Vidas Proibidas – Ballet Rose

Exibição:
21/09/1998 – 23/11/1998 (RTP 1)

Número de episódios:
10

Autoria:
Francisco Moita Flores
Felícia Cabrita

Argumento e diálogos:
Francisco Moita Flores

Música:
António Victorino D’Almeida
Ricardo Jesus Dias

Cenografia:
António Casimiro
Miguel Sá Fernandes

Produção:
Cila do Carmo

Realização:
Leonel Vieira

Elenco:
Amadeu Caronho – Agente Oliveira
Ana Catarina Alves – Ivone
Ana Padrão – Genoveva
Ana Zanatti – Condessa da Rocha
Ângela Pinto – Explicadora de Inglês
Anita Guerreiro – Maria
António Assunção – Juiz Conselheiro
António Banha – António
António Cerdeira – Gaspar
António Évora – Diretor da PJ
António Melo – Procurador
Canto e Castro – Marquês
Carlos César – Cristóvão
Carlos Lacerda – Ministro da Justiça
Carlos Santos – Agente Afonso
Carmen Santos – Dr.ª Manuela
Catarina Avelar – Isaltina
Cláudia Carvalho – Rapariga #1
Cucha Carvalheiro – Catarina
Diana Marques dos Reis – Rapariga #2
Fátima Belo – Isabel
Fernanda Lapa – Marquesa
Filomena Gonçalves – Rosa de Melo
Filomena Oliveira – Celeste
Graça Braz – Olívia
Henrique Viana – Miguel Galvão
Igor Sampaio – Bispo
Inga Barciella – Amélia
Joana França – Gisélia
Joana Marques dos Reis – Rapariga #3
João Lagarto – Ministro da Presidência
João Maria Pinto – Psiquiatra
João Perry – Conde da Rocha
Jorge Sousa Costa – Cónego
José Eduardo – Carlos Coimbra
José Pedro Gomes – Agente Reinaldo
José Raposo – Dr. Florival
José Wallenstein – Dr. Augusto
Linda Silva – Deolinda
Lourdes Norberto – Dr.ª Odete Lencastre
Lucinda Loureiro – Dr.ª Berta
Luís Alberto – Inspetor da PJ
Luís Pavão – Chefe do Gabinete M.J.
Manuel Castro e Silva – Vítor
Manuela Carona – Alda
Márcia Breia – Leonor
Margarida Marinho – Ricardina
Maria Emília Correia – Ilda
Maria José Pascoal – Brígida
Marina Albuquerque – Cremilde
Noémia Costa – Lourdes
Orlando Costa – Juiz
Patrícia Tavares – Júlia
Paula Pais – Gabi
Paulo Matos – Garcia
Pedro Górgia – Joaquim
Renata P. Coutinho – Laura (1961)
Rita Alagão – Zulmira
Rogério Samora – Padre Manuel
Rui Luís – Rifas
Rui Luís Brás – Juiz Asa I
Rui Mendes – Subdiretor da PIDE
São José Lapa – Dr.ª Filomena
Sofia Alves – Laura
Sónia Jerónimo – Ludovina
Sónia Jardim Almeida – Ofélia
Suzana Borges – Eva
Tânia Crespo – Rita
Tânia Filipa Pereira – Carolina
Virgílio Castelo – Agente Álvaro
Vítor Emanuel – Jerónimo
Vítor Rocha – Agente Rufino

Lisboa, 1967. Em pleno regime, rebenta um escândalo sexual que perturba os alicerces do Estado Novo: um grupo de homens influentes da sociedade e até membros do governo sustentam uma rede de prostituição, que utiliza raparigas menores como objetos de prazer.

O fio da meada começa a desenrolar-se quando Laura Rodrigues (Sofia Alves) é presa numa rusga efetuada a uma pensão. Na polícia, a jovem – mas experiente – prostituta começa a revelar os contornos de uma chocante teia de pedofilia.

Ao tomar conhecimento de que a PJ se encontra a investigar um caso tão escaldante e perigoso para a reputação do regime, a PIDE tenta, a todo o custo, impedir o avanço das diligências da Judiciária e abafar o escândalo iminente. Mas, apesar de algumas traições e fraquezas de certos investigadores, o inevitável acontece e a verdade acaba por se tornar pública…

Miguel Galvão

Laura (Sofia Alves)
19 anos de idade. Filha de Ilda e de Miguel Galvão. Toda a sua vida foi uma perversão. A mãe levou-a para a prostituição aos 11 anos, iniciando-a em jogos sexuais clandestinos. Considera os homens que conhece idiotas. Quando a polícia lhe entra de supetão pelo quarto da Pensão Dominó, e a leva para interrogatório, não cala o brado. Embrulha o agente Afonso numa teia de mentiras. Solta o coração ao inspetor Josué, revelando tudo o que até então ocultara.

