Se Raquel (Regina Duarte) acredita que a única maneira digna de se viver é obedecendo a uma consciência ética, para Maria de Fátima (Glória Pires), sua filha, honestidade é um valor que está fora de moda, valendo tudo em nome da ascensão social. Nessa medida, sem que a mãe saiba, vende a casa onde as duas viviam e parte para o Rio de Janeiro, em busca de uma oportunidade para dar um grande golpe.

Juntamente com César (Carlos Alberto Riccelli), seu cúmplice desde o início, planeia arranjar um marido rico e a escolha acaba por recair sobre Afonso (Cássio Gabus Mendes), herdeiro da milionária Odete Roitman (Beatriz Segall).

Identificando-se com Fátima, Odete promete-lhe todo o apoio se ela conseguir separar Raquel do executivo Ivan (António Fagundes), que a matriarca deseja unir à sua filha, a alcoólica Heleninha (Renata Sorrah), mulher traumatizada com a convicção de que é responsável pelo acidente que vitimou o seu irmão mais velho.

Fátima consegue cumprir o desejo de Odete e casa-se com Afonso. Raquel ainda tenta denunciar as suas maldades, mas Odete aplaude a iniciativa de Fátima em querer subir na vida, sem desconfiar de que a nora não só tem um amante, o aludido César, como ainda o sustenta com o dinheiro da família.

Raquel, entretanto, também consegue um lugar ao sol e, depois de vender sanduíches na praia e de cozinhar para fora, torna-se proprietária de uma cadeia de restaurantes, sofrendo sabotagem por parte de Odete, que a vê como uma ameaça à felicidade de Helena.

O plano de Fátima prossegue e, ao ficar grávida, a possibilidade de conseguir uma ótima pensão em caso de divórcio aumenta as suas expectativas. Porém, a sua integridade começa a ser posta em causa, primeiro por Celina (Nathália Timberg), irmã de Odete, e depois pelo próprio Afonso. Ao ser descoberta, Fátima é colocada sob vigilância até que a criança nasça e se saiba quem é o pai. O resultado do exame de DNA é claro, diagnosticando, sem sombra de dúvidas, que o filho não é de Afonso.

Expulsa da vida dos Roitman, Fátima jura vingança e aproxima-se de Marco Aurélio (Reginaldo Faria), braço direito de Odete na companhia de aviação TCA. Enquanto isso, César envolve-se com a matriarca, que se apaixona loucamente por ele a ponto de enfrentar toda a família em nome de tal relação.

Todavia, não demora muito para Odete descobrir que o amante continua mancomunado com Fátima e a partir daí a sua vida atravessa os seus piores momentos. Por um lado, Helena fica a saber que era a mãe e não ela quem conduzia o automóvel no acidente fatal em que perdeu o irmão. Por outro, Odete é informada que desde há muito vinha a ser roubada por Marco Aurélio dentro da TCA e, no mesmo dia, passadas poucas horas, é assassinada com três tiros de revólver.

Contrariamente ao que seria esperado, quem matou Odete não foi nenhum dos seus inimigos: Odete morreu simplesmente porque Leila (Cássia Kiss), esposa de Marco Aurélio, descobriu o caso que ele mantinha com Fátima e resolveu vingar-se. De tão transtornada que estava, não identificou quem acompanhava o marido, disparando os três tiros sem pensar.

O desfecho de Vale Tudo não é moralista: se Raquel prospera com a cadeira de restaurantes, Fátima consegue dar a volta por cima e arranja um casamento de conveniência com um príncipe homossexual que quer manter as aparências. César acompanha-os, compondo um triângulo amoroso muito pouco ortodoxo…

Mais uma novela de grande sucesso, que conquistou grandes audiências e uma popularidade notável aquando da sua exibição.

Vale Tudo foi anunciada pela RTP como “a telenovela que rivalizou em popularidade com Roque Santeiro” e mereceu um destaque notável na imprensa portuguesa de televisão.

Conhecido por escrever sobre personagens ricos e sofisticados, desta vez Gilberto Braga colocava a ética como tema central desta novela, que escreveu em regime de co-autoria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Vale Tudo soube debater a crise de valores sem nunca deixar de prender o telespectador com uma intriga muito bem arquitetada.

Vale Tudo recebeu elogios de algumas personalidades do mundo do espetáculo, como Varela Silva, Suzana Borges ou Margarida Carpinteiro, que apontou Regina Duarte como um monstro sagrado na arte de representar.

