Roda de Fogo

Exibição:
25/06/1990 – 26/10/1990 (RTP 1)

Número de capítulos:
90

Produção:
Rede Globo (1986/1987)

Novela de:
Lauro César Muniz

Direção geral:
Denis Carvalho

Renato Villar (Tarcísio Meira) é um homem sem caráter que faz tudo para aumentar o poder do seu grupo empresarial. O ponto de partida para o desenrolar da trama ocorre quando Celso Resende (Paulo José) publica um dossier onde revela uma operação financeira do grupo, proporcionada pelo Transeuropean Bank, entidade financeira cujo diretor é Benson (Carlos Kroeber), aliado de Renato Villar.

Na sequência do escândalo, Celso aparece morto, enquanto Renato, com a ajuda do advogado Mário Liberato (Cecil Thiré) e do sócio Paulo Costa (Hugo Carvana), decide subornar Lúcia (Bruna Lombardi), a juíza encarregada de julgar o caso. A honestidade da magistrada, porém, contraria as suas previsões, pelo que Renato resolve seduzi-la com algum sucesso.

Quando o sentimento que os liga se começa a intensificar, uma notícia terrível faz a personalidade de Renato dar uma volta de 180 graus: após consultar um médico para minimizar alguns sintomas de que padece e que atribui ao cansaço, ele descobre que tem uma bolha de sangue no cérebro, que lhe provocará a morte ao rebentar no prazo de seis meses.

Em choque, Renato entra em desespero e começa por se isolar. Porém, à medida que se acostuma à ideia de que só lhe restam seis meses de vida, as suas atitudes mudam radicalmente e, nessa conformidade, separa-se de Carolina (Renata Sorrah), com quem tinha um casamento de aparências, vai viver com Lúcia e procura pela primeira vez entender-se com o seu filho ilegítimo, Pedro Garcez (Felipe Camargo). Ao mesmo tempo, reata relações com a ex-guerrilheira Maura (Eva Wilma), que sofre de perturbações mentais decorrentes das torturas sofridas aquando do regime ditatorial e que nunca deixou de o amar.

Nesse novo percurso, Renato desilude os antigos aliados, pois recusa dar-lhes qualquer proteção, e ganha com isso a sua inimizade. Mário Liberato toma o seu lugar nas empresas e casa-se com Carolina, revelando que sempre foi apaixonado por ele e que tudo fará para o dominar. Começa então uma série de assassinatos encomendados pelo próprio Mário, que, paulatinamente, se livra de todos os elementos envolvidos nas transações ilícitas do grupo Renato Villar. Prevendo cada dos seus passos, Renato antecipa a morte dos comparsas até ficar frente a frente com o advogado, com quem quer ter um ajuste de contas.

Neste contexto, visita-o no seu apartamento e, antes de desaparecer, derrama algumas gotas de sangue pelo espaço, de maneira a que a polícia se depare com tais vestígios e os interprete como suspeitos. Mário é preso, mas sai em liberdade pouco depois, porquanto não existem provas consistentes do seu envolvimento em qualquer crime. Porém, ao atribuir ao ex-torturador Anselmo (Ivan Cândido) a autoria dos homicídios, acaba se tornar o alvo da sua ira implacável, sendo alvejado a sangue-frio na via pública.

Por sua vez, após se redimir perante Maura e proporcionar a conciliação entre Pedro e Helena (Mayara Magri), a sua filha legítima, Renato viaja com Lúcia para um lugar incógnito onde acaba por morrer, vítima da doença.

Lembrada hoje como um notável sucesso, Roda de Fogo não cativou os portugueses de forma unânime logo nos primeiros capítulos, diferentemente do que ocorreu com as outras novelas em exibição à época.

Com efeito, não obstante posicionar-se quase sempre como o programa mais visto da televisão portuguesa, esta novela não tinha o apelo popular, nem as personagens carismáticas de outras produções do género que eram vistas com grande êxito por essa altura, como Vale TudoDona Beija ou A Gata Comeu.

Roda de Fogo mostrou-se, desde o início, como uma novela muito sóbria e sem grandes doses de humor, sendo o motorista Tabaco (Osmar Prado) a única personagem a dar algumas pitadas de comicidade ao enredo.

A luta pelo poder, já abordada vezes sem conta, agora tinha como cenário o mundo da alta finança, onde se discutiam transações internacionais um tanto complicadas para o telespectador mediano, que, provavelmente, não se identificou de imediato com os protagonistas.

Todavia, aos poucos, sem comprometer a coerência do enredo, Roda de Fogo começou a agradar à generalidade do público, principalmente quando se dá a série de assassinatos onde são eliminados os antigos aliados de Renato Villar (Tarcísio Meira).

O percurso do protagonista, redimido após a descoberta da doença incurável, também contribuiu para o êxito, mesmo sabendo-se qual seria o seu desfecho, dando à novela uma excelente audiência nas últimas semanas.

No decorrer da novela, mais precisamente no dia 25/08/1990, ocorreu um crime em Grândola: Inácio Paulino Costa foi abatido a tiro de caçadeira, à porta da sua quinta. O industrial era conhecido na zona como “Tabaquinho”, visto manter, em simultâneo, relações com pelo menos três mulheres.

Outra curiosidade diz respeito ao facto de ter sido comercializado entre nós um livro que contava a história da telenovela do início ao fim, numa altura em que ainda faltavam quase dois anos para a estreia de Roda de Fogo em Portugal. Trata-se do segundo volume da coleção Campeões de Audiência, lançada no Brasil e veiculada em Portugal no ano de 1988, que consistia numa adaptação em forma de livro dos enredos de algumas das melhores novelas da Globo. À data, Roda de Fogo ainda era inédita em Portugal, pelo que quem adquiriu o volume pôde ficar a conhecer toda a trama muito antes de assistir ao primeiro capítulo.

Ao contrário das telenovelas anteriormente exibidas em horário nobre – Sassaricando e Vale Tudo –, Roda de Fogo não teve a sua banda sonora lançada oficialmente. Houve, contudo, algumas edições piratas à venda no mercado paralelo.

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