Eugénia Reis (Mariana Rey Monteiro) nasceu e cresceu na Praia da Fé, onde o pai era pescador remendado e os irmãos cedo se lançaram ao mar, para fazer face ao parco sustento. Por lá, conheceu António (Mário Pereira) e, puxada pelo coração, dele engravidou. O vento não era favorável à vida com que tanto sonhara. Vendo repetir-se nela, em decalque, a vida da mãe, lança-se à procura de nova rota: parte para Lisboa e casa-se com Augusto Reis. Depressa fica viúva e, com a vida mais desafogada, regressa num afã à Praia da Fé, procurando retomar a relação com António no ponto em que a deixara. Mas o pescador, num fogacho de orgulho, fecha-lhe inequívoca e ostensivamente o coração, humilhando-a. Também ele se casara com Ermelinda (Maria José). Furiosamente e de garbo ostensivamente carregado, Eugénia volta a casar-se. E o casamento tem o mesmo fim que o primeiro: volta a ficar viúva. António não deixa de ser pedra no sapato de Eugénia: para dominar na totalidade o negócio da pesca da Praia da Fé, falta a Eugénia a licença que pertence ao velho pescador, de cuja vida miserável não hesitará em aproveitar-se.

Do casamento com Caetano Fragoso, ficaram a cargo de Eugénia os três enteados: Madalena (Simone de Oliveira), João (Virgílio Castelo) e Paulo (Guilherme Filipe). João e Paulo não se suportam, vincando o contraste de feitios que existe entre ambos. Sentindo-se na crista da onda, Paulo treme quando João lhe descobre o escuso do carácter e ameaça denunciá-lo à Polícia: a troco de dinheiro, Paulo usa os barcos de Eugénia para transportar avolumadas cargas de droga. As manigâncias são do conhecimento de Alberto (Rui Mendes) e de Mafalda (Sofia Alves), filha de João. Para evitar comprometer a filha, João decide confrontar o irmão. A luta chega a vias de facto e Paulo chega mesmo a convencer-se de que matou o irmão.

Não foi a primeira vez que Paulo lançou farpa no irmão: antes, relacionara-se com a ex-mulher de João, a ambiciosa e cínica Beatriz (Helena Isabel). Do que ele não desconfia é dos reais motivos de Beatriz para se aproximar da família Fragoso e ter Eugénia debaixo de olho. Paulo não perde muito tempo a chorar a morte do irmão e, ao ver a ingénua Mariana (Patrícia Tavares) – que começara a trabalhar na mansão a pedido de Mestre António –, tenta seduzi-la, mas, não sendo correspondido, parte para a violação.

Mariana estava enamorada de João, embora a timidez a impedisse de o confessar. Lá pela Praia da Fé, onde João pintava, palpitava-lhe o coração. Mariana crescera em casa de António e de Ermelinda, comendo o pão que o diabo amassou. Quando é escorraçada de casa de Eugénia, acusada de roubo e de seduzir Paulo, a vida transforma-se numa tormenta, penando, grávida de Paulo, por Espanha, para onde fugira também Maria do Rosário, a filha que Eugénia entregara a António e que este lhe jurara ter morrido. Na realidade, perdeu-lhe o rasto, sendo em surpresa (talvez) que se fica a saber que está bem viva e próxima deles, vivendo na Rua da Torre sob o nome de Madame Sara (Estrela Novais), uma mística cartomante.

Dado como morto, João é acolitado por Leonardo (Armando Cortez), um andrajoso mendigo que, escondendo a sua verdadeira identidade, o vai alertando para o invisível da vida. Por entre o esgar de dor de viver escondido, João vai tentando ajudar no que pode a vida das filhas Mafalda e Carolina (Sofia Grillo). Por Mafalda, e pela vitalidade do casamento da filha, assina quadros como se fosse o genro aldrabão Samuel (André Gago) a pintá-los.

João conta com o apoio do amigo Cassiano (Marques d’Arede), agente da Judiciária que, ocultando a sua verdadeira ocupação, tenta incriminar Paulo. Para seu desgosto, descobre que o pai, Mestre Ruivo (Carlos Santos), colabora também com a perigosa organização.

