Pedra sobre Pedra

Exibição:
16/11/1992 – 23/07/1993 (RTP 1)

Número de capítulos:
179

Produção:
Rede Globo (1992)

Novela de:
Aguinaldo Silva
Ana Maria Moretzsohn
Ricardo Linhares

Direção geral:
Paulo Ubiratan

Após acreditar na informação de que Murilo Pontes (Lima Duarte) engravidou a sua melhor amiga, Pilar Batista (Renata Sorrah) desmancha o casamento no altar e jura ódio eterno ao ex-noivo. Com o passar do tempo, esse sentimento intensifica-se, a ponto de os dois rivalizarem em tudo, inclusive nos assuntos políticos da cidade de Resplendor.

Pilar Batista e Murilo Pontes

O inesperado acontece quando Leonardo Pontes (Maurício Mattar) e Marina Batista (Adriana Esteves), filhos de ambos, se conhecem vinte anos depois, ao regressarem à terra natal depois de terminarem os estudos. Os dois apaixonam-se ainda antes de saberem o sobrenome um do outro e, ao ficaram cientes da situação, escondem o relacionamento dos pais enquanto podem.

Leonardo Pontes e Marina Batista

Paralelamente, a Resplendor chega também o fotógrafo Jorge Tadeu (Fábio Jr.), causando grande alvoroço junto das mulheres casadas com quem se relaciona intimamente. No entanto, não demora muito para se perceber que ele não é um simples “retratista”. Quem descobre esse segredo é o terrível Cândido Alegria (Armando Bógus), um sujeito sonso que enriqueceu através de negócios muito mal explicados. Na verdade, Jorge Tadeu é um geólogo contratado por Pilar para localizar um lençol de diamantes nas cercanias de Resplendor. Acontece porém que as anotações dos seus achados são registadas numa caderneta onde também consta a identidade de todas as mulheres que ele leva para a cama. Perante este quadro, o fotógrafo torna-se uma pessoa malquista pelos homens casados e acaba por ser morto misteriosamente. Ainda assim, Jorge Tadeu continuará a aparecer em espírito às suas amantes, mas como o crime se deu durante o sono ele não sabe dizer quem é o assassino.

Jorge Tadeu

Entretanto, o romance de Leonardo e Marina torna-se público, provocando a ira de Murilo e Pilar. Contudo, ninguém não consegue separá-los por muito tempo e, ao fim de alguns meses, Marina fica grávida, acelerando-se o processo de casamento, mantido em segredo mesmo depois da celebração.

Neste ponto do enredo, a caderneta do “retratista” já apareceu, mas ninguém consegue decifrar o seu conteúdo, nem mesmo Cândido Alegria, que prossegue a sua odisseia de crimes para conseguir o que quer. O apogeu dá-se quando ele tenta matar Pilar, em resposta ao desprezo que ela lhe votou, ainda que não leve até ao fim a sua vingança, pois Murilo aparece no último instante para a salvar. Os dois iniciam uma reaproximação e, mais de vinte anos depois de desfazerem o noivado, consumam o sentimento forte que os unia. O ódio, no entanto, é mais forte do que o amor, pois o ciúme doentio de Murilo leva-o a romper com Pilar passadas poucas semanas.

Assim, se Leonardo e Marina conseguem vencer as barreiras que os separavam, Murilo e Pilar terminam a novela sozinhos. Por seu turno, Cândido Alegria revela ser o próprio demónio em forma de gente e, no momento em que está prestes a ser capturado, tem um surto e transforma-se numa pedra. Todavia, a maior surpresa do desfecho prende-se com a revelação do assassino de Jorge Tadeu: afinal quem matou o fotógrafo não foi nenhum marido traído, mas a beata Gioconda (Eloísa Mafalda), após ser apanhada a roubar os objetos valiosos da igreja de Resplendor.