Ilda (Maria Emília Correia)
Mãe de Laura e prostituta de “longo curso”. Mulher com sina de meretriz. Finória, arrastou-se para a alcova de Miguel Galvão e a partir daí não parou. É a principal responsável pelo “recrutamento” de crianças. À polícia, conta outra cantilena: que ajuda Deolinda e Miguel a cuidar de criancinhas em desvelos preocupados.

Miguel Galvão (Henrique Viana)
Presidente da Portugal e África. Amigo de ministros. É um homem arrogante e um dos principais promotores de bacanais em casa de Genoveva. À boca cheia, clama ter caridade pelas crianças de vida desvalida que, por piedade, acolhe em casa de Ilda, que as sustenta e as educa. Libidinoso e descarado, arrebanha as filhas dos caseiros das propriedades do Alentejo para lhe satisfazerem os vícios carnais.

Deolinda (Linda Silva)
É uma das principais angariadoras de crianças para a casa de Genoveva. Mais rústica do que Ilda, é uma das mulheres de mão de Miguel.

Alda (Manuela Carona)
Esposa de Miguel Galvão, a quem considera ser o melhor marido do mundo.

Conde da Rocha

Conde da Rocha (João Perry)
Dirigente da União Nacional, é um debochado. Garboso, puxa dos galões de fidelidade a um regime do qual sabe a gramática e valores de cor. O seu maior prazer são práticas de relações sexuais com mulheres e crianças. É ele quem apresenta Ilda a Genoveva, cuja casa frequenta em permanência. Usa ceroulas, pormenor que acaba por o implicar. Distribui, de sorriso fino, rebuçados para gulodice das crianças com quem se deita. Renega o seu filho.

Condessa da Rocha (Ana Zanatti)
Esposa do Conde da Rocha, torce o nariz à vida dissoluta do marido, de quem não engole as desculpas de mau pagador. Os seus refúgios são o grupo de amigas e as iniciativas do Movimento Nacional Feminino. Sente a falta do filho e luta para o tirar das garras da PIDE, prometendo cuidar dele. É incapaz de dizer se é ou não feliz.

Gaspar (António Cerdeira)
Filho dos Condes da Rocha. Passou à clandestinidade e foi preso pela PIDE.

Maria
Empregada dos Condes da Rocha. Tímida, a quem o Conde tenta seduzir.

Marquês de Albuquerque

Marquês de Albuquerque (Canto e Castro)
Homem na casa dos 70, é impotente sexualmente e vai comprovando-o na casa de Genoveva. Apoiante do regime, procura mostrar em público as virtudes que lhe faltam em privado. Deliciado pela empregada Isabel, deleita-se por lhe poder tocar, dengoso, nas maminhas, a troco de várias notas. É ele quem arrasta a serviçal para casa de Genoveva.

Maria do Carmo (Fernanda Lapa)
Marquesa de Albuquerque. A sua vida é uma sensaboria: entre chás de caridade, canastas e visitas piedosas aos hospitais, ocupa o resto do tempo a desfilar as doenças que a acometem – a principal é o álcool. Mas junta outras: enxaquecas e espondilose. Queixa-se de que o marido nem sequer repara que existe.

Júlia (Patrícia Tavares)
Filha do Marquês de Albuquerque. Estudou num colégio interno. Contorna o pouco interesse que os pais lhe dedicam com tabaco e revistas de homens nus. Anseia estar com um homem, mas treme de medo de não ser capaz. Na cama, sente-se bem com Isabel.

Isabel (Fátima Belo)
Embeiçada por um furriel em África, trabalha em casa do Marquês de Albuquerque, como criada de servir. Diz que aprendeu a beber com a patroa. É virgem, acredita no amor e sonha entregar-se ao marido. Mas as tentações do patrão ensinam-lhe o caminho dos homens. Pelo meio, vai trocando carinhos com a filha dos patrões, Júlia.

Casa de Genoveva

Genoveva (Ana Padrão)
Sob o disfarce de modista, é a mais sofisticada prostituta da capital, e em sua casa recebe influentes personalidades do regime, clientes com uma predileção especial por crianças. Para todos os efeitos, as senhoras, os homens e as crianças que se ajuntam em sua casa são apenas clientes, maridos destas, ou filhas.

Ricardina (Margarida Marinho)
Professora primária. Mal a vê, Genoveva torce o nariz e murmura o veredito: é beata em demasia. Mas o olho clínico da modista deteta alguma sensualidade oculta. Ganha muito dinheiro em troca do corpo, mas tem vergonha do que faz.