Os cordelinhos do poder são manipulados pelo poderoso Vasco Tavares (Nicolau Breyner) e por Madalena (Simone de Oliveira), em cujo amor Eugénia interferiu, contribuindo para o divórcio de ambos.

Veemente é o acerto de contas com a vida de Eugénia Reis, que a ambição moldou, querendo proteger-se de uma vida de privações, e a quem todos parecem enganar. E, quando lhe afiançam que a neta está viva, não hesita em descobri-la. Eugénia sabe que esta é a derradeira oportunidade para se unir a António, que, viúvo, corre para os seus braços de sal, rebentando as ondas de felicidade da família unida.

Eugénia Reis (Mariana Rey Monteiro)
Nascida na Praia da Fé, desde muito cedo que teve a vida embrulhada no fatalismo associado às gentes do mar. O pai e os irmãos, perdeu-os num naufrágio. Apaixonada por António, de quem engravidou, fugiu à má sina, lançando a rede à volta do dinheiro de Augusto Reis, um homem muito mais velho do que ela. Vendo-se viúva, voltou a bater à porta de António, mas este, seco, rejeitou-a, anunciando-lhe que se voltara a casar e que a filha de ambos morrera. De orgulho amolgado, casou-se em segundas núpcias com Caetano Fragoso, a quem ajudou a criar os filhos, tratando-os como se fossem dela. Não hesita em culpar António pela perda da filha e clama vingança por este se ter casado com Ermelinda. É dona de uma empresa de pescas, a PescaRica, com a qual fez fortuna, controlando parte significativa dos barcos e traineiras da Praia da Fé. Ríspida e seca, parece ser dura, de pedra, mas é ludibriada com facilidade pela família Fragoso.

Madalena Fragoso (Simone de Oliveira)
Enteada de Eugénia. De feitio bem aguçado, é a governanta da mansão e procura controlar e manipular a vida de todos quantos lá vivem. Não se perde em amores por Eugénia, a quem acusa de ser a principal responsável pelo fim do seu casamento com Vasco, odiando-a por isso. Recalcada e ferida, arrasta-se em tramóias e esquemas, com o propósito de ser sua a mansão onde vive.

João Fragoso (Virgílio Castelo)
Enteado de Eugénia, irmão de Madalena e de Paulo. É, dos três, o único que verdadeiramente caiu no goto de Eugénia, talvez por parecer ser o menos interesseiro. É pintor. Quando vai à Praia da Fé à procura de inspiração para os quadros, seduz, de forma pouco consciente, Mariana. Tem duas filhas, Mafalda e Carolina, de casamentos diferentes. É amigo de Cassiano, com quem divide um apartamento.

Paulo Fragoso (Guilherme Filipe)
Irmão de João, a quem detesta, e de Madalena, com quem tem relação mais cordial. É um dos braços-direitos de Eugénia na PescaRica. É violento e não olha a meios para atingir os fins sórdidos a que se propõe. Usa os barcos da empresa para o tráfico de droga. Não resiste aos encantos das empregadas mais jovens. Convencendo-se de que é um sedutor sensual e irresistível, tenta violar Mariana, cujo coração vai disputar com o irmão. Tem um caso com Beatriz e muita sede de poder.

Mariana (Patrícia Tavares)
Neta de Mestre António e de Eugénia (que desconhece este facto). Desconhece as suas verdadeiras origens. Tem um amor sincero por João, a quem contempla quando ele vai pintar para a Praia da Fé. Vai trabalhar para casa de Eugénia e, involuntariamente, engravida de Paulo, vivendo um atormentado caminho de pedras.

Bernardo (Bernardo Moreira Lopes)
Filho de Paulo e de Mariana. É alvo da afeição de Mimi, que o adota como neto, e raptado sucessivas vezes pela rede de Vasco.

Beatriz (Helena Isabel)
Ex-mulher de João. Sem pestanejar, traiu-o com o ex-cunhado, Paulo. Dela pouco se sabe. Esconde debaixo do manto um passado de amarguras e de sofrimento iniciado na morte do pai. É a mãe de Carolina, que com ela cortou relações ao saber que se deitara com o tio. Trata com inclemência Eugénia, com quem parece ter contas para ajustar.

