Ulisses 31

Exibição:
06/10/1984 – 20/04/1985 (RTP 1)

Número de episódios:
26

Autoria:
Nina Wolmark
Jean Chalopin

Realização:
Bernard Deyriès

Produção:
DiC / TMS (1981)

No ano 3000, após cumprir uma missão na estação espacial de Tróia, Ulisses inicia o seu regresso à Terra, a bordo da sua nave Odisseus. Durante a viagem, os discípulos do Ciclope roubam o seu filho Telémaco. Ulisses, secundado pelo robô Nono, mata o Ciclope, deixando cegos os seus discípulos. Consegue assim libertar Telémaco e dois jovens do planeta Zotra – Themis e o seu irmão Numaios –, que também se encontravam aprisionados.

A vingança de Zeus e de Poseidon, criador do Ciclope, não tarda a chegar. Numaios e quase toda a tripulação do Odisseus são colocados num sono profundo, e a nave é levada a atravessar uma parede de gelo galáctico, sendo atirada para o domínio do Olimpo.

Ulisses, Telémaco, Nono e Themis vêem-se agora num mundo desconhecido, de onde não poderão comunicar com o exterior. Até mesmo Shirka, o computador de bordo do Odisseus, perde a orientação e não consegue regressar à Terra. Começa assim esta fantástica aventura, num universo estranho e hostil.

Ulisses
Comandante da nave intergaláctica Odisseus. É um homem do século XXXI, pacífico, audaz e corajoso. Luta por um único objetivo: levar a sua tripulação, sã e salva, de volta à Terra. Para isso, terá de enfrentar uma longa batalha contra os deuses do Olimpo. Ao longo das suas aventuras, mostra-se diversas vezes disposto a sacrificar-se pelos seus filhos e pelos seus amigos. A sua veia heróica não o impede de se mostrar afetuoso e muito humano. Dotado de uma inteligência fora do comum, só recorre à violência em último caso. Quando está em apuros, não dispensa o uso da tecnologia que o seu século futurista lhe coloca ao dispor: está equipado com um cinto antigravitacional, uma espada e uma pistola a laser e um escudo translúcido.

Telémaco
Filho de Ulisses, é um rapaz de 12 anos, esperto, valente e audaz. Pela sua coragem e preparação, é um grande auxiliar do pai em todas as aventuras que têm de enfrentar. Apesar da atmosfera de mistério e de perigo que o rodeia, sente-se feliz em viver esta odisseia junto de Ulisses. Tem uma amizade muito próxima com Themis, a quem tenta proteger.

Themis
Com 6 anos de idade, é natural de Zotra, o planeta branco. Doce e meiga, possui poderes mentais e extra-sensoriais, característicos do seu planeta, que são muitas vezes uma ajuda preciosa para resolver situações difíceis. Ulisses trata-a como a uma filha.

Nono
É o pequeno e gracioso robô que Ulisses ofereceu a Telémaco no dia dos seus anos, antes de partirem da base de Tróia. É um fiel ajudante de Telémaco e chefe dos robôs auxiliares da nave Odisseus. Embora pareça desajeitado, é dotado de inúmeras capacidades. É doido por preguinhos, o seu petisco favorito.

Numaios
Tem 17 anos e é o irmão mais velho de Themis. Também é natural do planeta Zotra. A maldição dos deuses fê-lo cair num sono profundo, em inconsciência total, de que desperta apenas de vez em quando.

Odisseus
É a enorme nave que está sob o comando de Ulisses. Trata-se de uma pequena base espacial que se desloca a grande velocidade. Está dotada de todas as inovações, recursos e comodidades do ano 3000.

Shirka
É o computador central do Odisseus. O funcionamento automático, a informação e captação do espaço exterior dependem de Shirka. Está situada no posto de comando e apenas aceita ordens de Ulisses e Telémaco. Tem uma voz doce e reconfortante.