Rosa de Melo (Filomena Gonçalves)
Divorciada, envereda pela prostituição como forma de ganhar dinheiro e de se divertir. É professora de História no liceu, de onde amiúde alicia alunas para a casa de Genoveva. É perversa e tem uma língua solta. Desamarrada de escrúpulos, vai dizendo verdades em laivos de carregada ironia.

Zulmira (Rita Alagão)
Mulher de um oficial do exército que foi para o ultramar. Durante a ausência do marido, encontra na luxúria a forma ideal de fintar a miséria da vida. É uma das mais assíduas e procuradas da casa de Genoveva.

Eva (Suzana Borges)
Mãe de Ivone, tenta que Genoveva tome conta da filha. É advogada, mas como o dinheiro escasseia lá por casa, entra nesta vida. Não hesita em oferecer a filha ao Conde e ao Marquês.

Ivone (Ana Catarina Alves)
Filha de Eva.

Olívia (Graça Braz)
Prostituta de Genoveva. Romântica e sonhadora.

Maria (Anita Guerreiro)
Empregada da casa de Genoveva.

Ludovina (Sónia Jerónimo)
Aluna de Rosa no liceu. Chega à casa de Genoveva pela sua mão.

Ofélia (Sónia Jardim Almeida) 
Tem 12 anos e não é virgem, mas é vendida a Carlos Coimbra como tal, numa trapaça de Miguel Galvão e do Conde da Rocha, com vista a obter dinheiro para fins políticos. O banqueiro não sabe e nem desconfia, depois de ver no lençol uma mancha de sangue, que não sendo seu é como se fosse.

Celeste (Filomena Oliveira) 
Moça que se faz passar por virgem para dormir com Carlos Coimbra, deitando sangue de coelho no lençol. O gosto de Carlos por virgens fá-lo cair em mais esta esparrela.

Polícia Judiciária

Inspetor Josué Fernandes (Luís Alberto)
Inspetor da PJ, desmantela a rede de prostituição. Intransigente e com uma seriedade à prova de bala, tem asco aos odores que exalam do “Ballet Rose”. Polícia e magistrado, não descansa enquanto não vir os culpados sentados no banco dos réus.

Agente Afonso (Carlos Santos)
É o principal elemento da PJ envolvido na investigação da rede de pedofilia. Quando a mostarda lhe chega ao nariz, torna-se violento e impulsivo. Deixa-se tentar pela PIDE, que procura arquivar o caso, e começa a desconfiar que a brigada – e particularmente Josué – lhe oculta detalhes de rusgas e de interrogatórios.

Agente Rufino (Vítor Rocha)
Descobre o envolvimento de Afonso com a PIDE e denuncia-o ao Inspetor Josué.

Agente Oliveira (Amadeu Caronho)
Homem da confiança do Inspetor Josué. Foi colega de Rosa no liceu, que não chegou a acabar por desinteresse nos estudos. Mal terminou a tropa, os conhecimentos do pai levaram-no para a PJ. Tenta que Rosa ajude a polícia como infiltrada na casa de Genoveva.

Agente Álvaro (Virgílio Castelo)
Agente da PJ. Participa nas rusgas e dá voz de prisão a alguns dos envolvidos.

Diretor da PJ (António Évora)
Superior do Inspetor Josué. Apesar das pressões, não cede e incentiva o seu subordinado a conduzir a investigação até ao fim.

Leonor (Márcia Breia)
Mulher do Inspetor. É a “polícia de Josué”, como ele jocosamente lhe chama, pois vive preocupada com a saúde do marido. Tentam destruir-lhe o casamento, insinuando que o marido tem caso com Laura.

PIDE

Subinspetor Juvenal (Rui Mendes)
Subdiretor da PIDE. Tem a vontade férrea de acabar com a investigação da PJ, que pode emporcalhar os amigos e a honradez do regime. Tem um poder muito pequeno, embora faça alarde da sua posição. Desvaloriza os roubos da mulher e faz chantagem com Manuel para que este os oculte.

Isaltina (Catarina Avelar)
Mulher de Juvenal. Reclama da falta de atenção do marido, a quem a sua cleptomania coloca nas mãos da PJ, encurralando-o. É apanhada pelo padre a roubar, com a boca na botija.

Agente Reinaldo (José Pedro Gomes)
É agente da PIDE e amigo do Agente Afonso, da PJ. Tenta comprar-lhe o arquivamento do processo. Comprometido com o regime, acirra-lhe a vontade de conhecer os podres de Josué.

Clientes de Genoveva

Carlos Coimbra (José Eduardo)
Administrador de um banco. Tem um fetiche por virgens. À custa disso, esfolam-lhe o dinheiro. A sua perversão leva-o a ficar com Isabel e com Júlia.