Carolina Fragoso (Sofia Grillo)
Filha de João e Carolina. Passou a rejeitar a mãe depois de esta ter traído João. Tem talento para as artes.

Mafalda Fragoso (Sofia Alves)
Filha de João, meia-irmã de Carolina. Trabalha na PescaRica e, ingenuamente, acaba por se ver envolvida nos negócios escuros de Paulo e Alberto. É casada com Samuel, que se juntou a ela por interesse.

Samuel (André Gago)
Marido de Mafalda. De jeito afetado, algo afeminado nos trejeitos, sente-se um objeto estranho na família Fragoso. Querendo ser socialmente reconhecido, dá largas ao (pouco) talento de pintor que julga ter. Assina Samuel, embora o seu nome verdadeiro seja Sebastião Pimentel. Alardeia sucesso, recorrendo a uma casa de penhores para lhe justificar certos rendimentos.

Maria do Amparo (Maria Dulce)
Melhor amiga e confidente de Eugénia. Mulher de Gabriel, com quem vive relação tumultuada, feita de enganos e de traições. Abespinha-se ao saber que o marido é um aldrabão. Tem uma licença de pesca e um armazém na Praia da Fé, que contribuem para o sustento da casa.

Gabriel Figueira de Sá (Henrique Viana)
Marido de Maria do Amparo. Marialva lisboeta, vive de biscates, sobretudo da venda de mercadorias contrabandeadas. Teve três filhos com Suzete. É amigo de João.

Suzete (Vera Mónica)
Ex-amante de Gabriel, de quem tem três filhos. Dá-se bem com Maria do Amparo e é uma língua-solta no que diz, acrescentando por vezes pontos aos contos que conta da vida alheia. Vai trabalhar como mulher-a-dias na galeria de Samuel. Tem um vozeirão para o fado.

Mizé (Margarida Miranda)
Filha de Suzete e Gabriel. Colega de Carolina na escola.

Luís (Pedro Varela)
Filho de Suzete e Gabriel. Para ganhar uns trocados, vende cachorros na rua. É apaixonado por Carolina e sente ciúmes da sua relação com Cassiano.

Cátia (Mónica Marta)
Filha mais nova de Suzete e Gabriel. Tem jeito para desenhar, fazendo Gabriel acreditar que se tornará uma grande artista.

Alexandre (Canto e Castro)
Pai de Gabriel. Dono de uma tasca, em sociedade com o compadre Herculano. É forreta, mas amigo do seu amigo. Em tempos longínquos, esteve ligado ao teatro. Apaixona-se por Madame Sara.

Herculano Aleixo (Carlos César)
Irmão de Maria do Amparo e de Alberto. É sócio de Alexandre na tasca. Tem um capachinho que lhe oculta a calvície e é rezingão. Tem um carinho especial por Madame Sara.

Madame Sara (Estrela Novais)
Cartomante tida em boa conta por todos na Rua da Torre. Tem um passado entranhado em mistério, recusando-se a falar dele, por ainda a fazer sofrer. Sabe-se que viveu em Espanha, que matou um homem e que teve uma filha da qual perdeu o rasto.

Guidinha (Mané Ribeiro)
No início da novela, é manicura, colocando o coração malandro de Gabriel em transe e Maria do Amparo em frenesim. Sensual, engasga os corações masculinos. Herda a retrosaria da madrinha, melhorando de vida.

Mestre António (Mário Pereira)
Foi a grande paixão de Eugénia, com quem teve uma filha, Maria do Rosário. Homem de trabalho, abnegado e honrado, vive dias sofridos, esforçando-se como pode para sustentar uma mulher doente, Ermelinda, e uma neta, Mariana, a quem gostaria de dar vida melhor.

Ermelinda (Maria José)
Mulher de Mestre António. De lenço na cabeça, dedicou toda a sua vida ao marido, o seu grande amor. Foi uma pedra no sapato de Eugénia e, tantos anos depois, continua a não conseguir disfarçar o seu rancor pela rival. A sua saúde debilitada preocupa o marido e a neta.

