Exibição:
17/05/1991 – 13/11/1991 (RTP 1)
Número de capítulos:
130
Produção:
Rede Globo (1989)
Novela de:
Lauro César Muniz
Direção geral:
Paulo Ubiratan
Exibição:
17/05/1991 – 13/11/1991 (RTP 1)
Número de capítulos:
130
Produção:
Rede Globo (1989)
Novela de:
Lauro César Muniz
Direção geral:
Paulo Ubiratan
O deputado Severo Blanco (Francisco Cuoco) vive um casamento de aparências com Gilda (Susana Vieira), uma mulher fria e calculista que zela pela carreira política do marido e aceita sem qualquer problema os seus casos amorosos.
No entanto, o radialista Juca Pirama (Luiz Gustavo), sempre implacável, tece comentários de mau gosto sobre a nova amante de Severo, Marlene (Tássia Camargo), que ele trouxe para a pequena cidade de Tangará, pondo em risco a sua reputação. Para desviar as atenções, Gilda propõe que ela se case com o bóia-fria Sassá Mutema e, após muito recalcitrar, Marlene acaba por anuir. Sassá, apesar da idade avançada, é um homem ingénuo e também aceita a proposta, após se submeter a vários exames médicos.
Os dois passam a viver à custa de Severo e este assume a posto de visita habitual daquele domicílio, até encontrar Bárbara Souza Telles (Lúcia Veríssimo), neta do seu correligionário Hermínio (Benjamin Cattan), por quem se apaixona inesperadamente.
No entanto, ocorre um crime inesperado: Marlene e Juca são mortos e é executada uma encenação pelo próprio assassino para que se pense que os dois estavam a ter relações sexuais antes de serem baleados.
Sassá, tido como o marido enganado, é o principal suspeito, e essa acusação dá-lhe notoriedade, a ponto de ele simbolizar os humilhados e ofendidos de Tangará.
Com isto, o bóia-fria é apontado como o candidato ideal para derrotar Gilda nas eleições para a prefeitura de Tangará, e Lauro (Cecil Thiré), o candidato apoiado pela esquerdista Marina Sintra (Betty Faria), desiste em seu favor. Em consequência, é ganha a eleição e Sassá investido no cargo de prefeito, contando sempre com a ajuda da professora Clotilde (Maitê Proença), por quem nutre uma paixão platónica.
Entretanto, fica patente que Sassá não matou Juca Pirama e que tudo não passou de uma manobra para o comprometer. Existem vários suspeitos, entre os quais Severo, Marina e João Matos (José Wilker), o próprio irmão do radialista, que acabou por ir preso ao serem descobertas várias doses de droga na mercadoria que este lhe pedia para transportar. Com o passar do tempo, fica a saber-se que é uma organização criminosa quem está por detrás de toda esta trama, sendo certo que o respetivo cabecilha terá planeado o assassinato de Juca e a eleição de Sassá, com vista a fazer de Tangará um pólo estratégico no tráfico de estupefacientes.
Por esta altura, Severo já se separou com Gilda para se casar com Bárbara, e Gilda, por seu turno, aliou-se a Sassá devido ao poder que este conquistou após a eleição.
Por conseguinte, afastado de Clotilde e dos seus antigos companheiros, Sassá começa a pôr em causa os valores que o motivaram a candidatar-se. Porém, a sua consciência e o amor pela antiga professora mostrar-se-ão mais fortes do que a influência de Gilda e dos seus comparsas. A descoberta de que esta e Severo se tornaram amantes reforça a sua convicção de que ele deve resgatar o bóia-fria que um dia foi. Nesse sentido, Sassá empenha-se em descobrir quem é que está por detrás da organização criminosa, fazendo em direto a denúncia para a comunicação social. A revelação, feita no último capítulo, é surpreendente: o cabecilha é Bárbara, e a sua chegada a Tangará sempre tivera em vista fixar a sua rede nesta cidade.
Revelado o mistério e presos os bandidos, Severo reata o casamento com Gilda, que se demonstra disposta a arranjar-lhe amantes de ocasião, como nos velhos tempos. Sassá, por sua vez, encontra a felicidade junto da sua antiga professora.
Sassá Mutema estreou no horário nobre da RTP em substituição de Tieta. No Brasil, acontecera exatamente a situação oposta.
Este é um dos raros exemplos de uma novela que mudou de título na versão para exportação. Originalmente chamada O Salvador da Pátria, a produção foi veiculada fora do Brasil com o nome do protagonista, Sassá Mutema, eximiamente interpretado por Lima Duarte.
Tal feito viria a ocorrer novamente alguns anos mais tarde, com a novela Pátria Minha, que passou com o título de Vidas Cruzadas. Em comum, ambas têm o termo “pátria” que, provavelmente, pareceu inadequado para o título de uma novela a ser exibida num outro país.
