Xailes Negros

Exibição:
05/12/1986 – 09/01/1987 (RTP 1)

Número de episódios:
05

Autoria:
José Medeiros
Emanuel Macedo

Baseada no romance Os Xailes Negros, de José de Almeida Pavão

Música original:
Luís Bettencourt
José Medeiros

Produtor executivo:
Victor Toste

Produção:
Bruges da Cruz

Realização:
José Medeiros

Elenco:
Ávila Costa – Manuel
Adelaide João – Rosário
Natália Marcelino – Tia Rosa
Manuela Eiró – Ermelinda
Luísa Alves – Mercês
Jovelino Pimentel – Finezas
Gilberta Rocha – Mariquinhas
Maria Bifa – Xica Raposa
Osvaldo Medeiros – Augusto
Maria Lina Pimentel – Tia Bispa
Maria Botelho – Carmen
Ana Decq Mota – Amélia
José Rosa – Lambuja
José Soares – Serafim
Henrique Álvares Cabral – Jordão
Emanuel Macedo – Artur
Jayme Tavares Silva – Carracol
Rui Peixoto – Boguinhas
Luísa Lopes de Araújo – Rita
Fernando Nascimento – Paulo
Armando Rocha – Padre Feliciano
Carlos Eduardo Ferreira – Xico
Lubélia Sousa – Tia Jacinta
Victor Cruz – Médico
Laura Lobão
Marta Loura – Teresa
João Soares Ferreira
Ana Sousa Lima – Angel
Ana Bela Lopes – Médica
Mário Carvalho – Seixas
Ângela Almeida – Henriqueta
Paulo Martinho – João Mouzinho
Aníbal Raposo
João Manuel Raposo

Colaboração:
Grupo de Teatro Fundação Brasileira – Mosteiros
Rancho de Romeiros da Covoada
Banda Lira Sete Cidades
Rancho Folclórico das Sete Cidades
Trio Encanto Latino

Nas margens da Lagoa das Sete Cidades, o romance de Ermelinda (Manuela Eiró) e Manuel (Ávila Costa) é alvo de comentários depreciativos, por parte quer da família de um e outro, quer das coscuvilheiras implacáveis cujos xailes negros não trazem bons prenúncios. São mulheres da Lagoa que vivem fechadas na sua comunidade e não permitem nenhuma derrogação aos preceitos dos seus ancestrais. A tia Bispa (Maria Lina Pimentel), a tia Jacinta (Lubélia Sousa) e Xica Raposa (Maria Bifa) são exemplos disso.

Ermelinda e Manuel
As mulheres de xailes negros

Na verdade, Rosário (Adelaide João), a mãe de Ermelinda, é uma forasteira que se encantou por um natural da terra, acabando por se ver abandonada e presa a uma ilha onde nunca desejou ficar.

Rosário

Por outro lado, a tia Rosa (Natália Marcelino), mãe de Manuel, na esteira das intriguistas locais, considera que Ermelinda provém de gente que não presta e instiga o filho a interessar-se por Mercês (Luísa Alves).

Tia Rosa
Mercês e Manuel

Entretanto, decorre a guerra colonial e Manuel vai cumprir serviço militar na Guiné, juntamente com o seu colega Boguinhas (Rui Peixoto). Uma triste notícia, porém, chega pouco depois: Boguinhas morreu em combate, atirando a família para a pobreza extrema.

Um outro alvo das mexeriqueiras agourentas é a professora Henriqueta (Ângela Almeida), acusada de desencaminhar o seminarista Paulo (Fernando Nascimento). O moralismo inabalável deste meio é estimulado inclusivamente pelo professor Finezas (Jovelino Pimentel), superior hierárquico de Henriqueta e tido como a maior autoridade intelectual da zona. A professora, porém, não cede a pressões e responde à altura às provocações de Finezas, quando ele lhe pede pessoalmente para se vestir de uma forma mais adequada ao seu estatuto.

Henriqueta

Manuel regressa da Guiné e é acolhido numa calorosa receção. Influenciado pela tia Rosa, começa a andar com Mercês e tem um affair fugaz com Henriqueta, mas não consegue esquecer Ermelinda.

Quando os dois se reencontram, volta a acender-se o romance e os planos para um futuro casamento. É então que Manuel recebe a notícia da morte da mãe, interpretando-a como castigo por se ter unido a Ermelinda. Esta esconde a gravidez do companheiro, que só volta a ter notícias suas após o parto em que a criança nasce morta.

Todas estas ocorrências fazem com que Manuel caia numa séria perturbação. Vítima de delírios, começa a ter alucinações com a falecida mãe, bem como com as mulheres de xailes negros que lhe trazem maus pressentimentos. À beira da loucura, pensa em suicidar-se, mas acaba por disparar um tiro contra a sua imagem refletida num espelho.

Sempre atenta, Rosário continua a temer pela filha, principalmente porque a cartomante Rita (Luísa Lopes de Araújo) lhe assegura que Ermelinda ainda se encontra presa a Manuel. Ficamos então a saber que, no passado, Rosário teve uma relação muito estreita com Finezas e que este não é o modelo de probidade que aparenta.