Mestre Ruivo (Carlos Santos)
Pescador ressentido, duro. Colabora com a rede de contrabando. É pai de Cassiano.

Cassiano (Marques d’Arede)
Filho de Ruivo e amigo de João. Desperta a atenção de Mafalda e de Carolina. Disfarçado de fotógrafo, é, na verdade, agente da brigada da Judiciária que tenta apanhar a rede de tráfico de droga.

Custódio (Benjamim Falcão)
Pescador que salva João da morte. Interesseiro e chantagista, exige dinheiro para manter o seu silêncio.

Mestre Xico (António Évora)
Pescador da Praia da Fé. Homem honesto, trabalha para Maria do Amparo no seu barco, o Polvinho.

Nazaré (Maria da Paz)
Peixeira, mulher de Mestre Xico e amiga de Ermelinda.

Leonardo Reis (Armando Cortez)
Mendigo por opção. Tem uma cadela rafeira, a Traviata, e muito dinheiro. Desavenças com os filhos fizeram-no desistir da vida luxuosa que sempre tivera. É irmão de Augusto Reis, o primeiro marido de Eugénia, e conhece a ambição desmedida da ex-cunhada. Amigo do amigo, vai ajudar João e Mimi.

Mimi (Lourdes Norberto)
No passado, foi a famosa cantora de ópera Maria Helena Contreiras. Perdeu a voz depois de ser maltratada por Alberto. Fugiu da clínica onde ele a internou e tornou-se mendiga. Nas ruas da amargura, à beira da morte, é encontrada e salva por Leonardo e João numa linha de caminho-de-ferro. Tem um ciúme quase infantil de Leonardo, que vê como seu protetor, e de Bernardo, que afirma ser seu neto.

Alberto (Rui Mendes)
Advogado de Eugénia. Cúmplice de Paulo nos negócios escuros. É irmão de Maria do Amparo e de Herculano. Foi apaixonado por Helena Contreiras, mas internou-a por saber demais e constituir uma ameaça.

Patrícia (Vera Alves)
Divide o apartamento com Beatriz. Trabalha na galeria de Samuel, de quem é amante. Tem um filho, Tiago, fruto de uma relação com Mário.

Fátima (Paula Pedregal)
Mendiga esperta e espevitada, afeiçoa-se a Mariana, tirando-a do inferno de vida onde esta caíra. Embora tenha sentimentos nobres, é sedenta por dinheiro e um alvo fácil para a cobiça de Madalena.

Careca (Rui de Sá)
Companheiro de Fátima. É arrumador de carros e não tem pretensão de arranjar algo melhor. Conhece Gabriel, a quem, por vezes, presta alguns favores.

Júlia (Cremilda Gil)
Empregada de Eugénia. Conhece como poucos os patrões.

Vidal (Rodolfo Neves)
Motorista de Eugénia. Arrasta a asa a Júlia, insistindo que devem “juntar os trapinhos”.

Mário Gonçalves (Luís Vicente)
Marido de Patrícia. Está preso, acusado de ter dado um desfalque na PescaRica, crime do qual clama ser inocente.

Vasco Tavares (Nicolau Breyner)
Ex-marido de Madalena Fragoso, que abandonou por influência de Eugénia. Homem misterioso, sempre trajado de negro, é o mentor de uma rede de tráfico de droga e o arqui-inimigo de Eugénia. A voz rouca dá-lhe um traço misterioso acrescido.

Tiago (Juan Goldin)
Espanhol, capanga de Vasco.

Espanhol (German Bravo)
Capanga de Vasco.

Artur
Capanga de Vasco. Ocupa o lugar deixado vago pelos espanhóis.

Manuela
Secretária da PescaRica em Lisboa.

Filipa
Secretária da PescaRica na Praia da Fé.

Tiago
Filho de Patrícia e Mário.

Capitão (Luís Matta)
Capitão do Porto de Sesimbra. Investiga o desaparecimento de João.