Cristóvão (Carlos César)
Dono de um casino e de um hotel, é um dos elementos mais destacados no que respeita à perversão sexual.

Alfredo (João Lagarto)
Ministro da Presidência. Homem da confiança de Salazar. Embora apaixonado pela mulher, acaba por ceder às tentações da carne que lhe são sugeridas pelo Conde da Rocha.

Brígida (Maria José Pascoal)
Mulher do Ministro da Presidência, de saúde frágil. Passa os dias presa a uma cama, em agonia. Ama devotamente o marido.

Juiz Conselheiro (António Assunção)
Amigo de Alfredo. É ele quem intercede junto do Inspetor Josué, tentando salvar a honra do amigo. Tenta passar a mão pelo pêlo do juiz que julga o caso.

Governo

Ministro da Justiça (Carlos Lacerda)
Procurado pelo Ministro da Presidência, recusa-se a intervir na investigação levada a cabo pela PJ. Quando o surpreendem com o caso, não cala a nojice que lhe fica na boca. Imune a pressões, dá ordens a Josué para que não se deixe esmorecer.

Chefe de gabinete do Ministério da Justiça (Luís Pavão)
Titubeante, teme pelo processo, pelo rolar de cabeças, e tenta que o seu superior arquive o caso.

Imprensa

Joaquim (Pedro Górgia)
Jornalista estagiário a quem chega informação (anónima) precisa e concreta, em forma de carta. Procura respostas junto do Inspetor Josué, que se fecha em copas. Faz com que Rosa solte a língua, e ela conta-lhe a história toda.

Garcia (Paulo Matos)
Chefe de redação que não quer problemas com a censura. Aconselha Joaquim a ter juízo e a não se meter com o implacável lápis azul e com gente poderosa. Autoriza a investigação do jornalista, mas trava perante a censura, que corta o artigo. Vai ter com Josué e, para dar lume à vontade de o artigo ser publicado, entrega-lhe uma cópia do mesmo.

Igreja

Padre Manuel (Rogério Samora)
Chamam-lhe o menino-bonito do cardeal. Mariola e devasso, é um dos frequentadores da casa de Genoveva, e os seus superiores não desconhecem esta fraqueza. O pai foi ferroviário anarquista e, por isso, a PIDE não o perde de vista, desconfiando dele.

Cónego (Jorge Sousa Costa)
Conhece a conduta do Padre Manuel e alerta o Bispo para os seus devaneios. Apesar disso, absolve-o.

Bispo (Igor Sampaio)
Preocupado com o alastrar do caso, repreende o Padre Manuel. Adivinha os novos ventos da Igreja.

Gabi (Paula Pais)
O Padre Manuel foi uma tentação. Gostou e quer continuar. Ansiosa, e de coração acelerado, pede que o clérigo lhe continue a apimentar o prazer.

Outros

Jerónimo (Vítor Emanuel)
Evacuado da Guerra, veio do Ultramar sem pernas. Genoveva é a sua madrinha de guerra.

Vítor (Manuel Castro e Silva)
Enfermeiro da Carris, responsável pelo desfloramento de Laura. Ilda vende-lhe a virgindade da filha, assinando em seguida um documento que iliba Vítor de qualquer responsabilidade no desvirginamento.

Julgamento

Dr.ª Manuela (Carmen Santos)
Advogada do Conde da Rocha. Diz fazer um esforço homérico para acreditar na inocência do seu constituinte e que só aceitou o caso por ser amiga de longa data da família.

Dr. Florival (José Raposo)
Advogado do Marquês e de Cristóvão. Diz para responderem ao Juiz acabrunhadamente, de cabeça baixa, como se fossem vítimas de um bando de mulheres pérfidas e sem moral.

Dr. Augusto (José Wallenstein)
Advogado de Henrique Galvão e da sua “família”. A sua recomendação: todos bem vestidos e nada de gritos.

Dr.ª Filomena (São José Lapa)
Advogada de Rosa de Melo. Fica boquiaberta com a ousadia da sua cliente.

Juiz (Orlando Costa)
Juiz de prostitutas e devassos, fuma desalmadamente, tentando domar o rebuliço. Diz não saber o que faz pior à saúde: se ser juiz ou fumar.

Juiz Asa I (Rui Luís Brás)
Diz que a coisa mais importante de um julgamento é não ficar sem tabaco. Tenta encontrar as contradições na caridade de Miguel.

Procurador (António Melo)
Interroga os arguidos e as testemunhas durante o julgamento.