1. O Ciclope ou A maldição dos deuses
Na base espacial de Tróia, comemora-se o aniversário de Telémaco, que recebe um presente muito especial: o robô Nono. A bordo da sua nave Odisseus, Ulisses parte rumo à Terra, ansioso pelo reencontro com a sua mulher, Penélope. Durante a viagem, avistam um planeta desconhecido, do qual é expelida uma gigante bola de luz, que, após romper o escudo de proteção da nave, leva Telémaco. Quando acorda, o rapaz descobre que foi feito prisioneiro pelos discípulos do Ciclope, e apenas Ulisses poderá salvá-lo…

2. Heratos
Um dia, o velho arqueólogo Heratos salvou Atina, uma jovem nativa de Zotra, dos escombros de uma nave espacial. Ao tentar levar consigo o diário de bordo, que continha o mapa do espaço olímpico, Heratos foi cegado pelos deuses. Desde então, Heratos e Atina vivem sozinhos num asteróide. Porém, tudo pode mudar, já que os deuses prometem a Heratos devolver-lhe a visão, com a condição de ele enganar Ulisses, indicando-lhe o caminho para o cemitério de destroços. O velho cumpre o plano, mas arrepende-se logo em seguida…

3. Flores selvagens
O Odisseus aproxima-se de um estranho planeta inabitado, mas que preserva sinais de uma civilização avançada. Uma sonda identifica que se trata de um planeta-hospital, que dispõe de um equipamento que permite a reanimação. Ulisses e Telémaco vão sozinhos explorar o local e descobrem uma estranha espécie de flores metálicas, programadas para destruir toda e qualquer forma de vida. Enquanto isso, Themis pede a ajuda de Nono para levar Numaios até ao hospital, depositando esperança na sua recuperação…

4. Cronos
Cronos, o Senhor do Tempo, salva o Odisseus de um ataque de naves tridentes. Em seguida, captura Ulisses e oferece-o aos deuses, como moeda de troca para garantir o seu regresso ao Olimpo. Telémaco, Themis e Nono ficam também presos na prisão temporal, em diferentes estações do ano. A bordo do Odisseus, o tempo corre velozmente e ameaça a sobrevivência dos companheiros, que estão prestes a morrer de velhice. Ulisses consegue escapar e chegar ao relógio que controla o tempo de todo o Universo…

5. O planeta perdido
Com a aproximação de um satélite perdido do planeta Zotra, Numaios recupera a vida. Após aterrarem no planeta, Ulisses e os seus amigos ficam estupefactos quando encontram um grupo de zotrianos completamente petrificados, mas cujas sombras ainda correm. Quem os deixou neste estado foi uma bruxa, como vingança por terem afastado as crianças que tanta alegria lhe davam. A bruxa, em fúria quando vê Ulisses, ordena que um monstro o destrua. Apenas a presença das crianças poderá acalmar-lhe os ânimos…

6. Éolo ou O cofre dos ventos cósmicos
Eólia, filha do rei Éolo, festeja o seu aniversário. Como presente, o seu pai pretende proporcionar-lhe alguns momentos de diversão, usando Ulisses como cobaia. Éolo e os seus convidados aguardam ansiosos, menos Eólia, que despreza os jogos cruéis levados a cabo pelo pai. O rei promete libertar os prisioneiros caso eles consigam encontrar o cofre dos ventos cósmicos. Ulisses é, então, submetido a duras provas. Enquanto isso, Telémaco encontra o cofre…

7. Sísifo ou O eterno recomeço
Amaldiçoado pelos deuses, por ter tentado descobrir o segredo da morte, Sísifo, rei de Corinto, foi condenado a passar o resto dos seus dias no Deserto do Tártaro, a atirar enormes esferas para um poço. Desesperado, faz um pacto com os deuses, que consiste em deixar Ulisses no seu lugar, em troca da liberdade. Quando Sísifo assume o controlo do Odisseus, as crianças resistem-lhe e apressam-se a socorrer Ulisses, que caiu no poço. Sísifo, entretanto, descobre que foi enganado pelos deuses e tenta acabar com a sua diabólica maquinaria…

8. A insurreição dos companheiros
Uma terrível tempestade, proveniente de uma nave divina, abate-se sobre o Odisseus. Poderosas descargas elétricas atingem a nave – apesar do seu escudo de proteção –, tiram os companheiros do sono profundo e transformam-nos em apavorantes zombies, que tentam aniquilar Ulisses. Themis usa os seus poderes telepáticos com Numaios, esforçando-se para, através dele, combater este estranho motim…

