Se fosse uma metáfora, Terra Mãe poderia ser esta: uma cidade que mandou os “filhos” em aventura pelo Mundo fora e que agora acolhe os “netos” afetuosamente em casa. A história de Milu Mendes (Manuela Maria) é quase igual: acolhe em sua casa três jovens oriundos de três países de expressão portuguesa – Hugo (Miguel Hurst), Kim (Sandra Cóias) e Filipe (Cláudio Lins) –, construindo com eles uma amizade nada reverente feita de cumplicidade. Num jantar, vendo-os moídos e cabisbaixos, larga-lhes, certeira, o vaticínio: “Vocês vão vencer na vida”!
Amofinada com a intenção da avó, fica a neta Carla (Anabela Teixeira): temendo que os hóspedes sobrecarreguem Milu com os seus problemas, passa um sermão à dona da casa. O zelo de Carla não abala nem faz a avó desistir da sina de ser uma avó para os hóspedes.
Foi o sonho de ser jornalista que chamou Hugo a Portugal. Com o mercado de trabalho saturado em Moçambique, decidido, rumou a Lisboa, à procura da reportagem da sua vida. Kim procura afirmar-se em Lisboa na área do estilismo, uma vez que a terra onde nasceu, Macau, tem o futuro adensado de nuvens assim que passar a ser administrado pelos chineses. Já Filipe, cheio de vacilações num passado agitado, deixando-o em frenesim de o querer esquecer, chega a Portugal com um passaporte falso na mão – com o nome de Gustavo Vilela inscrito – e com um futuro à mercê. As esperanças de tranquilidade dizimam-se ainda antes do desembarque em Lisboa, que é tudo menos fleumático. Os demónios parecem saltitar contra si: no avião, senta-se ao lado de um travesti, António Mendonça (Paulo Ferreira), vestido de senhora que, nervosa, solta em achaque o medo. Emotiva e tentando espantar de terror, para fugir da morte, que depois não conseguirá evitar, consegue sorrateiramente introduzir dentro da mochila de Filipe uma pequena chave azul com misteriosa inscrição de “Laika” gravada.
As agitações não chegam a arrefecer e minutos depois, um carro funerário atropela-o. Em seu socorro, lança-se em encanto a mão de Ana (Lúcia Moniz), fazendo-lhe saltitar o coração. Emotivo, solta a paixão, esquecendo-se de Fernanda (Anna Ludmilla), com quem tivera caso. Sentimental, Ana também se embrulha no amor pelo desconhecido, mas coloca firme pé no chão para tentar não magoar o namorado, Henrique (Carlos Sampaio).
Ana é sobrinha-neta de Milu e pela tia desfaz-se em encanto, para desgosto da avó, Maria do Carmo (Glória de Matos). Não conseguindo controlar o desgosto, com a alma a ferver de furor, ordena que ninguém da família se dê com Milu e com Carla. Mais fácil é deixar a filha Beatriz (Maria Emília Correia) e o genro Paulo (Alexandre Melo) distantes, mas o neto Diogo (Pedro Lima) ainda tem o coração em aleijão: em adolescente namorara Carla, e no frémito da paixão Maria do Carmo cortou-lhe a corrente.
O outro neto, Gonçalo (Gonçalo Waddington), está em vias de chumbar na cadeira de Sociologia que Carla dá na Faculdade; congemina um plano que aproxima Diogo de Carla, para que o irmão lhe consiga colocar diante dos olhos o enunciado do exame que está prestes a fazer. A tentativa sai frustrada: Diogo rouba um enunciado, mas o que examina Gonçalo tem perguntas diferentes – uma cabriola de Carla, que faz sempre dois enunciados e, na hora, decide qual entrega –, mas o encanto volta a provocar faísca, eletrizando a paixão secreta. Em curto-circuito fica, quando Gonçalo vê que reprovou. Soltando o desencanto, prepara a bomba atómica que coloca a relação de Diogo e de Carla no fio do arame: se a professora não mudar a nota, coloca a boca no trombone e solta aos quatro ventos a notícia da reaproximação do casal. Apavorado, Diogo tenta colocar um penso rápido na relação, mas o ardil de Gonçalo deixa-a em carne viva. Com a ajuda da avó, transforma a promessa de vingança em realidade, apresentando queixa contra Carla no conselho científico da Faculdade.
Por resolver, Maria do Carmo tem outro problema arrevesado: tivera uma filha em solteira e, temendo recriminações do vilarejo onde vivia, deixou-a aos cuidados de uma vizinha de uma tia, largando-a à sua sorte. Contrata um detetive (Manuel Castro e Silva) que, explorando-a, a aconselha a ir tentar obter mais informações junto da irmã. Milu fecha-se em copas, e Raimundo esfrega as mãos, apresentando uma falsa Manuela (Carmen Santos), com rocambolesca história para contar: crescera na miséria e no desemprego e, para dar a volta ao destino, foi para França limpar casas. Lança, sentimental, canto da sereia a Maria do Carmo, que, empolgada, lhe promete refazer a vida. Ao apresentar-se a Milu, a rábula vira embuste, deixando Manuela e Raimundo sem pinga de sangue. Milu denuncia a mentira e coloca os pontos nos is: a verdadeira Manuela morreu a dar à luz. E mais não diz. Agita-se o frenesim em Maria do Carmo em conhecer o neto de quem pouco ou nada sabe.
