Um Amor Feliz

Exibição:
22/09/1990 – 13/10/1990 (RTP 1)

Número de episódios:
04

Segundo o romance de:
David Mourão-Ferreira

Adaptação e diálogos:
David Mourão-Ferreira
Herculano Carreira
Artur Ramos

Produção:
Maria Helena Cardoso

Realização:
Artur Ramos

Elenco:
Rui Mendes – Fernão
Margarita Lascoiti – Inge
Clara Joana – Isabel
Manuel Coelho – Tomás
Maria João Luís – Zu
Maria José – Floripes
Lídia Franco – Vana
Paula Guedes – Clara
Isabel de Castro – D. Ottavia
António Rama – Helmut
Fernanda Montemor – D. Mercês
Adelaide João – Sogra de Vana
Eugénia Bettencourt – Mulher do diplomata
Fernanda Figueiredo – Caseira
Filipa Fonseca – Vicky

Participação especial:
David Mourão-Ferreira – David

Outros intérpretes:
A. J. Correia – Presidente
Hugo Marti – Diplomata
Otelo Lapa – 1.º médico
António Garção – 2.º médico
Joaquim Rosário – 3.º médico
Anabela Marques – 1.ª jornalista
Maria Santos Ramos – 2.ª jornalista
Rosário Nohemi – 3.ª jornalista
Eduardo Firmo – 4.º jornalista
José Queiroga – Ministro
Gonçalo Cardoso – Fernão (criança)
Roberto Soares – Padrasto
Marina Albuquerque – Empregada do consultório
Sandra Faleiro – Isabel (adolescente)
Luís Assis – Fernão (adolescente)
Agostinho Santos – Rececionista do hotel
Aurora Martins – Banhista
Ana Maria Augusto – Banhista
Margarida Anselmo – Rececionista
Mário Figueiredo – Locutor
Nicola Warren – Nicola
Armindo Costa – Vendedor de jornais
Laura Cruz – Enfermeira

Fernão (Rui Mendes) e Clara (Paula Guedes) fazem confidências das suas vidas amorosas, numa sessão de fados que encerra um congresso sobre medicina pediátrica. Grandes amigos, ambos são casados com pediatras – ele com Isabel (Clara Joana) e ela com Tomás (Manuel Coelho) –, mas nada têm a ver com esta profissão: Fernão é escultor e Clara jornalista na revista Charme.

Clara e Fernão

No seguimento da conversa, os dois concordam que dois amantes, para serem perfeitos, têm de estar casados com pessoas diferentes, devendo a idade do homem ser um pouco superior à da mulher.

É então que Fernão recorda o seu amor feliz. Trata-se de Inge (Margarita Lascoiti), uma mulher que conheceu num jantar em casa de uns diplomatas. Ela é casada com o empresário Helmut (António Rama) e tem uma filha adolescente. A interlocução prossegue com a narração desta história amorosa.

Inge e Fernão

Nessa retrospetiva, outras personagens aparecem na vida de Fernão, por vezes com intuitos menos bons. Vana (Lídia Franco), por exemplo, é uma artista plástica insuportável que o persegue por todo o lado. Mas quem verdadeiramente o incomoda é o autor de uns bilhetes anónimos e ameaçadores que aparecem no pára-brisas do seu automóvel, quando ele se encontra com Inge.

Vana

A relação entre Fernão e Inge torna-se mais séria, mas ela não se sente à vontade em ser vista com ele em locais públicos e, ao fim de algum tempo, desaparece sem avisar.

Os bilhetes anónimos, entretanto, não cessam, adicionando-se outro problema para Fernão: Dona Ottavia (Isabel de Castro), a sua mãe, por quem ele nutre uma certa mágoa, provavelmente por questões ligadas ao seu padrasto. É Isabel quem o aconselha a aproximar-se de Dona Ottavia, até porque a sua saúde se encontra gradualmente debilitada.