9. A Esfinge
O Odisseus é atraído por uma gigantesca escultura em forma de Esfinge. No seu interior, duas figuras tenebrosas anseiam pela chegada de Ulisses: a Esfinge e a sua filha Hercrone. Ulisses conquista o direito à liberdade depois de responder acertadamente ao enigma da Esfinge. Porém, Hercrone não quer deixá-lo escapar, já que deseja tê-lo como escravo. Depois de preparar uma armadilha para as crianças, lança um novo desafio a Ulisses…

10. Os Lestrígones
Shirka descobre o planeta governado pelo rei Antífates, líder absoluto dos Lestrígones. Este déspota possui uma vasta coleção de miniaturas de diversas espécies, conseguidas graças a um poderoso prisma, capaz de reduzir o tamanho de qualquer ser vivo. Atingido pelo seu raio, o Odisseus é miniaturizado e cai no mar. Ulisses é capturado por pescadores e levado até ao rei…

11. Caríbdis e Cila
Uma nave oriunda do planeta Terra, fabricada no ano de 2001, surge no espaço olímpico. A bordo, um homem do século XXI, que se encontrava em estado de hibernação, acorda subitamente e pede a Ulisses que o ajude a salvar a restante tripulação. Seguindo as suas instruções, Ulisses parte em direção aos planetas Caríbdis e Cila, ficando preso no seu sistema gravitacional. Apenas Telémaco e Themis poderão salvá-lo de mais esta armadilha dos deuses…

12. A cadeira do esquecimento
Procurando descobrir o caminho de regresso à Terra, o Odisseus segue um transportador de tridentes que o conduz a uma outra dimensão. Ulisses vê-se diante da escada do Olimpo, tendo de enfrentar novamente a ira dos deuses. Estes fazem-no escolher entre duas cadeiras: uma que o levará de volta à Terra e outra que libertará as crianças de um anel infinito no qual se encontram aprisionadas…

13. O tesouro das sereias
Um sarcófago flutua no espaço. Ulisses recolhe-o, mas não consegue abri-lo. Apenas Themis, ao tocar na flauta uma música com que sonhou, consegue que o caixão se abra. Lá dentro, é revelado que um mapa do Olimpo está escondido no planeta Cirina e que se encontra guardado pelas sereias. Mal chegam ao planeta, as crianças são capturadas por piratas que estão à procura do mesmo tesouro. Na ilha das sereias, Ulisses é obrigado a combater uma serpente metálica que sai de um cofre. A flauta de Themis será, uma vez mais, a salvação de Ulisses.

14. O pântano dos duplos
Acompanhado por Themis, Ulisses sai numa naveta em busca de um meteorito, no qual a jovem sentiu intuitivamente a presença do seu planeta, Zotra. Ambos pousam num pântano misterioso, onde são confrontados com robôs cobertos de lama, que possuem o estranho poder de transformarem as suas aparências. Enquanto Ulisses e Themis lutam com esses andróides, os seus sósias entram no Odisseus. Mas Telémaco não se deixa enganar: liga novamente o rádio, escuta o pedido de auxílio do pai e intervém de forma engenhosa.

15. A segunda arca
Ulisses e a sua tripulação aterram num planeta onde tudo está coberto de gelo. O planeta assemelha-se à Terra, mas remonta à era glaciar, ocorrida há mais de 300 milhões de anos. Sobrevoando uma cordilheira que faz lembrar os Andes, o Odisseus é atacado por Kikopters, uma espécie de abutre cibernético com lasers assassinos. Forçada a aterrar, a nave embate num gigantesco bloco de gelo. Os nossos heróis descobrem então a segunda arca, que alberga o povo Sauriano, transformado em escravos pelos deuses. Estes habitantes refugiaram-se na arca para hibernar e aguardar que o dilúvio os libertasse dos pássaros predadores. Conseguirá Ulisses libertá-los?