Jorge (Manuel Castro e Silva)
Aproveita-se da ingenuidade de Mariana para a levar para Espanha, onde a coloca num bar de prostituição.

Prostituta (Regina Paula)
Prostituta loira do bar para onde Mariana vai trabalhar. Divide o quarto com ela.

Alfredo (João Nuno Fonseca)
Funcionário da papelaria onde Leonardo vai comprar material de pintura para João. Olha com desconfiança para o “mendigo”.

Marques da Costa (Manuel Cavaco)
Dono da papelaria. Liga para o banco para se certificar da idoneidade de Leonardo, sendo informado de que este tem crédito ilimitado.

Médico (José Alves)
Médico da Clínica de Santo Onofre, onde Mimi está internada. Depressa se apercebe de que Mimi não sofre de qualquer distúrbio mental e quer dar-lhe alta.

Enfermeira (Maria Tavares)
Enfermeira da clínica. Trata Mimi com bastante delicadeza.

Fernando Mesquita (David Silva)
Curador que, a pedido de Leonardo, compra a Samuel todos os quadros pintados por João.

Perito (Rui Fernandes)
Perito em arte, amigo de Beatriz, examina os quadros de Samuel e descobre que foram pintados por João.

Fonseca (José Eduardo)
Advogado de Leonardo. Cuida dos seus interesses, para que Leonardo possa permanecer incógnito.

Jornalista (Jorge Veiga Xavier)
Entrevista Samuel na galeria, questionando-o acerca da sua súbita mudança de estilo.

Adelaide Martins (Manuela Maria)
Antiga funcionária do colégio onde Ana Beatriz, a sobrinha de Leonardo, esteve internada. É procurada por Leonardo e Alexandre, que investigam o seu paradeiro.

Celeste (Maria João Abreu)
Vem de Abrantes para passar uns dias em Lisboa com a amiga Guidinha. Envolve-se com Gabriel.

Funcionária (Lina Morgado)
Funcionária da Santa Casa onde a sobrinha de Leonardo esteve internada.

Funcionária
Funcionária da Conservatória que deixa Leonardo pesquisar os registos.

Agente (António Aldeia)
Agente da Polícia Judiciária, colabora com Cassiano.

Agente (Paulo Matos)
Agente da Judiciária. Investiga a acusação de tráfico de droga de que João é vítima.

Alfredo Reis (Jorge Silva)
Filho mais novo de Leonardo. Reconhece que não soube gerir as empresas do pai e prepara-se para ir viver no Brasil.

Tristão Reis (Igor Sampaio)
Filho de Leonardo. Encontra-se gravemente doente.

Dr. Simões (Carlos Mendonça)
Professor de etiqueta contratado por Madalena para ensinar bons modos a Fátima.

Dr. Sequeira
Advogado que substitui Alberto na PescaRica.

Deolinda (Lurdes Santos)
Vizinha de Mestre António. Está a tomar conta de Bernardo numa das ocasiões em que ele é raptado.

Luísa (Andrea Oliveira)
Neta de Leonardo que, aos poucos, se vai afeiçoando ao avô.

Carmo (Raquel Ferreira)
Irmã de Luísa.

Maria da Esperança (Deolinda Rodrigues)
Amiga de Maria do Amparo. Dona da casa de fados onde Suzete começa a cantar.

Manuel Paiva (Luís Esparteiro)
Homem endinheirado que fica fascinado pela voz de Suzete.

Condutor (Eduardo Viana)
Condutor da carrinha de pesca de Vasco, que é intercetada pelos pescadores.

Comandante (Carlos Gonçalves)
Comandante da GNR de Sesimbra.

Marlene (Florbela Queiroz)
Namorada de Alexandre. Faz um escândalo na tasca, acusando-o de lhe ter oferecido bombons estragados.

Inspetor (Fernando Guerreiro)
Trata do caso da morte de Vasco e de uma acusação de violação proferida contra Paulo.

Depois de alcançarem o sucesso de crítica e de audiência com Roseira Brava, Tozé Martinho, Sarah Trigoso e Cristina Aguiar tentaram, em Vidas de Sal, a “dobradinha”. Os autores trocaram o campo pelo mar e urdiram uma novela interessante, que foi aquecendo com o evoluir da trama.