Gioconda Pontes

A estreia de Pedra sobre Pedra, anunciada com quase um ano de antecedência, foi rodeada de grande expectativa. Desde 1977 que as novelas brasileiras ocupavam um lugar cativo na programação dos dois canais da RTP e, mesmo após a implementação de produções nacionais, continuaram tendo índices de audiência muito significativos. Tudo começou com Gabriela, um sucesso de dimensões inéditas que não só parava o país, como influenciava o horário das votações da própria Assembleia da República. Seguiram-se O Casarão e O Astro, bem como Escrava Isaura, que inaugurou um novo horário. Até à estreia de Pedra sobre Pedra, com exclusão das minisséries, já tinham passado 54 telenovelas brasileiras (46 da Globo, 6 da Manchete e 2 da Bandeirantes), com destaque para Água VivaPai HeróiO Bem-amadoGuerra dos SexosVereda TropicalRoque SanteiroSassaricandoVale Tudo e Tieta. Aquando da estreia de Pedra sobre Pedra no Brasil, as principais atrações da RTP eram Rainha da Sucata e Pantanal.

Pela primeira e única vez, a RTP e a Rede Globo firmavam uma parceira para a co-produção de uma telenovela. A RTP ia contribuir para a produção em cerca de 15%, ganhando uma quota nos lucros e nas exportações.

Uma das iniciativas foi a participação de dois atores portugueses, Carlos Daniel e Suzana Borges. Não era esta a primeira vez que atores lusitanos entravam para o elenco fixo de uma produção brasileira do género. Já tínhamos visto em O Casarão a consagrada Laura Soveral, que veio a atuar ainda em Duas Vidas, de Janete Clair. É também conhecido o trabalho de Tony Correia (O Casarão e Locomotivas), de Sinde Filipe no remake de António Maria e, embora não se fale muito, Irene Cruz e João Lourenço já tinham participado em Os Deuses Estão Mortos, de Lauro César Muniz, na TV Record, em 1971.

Suzana Borges e Carlos Daniel

Ao longo de 1991, a direção da televisão pública portuguesa anunciou o projeto desta co-produção, a telenovela Garimpo, depois chamada de Resplendor e que no final desse ano já seria conhecida pelo seu título definitivo: Pedra sobre Pedra. Sabia-se que seria escrita por Aguinaldo Silva, o mesmo autor da popularíssima Tieta, acabada de passar na RTP 1.

Na imprensa portuguesa, foram feitas várias reportagens sobre as primeiras cenas com Carlos Daniel e Suzana Borges, gravadas em Linhares, no distrito da Guarda, e a TV Guia chegou a entrevistar de forma muito rápida a senhora que encarnou fugazmente a avó de Ernesto e Inês, uma natural da aldeia onde decorreram as filmagens.

Nestas cenas, participou ainda a atriz Carmen Santos, como uma tia dos jovens portugueses, que eram filhos de Benvindo (Buza Ferraz), o “compadre” que Cândido Alegria (Armando Bógus) assassinara, a fim de se apossar das terras que lhe pertenciam.

Também foi dado destaque às cenas externas gravadas em Lisboa no final da novela, em junho de 1992, onde assistimos à despedida da protagonista Pilar Batista (Renata Sorrah). Desta feita, foi o ator Rogério Samora que fez uma pequena participação como um antigo amor de Inês.

A data da estreia foi rodeada de grande mistério. Havia o dilema entre lançar a novela quando ainda estivesse em exibição no Brasil ou adiá-la para novembro, inserindo-a na grelha de programação de outono, altura em que são anunciadas as grandes atrações. Por outro lado, estava agendada para outubro a chegada da SIC, nova emissora de televisão e sócia da Rede Globo, que, neste quesito, faria uma forte concorrência à RTP. Assim, se Pedra sobre Pedra começou por ser anunciada para junho de 1992, em substituição de Rainha da Sucata (o maior sucesso de audiências daquela época), a verdade é que acabou por se converter no trunfo para destronar a concorrência, e ficou guardada para substituir Meu Bem, Meu Mal, apesar de ter sido publicada na revista TV Guia, para despistar, a notícia de que ainda seria precedida de O Dono do Mundo.

Em outubro de 1992, o lançamento de Pedra sobre Pedra deu início a uma estratégia inédita até então. Sabia-se que a SIC, entretanto inaugurada no dia 6 desse mês, ia estrear De Corpo e Alma a qualquer momento e que faria pressão para, no futuro, ter preferência na escolha das novelas. Segundo estava previsto, Meu Bem, Meu Mal acabaria no dia 17/11/1992, na RTP 1, e Pedra sobre Pedra iria suceder-lhe no dia 18/11/1992, uma quarta-feira. Não se sabe se a informação vazou da SIC ou da RTP, o certo é que às 20:40 de segunda-feira, dia 16/11/1992, ambas as estações, para se anteciparem, anunciaram para esse mesmo dia a estreia das suas novelas e, assim, Pedra sobre Pedra e De Corpo e Alma começaram quase em simultâneo. Ou seja, de 16 a 18 de novembro, a novela Meu Bem, Meu Mal foi exibida em doses mais curtas, seguindo-se o capítulo do dia de Pedra sobre PedraBarriga de Aluguel, que ia ao ar na RTP 2 após o termo de Meu Bem, Meu Mal, mudou de horário durante essa mesma semana e foi ao ar às 23 horas, evitando-se deste modo a concorrência da novela do segundo canal.