D. Ottavia

Clara, por seu turno, também tem um caso extraconjugal. Tomás (Manuel Coelho), o seu marido, tem hábitos considerados estranhos entre os seus pares: às mães dos pacientes sem grandes possibilidades, oferece-lhes medicamentos, pedindo em troca que elas façam striptease, enquanto ele fica a contemplá-las. Uma das suas presas é Zu (Maria João Luís), uma cabeleireira que vem a ser filha de Floripes (Maria José), a mulher-a-dias do atelier de Fernão.

Zu e Tomás

Compreende-se, portanto, que Clara procure a felicidade fora do casamento, sendo por mero acaso que Fernão fica a conhecer a identidade do seu amante: trata-se de David (David Mourão-Ferreira), aquele escritor muito conhecido que já foi Secretário de Estado e que aparece em tudo o que é conferências. Ou seja, alguém de quem, na verdade, Fernão quer alguma distância, por lhe causar uma irritação cujo motivo não consegue explicar.

Clara e David

Subitamente, Inge reaparece para um último encontro com Fernão, mas nada acontece entre os dois. Floripes percebe o que aconteceu e chega a ser um pouco indiscreta. Em tom de despedida, Inge oferece-lhe o seu perfume.

Pouco depois, Dona Ottavia enlouquece e chama Fernão de pai, numa das poucas visitas que ele lhe faz no lar gerido por Mercês (Fernanda Montemor). Porém, o seu transtorno em nada se compara com as preocupações de Isabel, que anda perturbadíssima com o facto de ter de despedir Tomás devido ao seu comportamento. Vítima do stress, sente-se mal e é internada nos cuidados intensivos, mas acaba por se recuperar. O mesmo não acontece com Dona Ottavia, que morre no lar onde residia. É no seu funeral que alguém divulga a notícia de que Tomás se candidatou a deputado, numa altura em que Fernão já tinha descoberto ser ele o autor dos bilhetes anónimos.

Uma personagem menos importante acaba por se destacar no último capítulo: é David, o tal escritor amante de Clara. Após escrever muita poesia, parece disposto a iniciar-se no romance e confessa a Fernão que o elegeu para seu protagonista. Este, todavia, reivindica a autoria dessa obra de ficção, onde caberá a David encarnar uma personagem secundária.

Por fim, Fernão conhece uma mulher muito parecida com Inge e decide esboçar o seu retrato…

Fernão (Rui Mendes)
Escultor prestigiado, é casado com Isabel, com quem tem uma relação cordial. Apaixona-se por Inge, mulher do empresário Helmut, após conhecê-la num jantar oferecido por uns diplomatas. Mantém um atelier onde se dedica às suas criações artísticas. Será esse o local dos seus encontros com Inge. É confidente de Clara, que também ouve os seus desabafos mais íntimos, mas não suporta a pessoa que ela escolheu para ter uma relação extra-conjugal.

Inge (Margarita Lascoiti)
É a protagonista feminina desta história. Casada com Helmut, vive com ele e com a filha numa bela quinta nos arredores de Sintra. De origem espanhola, tem família em Portugal e esforça-se por falar corretamente português. Apesar de ceder à sua paixão por Fernão, não se sente à vontade em aparecer com ele em público.

Isabel (Clara Joana)
Esposa de Fernão, é uma mulher um tanto voluntariosa, muito bem-sucedida na sua função de diretora do departamento de pediatria de um hospital. Vive para o trabalho, pois tem consciência de que o seu casamento já se esgotou. É ela quem aconselha Fernão a dar mais atenção à mãe, que vive num lar. Embora trabalhe na área da saúde, sofre de uma angina de peito, que a leva aos cuidados intensivos quando é obrigada a tomar a decisão de despedir Tomás.

Tomás (Manuel Coelho)
Pediatra assistente de Isabel. Subserviente, mas bastante ambicioso. Acaba de montar um consultório e pensa em fazer o doutoramento no estrangeiro. Com a mulher, Clara, é ciumento e controlador. Convida as mães dos seus pacientes a fazerem striptease, oferecendo medicamentos como contrapartida. Não gosta de Fernão e coloca-lhe bilhetes anónimos e ameaçadores no pára-brisas do seu carro.