Após decorridos todos estes episódios, Manuel e Ermelinda vêem-se casualmente junto à Lagoa. Porém, o futuro dos dois é uma incógnita…

Ermelinda (Manuela Eiró)
Vive nas Sete Cidades, onde, tal como a sua mãe, é mal-afamada. Lava roupa para as “madames” da cidade, onde tentará empregar-se como doméstica. Tem um caso de amor com Manuel, que é malvisto pelas mulheres da freguesia.

Manuel (Ávila Costa)
Embora seja apaixonado por Ermelinda, as más-línguas que a difamam levam-no a ostracizá-la. Trabalha no campo, até ser chamado para a tropa, e toca saxofone na banda da freguesia.

Rosário (Adelaide João)
Mãe de Ermelinda. Veio para os Açores movida por uma paixão. Recorda com nostalgia os tempos que viveu antes de se apaixonar por um açoriano que a deixou “enterrada” naquele vilarejo. O seu maior desejo é que a filha tenha uma vida menos infeliz que a sua.

Tia Rosa (Natália Marcelino)
Mãe de Manuel. Viúva de um marinheiro, vive com o pensamento no filho, não querendo o seu envolvimento com Ermelinda.

Mercês (Luísa Alves)
Apaixonada por Manuel, que a vê apenas como irmã.

Mariquinhas (Gilberta Rocha)
Vizinha de Tia Rosa, a quem faz muita companhia, tentando confortá-la pela ausência de Manuel. Recebe, em primeira mão, a notícia de que a senhora padece de uma doença grave.

Serafim (José Soares)
Marido de Mariquinhas. Oferece apoio a Manuel, após a morte de Tia Rosa.

Boguinhas (Rui Peixoto)
Amigo de Manuel, com quem parte para o Ultramar. Morre na Guiné, deixando a mulher, Teresa, com um filho recém-nascido nos braços.

Teresa (Marta Loura)
Mulher de Boguinhas.

João Mouzinho (Paulo Martinho)
Agricultor, fala a Manuel da sua experiência na tropa, em Angola. Pensa em emigrar para o Canadá, insatisfeito com os proventos que o trabalho no campo lhe oferece.

Jordão (Henrique Álvares Cabral) e Angel (Ana Sousa Lima)
Ele é primo de Manuel, emigrado na América. Visita esporadicamente a sua terra natal, dando nas vistas pela sua extravagância. A sua mulher chama-se Maria dos Anjos, mas adotou a versão anglo-saxónica do seu nome.

Tia Bispa (Maria Lina Pimentel)
Dona da mercearia, que serve também de espaço para quem quer dar dois dedos de prosa.

Carracol (Jayme Tavares Silva)
Marido aleijado da Tia Bispa.

Henriqueta (Ângela Almeida)
Professora nas Sete Cidades, vinda do Faial. Crítica do Regime, luta contra os preconceitos e contra a mente fechada do povo local, escandalizando todos com as suas atitudes. Tem um fugaz envolvimento com Manuel.

Finezas (Jovelino Pimentel)
Professor mais velho, maledicente e defensor de uma educação tradicional e severa. Critica a conduta de Henriqueta, tentando determinar o modo como ela deve vestir-se.

Paulo (Fernando Nascimento)
O interesse por Henriqueta e o desejo de constituir família fizeram-no abandonar o seminário. Tenta aproximar-se da professora, mas não consegue mais do que uma boa amizade.

Xica Raposa (Maria Bifa)
Uma das mulheres de xaile negro. Mexeriqueira e venenosa, não há acontecimento nas Sete Cidades que escape ao seu escárnio.

Xico (Carlos Eduardo Ferreira)
Sapateiro, marido de Xica. Bebe para tentar esquecer os mandos e desmandos da mulher, que faz dele gato-sapato.

Padre Feliciano (Armando Rocha)
Pároco das Sete Cidades.

Rita (Luísa Lopes de Araújo)
Cartomante procurada pelas mulheres da freguesia.

Artur (Emanuel Macedo)
Patrão de Ermelinda em Ponta Delgada. Não fica indiferente à sua beleza, despertando a desconfiança da sua esposa.

Amélia (Ana Decq Mota)
Mulher de Artur. Percebe que o marido anda distante e, cautelosamente, começa a observar o seu comportamento diante da empregada.

Seixas (Mário Carvalho)
Amigo de Artur, com quem estudou em Coimbra. Frequenta a sua casa para jogar xadrez.

Carmen (Maria Botelho)
Gerente de um bar de alterne onde Ermelinda procura emprego, depois de ser despedida da casa onde trabalhava.