Dr.ª Berta (Lucinda Loureiro)
Advogada de Celeste Silva. Explode com Genoveva. Quer verificar, em pleno julgamento, que roupa interior usa o Conde.

Explicadora (Ângela Pinto)
Explicadora de inglês e de piano de Laura na sua meninice.

Catarina (Cucha Carvalheiro)
Quando jovem, foi empregada em casa do Conde da Rocha, que a violou em frente ao namorado. Presta depoimento, relatando esse doloroso facto do passado.

Dr.ª Odete Lencastre (Lourdes Norberto)
Médica do Conde da Rocha, depõe a seu favor em tribunal, afirmando que é impotente.

Lourdes (Noémia Costa)
Prostituta que depõe em tribunal. Deixa os presentes em lume forte ao perguntar se “lamber é crime”.

Rita (Tânia Crespo) 
Menina que acusa todos os réus como culpados e diz que Miguel lhe bateu.

Gisélia (Joana França) 
Diz, de dedo apontado, em tribunal, que foi Carlos Coimbra quem a desvirginou.

Teresa
Menina que foge do tribunal ao ser confrontada com a presença de Carlos Coimbra, fazendo-o confessar.

1. (21/09/1998)
Enquanto decorre o baile de beneficência, a polícia faz uma rusga a uma pensão. Uma das prostitutas detidas é Laura, personagem que há muito tempo preocupa o inspetor da Judiciária. O interrogatório a que é submetida na esquadra faz com que Laura recorde o seu passado e o primeiro homem com quem esteve, era ainda uma criança.


2. (28/09/1998)
O subdiretor da PIDE está preocupado com o que pode resultar do processo que envolve Laura. As figuras de topo da nação poderão ser acusadas de manter relações com menores. Por esta razão, quer que o inspetor suspenda os interrogatórios. Laura é finalmente libertada, mas Ilda e Miguel Galvão receiam o que ela possa ter contado. Nada disto parece, contudo, afetar Genoveva.


3. (05/10/1998)
O inspetor organiza uma rusga sem a presença de Afonso, porque está desconfiado das suas ligações com a PIDE. Além disso, o processo não avança. Zulmira e Rosa começam a frequentar a casa de Genoveva. Laura queixa-se à mãe de que Afonso a fez assinar um papel com declarações que não são suas. Ilda sossega-a e explica-lhe que os seus amigos têm conhecidos em todo o lado.


4. (12/10/1998)
Genoveva é presa numa rusga que a polícia faz à sua casa. Rosa e Zulmira também são levadas para a Judiciária para responderem a um interrogatório. Mas Genoveva nega tudo, afirmando-se modista. Reinaldo vai contar ao subdiretor da PIDE o sucedido, o que o deixa muito preocupado. Miguel Galvão reúne-se com os amigos para tomarem uma decisão.


5. (19/10/1998)
Laura volta a ser interrogada, mas desta vez pelo inspetor Josué, e em frente a Afonso. Laura decide contar tudo e denuncia o Conde da Rocha e Miguel Galvão, afirmando ser seu pai. Conta também que todos eles gostam de crianças e como Ilda e Genoveva as arranjam. Depois de uma grande discussão, Ilda põe Isabel fora de casa.


6. (26/10/1998)
Leonor, a mulher de Josué, mostra ao marido as fotografias dele com Laura. Ele conta-lhe que anda a interrogar a rapariga. Josué decide procurar o subdiretor da PIDE para tirar o assunto a limpo. Os dois conversam no cemitério e o inspetor da PJ ameaça o PIDE. Genoveva discute com Miguel Galvão porque está farta de ser chamada à polícia.


7. (02/11/1998)
Genoveva organiza uma festa para os seus amigos com meninas novas. O padre Manuel acusa Isaltina de roubar objetos da igreja. Josué encosta Afonso à parede e pede-lhe para ele escolher se está com ele ou com a PIDE.


8. (09/11/1998)
Rosa vai tomar um café com Oliveira, e este quer saber pormenores sobre as visitas dela a casa de Genoveva. Quando Josué volta a interrogar Laura, esta já se apresenta vestida de uma forma diferente, mais discreta. O inspetor pergunta-lhe quantas virgens passaram pelas mãos daqueles homens. O filho do conde é preso por assalto e Josué acredita que não tarda a prender o pai.


9. (16/11/1998)
Isabel discute com o marquês e ele despede-a. Josué vai começar a operação. O ministro da presidência agradece a Luís o que este está a fazer pela sua honra. O cerco aperta, mas o padre Manuel é informado de que será “poupado” pela polícia e por Deus. Começam as detenções, a PIDE perde o controlo da situação e até Genoveva é presa.


