Totoloto

Considerado o mais popular dos jogos promovidos pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, já antes da concretização do primeiro sorteio que o Totoloto era aguardado com grande ansiedade. Desde 1984, multiplicavam-se as notícias divulgadas pela imprensa relativamente a este concurso.

As expectativas concebidas pela entidade promotora não saíram goradas, de modo algum: o primeiro sorteio, datado de 30/03/1985, registou mais de 11 milhões de apostas.

A primeira chave do Totoloto

Com efeito, o Totoloto suplantava largamente o Totobola: para além de não serem necessários conhecimentos específicos que eventualmente beneficiassem uns jogadores em relação aos outros, o prémio revelava-se muito mais atrativo. Num país que acabava de sair do escândalo de Dona Branca, e que lentamente saía de uma crise económica com contornos preocupantes, o Totoloto, ao oferecer um prémio semanal superior a dez mil contos, caía como uma luva.

O Totoloto conquistou de imediato os portugueses, e as apostas surgiam a um ritmo que a Santa Casa não esperava. Nesta altura, o escrutínio era ainda feito com os boletins em papel, enviados para Lisboa. Logo que o sorteio das bolas era transmitido, os funcionários lançavam-se ao apuramento dos vencedores, tarefa que chegava a durar 16 horas sem descanso. Alguns boletins eram rejeitados pelas máquinas e tinham de ser lidos por olhos humanos. As máquinas inicialmente existentes já nao respondiam ao volume de trabalho e foi necessário encomendar mais. Também as gráficas que imprimiam os boletins tiveram de aumentar a sua capacidade produtiva, insuficiente mesmo com as máquinas a operar 24 horas por dia.

Destarte, e como já se esperava, o programa de televisão que transmitia o sorteio logo se transformou num verdadeiro campeão de audiências: às 19:45, o país parava diante do televisor para assistir em direto à extração das seis esferas numeradas que, de entre um total de 45, ditariam o primeiro prémio do concurso. Registe-se que havia ainda o número suplementar, cuja esfera saía da redoma depois de todas as outras.

“É fácil, é barato, dá milhões”: o slogan do sorteio caiu nas graças dos portugueses e, ao longo de muito tempo, movimentou milhões de pessoas.

Neste contexto, apareceu um pequeno jornal, o Guia do Apostador, que fornecia conselhos e palpites aos apostadores que quisessem ser bem-sucedidos nas suas investidas. Utilizando aquilo a que se poderia chamar uma estatística de pacotilha, os redatores faziam alarde dos números cuja probabilidade de saírem da redoma afiançavam ser maior e regozijavam-se sempre que tais pistas iam ao encontro da revelação.

Em 1998, surge uma nova publicação, com exatamente o mesmo título e de conteúdo semelhante.

O sorteio do Totoloto era apresentado pelas várias locutoras da RTP. A primeira foi Cândida Gerardo, que se encontrava afastada da continuidade (função para a qual fora contratada em 1978) há alguns anos.

Nesta altura, a apresentadora exercícia funções de supervisora e chefiava o setor de Apresentação da RTP.

Ao Tal & Qual, ainda antes da estreia, a “Miss Totoloto” revelou ter sido uma das primeiras concorrentes a registar o seu boletim de apostas.

Na semana anterior ao primeiro sorteio, foi exibida uma sessão explicativa do funcionamento do concurso.

O júri do sorteio era composto por representantes do Departamento de Apostas Mútuas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, do Governo Civil de Lisboa e da Inspeção Geral de Finanças.

Se, durante vários anos, o sorteio do Totoloto era um programa independente, a partir de outubro de 1995, passou a ser integrado em programas como Clube dos TotalistasHá Horas Felizes e Santa Casa.

Alguns anos mais tarde, regressou ao formato original.

2010

Existem múltiplas ocorrências relativas a vencedores do Totoloto que mereceram destaque e atenção por parte dos órgãos de comunicação social, como é o caso de um arrumador de automóveis da cidade de Espinho que, depois de açambarcar o primeiro prémio, gastou até ao último centavo a sua fortuna.

