Ponto e Vírgula

Exibição:
06/10/1984 – 24/11/1984 (RTP 1)

Número de programas:
08

Autoria:
César de Oliveira

Direção de atores:
César de Oliveira

Figurinos:
Helena Reis

Direção musical:
Jorge Machado

Cenografia
Eduardo Cruzeiro

Produção:
Luís de Freitas

Realização:
Pedro Martins

Elenco:
Ivone Silva
Linda Silva
Carlos Cunha
Vítor Norte
Carlos Ivo
Carla Branco

Coreografia e participação especial:
Barry Scray

Ponto e Vírgula é um programa de humor cuja figura principal é a atriz Ivone Silva, na criação de vários personagens que, de um ou outro modo, têm a ver com a atualidade do país.

Um dos quadros passa-se num bingo, onde Ivone Silva encarna a funcionária, sempre revoltada com o mundo e com a “bingarice” generalizada.

Outro número é o de duas velhotas que nada nem ninguém consegue demover de assistir à telenovela O Bem-Amado. Sempre alheias a tudo o que se passa, são capazes das maiores atrocidades com quem as interrompe durante a transmissão do folhetim.

Ivone Silva interpreta também uma fadista que, em cada programa, canta um fado sobre a situação política e económica do país.

Esta terra, tu bem vês
Está cada vez
Cada vez mais ponto e vírg’la

Na rubrica As grandes canções clássicas, recriam-se sucessos musicais intemporais.

Outra figura notória é a senhora sempre ciosa da sua aparência, alegando que “com um simples vestido preto, eu nunca me comprometo”.

Para além de Ivone Silva, integram o elenco:

Carla Lupi
Carlos Cunha
Carlos Ivo
Linda Silva
Vítor Norte
Barry Scray

1. (06/10/1984)


2. (13/10/1984)


3. (20/10/1984)


4. (27/10/1984)


5. (03/11/1984)

Atores convidados:
Joel Branco
Natalina José


6. (10/11/1984)

Atuação:
Trio Romance


7. (17/11/1984)

Atuação:
Grupo Breakdance


8. (24/11/1984)

Atuação:
Fernando Pereira

Depois do bem-sucedido Sabadabadu (1981/1982) e do menos badalado Allegro (1983), César de Oliveira regressava com mais um programa humorístico.

Ponto e Vírgula foi exibido aos sábados à noite, com uma inovação no formato: optou-se por emissões curtas, de apenas meia hora.

O programa esteve para se chamar Café-Creme. César de Oliveira revelou que a alteração de nome “aconteceu porque, neste país, está tudo cada vez mais… ponto e vírgula!”.

Havia uma grande expectativa com o regresso de Ivone Silva à televisão pelas mãos de César de Oliveira, com quem tinha uma parceria de longa data. Quando se começou a falar de Ponto e Vírgula, os nomes das duas populares figuras do teatro de revista eram citados como a dupla ideal.

Contudo, problemas de ordem diversa comprometeram o sucesso do programa. Para começar, uma das figuras-chave de Ponto e Vírgula, a D. Branca, teve de ser descartada. A “banqueira do povo”, que vimos apenas no primeiro programa, tornara-se uma figura impopular a partir da altura em que deixou de pagar os juros e não pôde devolver as avultadas quantias que lhe tinham sido “emprestadas”. Assim, os responsáveis pelo programa acharam por bem retirar todos os sketches que envolviam a velha senhora, como explicou César de Oliveira: “Durante agosto e setembro foram filmados seis números de “D. Branca”, mas tivemos de travar o texto, devido à evolução do caso. Quando já estavam montados e se deu a prisão da senhora, tivemos pura e simplesmente de retirá-los, por razões que todos devem compreender”.

A juntar a isto, Ivone Silva desentendeu-se com a produção e abandonou as gravações. O diário A Capital noticiou, em primeira página, que a atriz desaparecera, o que a deixou espantada e indignada.

A atriz exerceu o seu direito de resposta numa entrevista ao Se7e: “Eu assinei um contrato com a RTP por dois meses e esse período acabou no dia 30 de setembro. Mesmo assim, tive o cuidado de avisar os responsáveis pela programação televisiva de que não faria mais gravações, pois estávamos a 12 de outubro e tinha assumido compromissos até ao final do mês”.

A culpa pelo fracasso de Ponto e Vírgula, apontou-a aos textos: “Eu não gosto de agredir as pessoas, ao contrário do que se afirma, mas reconheço que os textos não tiveram o brilho que costumam ter os trabalhos de César de Oliveira”.

Os atrasos nas gravações do programa prenderam-se, segundo Ivone Silva, com a sua falta de estrutura: “Não houve tempo de preparação, as coisas foram feitas em cima do joelho. Eu cumpri o que tinha acordado com a RTP. Assumo a minha quota-parte por o programa não ter correspondido ao que se esperava, mas não aceito ser o bode expiatório”. E acrescentou: “Nunca se respeitou nenhum guião, as emissões foram montadas de qualquer maneira, sem nenhuma sequência, e isto que estou a afirmar disse-o antes do primeiro Ponto e Vírgula ter ido para o ar”.

César de Oliveira tinha já uma substituta para D. Branca, que não chegou a sair do papel. Seria a Maria da Paz, uma figura que tentava a pacificação, mas acabava sempre em agressão.

Quando Ivone Silva se afastou, estavam prontos apenas 7 dos 10 programas previstos. Contudo, a RTP optara por um sistema de gravação completa das rubricas, que iam sendo depois montadas, à medida que iam sendo transmitido os episódios. Assim, juntaram-se essas sobras para montar um último programa, no qual se viram vários números dos mesmos sketches.

Apesar de todos os problemas, ficou para a posteridade o bordão “Com um simples vestido preto, eu nunca me comprometo!”.

Carla Lupi estreou-se neste programa, usando o nome de Carla Branco. A atriz foi casada com Vítor Norte, que, para além de integrar o elenco, colaborou também nos textos.

Vítor Norte e Carla Lupi

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