No dia 10/11/1992, foi exibido um making of de 12 minutos, com imagens de bastidores e depoimentos de alguns dos atores.

Lima Duarte e Nívea Maria deslocaram-se a Portugal como forma de promoção da novela. O intérprete de Murilo Pontes, cuja chegada foi noticiada no Jornal de Sábado, foi entrevistado no programa Carlos Cruz Quarta-Feira exibido no dia 18/11/1992.

Por sua vez, Nívea Maria esteve presente no Olha Que Dois!! de 22/11/1992. Em entrevista a Manuel Luís Goucha e Teresa Guilherme, relevou que partiu de si a ideia de a sua personagem, Ximena, ser de origem portuguesa.

Presentes neste programa, estiveram ainda as atrizes Helena Isabel e Suzana Borges, falando das suas experiências em telenovelas, o realizador Régis Cardoso e o autor Mário Prata.

Helena Isabel
Suzana Borges
Régis Cardoso
Mário Prata

Pedra sobre Pedra acabou por ser vista na versão original com 179 capítulos e não na versão internacional, de 140 capítulos de 50 minutos, sendo uma exceção em face das novelas que eram veiculadas por aqui desde 1989, altura em que passámos a ver as produções da Globo em formatos para exportação. A audiência dos primeiros meses superou a que Meu Bem, Meu Mal tinha registado no seu início e esmagou a concorrência, pelo que a SIC optou por mudar, ao fim de pouco tempo, o horário de De Corpo e Alma para meia hora mais cedo.

Para além dos protagonistas, várias personagens caíram nas graças do público, como é o caso, por exemplo, da beata Gioconda (Eloísa Mafalda), da delegada Francisquinha (Arlete Salles), de Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), Hilda Pontes (Eva Wilma), Jorge Tadeu (Fábio Jr.), Adamastor (Pedro Paulo Rangel) ou do vilão Cândido Alegria, vivido magistralmente pelo ator Armando Bógus, que viria a falecer enquanto a novela era transmitida pela RTP.

Em dezembro de 1992, saiu – em LP e CD – um álbum com a banda sonora da telenovela, que resultava de uma seleção de temas dos dois volumes lançados no Brasil. Em Portugal, foi a última trilha sonora de uma novela a sair em vinil.

Não obstante, foram também colocados à venda alguns exemplares das edições originais, importados do Brasil.

Na senda do sucesso da telenovela, Maurício Mattar e Luiza Tomé, intérpretes de Leonardo Pontes e da cigana Vida, deslocaram-se a Portugal e tiveram participações de destaque no Carnaval de 1993.

Pedra sobre Pedra marca o fim da hegemonia da RTP sobre as audiências. Nunca mais nenhuma novela registaria um índice tão elevado na televisão estatal, porque, a pouco e pouco, o público migrou para a SIC, que, no ano de 1994, ficou com o exclusivo das novelas da Globo, passando a mostrar, para além das novas produções, os antigos sucessos, outrora vistos na RTP, mas em versões mais reduzidas.

Todavia, uma vez que tinha contribuído para a produção de Pedra sobre Pedra, a RTP teve esta novela na sua disponibilidade durante bastante tempo, pelo que não foram poucas as vezes em que a mesma voltou ao ar, sempre com boa receção. Assim, em 1996, Pedra sobre Pedra apareceu de novo na RTP 1, primeiro às 18 e depois às 19 horas, fazendo alguma concorrência à reprise de Renascer e à inédita Quem É Você. Em 1999, foi a vez de a RTP África apresentar a novela, também ao fim da tarde, com um horário alternativo às 9 da manhã. Por fim, em 2001, Pedra sobre Pedra voltou à RTP 1, com exibição à hora do almoço.

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