A produção teve como título provisório Estátuas de Sal.

Na véspera da estreia, foi exibido um espetáculo de apresentação, gravado no Forte de Santiago, em Sesimbra. O especial contou com a presença de vários intérpretes da banda sonora, que foram sendo apresentados pelos atores.

No final, o elenco presente juntou-se para a interpretação de um tema original, aludindo às diversas figuras da novela.

Foi com este trabalho que Mariana Rey Monteiro pôs termo a uma carreira notável, vivendo a protagonista, Eugénia Reis. A atriz viria a falecer em 2010.

Depois de dar vida à antipática Amélia Falcão de Roseira Brava, Simone de Oliveira viveu, em Vidas de Sal, uma assustadoramente intragável e recalcada Madalena Fragoso, que lhe rendeu o aplauso da crítica.

Percebe-se, por este excerto do livro Num País Chamado Simone, de Nuno Trinta de Sá, o quão marcante foi o papel para a atriz:

Gostei muito das Vidas de Sal, era a Madalena Fragoso, horrorosa, má, péssima, chamavam-me nomes na rua, ai Maria santíssima!

Nas Vidas de Sal, eu tive uma cena lixada, violentíssima, em que partia tudo no escritório da Mariana, em que chorava, daquelas cenas que ou se faz à primeira ou não se consegue, porque depois as lágrimas já não saem. Eram para aí quatro da tarde. Eu ainda tinha mais cinco ou seis cenas para gravar, mas encostei-me a um cenário e pedi uns três minutos. Nisto, o Álvaro (Fugulin) desceu e disse: “Meus senhores, acabámos por hoje, porque eu não posso pedir mais nada a esta atriz, nem aos câmaras nem a mim próprio!”. Acho que isso é muito bonito.

Havia um câmara que chorava. O Virgílio Castelo contracenava comigo, era meu irmão, mas não tinha nada que chorar, ele odiava de morte aquela irmã. E eu a aperceber-me, ai ai ai, que estás aí no limite… Perceber isso é muito bom. Não são coisas que vêm nas revistas, nem nada, mas são coisas que aconteceram e que guardo com muita paixão.

Lourdes Norberto criou uma Mimi sofredora e pueril, capaz de fazer o público compadecer-se com a sua dor. Realce e mérito também para Leonardo Reis, defendido por Armando Cortez. Os dois veteranos protagonizaram um final capaz de levar o público às lágrimas.

André Gago deu corpo a um Samuel canalha, carente e inepto, responsável por diversos momentos cómicos – por exemplo, quando se esforçava por tratar os seus interlocutores por “você”, mas, estalando-lhe o verniz, escorregava para o “tu”.

Inicialmente em pés de lã, servindo de “bengala” a Mariana (Patrícia Tavares), foi ganhando destaque a destemida Fátima, que Paula Pedregal interpretou, colocando Eugénia e Madalena em sentido e de nervos em franja, com a sua falta de modos.

Merecem ser creditados, igualmente, os desempenhos do malfeitor Alberto (Rui Mendes), do repugnante Paulo (Guilherme Filipe) e do grande vilão da trama, Vasco Tavares (Nicolau Breyner), cuja caracterização toda de preto e voz quase robótica contribuíram para o sucesso da personagem.

Uma nota de referência para a repetição de um par de Roseira Brava, formado por Virgílio Castelo e Patrícia Tavares, desta vez como protagonistas. Se Mariana tinha uma trajetória muito semelhante à da Anabela de Roseira Brava – pelo menos até certo ponto –, o melancólico João Fragoso em nada lembrava o vilão Manolo da Purificação.

Com um cariz popular bem vincado, o núcleo da Rua da Torre replicou uma trama também existente em Roseira Brava: a acirrada disputa de dois homens mais velhos por uma mulher. A situação, com alguns pontos de contacto com o romance de Ortense (Manuela Maria) com Vitalino (Carlos Coelho) e Julião Saraiva (Canto e Castro), voltou a colocar Canto e Castro na “luta”. Desta feita, o coração a conquistar era o da enigmática Madame Sara, vivida por Estrela Novais, e o rival era desempenhado por Carlos César.