Opinião divergente manifestou Luísa Barbosa, em entrevista à TV Guia:

Admira algum ator brasileiro em especial?
Adoro o António Fagundes, a Beatriz Segall (que maravilha de atriz!), a Renata Sorrah e aquele miúdo que faz de filho da velha má (Cássio Gabus Mendes)…

E da protagonista, a Regina Duarte?
Já não gosto tanto, não sei porquê… Gosto de alguns e considero que os outros são para “encher”…

A personagem de Beatriz Segall foi das mais marcantes, numa das vilãs mais odiadas da história das telenovelas. Glória Pires também teve nesta novela um dos melhores papéis da sua carreira.

Apesar de ter sido originalmente exibida em 204 capítulos, em Portugal foi vista uma versão para exportação, concentrada em 140.

Curiosamente, a cena mais comentada da novela foi cortada nesta versão. Trata-se do gesto que Marco Aurélio faz para a câmara, quando consegue escapar impune. Esse gesto, vulgarmente chamado manguito em Portugal ou banana no Brasil, não aparece, talvez por poder ser considerado ofensivo pelo público estrangeiro.

Todavia, a versão internacional deixou escapar o mesmo gesto no capítulo 47, desta vez feito por Maria de Fátima quando se vê sozinha em casa de Afonso.

A música da abertura que vimos é a mesma, mas apareceu numa versão instrumentalizada. Porém, em três ocasiões, uma delas no último capítulo, ouvimos o tema Brasil cantado por Gal Costa, tal como aconteceu sempre que a novela foi transmitida no Brasil.

Entre as duas aberturas existem também diferenças a nível visual, nos primeiros segundos. Em vez de imagens com a bandeira do Brasil, na abertura internacional aparece o Cristo Redentor e outros elementos associados ao país.

No dia 09/05/1990, o programa Às Dez abordou as telenovelas como tema central da edição. Foram comentadas algumas das questões abordadas em Vale Tudo, ilustrando com cenas dos capítulos anteriores. A apresentadora, Ivone Ferreira, falou ainda sobre a importância da banda sonora numa telenovela, exemplificando com o tema de Ivan e Raquel em Vale Tudo: Baby Can I Hold You, sucesso de Tracy Chapman.

Reginaldo Faria, que se encontrava em Portugal com a peça Somente Entre Nós, foi anunciado como um dos convidados deste programa, mas à última hora não pôde comparecer, devido a alegadas dificuldades na sua deslocação aos estúdios do Porto.

É curioso que, ainda nessa altura, o povo português confundia os personagens das telenovelas com os seus intérpretes. Durante um passeio de comboio pelos arredores de Lisboa, Reginaldo Faria teve uma experiência inusitada: “Estava eu a apreciar a paisagem através da janela quando fui abordado de uma forma inesperada. Um homem olhou-me fixamente e, muito indignado, exclamou: ‘Você é o Marco Aurélio! Como é que está a andar de comboio? Não é possível que um homem tão rico esteja aqui.’ Enquanto eu reclamava porque é que não podia andar de comboio, e explica que não era tão rico como ele imaginava, as pessoas daquela carruagem comentavam que o homem tinha razão!…”

Tal como aconteceu com Sassaricando, foi a revista Eles e Elas a primeira a publicar o desenlace de Vale Tudo. Ali era apontada Leila como a assassina de Odete Roitman, antes mesmo de a cena do crime ir ao ar.

Por seu turno, a revista TV 7 Dias ofereceu um LP com a banda sonora da novela a quem acertasse no nome do assassino de Odete. Todavia, a essa altura, toda a gente já poderia saber pelos jornais e revistas a identidade da personagem misteriosa.

O referido LP, com alguns dos temas da telenovela, foi lançado no início de 1990.

Não obstante, foram ainda lançadas edições piratas, uma com temas nacionais e outra com temas internacionais.

A TV Guia publicou uma entrevista com a autora Leonor Bassères, mas equivocou-se na grafia do seu sobrenome.

No ano de 2003, o canal GNT da TV Cabo repetiu Vale Tudo, mas desta vez a novela não fez sucesso. Começou por ser transmitida a versão integral, mas a partir de certa altura passámos a ver a versão internacional e, para que a produção se aproximasse cada vez mais do fim, a novela passou a ir ao ar também aos fins-de-semana em capítulos duplos, acabando dois meses mais cedo que o previsto.

Ainda assim, e dado que estamos perante uma telenovela bastante emblemática, a TV Globo Portugal decidiu repeti-la, entre 2011 e 2012.