16. Circe, a maga
Circe não poupa nenhum dos viajantes que passam pelo seu planeta e escraviza-os a todos, transformando-os em porcos. Com o trabalho desses escravos, constrói uma gigantesca biblioteca intergaláctica que se assemelha a uma Torre de Babel. O seu objetivo é alcançar o conhecimento absoluto, superando o poder divino. Os companheiros e as crianças caem nas garras de Circe e são, fatalmente, transformados em escravos…

17. Nereu ou A verdade engolida
Os habitantes de Nerópolis, uma cidade flutuante, vivem em regime de escravatura. Os homens-tubarão reinam supremos, sob a égide de Poseidon. Os prisioneiros deste planeta obedecem como autómatos graças às rémoras, recetores controlados remotamente. A morte do rei Nereu – ou assim se crê – mergulhou os seus súbditos nesse caos. Mas a verdade é que Nereu está vivo e de boa saúde, como se comprova pelo seu pedido de ajuda ouvido pelo Odisseus. Lutando corajosamente contra os tirados, Ulisses escapa com a cumplicidade de um prisioneiro perneta e liberta o monarca. No final de uma luta, os homens-tubarão acabam derrotados. Nerópolis ressoa então com cânticos vitoriosos, afugentando os seus algozes.

18. O labirinto do Minotauro
O rei Minos opõe-se à união da sua filha Ariadne com Teseu, filho de Egeu, e prende-o impiedosamente no seu labirinto. Ulisses é desafiado por Egeu a libertar o seu filho, pois com isso encontrará o caminho para a Terra. Unindo forças, Ariadne, Ulisses e os seus filhos entram no infernal labirinto e matam o Minotauro. Teseu está salvo, mas Ulisses terá uma desilusão ao descobrir que continuará sem saber o caminho de volta à Terra…

19. Atlas
O Odisseus é atraído por campos de gelo galácticos, onde se deparam com a imponente estátua do gigante Atlas. Na sua testa, repousa a pedra do equilíbrio de todos os universos. Nerus, o neto dos deuses, quer destruir Atlas para reinar de forma suprema sobre o Olimpo. Propõe então uma troca a Ulisses: este rouba a pedra de Atlas, e ele indica-lhe a direção da Terra. Apanhado numa armadilha divina, Ulisses apercebe-se do seu erro e restitui a pedra preciosa com a ajuda de Telémaco.

20. O Mágico Negro
O Odisseus é atacado por tridentes e procura refúgio num planeta desconhecido. Como que por magia, os atacantes são todos destruídos e, simultaneamente, os companheiros recuperam a consciência. Estes aparentes “milagres” são obra do Mágico Negro, que recebe a tripulação no seu palácio. Contudo, depressa se percebe que o encantamento tem o seu preço. O Mágico Negro é um caçador nato e, em troca dos seus favores, pretende ficar com três integrantes da tripulação. Ulisses, Telémaco e Numaios combatem com o predador e com os seus cães. E o feitiço vira-se contra o feiticeiro…

21. As revoltosas de Lemnos
Na base de Lemnos, sob o jugo dos homens-tubarão, as mulheres fabricam armas divinas para as naves tridentes. Uma rebelião começa a formar-se. Hipsípile, filha do rei Toas, feita prisioneira, dirige-se para Ístria em busca de ajuda. Salva por Ulisses, ela descobre que a base de Ístria foi destruída. Regressam juntos para Lemnos, onde a fábrica foi abandonada pelas mulheres revoltosas. O Conselho dos Quatro quer depor Toas, enquanto os homens-tubarão se preparam para levantar as armas. Ulisses consegue, heroicamente, reconciliar os Lemnianos e ajudá-los a livrar-se dos seus inimigos.

22. A cidade de Cortex
Um estranho relâmpago congela o Odisseus. Shirka e Nono deixam de responder. A nave de Ulisses encontra-se nas mãos de robôs comandados por Cortex, o rei do planeta das máquinas. É dada ordem de desmantelamento da nave, peça a peça. Nanette, uma encantadora menina robô, está encarregue de liderar a operação. Nono fica completamente dominado por Nanette, mas, tomados pelo remorso, decidem libertar Ulisses, Telémaco e Themis. Nanette sacrifica-se para neutralizar Cortex.

