A trama começa quando Guadalupe (Elizângela) e César Augusto (Edwin Luisi) se apaixonam um pelo outro. Guadalupe é secretária do pai dele, Ambrósio (Othon Bastos), que não vê com bons olhos o envolvimento dos dois, pois também está interessado nela. Todavia, César não desiste e pede-a em casamento, para grande desespero de Ema (Vanda Lacerda), a sua mãe, e de Odila (Bia Seidl), a sua antiga namorada. No dia do casamento, tudo decorre às mil maravilhas mas, após a noite de núpcias, César Augusto simplesmente desaparece.

Enquanto ninguém dá com o paradeiro de César, Guadalupe é assediada por Ambrósio, bem como por Marino (Gracindo Jr.), o homem de confiança dele. Porém, Ema revela-se uma mulher muito perigosa e não esconde de ninguém que não perdoa a Guadalupe o facto desta lhe ter fisgado o filho, culpando-a pelo desaparecimento.

Com o passar do tempo, o ciúme doentio de Ema acentua-se e, num ato de desespero, ela atira em Guadalupe à queima-roupa, com o intuito de a matar. Guadalupe fica inconsciente durante algum tempo. Quando desperta, resolve dedicar-se à religião como forma de agradecer a Deus por ter sobrevivido ao tiro, mas, daí a poucos dias, toma consciência das suas responsabilidades e torna-se empresária.

Vevé (Miriam Pires), tia de Gaudalupe, decide vingar-se e oferece-se para trabalhar como empregada na casa de Ema. A sua sorte, todavia, não é melhor: Ema percebe que está a ser alvo da “vingança dos subúrbios” e, quando Vevé lhe lava os pés, dá-lhe um pontapé no nariz.

Tudo ou Nada mostra também o quotidiano de Dulce (Marilu Bueno), uma mulher temperamental que veio de Angola, de Prequeté (Teobaldo), cujo nome de nascimento é José Prequeté Tira Bicho do Pé pra Comer com Café, do carroceiro Pompílio X Y Z, do corrupto delegado Capela (Felipe Wagner) e de Gigi (Theresa Amayo), a excêntrica mãe de Odila, que chama o mordomo de Mister Harrison por não gostar do nome Severino.

Ao fim de um longo período de ausência, César Augusto reaparece, revelando ter sido vítima de uma perda de memória. César conta como foram os momentos mais difíceis da sua vida, acompanhado pelo gato Muy Bien, mas a alegria do seu regresso não dura muito, pois, daí a pouco, ele sofre um acidente de viação e morre.

Nas semanas seguintes, Ema regenera-se e pede perdão a Guadalupe. Em demonstração do seu arrependimento, resolve levar a felicidade às restantes personagens e propõe um casamento coletivo a todos os casais. Guadalupe acaba por ceder aos apelos de Ambrósio e Odila assume-se apaixonada por Marino. Ao ver que o seu plano de felicidade está em andamento, Ema senta-se numa cadeira e morre descansada.

Enquanto isso, Leninha (Marcela Muniz), irmã de Guadalupe, começa a escrever um livro sobre a história de todas estas personagens. A telenovela seria uma transposição desse livro para o pequeno ecrã.

Este é um exemplo de uma telenovela brasileira que conseguiu em Portugal um êxito superior àquele que teve aquando da sua transmissão no Brasil, onde passou despercebida. Em 1987, a Rede Manchete tinha já exibido Dona Beija, um dos seus maiores êxitos. No entanto, o facto desta novela conter cenas de nudez fez com que fosse preterida, optando a RTP por adquirir Tudo ou Nada.

O facto de Tudo ou Nada ser exibida entre Cambalacho e Selva de Pedra também contribuiu para o relativo sucesso: estando programada para as 12:15, na RTP 1, a totalidade dos capítulos da semana repetia aos sábados à tarde, na RTP 2, somando uma audiência bastante razoável.

Tudo ou Nada foi a primeira telenovela em que tivemos a oportunidade de apreciar o trabalho da atriz Vanda Lacerda (que apenas tínhamos visto de relance na série Malu Mulher), na pela de uma vilã terrível, bem como de Theresa Amayo, que vivia a esfuziante Gigi.

Vanda Lacerda protagonizou a cena mais dramática da telenovela, quando a sua personagem, Ema, atira em Guadalupe.

Pudemos também, através de Tudo ou Nada, ver pela primeira vez Lafeyette Galvão como ator. Até então só o tínhamos conhecido como autor da telenovela Sinhazinha Flô.

Destaque ainda para Othon Bastos que, à data, se encontrava no ar em todas as telenovelas que eram exibidas na RTP: Tudo ou Nada, Roque Santeiro e Os Imigrantes, sempre em papéis de destaque.

Marilu Bueno, que apenas conhecíamos de Guerra dos Sexos, apareceu novamente com uma personagem bastante engraçada, a Dulce, cujo bordão se tornou muito popular: “comigo não, que eu vim de Angola”.

Othon Bastos e Theresa Amayo desempenharam uma das cenas mais famosas da telenovela: depois de mais de metade da novela sozinha, Gigi descobre-se apaixonada por Ambrósio e convida-o para jantar à luz de velas. Ambrósio não percebe as suas intenções e, às escuras, começa a gritar por “luz e sopa”, deixando Gigi muito dececionada. A cena seria bastante comentada, tendo dado origem a um estranho episódio ocorrido em Albergaria-a-Nova, no momento em que se apagaram os postes da EDP da EN 1, enquanto decorria a procissão da vigília pascal, em abril de 1988. Várias pessoas que não traziam velas não gostaram nada de se ver na escuridão e, à semelhança de Ambrósio, também começaram a gritar por “luz e sopa”.

É ainda importante referir que, enquanto dava a telenovela, Edwin Luisi esteve em Portugal, mais precisamente em outubro de 1987, coincidindo a sua estadia com alguns dos capítulos em que César Augusto se encontrava desaparecido.

O nome completo de Prequeté (Zé Prequeté, tira bicho do pé pra comer com café!) é uma expressão que consta do livro Macunaíma, de Mário de Andrade.