Sinhá Moça

Exibição:
16/02/1989 – 16/10/1989 (RTP 2)

Número de capítulos:
172

Produção:
Rede Globo (1986)

Novela de:
Benedito Ruy Barbosa

Inspirada no romance de:
Maria Dezonne Pacheco Fernandes

Direção:
Reynaldo Boury
Jayme Monjardim

Sinhá Moça (Lucélia Santos) é filha de um esclavagista reputado, o Coronel Ferreira (Rubens de Falco), também conhecido por Barão de Araruna. Por conseguinte, durante toda a sua infância, acompanhou de perto o flagelo a que são submetidos os escravos desobedientes, tendo ficado marcada com o assassinato do célebre Pai José (Milton Gonçalves), açoitado no tronco até à morte devido à sua insolência.

Sinhá Moça
Coronel Ferreira

Dez anos depois, influenciada pelas ideias abolicionistas, Sinhá Moça começa a contestar a maneira como os escravos são tratados e, quando regressa a Araruna após terminar os estudos, trava conhecimento com o advogado Rodolfo Pontes (Marcos Paulo) que, por seu turno, ignorando a posição dela sobre a escravatura, omite os ideais libertários para a conquistar.

Rodolfo

Paralelamente, também chega à cidade de Araruna um jornalista, de nome Dimas (Raimundo de Souza), que pretende combater através da imprensa o poderio do Coronel Ferreira e dos seus comparsas. Para isso, ele conta com o apoio de Augusto (Luís Carlos Arutin), dono do jornal local e partidário da abolição dos escravos.

Entretanto, Sinhá Moça descobre que Rodolfo partilha das suas ideias e acaba por ceder aos impulsos românticos dele, mas uma nova personagem entra em cena, captando as suas melhores atenções: trata-se do chamado Irmão do Quilombo, cavaleiro misterioso que, na calada da noite, assalta as senzalas para libertar escravos às dezenas. Quando a verdadeira identidade de Dimas é revelada e se descobre que ele é Rafael, um antigo escravo do Barão de Araruna e também seu filho ilegítimo, as desconfianças recaem imediatamente sobre o jornalista.

Sinhá Moça e Dimas/Rafael

Todavia, o Irmão do Quilombo é o próprio Rodolfo Pontes, revelação que fará Sinhá Moça acompanhá-lo nas lides libertárias, vindo os dois a casar-se justamente numa comunidade de escravos foragidos.

Sinhá Moça e Rodolfo

Quanto a Rafael, ao ser confrontado com a falsidade da sua carta de alforria, é levado para a senzala do Barão, pois este deixa bem claro que não abre mão dos seus direitos. Porém, a situação política é cada vez mais insustentável e o incremento de fugas nas fazendas desencadeia a abolição oficial da escravatura, no dia 13/05/1888, evento que leva o Coronel Ferreira a perder a sanidade. Num ato tresloucado, ele incendeia a sua própria senzala, mas acaba por cair inconsciente, sendo salvo, ironicamente, por Rafael. Mesmo assim, por ter inalado uma grande quantidade de fumo, não sobrevive durante muitas horas, mas ainda tem tempo para lhe pedir perdão e reconhecê-lo como filho.

Com o fim da escravatura, as fazendas são abandonadas, o que suscita o aparecimento de imigrantes italianos que vêm dar continuidade ao trabalho da lavoura, embora com direito a uma retribuição monetária pelo seu esforço. E é com determinação que Sinhá Moça recebe a primeira leva de imigrantes, com quem dialoga usando uma determinação que aos mais atentos traz reminiscências da autoridade categórica do antigo Barão de Araruna…

Sinhá Moça estreou às 16:50, em substituição de Helena, e começou, por conseguinte, com uma audiência modesta, que foi crescendo aos poucos, principalmente durante os meses de verão, até se tornar um sucesso.

A mudança para um horário um pouco mais tardio também contribuiu para que a novela fosse ganhando cada vez mais adeptos e, nos últimos meses, quando ia ao ar por volta das 18 horas, Sinhá Moça já era considerada um êxito.

Muitas vezes comparada com Escrava IsauraSinhá Moça retratou os últimos anos da escravatura no Brasil e é uma das novelas de época mais populares, ocupando, durante muito tempo, a segunda posição nas vendas internacionais da Rede Globo.

Mais uma vez, Lucélia Santos interpretava a heroína e Rubens de Falco um esclavagista cruel, ainda que a personagem do Barão de Araruna mostrasse um lado humano inexistente no Leôncio de Escrava Isaura.

Sinhá Moça foi adaptada do romance homónimo de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, publicado em 1950.

Maria Dezonne Pacheco Fernandes
Edição brasileira de 1986

Tal como Grande Sertão: Veredas, que era vista em Portugal na mesma época, Sinhá Moça recebeu rasgados elogios por parte da conhecida atriz Beatriz Costa, no livro Eles e Eu, uma obra que primava mais pelas críticas do que pelos louvores.

Esta nossa televisão é uma «desalegria»!…
Neste momento tem em exibição quatro telenovelas, todas da TV Globo do Rio de Janeiro. Os artistas são magníficos. Rubens de Falco, Chica Xavier, Marília Pêra, Bruna Lombardi e Toni Ramos são os mais talentosos do lote. Sinhá Moça é a mais importante, porque nos conta a história da abolição da escravatura. Rubens de Falco faz o senhor escravocrata sem entranhas. Oportunista, ambicioso e frio. Está extraordinário! A negra Bá é aquela grande atriz de cor que lembra a célebre mucama de E Tudo o Vento Levou: Chica Xavier. O numeroso grupo de escravos Bastião, Capitão do Mato, Fulgêncio e Justo são do melhor que nos manda o Brasil. Grande Otelo, que foi meu companheiro no Casino da Urca, onde apresentámos Nêga do Cabelo Duro, está tão perfeito que me fez chorar. Que grande ator! Aquele mestiço, que recita Castro Alves, é um grande declamador. Esta belíssima obra, que devia ser apresentada a uma hora nobre, passa às cinco da tarde, enquanto aquela palhaçada do Sassaricando é vista às oito da noite…

Lucélia Santos com Beatriz Costa

Apesar de termos visto a novela em 1989, a RTP já a tinha adquirido um ano antes e, na altura em que víamos Roque Santeiro, já se sabia que Sinhá Moça seria uma das próximas produções da Globo a estrear. Ou por isso, ou devido a uma confusão com outro título (possivelmente Sinhazinha Flô), foram diversas as vezes em que a TV Guia a mencionou como uma telenovela já transmitida pela RTP, designadamente nas entrevistas feitas, em 1988, a Luciana Braga e a Sérgio Viotti.

Em julho de 1989, foi lançado um single com o tema de abertura de Sinhá Moça, a música Pra não mais voltar, interpretada por Fafá de Belém.

Entre 1995 e 1996, a novela voltou à televisão portuguesa através da SIC, que pouco antes nos havia mostrado uma versão compactada de Escrava Isaura.

Dez anos depois, a Rede Globo fez um remake de Sinhá Moça, utilizando exatamente o mesmo texto, uma produção que também foi ao ar em Portugal, no horário das 19 horas da SIC, conquistando os lugares cimeiros da tabela de audiências deste canal.

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