Enquanto Ana e Filipe parecem jogarem à cabra-cega um com o outro, Fernanda enche-se de esperanças. Tenta reatar o que já começara do outro lado do oceano: o seu amor com Filipe. Chama-o para viver com ela e os dois rapazes que com ela partilham as minúsculas águas-furtadas da zona do Castelo – Luís (Eurico Lopes) e Marcelo (Gabriel Leite) – e tenta que o antigo namorado esqueça Ana. Mas em vão… Filipe sai de casa e vai morar no mesmo quarto de Hugo em casa de Milu.
Por lá, um descuido de Filipe abre um dos segredos que lhe sustentavam o passado: descobre-se que o passaporte com a sua fotografia tem um outro nome: o de Gustavo Vilela. Pasmado, Hugo tenta decifrar o enredo e vai soltando, a custo, a ponta do novelo. Filipe não conta a história toda: evasivo, deixa saber apenas que Gustavo Vilela fora seu chefe no Brasil. Mais tarde, Filipe encará-lo-á no Periscópio, o bar de Tomás (Joel Branco), onde se empregara, e estremecido, sente o chão a fugir-lhe dos pés.
Já Hugo está a trabalhar nas lojas Vincenzo com Fernanda, quando um rumor de pânico o alerta para uma história que se vem a transformar na reportagem da sua vida. Fica com a pulga atrás da orelha ao perceber que a melhor amiga de Ana, Marina (Sandra B.), funcionária da agência de publicidade de Paulo, tem a alma a crepitar: não sabia do paradeiro do pai. Fica em desconchavo pela estreiteza de notícias, mas perante a fleuma das cartas e pelo pedido de secretismo, Hugo dá guita à ideia de vingar no jornalismo. Acompanha Marina no afã de encontrar o pai, Joaquim Neto (Carlos Santos), e joga importante cartada ao acompanhá-la até à Serra da Estrela, com intocada fé de que testemunhará o reencontro do pai e da filha. Mas Marina jamais voltaria a ver Joaquim… A presença de Gustavo Vilela ainda chega a dar-lhe largas ao sonho, mas Álvaro (Paulo Pires), na peugada de Marina, acaba por matar Gustavo e rapta Hugo e Marina, na expectativa de que Joaquim solte a localização exata do Quai, que faz brilhar os olhos e desperta a cobiça dos maltrapilhos para quem trabalha.
Antes de pôr fim à vida de Joaquim, Álvaro acalenta o sonho de ser o biólogo-chefe do Oceanário da Expo 98. Para o ser, recorre a todas as artimanhas armadilhando o caminho de Mário (Antonino Solmer). Desata a sabotar o Oceanário e, levado pelo cinismo, finge amizade com a mulher de Mário, Joana (Yolanda). Com o destino a fintá-lo, e cada vez mais pressionado pelo chefe, Tito (João Lagarto), tenta um elã romântico com Carla, para que esta lhe forneça informações comprometedoras sobre a família Sousa. Carla enlaça-se num chocho romance, sem muita história para contar. Num fogacho, Inês (Patrícia Bull), a filha de Mário, vai sentir-se atraída pelas falinhas mansas e pelo porte atlético, tentando atraí-lo para a cama.
É no réveillon que chega a pior notícia, em forma de tragédia: Marina morre! E entre o grosso número de suspeitos, que lhe agitavam o presente em pesadelo de ameaças veladas e cartas ameaçadoras, estavam Paulo, Diogo, Gonçalo, Álvaro, Filipe, José Maria (Marques d’Arede), Cristina (Carla Lupi), Henrique e Patrícia (Vera Alves), com a ilusão de que o Quai lhes abriria a porta da fortuna.
Terra Mãe também tem momentos a puxar pelo humor: ligado por amizade à família Castro está o núcleo Santos/Carvalho. O patriarca, Augusto (Armando Cortez), cortejará as irmãs Milu – que já nos tempos de atriz e com ele sentado na plateia cobiçava – e Maria do Carmo – acendendo outra flama na conflituosa relação entre as duas. O genro, José Maria (Marques d’Arede), caminha na areia movediça de ter que gerir duas famílias, a legítima e a ilegítima, onde Fátima (Teresa Madruga) se evade em sonhos de felicidade e a ingénua Lena (Patrícia Tavares) vai tentando procurar um pai. Por fim, a filha Isabel (Lídia Franco) vive um ardente conflito de personalidade.
Há também Marcelo, que às terças-feiras encarna o excêntrico D. Valentino, colocando em rebuliço as noites do Periscópio, onde o núcleo jovem se diverte.
Passaremos ainda pela beleza postal de Óbidos e conheceremos melhor Lisboa, a terra-mãe desta novela e de muitas das suas personagens…