A poucos dias da estreia, o fatalismo bateu à porta de Mário Pereira, um dos vértices do triângulo amoroso mais idoso da novela. O ator morreu sem poder assistir no pequeno ecrã ao seu desempenho.

Maria José, que formava com Mariana Rey Monteiro e Mário Pereira esse triângulo, presenteou também o público com um desempenho comovente.

Sofia Grillo estreou-se nas novelas vivendo Carolina Fragoso e não ganhou para o susto durante as gravações. À TV Guia, contou que levou ao pé da letra a interpretação da cena do incêndio no barracão, onde se encontrava juntamente com Mafalda (Sofia Alves), assustando-se de verdade com as chamas e “esquecendo-se” de que era uma simulação.

O bebé Bernardo, que representava o papel do filho de Mariana, era filho de uma amiga de Patrícia Tavares.

Para recriar a imaginária Praia da Fé, a NBP escolheu, para as gravações, uma pequena praia na Serra da Azóia. A aldeia piscatória localizava-se perto de Espichel. Por seu turno, as cenas de pesca, com barcos e lançamentos de redes, passaram-se em Sesimbra.

A casa de Eugénia era já conhecida do público mais atento. Situada na Praça de Diu, no Restelo, tinha já sido cenário da telenovela Palavras Cruzadas (1987). Em 2005, reapareceu em Ninguém como Tu.

As cenas da Vila da Mula foram gravadas na Rua da Torre, no Bairro da Ajuda.

Também neste bairro, ficava situado o Salão Portugal, décor do núcleo dos mendigos. Este cinema, que abriu portas em 1928 e se manteve em atividade até 1977, encontrava-se, na época da gravação da novela, abandonado e em muito mau estado. Foram gravadas cenas não só no exterior, mas também algumas no interior. Em 2000, mantendo a fachada original, o edifício foi restaurado e convertido em sede do Comité Olímpico de Portugal.

O quartel-general de Vasco Tavares era a Quinta de São Sebastião, em Arruda dos Vinhos. A casa tinha já sido usada em Cinzas (1992/1993), a primeira telenovela da NBP. No entanto, em Vidas de Sal, foi mostrada sobretudo a fachada traseira da moradia.

Carolina, Luís (Pedro Varela) e Mizé (Margarida Miranda) estudavam na Escola Secundária Rainha Dona Amélia, a mesma da série Os Melhores Anos (1990).

Na última cena da novela, Eugénia e Mestre António encontram-se no Farol do Molhe de Sesimbra. Ela pergunta se se atrasou muito e ele responde: “40 anos”. Este diálogo é uma citação da cena final de O Casarão, exibida entre nós em 1978, na qual os personagens João Maciel (Paulo Gracindo) e Carolina (Yara Côrtes) trocam exatamente as mesmas palavras.

A excelente banda sonora, criada por Paco Bandeira, foi lançada em CD:

Tocaram também os seguintes temas, não editados em CD:

QUANDO OS AMIGOS ESTÃO LONGE – Paco Bandeira
FAROL – Paco Bandeira
JÁ SEI QUE NÃO – Manuel Lourenço (tema de Mafalda e Samuel)
CONSELHO – Nuno Cabrita
MI CHIAMARO MIMI – Puccini (tema de Leonardo e Mimi)
UNA FURTIVA LAGRIMA – Trio Odemira
QUEM SABE – Filomena Amaro (soprano) & Gabriela Canavilhas (piano) (tema de Mimi)

Temas instrumentais:
DIAS IGUAIS
ÁFRICA EM FLOR
ESTAREI SEMPRE CONTIGO
INCERTEZA
MAU DA FITA
MADALENA
ANDAIME
PRELÚDIO
ESTA CHAMA EM MIM

A Donuts criou uma divertida campanha em que brincava com as telenovelas em exibição no início de 1997. Uma delas era Vidas de Sal.

A novela encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.