta – José Saramago
Música e interpretação:
Manuel Freire
Participação especial:
Irene Cruz
10. As palavras interditas (16/06/1984)
Mário Viegas aprendeu a amar a poesia nas palavras “calmas, claras e cheias de luz” de Eugénio de Andrade. Alguns poemas de Palavras Interditas, um dos livros mais antigos do poeta, são ditos neste programa. Uma justa homenagem.
Textos:
12 poemas de Eugénio de Andrade:
As Palavras
Urgentemente
As Palavras Interditas
Os Amantes sem Dinheiro
Coração Habitado
Elegia das Águas Negras para Che Guevara
Rapariga Descalça
Litania
Poema à Mãe
Soneto
Apenas um Corpo
Serão Palavras
11. Palavras de Raul de Carvalho (23/06/1984)
Raul de Carvalho é um poeta de palavras serenas, um dos maiores do século XX português, apesar de pouco lido. Mário Viegas escolheu-o para fazer este programa. As palavras ditas foram escritas em 1967, na Páscoa. É o poema Aleluia dos Camponeses.
Textos:
Aleluia dos Camponeses – Raul de Carvalho
Participação especial:
Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa
12. (30/06/1984)
Neste último programa, uma retrospetiva de vários momentos da série.
Depois de recitar poemas nos programas de Júlio Isidro, Mário Viegas conquistava o seu próprio espaço dedicado à poesia.
Por esta altura, o ator acumulava já 20 anos de experiência como recitador de poesia, com uma dúzia de discos gravados. Um deles, editado em 1972, intitulava-se, precisamente, Palavras Ditas.
Ao iniciar a sua participação em A Festa Continua, Mário Viegas declarou à TV Guia o seu interesse em ter um programa deste género: “(…) um programa em que eu pudesse divulgar poetas portugueses, género Palavras Ditas”. Contudo, via com dificuldade a aceitação pela RTP de tal proposta, por se achar persona non grata: “(…) a festas e batizados só vamos quando somos convidados… Vou propor o quê? Tenho mais de uma dúzia de discos gravados, centenas de espetáculos dados, sete meses de um programa infantil [Peço a Palavra] que foi, sem vaidade, um êxito junto dos miúdos e dos adultos, tocando problemas familiares, escolares, etc. (…) Sou ator há 15 anos e só fiz duas peças na RTP e foi indiretamente, com o grupo A Barraca. Portanto…”
O convite para este programa partiu de José Niza, depois de ouvir Mário Viegas manifestar a mesma vontade durante uma emissão de rádio. Foram colocados à disposição de Palavras Ditas o melhor estúdio do Lumiar, um dos mais prestigiados realizadores da RTP (Nuno Teixeira), um horário de grande público (sábado à hora do jantar) e todos os meios técnicos necessários para uma produção que, sendo considerada de luxo, representou um custo bastante reduzido para a estação pública.
Procurou-se uma renovação constante, apresentando a cada semana um tratamento visual diferente, mas assegurando sempre a apresentação apenas de poetas portugueses e a qualidade dos textos. O realizador, Nuno Teixeira, considerou importante para a sua carreira a sua participação em Palavras Ditas, pois deu-lhe oportunidade de intervir ao nível da imaginação.
O programa contou com importantes nomes em participações especiais:
Palavras Ditas gerou reações diversas entre o público. Houve quem gostasse muito, houve quem criticasse, acusando Mário Viegas de alguns exageros. Mas o que mais magoou o autor foi o silêncio dos meios intelectuais: “Sinto que o programa falhou. A poesia tem que ser sempre polémica e o Palavras Ditas não gerou polémica”.
O genérico teve duas versões diferentes: uma nos dois primeiros programas e outra nos restantes.
O tema de abertura, porém, foi sempre o mesmo: Arabesque N.º 1, do japonês Isao Tomita, extraído do álbum Snowflakes Are Dancing, de 1974.
O 6.º programa apareceu numerado com o número VIII.
Em 1991, Mário Viegas regressou com um novo programa de poesia, Palavras Vivas.
O programa encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.