23. Ulisses encontra Ulisses
Enquanto Ulisses cuida de necessárias reparações no Odisseus, as crianças aproveitam para se divertir numa gruta e, inadvertidamente, Telémaco cai num abismo sem fundo, que não é mais do que o “abismo do tempo”. Ulisses é forçado pelos deuses a recuar 5 mil anos, a fim de ajudar o seu homónimo a retomar o trono de Ítaca. Na Grécia Antiga, Telémaco “31” é capturado pelos pretendentes ao trono de Ítaca que desejam casar com Penélope, esposa de Ulisses. Comovida ao ver o filho, Penélope lança um desafio na esperança de inverter o rumo do seu destino. Por sua vez, Ulisses “31” vem em auxílio do mitológico Ulisses.

24. Os Lotófagos
O Odisseus necessita de uma nova paragem para manutenção. Num planeta desconhecido, Ulisses conhece os Lotófagos, povo que fica aterrorizado sempre que o seu vulcão entra em erupção. Para esquecer o medo, os habitantes adquiriram o hábito de comer sementes de lótus, que possuem o poder da amnésia. Enquanto Ulisses extrai esmeraldas restauradoras para a íris da sua nave, um forte sismo abala o planeta. Ulisses é levado ao jardim de lótus, controlado por um robô gigante, e fica amnésico após ser induzido a comer a semente. Felizmente, Lota, um indígena, encontra as crianças e mostra-lhes que tem um antídoto…

25. Calipso
Ulisses responde a um pedido de ajuda, apesar da advertência de Themis de que se trata de uma armadilha. O pedido vem da rainha Calipso, que se mostra destroçada pelo facto de os tridentes terem ferido o sol do seu planeta de cristal. Se Ulisses não intervier, o frio matá-los-á a todos. Na realidade, Calipso age sob a influência de Zeus para matar Ulisses. Contudo, uma irresistível paixão surge entre Calipso e Ulisses, que baixam as armas e se abraçam. A raiva de Zeus irrompe e Calipso terá de ser castigada…

26. O reino de Hades
Atacado por gigantes traças, o Odisseus chega a uma ilha coberta de neve e fica sem energia. Surge então um náufrago, Orfeu, que suplica a Ulisses que o conduza ao reino de Hades, onde espera reencontrar a sua esposa, Eurídice. Ao mesmo tempo, Caronte, o barqueiro do Inferno, captura o Odisseus e leva-o até ao reino de Hades. Ulisses acreditar estar próximo de regressar à Terra com os seus companheiros, mas… serão os deuses cumpridores da sua palavra?

Ulisses 31 começou a ser concebida em 1978. O ponto de partida foi a Odisseia, de Homero, um poema composto por 24 cantos. Procurou-se fazer uma transposição da Antiguidade para o Espaço, criando um universo antigo e futurista ao mesmo tempo.

Primeira peça de divulgação

Dos 26 episódios da série, nove tiveram os seus temas extraídos da Odisseia, enquanto outros tantos se basearam em episódios da Mitologia; três foram histórias paramitológicas inventadas pelos autores; e cinco pura ficção científica.

Foi percetível a influência do universo de George Lucas na conceção da série, visível no design altamente tecnológico das naves, no sabre a laser de Ulisses e no humor de Nono.

Outra comparação pode ser feita com 2001 – Odisseia no Espaço. Tal como no filme, em que a nave Discovery era comandada por um computador central, Hal 9000, na série, o Odisseus tinha ao seu comando uma versão feminina, Shirka.

Ulisses 31 foi a primeira co-produção franco-japonesa no domínio da animação, com uma importância sem precedentes.

Foi também a primeira obra de projeção internacional da DiC, que até então apenas se dedicava à produção de séries com episódios de 5 minutos, tais como As Aventuras de Pluma d’Alce e O Mágico Archibald, também exibidas pela RTP.

Para esta empreitada, a DiC aliou-se ao TMS (Tokyo Movie Shinsha), estúdio japonês de animação.

Em 1980, foi produzido um episódio piloto (nunca exibido), realizado por René Borg, que fora também responsável pela conceção dos personagens. O resultado não agradou, e diferendos entre Borg e a equipa japonesa fizeram com que ele abandonasse o projeto.