10. (23/11/1998)
Começa o julgamento. Laura conta em tribunal que Miguel Galvão é seu pai e as meninas demonstram o que eram obrigadas a fazer. Zulmira mata-se e Isabel decide contar a verdade em tribunal. Mas, nos bastidores, são preparadas algumas manobras.

Vidas Proibidas, com o subtítulo de Ballet Rose, é uma série baseada no escândalo que ficou conhecido pelo mesmo nome e que abalou a alta sociedade portuguesa no final do anterior regime.

A série pôs a nu vícios privados de altas personalidades do Estado Novo. Tratava-se de uma triste história de pedofilia ocorrida nos anos 60, mas cujo tema, infelizmente, continuava (e continua) na ordem do dia.

Este sórdido caso, denunciado em primeira mão pela imprensa estrangeira, ficou conhecido como o escândalo dos “ballets rose” e tornou-se matéria de investigação para Felícia Cabrita, no Expresso. Num artigo publicado a 12/10/1996, intitulado Vícios Privados, a jornalista reabriu a questão e contou toda a história, revelando os mais escabrosos pormenores.

Este “dossier” suscitou o interesse da Direção de Programas da RTP da altura (formada por Joaquim Furtado e Joaquim Vieira), que encomendou à produtora Multicena uma série inspirada nos acontecimentos ocorridos durante a ditadura salazarista. Francisco Moita Flores foi convidado para, a partir do artigo de Felícia Cabrita, escrever uma série de dez episódios. Uma obra que lhe custou dez meses de dedicação: “Foi um trabalho cuidado, em que o objetivo era o de criar uma história ficcionada com base em elementos reais”.

Apesar de o tema da série ser chocante e escandaloso – e de existirem algumas cenas de sexo mais explícitas e violentas –, houve a preocupação de não resvalar para o gratuito e o demasiado óbvio. Mais do que as imagens, a série mostrou-se perturbadora e inquietante pela revelação do interior há muito apodrecido do ovo da serpente.

A série exibiu cenas de nudez – algumas bastante ousadas – com as atrizes Sofia Alves, Patrícia Tavares, Fátima Belo e Filomena Gonçalves.

A atriz selecionada para fazer o papel de Laura em 1961, poucas semelhanças apresentava com Sofia Alves.

A Editorial Notícias publicou uma versão romanceada da série, intitulada Ballet Rose – uma novela (a)moral. No prefácio, escrito em tom de desabafo, Francisco Moita Flores confessou que esta série lhe tirou, de certa forma, um pouco do prazer que a escrita sempre lhe dera e que foi dolosoro assegurar o trabalho até ao fim.

O livro incluiu, como apêndice, o artigo de Felícia Cabrita.

Em 2017, Francisco Moita Flores concedeu uma longa entrevista ao jornal SOL, onde deu a conhecer alguns pormenores sobre o processo e sobre a forma como este foi retratado na série.

Moita Flores. “Para exibir a série tivemos que esperar a morte de um sacerdote”
O autor da série televisiva sobre o caso Ballet Rose optou por não identificar as personagens até hoje porque era gente muito poderosa.

Meio século depois do julgamento do maior escândalo moral que abalou o Estado Novo, o Ballet Rose continua a ser uma espécie de tabu. Tantas são as pessoas importantes envolvidas, que só a série de Moita Flores tem direito a entrada na Wikipédia, como se estivesse rodeada por um muro de silêncio. O antigo inspetor da Judiciária, anos mais tarde, chegou a acompanhar um caso de homicídio na Vivenda do Estoril onde se passavam os bacanais dos poderosos com meninas que chegavam a ter nove anos de idade.

Fez uma série televisiva, em 1997, e um livro sobre o Ballet Rose, um dos grandes escândalos do final da ditadura. Por que se interessou pelo caso?
Na época saiu uma reportagem da Felícia Cabrita. Foi isso que voltou a atiçar a minha curiosidade sobre o caso. Eu lembro-me, era muito novo na época, do desterro do Mário Soares para São Tomé, por causa de ter denunciado o caso. Por outro lado, uma das grandes protagonistas do Ballet Rose era da minha terra.

A costureira?
Sim, a costureira. O que me provocou sempre um fascínio muito grande. Não vou dizer quem era, porque na série e no livro optei por não colocar os nomes reais das pessoas. Até porque muitas delas estavam vivas e outras tinham filhos, netos e família entre os vivos.

Apenas os nomes das vítimas, das raparigas menores que foram levadas para essa rede de prostituição?
Não, todos os nomes estão ficcionados. Na altura pensei muito sobre isso, e decidi que não colocaria os nomes verdadeiros. Tinha sido um grande escândalo. Ainda havia eco disso. Não estava para magoar os filhos por causa dos pais.