No entanto, é curioso que, quando a novela foi reposta pela SIC em 1994, o título que constava da abertura era efetivamente O Salvador da Pátria e não Sassá Mutema, apesar de a versão transmitida ser a mesma, de 130 capítulos, e não a original, com 186.
Em muitas ocasiões, por sinal, a SIC referia-se à novela como Sassá Mutema, o Salvador da Pátria.
Importa referir que a personagem título caiu no gosto do público e Lima Duarte veio a Portugal quando a novela estava em exibição. Nessa ocasião, gravou um anúncio para o Continente, interpretando o próprio Sassá Mutema, que alegadamente teria ido ao hipermercado comprar material escolar para aprender a ler de carreirinha.
Esta era, aliás, uma das ambições do bóia-fria que, no início da novela, ainda não sabia ler. Uma das questões abordadas na trama de Lauro César Muniz é precisamente o analfabetismo, havendo, na fictícia cidade de Tangará, uma escola para adultos liderada pela professora Clotilde.
Outra particularidade que não passou despercebida foi o facto de Sassá, com quase 60 anos, ainda ser virgem e desejar intensamente o amor da sua professora, interpretada por Maitê Proença, no auge da sua beleza. O visual ostentado pelo protagonista nos primeiros meses acentuava ainda mais a diferença entre os dois. Com o passar do tempo, Sassá passa a vestir-se melhor e arranja os seus dentes, que se encontravam bastante deteriorados, mas só no último mês ele consegue passar a sua primeira noite com a professora.
No decurso da novela, os portugueses ficaram a conhecer a expressão “bóia-fria”, designação dada a um assalariado rural temporário sem quaisquer direitos adquiridos.
Entretanto, se a pureza de sentimentos e o caráter não polido de Sassá cativaram os telespectadores, uma outra personagem também despertou atenções, muito embora não estivesse presente durante a maior parte da novela. Trata-se do radialista Juca Pirama (Luiz Gustavo), que, não obstante ser um vilão, se tornou muito popular, tal como o seu bordão “Meninos, eu vi”, o nome do programa onde eram denunciadas as imoralidades cometidas pelos habitantes ilustres de Tangará.
Na verdade, quer o nome da personagem quer a célebre frase, foram retiradas de um poema de Gonçalves Dias, chamado justamente de Juca Pirama. No poema, Juca Pirama é um herói tupi que, capturado pelos inimigos timbiras, tem de fazer um discurso antes de morrer.
Juca Pirama significa “aquele que vai morrer” ou “aquele que é digno de ser morto” e o desfecho da primeira estrofe do décimo canto é repetido várias vezes pela personagem da novela, inclusivamente no momento em que é baleado: E à noite, nas tabas, se alguém duvidava / do que ele contava, / Dizia prudente: – Meninos, eu vi!
Outra curiosidade prende-se com o facto de a pequena cidade onde decorre o enredo chamar-se Tangará, o mesmo nome da localidade onde se passava a trama da novela O Casarão, escrita pelo mesmo autor.
Também é relevante citar a circunstância de a trama principal ter mudado ao longo dos vários meses de exibição da novela. O Salvador da Pátria foi ao ar em 1989, o ano em que decorreram as eleições presidenciais do Brasil, onde o povo voltou a eleger, quase trinta anos depois, o titular do cargo de Presidente da República. Neste contexto, a sinopse previa que a história tivesse uma componente política bastante forte. No entanto, muitos apontaram que o percurso de Sassá se assemelhava ao de Lula, o candidato da esquerda, motivando pressões dos mais diversos quadrantes para que fosse modificada a ideia original, onde se contava uma parábola sobre o poder a partir da trajetória política de Sassá Mutema. Assim, do meio para o fim, passamos a assistir a uma trama policial, cujo principal mistério assenta na identidade do chefe de uma rede criminosa. Um dos lances inesperados, muito comentado à época, foi o regresso de Juca Pirama: a organização, querendo mitificar o radialista assassinado, começa a simular comunicações atribuídas ao vilão, de maneira a que todos pensem que ele se encontra vivo e continua vigilante. No entanto, a farsa é descoberta e explicada detalhadamente nos últimos capítulos.
Durante o tempo e que Sassá Mutema esteve o ar, foram lançados alguns discos e cassetes com temas da novela, nenhum deles na versão original.
À semelhança do que acontecera com Tieta, antecessora de Sassá Mutema no horário nobre da RTP, a editora Europer lançou igualmente uma caderneta de cromos.
Em 2015, a revista Sábado publicou uma reportagem sobre telenovelas, convidando figuras públicas a representar alguns dos personagens mais marcantes. Sassá e Clotilde foram revividos pelos escritores Francisco Moita Flores e Margarida Rebelo Pinto.