O episódio piloto foi disponibilizado na Internet, de forma não oficial, e, embora a história seja a mesma na essência, as diferenças para o resultado final são abissais.

Comparação entre algumas passagens do piloto...
... e do primeiro episódio

Neste piloto, Ulisses era apresentado como um homem biónico, que, em estado de fusão com uma bola de energia, denominada “31”, conseguia regenerar-se e ultrapassar as suas faculdades humanas. Este elemento, fundamental na primeira versão da série, foi totalmente suprimido.

Adicionalmente, no piloto, Ulisses revela um lado mais bruto, com manifestações de fúria e uso da força física, contrastando com a versão final, quando as suas atitudes passam a ser predominantemente ditadas pela inteligência.

Bernard Deyriès tomou o lugar de René Borg e promoveu alterações profundas. Ulisses e Telémaco tiveram o seu visual completamente modificado. Themis e Numaios sofreram também ligeiras alterações. Apenas Nono se manteve bastante próximo da versão original.

Conceção original de Nono

O Odisseus, que no piloto se assemelhava a um pneu, transformou-se numa nave bastante mais complexa.

A série estreou na FR3 em 1981, sendo transmitida de forma peculiar: cada episódio era repartido em seis partes, exibidas de sábado a sexta (com exceção dos domingos), às 19:55, num horário de grande visibilidade (antes do telejornal). Apenas aos sábados, às 18:30, o episódio era exibido na íntegra.

Na colaboração entre franceses e japoneses, fizeram-se sentir algumas diferenças culturais entre os dois países. Ao passo que, no ocidente, Ulisses era indiscutivelmente uma figura heróica, para os japoneses era um perfeito desconhecido e tratado como um qualquer protagonista de desenhos animados. Os episódios com maior densidade mitológica eram, por isso, incompreendidos pela equipa japonesa.

Outro ponto de discordância foi o papel das mulheres, que para os japoneses deveriam sempre ocupar uma posição de inferioridade e de subserviência em relação aos homens. Esta diferença de pontos de vista conheceu especial relevância no episódio As Revoltosas de Lemnos, onde existia uma rebelião liderada por mulheres.

A presença na história de jovens (Telémaco, Themis e Numaios) e de um robô (Nono) foi uma imposição dos japoneses, que consideravam essas figuras fundamentais para a aceitação da série pelo público jovem.

No que respeita à banda sonora de Ulisses 31, esta seria, por si só, uma saga.

Os temas musicais foram, em primeira instância, encomendados aos americanos Ike Egan e Denny Crockett. Baseando-se unicamente nos resumos dos episódios e em alguns croquis dos principais personagens, compuseram músicas orquestradas ao estilo Star Wars ou Star Trek.

Jean Chalopin, co-autor da série e responsável pela DiC, ficou insatisfeito com o resultado e solicitou uma segunda leva de temas, num estilo mais Techno/Pop/Punk.

A estas músicas juntaram-se alguns temas concebidos por Shuki Levy e Haim Saban, que utilizaram sintetizadores para introduzir alguma modernidade.

Apesar da aparente rejeição do trabalho de Crockett e Egan por parte de Jean Chalopin, a maioria das suas músicas foi aproveitada na série, com uma preponderância inequivocamente superior à coleção de Levy e Saban. O resultado foi uma banda sonora com uma identidade muito própria e uma qualidade inalcançável na generalidade das séries de animação.

Em 1981, aquando da primeira exibição da série, foi lançado um LP que, da série propriamente dita, apenas continha os temas dos genéricos, compostos por Saban e Levy e interpretados por Lionel Leroy. As restantes faixas eram canções dedicadas aos vários personagens, mas que não eram executadas no decorrer dos episódios.

Para a reposição de 1983, existiu uma segunda versão do genérico, Ulysse Revient, interpretada por Jacques Cardona. O disco foi relançado, incluindo, para além desta música, uma seleção de 6 temas instrumentais.

O sucesso de Nono foi tal que deu origem a um disco com temas interpretados pelo pequeno robô.