Não acha que, devido à gravidade dos crimes cometidos,  justificava-se, pelo menos, em relação aos que estavam vivos que se apontassem quem tinha praticado aqueles atos?
Julgo que a Felícia fez isso na sua reportagem, mas a mim interessava-me a coisa em termos de ficção. Para mim, a história transcendia o próprio caso concreto: era um caso de moral e de poder. Essa é que a grande história do Ballet Rose.

Mas é significativo ser uma história de devassa, de violação de menores num regime com pergaminhos de ser tão clerical.
Aquilo que é perturbador e obsceno é exatamente essa promiscuidade forte entre a Igreja e o Estado Novo.

Está a referir-se às relações de amizade entre o cardeal patriarca Cerejeira e Salazar?
Sim, mas é preciso notar que na altura em que eu faço a série, o cardeal patriarca já era outro. Essa promiscuidade não só política, mas também moral, de um regime que alardeava uma moral católica estrita,  fez com que a obscenidade ainda fosse maior: algumas das grandes figuras do regime estavam no escândalo, frequentavam as prostitutas menores, tinham mulheres por conta.

Estamos a falar de raparigas muito jovens, algumas com 11 anos ou menos.
Sim, raparigas e mulheres muito novas. Eles pagavam às prostitutas para “desflorarem” as filhas, e elas levavam-nas. Um deles, na altura um dos homens mais importantes do partido do regime, a União Nacional,  pagava para desflorar as crianças. Quer uma professora, a Rosa, quer outras mulheres com que eles se davam arregimentavam crianças, todas miúdas, para esse individuo tirar-lhes a virgindade. E depois havia bacanais em que entravam as filhas, as mães e mais mulheres. Havia menores de nove e 10 anos no grupo.

Como é que o escândalo foi descoberto?
O caso foi investigado pela Polícia Judiciária com muita discrição, até porque a PIDE controlou a investigação e o processo desde o início. Mas foi uma investigação grande. Foi uma investigação razoavelmente bem-feita. Mas como estava envolvida no caso muita gente, a informação começou a saber-se. Havia muita gente que frequentava a rede e havia dois pontos de encontro importantes: um era ao pé do Marquês de Pombal em Lisboa, se não me engano era na Rua Eça de Queiroz, e o outro ponto era no Estoril. O que vem desencadear a investigação é o aparecimento de um familiar dos Espírito Santo morto no Estoril. Na altura, não se consegue determinar pela autópsia se se tratava de um homicídio ou de um suicídio. Ele era homossexual e morreu na praia e isso espoleta uma investigação, que começa pelos meios na zona que estavam ligados aos atentados ao pudor e ao abuso sexual. Por outro lado, já se falava nos círculos das elites de Lisboa dos escândalos, do que estava a acontecer e quem é que estava envolvido nessa rede de prostituição infantil. Algumas pessoas envolvidas estão vivas e são muito conhecidas do grande público. E alguém, presume-se que tenha sido Mário Soares ou Francisco Sousa Tavares, pai do Miguel Sousa Tavares, denunciam isso em França. A primeira repercussão pública do caso vem à luz num jornal de direita francês, julgo que no “L’Aurore”. É aí que é denunciado pela primeira vez o escândalo. Depois, o Urbano Tavares Rodrigues e o Mário Soares ajudam um jornalista alemão, creio que da “Der Spiegel”, que vai publicar um dossier com grande impacto internacional sobre o escândalo, com fotografias de vários dos implicados. [em algumas biografias de Mário Soares também é referido a ajuda do líder socialista a um jornalista do jornal britânico “Sunday Telegraph”]. Torna-se um escândalo mundial, com referências em jornais de todo o lado, menos nos portugueses, sujeitos à censura.

Salazar toma algumas medidas?
Toma várias. Obriga os visados a pararem os seus comportamentos e manda controlar a investigação. No escândalo estava envolvido o seu homem de confiança, que supostamente era o seu sucessor indigitado, o ministro de Estado Correia de Oliveira. Era um homem interessantíssimo, com uma cultura notável, um extraordinário melómano, que até escrevia artigos na revista “Flama”. Ele tinha uma mulher com uma doença incurável e era atraído para estas festas por razões de libertar o espírito, digamos assim. Havia outros homens que frequentavam este circuito, ligados à União Nacional, gente ligada à administração da Companhia Nacional de Navegação e até o dono do Casino do Estoril, que era um ex libris do país. Havia tanta gente ligada ao regime que Salazar mandou controlar a investigação à distância, pela PIDE, e a certa altura o caso começa a parar. A PJ fica sem meios e acaba por só levar ao tribunal um caso de atentado ao pudor e pouco mais. Sentam-se no banco dos réus várias mulheres e poucos homens. Acaba com a condenação da maioria das mulheres e com a multa a um dos homens.