Outra história caricata, noticiada pelo Tal & Qual, aconteceu com um trabalhador de uma fábrica da Guarda, que descobriu, ao fim de um mês, que alguém lhe havia preenchido na cópia do boletim a chave certa, dando-lhe a ilusão de se ter tornado milionário.

Não faltaram também as tentativas de fraude à custa do jogo. Todas as semanas, apareciam burlões na Santa Casa, apresentando boletins supostamente premiados. Contudo, os verdadeiros boletins eram todos microfilmados antes de se reconhecerem os resultados, não havendo margem para furar o sistema.

Merece também referência um outro senhor que, em 1996, também vencedor de um prémio avultado, a quem, por pouco, não foi negado o direito a receber o seu dinheiro. E tudo isto porque, feito o sorteio, a redoma trouxe à vista do público e do representante do Governo Civil a esfera com o número zero, que não fazia parte dos números sujeitos a concurso. Estava lançada a discussão em torno da viciação do jogo.

Com a possibilidade de ficar sem o prémio, o vencedor, que acertara nos restantes cinco números, bem como no suplementar, veio para os jornais reivindicar o seu direito, expressando-se através da célebre frase que ficaria estampada na manchete do semanário Tal & Qual: “Quero os meus cento e quarenta milhões (de escudos)”.

Este divertido episódio foi repescado pelos Gato Fedorento, na rubrica Tesourinhos Deprimentes, do programa Diz Que É uma Espécie de Magazine, em 2006.

A extração falhada acontecera durante o programa Clube dos Totalistas, apresentado por Carlos Ribeiro, tendo sido solicitada a intervenção do representante do Governo Civil, que estávamos habituados a ver sem qualquer ação no decorrer do sorteio. Segundo os humoristas, esta tarefa levou a que esse senhor metesse baixa devido a um esgotamento.

A situação tornou-se ainda mais caricata pelo facto de, na tentativa de extrair uma nova bola, a tômbola ter ficado muito tempo a girar sem que a bola caísse, o que exigiu intervenção manual por parte de uma assistente do programa.

Entretanto, o Totoloto foi sofrendo algumas modificações no seu funcionamento, ao longo dos seus mais de 30 anos de vigência. Inicialmente, eram 45 as esferas sujeitas a sorteio.

Em 1988, foram inseridas mais duas e a redoma passou a contar com 47.

Este sistema funcionou até 1990, ano a partir do qual passaram a existir 49 no total. E, desde essa altura até 2011, o apostador apenas tinha de acertar nos seis números que o acaso distinguia dos restantes.

Em 03/03/1997, surge o Loto 2, que consiste num sorteio do Totoloto, mas realizado à segunda-feira. As apostas no Loto 2 eram feitas no mesmo boletim do Totoloto, bastando ao apostar assinalar com um X se pretendia ou não jogar no Loto 2.

Em 2011, a Santa Casa da Misericórdia introduziu uma alteração radical para reabilitar o Totoloto. Com efeito, desde 2004, com a implementação do Euromilhões, o Totoloto tornava-se menos procurado, de semana para semana. O prémio do concurso europeu, destinado a criar excêntricos, mostrava-se muito mais atrativo e o Totoloto começou a perder adeptos. Assim, através do slogan “mais vale um milhão na mão”, passa a ser garantido um primeiro prémio nunca inferior a um milhão de euros e, para tal, mudam as regras, tornando ainda mais difícil o acesso à chave desejada.

Nesta conformidade, o primeiro prémio passa a resultar de uma combinação entre cinco números comuns e um número especial, o chamado número da sorte. Os números comuns continuam a ser sorteados através das habituais 49 esferas e o número da sorte é extraído num universo de 13 esferas distintas, abolindo-se, com esta modificação, o antigo número suplementar.

As alterações incluíram ainda a extinção das apostas de 5 semanas e do Loto 2. Passa também a ser possível fazer uma só aposta por 0,90 euros – anteriormente, o mínimo era de duas apostas.

Existem, agora, dois sorteios independentes, à quarta-feira e ao sábado, podendo os jogadores optar por apostar apenas num deles ou em ambos.

Por outro lado, a transmissão televisiva do sorteio já não é em direto e, atualmente, vai ao ar entre as 22 e as 23 horas, na SIC, após a divulgação da chave premiada no portal da Santa Casa.

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