Durante muitos anos, os masters da banda sonora foram o “Santo Graal” das bandas sonoras de séries de animação, julgando-se perdidos.

Contudo, em 2001, a editora Loga-Rythme fez questão de que Ulisses 31 figurasse entre os títulos da sua coleção Animé Classique. Para suprir a suposta inexistência do material, tentou-se reconstituir as várias faixas a partir da versão internacional (sem diálogos) da série, o que inevitavelmente interferiu na qualidade do resultado, até mesmo pelo facto de não ter sido possível eliminar alguns ruídos sobrepostos às músicas.

Em 2012, pela coleção Télé 80, foi editado em CD o conteúdo dos discos originais, trazendo alguns temas instrumentais inéditos de Saban e Levy. Logo em seguida, foi relançado o álbum com os temas interpretados por Nono.

No ano seguinte, montou-se o puzzle com o ressurgimento – ainda que de forma apenas parcial – dos temas compostos por Denny Crockett e Ike Egan, a partir de uma cópia existente no arquivo pessoal de Denny Crockett (já que as fitas originais se haviam perdido, efetivamente).

Do alinhamento deste CD fez parte um tema composto para o genérico e interpretado por Denny Crockett, que apenas tinha sido utilizado na versão da série exibida parcialmente num canal de satélite japonês em 1981 (em 1988, houve uma nova exibição, na qual toda a banda sonora da série foi substituída por uma nova, composta por Kei Wakakusa).

Em 2016, em homenagem ao 35.º aniversário da série, a Télé 80 lançou uma nova edição, que à anterior juntou os temas dos genéricos nas suas versões americana, espanhola, italiana e portuguesa.

Ainda em 2016, uma outra edição comemorativa compilava pela primeira vez, num CD duplo, a quase integralidade dos temas musicais das duplas Saban/Levy e Crockett/Egan.

O feito foi repetido no 40.º aniversário, numa edição “definitiva” onde foram incluídos temas adicionais, bem como uma seleção de efeitos sonoros da autoria de Hidenori Ishida e Shinji Kobayashi, e três curtos temas de Seiji Suzuki, a quem a TMS sugerira inicialmente entregar a responsabilidade pela banda sonora.

O músico francês David Colin (Parallax) lançou em 2016 uma releitura autorizada da banda sonora. O projeto tivera início em 2007, quando os temas originais não estavam ainda editados de forma oficial, o que acabou por dar ao artista alguma liberdade de criação, de forma a completar alguns trechos em falta.

Este projeto coincidiu no tempo com o lançamento do CD da dupla Crockett/Egan – que deu, aliás, a sua “bênção” à iniciativa –, o que reforçou a vontade de Parallax de se distanciar de uma mera reconstituição da banda sonora original. Procurou, pois, conferir às músicas alguma individualidade, ainda que se tenha mantido fiel ao espírito sonoro.

Yannick Rault, que reorquestrara os temas perdidos de As Misteriosas Cidades de Ouro, também colaborou neste projeto.

Em Portugal, a série passou uma única vez, entre 1984 e 1985, aos sábados de manhã.

Apesar de ter sido exibida em francês, com legendas, o genérico – adaptado da primeira versão francesa – era cantado em português.

Um extenso rol de artigos foi lançado, entre os quais:

– Um single com o tema do genérico;

– Uma coleção de bonecos em PVC, produzida pela Maia Borges;

– Uma caderneta de cromos, com a chancela da Disvenda;

– Livros recortados e livros de pintar, também da Disvenda;

– Uma coleção de 4 livros pela Editorial Notícias;

– Uma revista de banda desenhada, distribuída pela Agência Portuguesa de Revistas.

Dedicado às produções da DiC, o livro Les séries de notre enfance, da autoria de Nordine Zemrak e Maroin Eluasti – publicado em 2013 e reeditado dez anos depois, em versão ampliada – contém cerca de 40 páginas com importantes informações sobre a série.

Em 2019, também da autoria de Maroin Eluasti, foi lançado o livro Ulysse 31 – L’histoire et les coulisses d’un dessin animé culte de notre enfance – uma bíblia ainda mais completa sobre a série.

Ulisses 31