Clara (Paula Guedes)
Editora da revista Charme. Amiga e confidente de Fernão, não vive bem com o marido, o pediatra Tomás. Envolve-se emocionalmente com um escritor conhecido, chamado David, que já foi secretário de estado e está resolvido a escrever um romance.

Helmut Bianco (António Rama)
Marido italiano de Inge, parece não se dar conta do caso amoroso que esta mantém com Fernão. Empresário de sucesso, atravessa uma crise séria no presente.

Vicky (Filipa Fonseca)
Filha de Inge e Helmut. Goza com o português macarrónico dos pais.

Floripes (Maria José)
Mulher-a-dias no atelier de Fernão, sabe tudo sobre a sua vida amorosa, assunto em relação ao qual não tem qualquer pudor em falar. Por entre ameaças veladas, vai amealhando algum dinheiro em troca do seu silêncio. É mãe de Zu.

Zu (Maria João Luís)
Filha de Floripes. Trabalha no cabeleireiro de homens frequentado por Fernão. Tem uma grande frustração por não ser correspondida no seu interesse pelo “mestre”, por quem anseia ser retratada. Sob o seu ponto de vista, é devido às suas origens humildes que ele a despreza. No entanto, sabe que tem um corpo bonito e não hesita em fazer um striptease privativo quando é convidada por Tomás.

Vana (Lídia Franco)
Ex-amiga íntima de Fernão. Artista plástica sem muito talento, dedica-se à cerâmica e às tapeçarias, ambicionando ser reconhecida pelos meios artísticos nacionais. Persegue Fernão com o intuito de ascender socialmente, fazendo de conta que não se apercebe do seu desdém. Com intuitos similares, encosta-se a David, para que ele escreva um artigo sobre a sua exposição.

David (David Mourão-Ferreira)
Poeta renomado, está prestes a escrever o seu primeiro romance. Já foi titular de cargos importantes, incluindo o de secretário de estado, e agora pretende transformar os acontecimentos a que vai assistindo numa obra de ficção. É nada mais, nada menos do que o autor, David Mourão-Ferreira.

D. Ottavia (Isabel de Castro)
Mãe de Fernão, de origem italiana. Vive num lar e não tem com o filho uma relação muito saudável. Encontra-se debilitada física e psicologicamente.

Mercês (Fernanda Montemor)
Gerente do lar onde reside D. Ottavia, zela para que nada lhe falte, ciente de que se trata de uma utente com um nível superior ao de outras que tem a seu cargo.

1. O xaile branco (22/09/1990)
Fernão, escultor, é casado com Isabel, diretora de um serviço hospitalar de pediatria. Um dos assistentes de Isabel, Tomás, cujo comportamento não deixa de ser estranho, é marido de Clara, jornalista que, por sua vez, se tornou a melhor amiga e confidente de Fernão. Fernão, entretanto, apaixona-se por Inge, uma bela estrangeira, também casada. Em breve começam a encontrar-se no atelier do escultor. Até que, uma tarde, aparece no carro de Fernando um papel anónimo vagamente ameaçador.


2. Sombras e luzes (29/09/1990)
Inge e Fernão têm continuado a manter o seu “amor feliz”. Inge tem alguma dificuldade em conciliar a sua vida familiar com o romance. Fernão acaba por descobrir que o amigo de Clara é David, escritor conhecido, com quem Fernão mantém umas relações muito frias. Tomás ocupa de maneira estranha os seus fins de tarde, recebendo no seu escritório visitas muito particulares. Os papéis anónimos são cada vez mais ameaçadores. Helmut está metido em negócios escuros, e são obrigados a ir para Londres. Inge pede a Fernão que lhe telefone. Ele tenta, mas a ligação revela-se impossível.