Quando em 1998 é exibida a série, alguém teve medo que o caso retornasse à baila? Teve pressões?
Foi muito falado. Houve polémica e houve pressão até para que a série não fosse emitida. E ela acabou por ir para o ar, não só com três bolas vermelhas [risos], sempre depois da meia-noite. Apesar disso, chegou a ter maior audiência que o telejornal exibido às 20 horas. Isso devia-se a que, na altura, havia ainda muita gente poderosa que tinha estado envolvida no caso e tinha o nome no processo, nomeadamente um sacerdote importante. Aliás, posso dizer que a série só foi para o ar quando ele morreu.

Era o Cardeal Patriarca de Lisboa?
Não lhe vou confirmar, apenas dizer que era um homem que veio a ter um papel muito importante na Igreja e a televisão esteve algum tempo à espera que ele morresse. Na série ele é ainda um jovem padre e não é um cardeal. Isso condicionou a exibição. O país tinha memória desse escândalo que tinha envolvido o poder e tinha-o enlameado, e que politicamente tinha tido consequências graves: a prisão do Urbano Tavares Rodrigues e de Francisco Sousa Tavares e o degredo para São Tomé de Mário Soares. Essas figuras são perseguidas com a argumentação de estarem a denegrir o bom nome do país ao inventarem um caso criminal, escandaloso e de costumes para difamar o regime.

A investigação podia ter ido mais além?
Os inspetores fizeram um bom trabalho. O caso tem vários volumes, a PJ ouviu muitas testemunhas. Começaram por fazer um trabalho sério dentro do quadro legal que tinham e os condicionalismos políticos, e percebe-se que, a certa altura, o processo começa a ser limitado. São impedidos de aceder às grandes figuras implicadas.

Li que o caso se desenvolve quando aparece uma mulher com a filha que denuncia o caso.
Não é bem assim. A lista dos clientes é dada por uma prostituta e a filha. É esta última que reconstitui os lugares e os clientes que tinha tido. A mãe tinha vendido várias vezes o desfloramento da filha. Devo dizer que elas simulavam esses desfloramentos com sangue de coelho e de galinha, para ganharem mais dinheiro. As gradas figuras do regime eram enganadas por elas. É essa miúda que tinha tido mais clientes que deu à PJ a lista de clientes e as casas. Elas são detidas, são feitas rusgas. Mas há um momento posterior em que o processo começa a afunilar. Começam a desaparecer figuras importantes denunciadas e a ser trocadas por nomes menos relevantes e com menos importância.

Quem é que na PIDE fazia esse trabalho?
Faziam-no sob ordens do Silva Pais [diretor da PIDE]. Ele tinha homens para controlar os envolvidos ligados ao regime e para controlar as investigações da PJ. É preciso dizer que há um homem importante no desencadear do processo, que era o ministro da Justiça da altura, Antunes Varela, que competia com o ministro envolvido, o ministro de Estado e do presidente do Conselho, para suceder a Salazar e que dá luz verde à investigação. Esse antigo ministro da Justiça ainda me ameaçou, mas depois percebeu que eu defendia a sua intervenção no processo. Era um homem da extrema-direita, ligado ao Kaúlza [de Arriaga], que foi um dos putativos sucessores do Salazar. O ministro da Justiça deu cobertura à PJ; Silva Pais deu cobertura para se parar o processo.

O Salazar saberia do caso antes?
O Salazar sempre soube tudo. Quando o caso se tornou público, fez o que tinha a fazer: impediu-os de continuar a fazer essa vida e mandou controlar a investigação. Não havia nada que passasse pela PIDE, que ele não soubesse. Isso implicava muitos homens do regime.

O caso abala os alicerces do regime?
É um caso que começa no início dos anos 60, mais precisamente em 1959, é julgado em 67, coincide com a guerra colonial e é o corolário com arranque da guerra. Do ponto de vista internacional, a guerra já era complicada, o caso vem agravar a situação de um regime que se pautava por um pretenso moralismo.

O homem da Igreja que estava envolvido tinha um papel ativo ou apenas de encobridor do escândalo?
Ativo. E teve problemas com isso. Quando veio cá o Paulo VI teve um encontro com ele muito duro. E ele foi enviado para uma espécie de reclusão.

Uma espécie de cura de reabilitação como fazem as vedetas de Hollywood?
Mais uma travessia do deserto [risos]. E ainda bem que assim foi. Era um homem com muito valor, que teve depois um grande papel.

Nuno Ramos de Almeida
23/12/2017

A série encontra-se disponível para visualização no site RTP Arquivos.

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