3. No rasto do Sol (06/10/1990)
O misterioso desaparecimento de Inge leva Fernão a procurá-la no Algarve, onde lhe parece possível que se encontre. Em vão. Só mais tarde, enigmaticamente, ela lhe telefona de Londres. Fernão decide-se, enfim, a visitar a mãe, um reencontro que inesperadamente o pacifica. Retoma até hábitos antigos, serões mais ou menos pacatos com Isabel. Inge regressa finalmente e, assim que chega ao aeroporto, telefona-lhe a marcar um encontro para o dia seguinte.


4. Uma carta na mão (13/10/1990)
Já não é possível restabelecer o antigo clima de exaltação. A vida como que se vai desagregando em volta daquele amor feliz. A doença da mãe de Fernão agrava-se. Isabel é afetada pelos escândalos provocados por Tomás. Clara deixa o marido e vai viver uma vida nova. Quando chega finalmente uma carta de Inge, há muito esperada, já Fernão parece ter-se interessado por uma bela desconhecida com quem ultimamente se tem cruzado. Irá nascer um novo “amor feliz”?

Um Amor Feliz foi exibida aos sábados à noite, na RTP 1.

A série é baseada no primeiro e premiado romance de David Mourão-Ferreira. A responsabilidade de transformar o livro em guião foi do próprio autor, de Artur Ramos (que também realizou) e de Herculano Carreira.

O livro, publicado em 1986, foi editado com diversas capas, todas ilustradas com obras da autoria de Francisco Simões, como era hábito nos livros do autor.

Em 1988, Francisco Simões surgiu no primeiro programa da série O Elogio da Leitura, dedicado a David Mourão-Ferreira, explicando o propósito de criar uma capa diferente para cada edição da obra.

O artista foi também responsável pelos desenhos e pelas esculturas de Fernão (Rui Mendes) que aparecem na série.

No romance de David Mourão-Ferreira, a protagonista feminina não tem nome próprio, sendo identificada pela letra Y. Na série, segundo Fernão, o seu nome (Inge) não deveria começar I, mas por Y, pois é com esta letra que ela se parece quando está de pé e de costas, com os braços abertos. Para a interpretar, foi escolhida uma atriz espanhola, Margarita Lascoiti.

Para além de colaborar na adaptação, David Mourão-Ferreira fez também uma “perninha” como ator. O facto de se interpretar a si próprio foi, nas palavras do romancista, o que mais dificuldade trouxe à tarefa: “Foi muito difícil. […] Hoje, estou convencido de que seria muito mais fácil se tivesse criado uma personagem completamente diferente de mim. Mas entendi que devia aceitar esse desafio que o Artur Ramos me fez, embora, nessa aceitação, não tivesse havido nada de narcisístico. Antes pelo contrário, porque a personagem que sou eu na adaptação televisiva, tal como acontecia no romance, não é bem tratada pelas outras pessoas. Faço humor comigo mesmo, trato-me mal em certos aspetos. Claro que há aqui outra coisa a considerar: algumas das opiniões que na própria série se exprimem a meu respeito correspondem a imagens estereotipadas, e com as quais não estou de acordo. […] O que houve para nós de apaixonante em ser eu a interpretar o papel de uma personagem que já no livro seria facilmente identificável comigo foi o de inserir no plano da ficção um plano de realidade. Mas esta é, no fim de contas, mais fictícia do que parece; e a ficção também é mais realística do que pode parecer. É desse entrechoque de planos que resulta, porventura, uma das novidades dessa adaptação”.

David Mourão-Ferreira em cena com Lídia Franco

Não por acaso, o livro Obra Poética, também da autoria de David Mourão-Ferreira, surge numa cena, com uma função dramatúrgica.

A cena mais ousada da série foi protagonizada pela atriz Maria João Luís, que surgiu em nu integral.

Para o genérico, foi escolhido um tema de Shostakovich – a Sinfonia N.º 15, Op. 141: 1. Allegretto –, numa interpretação da Orquestra Sinfónica de Gotemburgo, dirigida pelo maestro Neeme Järvi.

Um Amor Feliz foi reposta de 12/08/1995 a 02/09/1995, na RTP 2.

A série encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

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Um Amor Feliz