1. (05/12/1986)
Sob o olhar e comentários das mulheres de xailes negros, Ermelinda regressa a casa com uma trouxa de roupa lavada na lagoa. Já perto do lar, cruza-se com Manuel, que se dirige a cavalo para a terra. Ao chegar a casa, escuta os lamentos da mãe, Maria do Rosário, que se queixa da sua solidão. Numa pausa do trabalho no campo, Manuel e Mouzinho falam sobre a ida de Manuel para a tropa. Tia Rosa, mãe de Manuel, não se cansa de exteriorizar a sua dor pela paixão do filho por uma mulher que “só dá escândalo em toda a freguesia”. Algumas semanas depois, Manuel está de partida para o Ultramar. Antes da partida, Manuel visita Ermelinda. Os dois amantes abraçam-se apaixonadamente. De regresso a casa, Manuel encontra a mãe ainda acordada. É a véspera da partida para o Ultramar. Tia Rosa pede ao filho que tente esquecer Ermelinda, e ele acaba por aceder. No dia seguinte, na alameda da igreja, Manuel passa por Ermelinda como se não a conhecesse.


2. (12/12/1986)
Na sede da banda, Manuel, solitário, toca a “Saudade” no saxofone. A notícia da morte de Boguinhas chega à freguesia. Vizinhos e amigos comentam a tragédia, agravada pelo facto de Teresa ficar viúva, com uma criança nos braços. Henriqueta, a nova professora, fala da sua vida na aldeia, e Paulo aproveita para anunciar que saiu do seminário, deixando transparecer que o fez por estar apaixonado por ela. Em conversa com o padre, Finezas critica o comportamento da professora e do ex-seminarista. Tia Rosa conversa com Mariquinhas e vem de novo à baila a rivalidade entre a mãe de Manuel e Maria do Rosário. Manuel regressa à aldeia e é recebido entusiasticamente por grande número de populares. Finezas anuncia Manuel como o herói da freguesia. O olhar de Manuel cruza-se com o de Teresa, viúva de Boguinhas. Falando com Mariquinhas, Tia Rosa não esconde a sua felicidade pelo facto de Manuel ainda não se ter referido a Ermelinda, mostrando-se esperançada que o filho case com Mercês. Mercês deixa transparecer o desejo de estar com ele e adverte-o de que há mulheres que não dão segurança. Mariquinhas acompanha Tia Rosa ao médico. Enquanto Tia Rosa espera na sala, o médico chama Mariquinhas e informa-a de que Tia Rosa sofre de uma doença incurável.


3. (19/12/1986)
Na tasca da Tia Bispa, Xica Raposa fala do namoro de Manuel com Henriqueta. Tia Rosa e Mariquinhas comentam o envolvimento de Manuel com a professora. Amélia confirma as suas suspeitas e vai encontrar Artur no quarto de Ermelinda. Agora sem emprego, Ermelinda vagueia pelas ruas da cidade e acaba por entrar num cabaret. Dirige-se a Carmen, que trabalha no cabaret, tenta explicar a sua situação e diz-lhe que procura um emprego. Carmen mostra-se solidária, mas manda-a embora e aconselha-a a procurar outro tipo de vida. Na tasca da Tia Bispa, Xica Raposa anuncia, satisfeita, que Manuel está prestes a casar com Mercês, mas Tia Bispa recorda-lhe que Ermelinda já voltou da cidade. Em conversa com a mãe de Mercês, Tia Rosa fala do possível enlace do filho com Mercês. Há baile no terreiro. Manuel dança com Mercês e esta canta quadras hostis a Ermelinda. Paulo chega a casa de Henriqueta com um ar diferente: cabelo comprido e barba. Ela mostra-se surpreendida com o novo visual do amigo, que, depois de lhe confidenciar que pensa fugir à tropa, confessa também o seu ciúme pelo envolvimento dela com Manuel. Mercês vai a casa da “mulher das cartas”. Esta anuncia-lhe que Manuel continua “enfeitiçado” pelo amor de outra mulher.


4. (02/01/1987)
Perto da Lagoa, Manuel encontra-se com Ermelinda. Esta mostra-se magoada pelo seu silêncio durante quase dois anos de ausência. Manuel diz que não a esqueceu durante todo esse tempo. À noite, os dois amantes encontram-se em casa de Ermelinda. Enquanto conversam e fazem planos para o futuro, Manuel e Ermelinda são interrompidos por Mariquinhas, que lhes anuncia a morte de Tia Rosa. Logo que encontra Ermelinda, já depois do funeral de Tia Rosa, Manuel expressa-lhe a vontade de cumprir a promessa que fizera à mãe: abandonar a freguesia. Entretanto, Manuel arranja trabalho numa traineira. No alto mar, Lambuja, o mestre da traineira, convence-o a comprar-lhe uma pistola. Maria do Rosário aguarda notícias da filha no corredor do hospital. Uma médica anuncia-lhe que o bebé de Ermelinda nasceu morto. Lambuja leva Manuel a um cabaret, onde este vem a conhecer a insinuante Carmen. Esta acaba por referir-se à visita de Ermelinda ao cabaret, sem, no entanto, revelar o seu nome.


5. (09/01/1987)
Manuel visita Ermelinda, depois de ter sido recebido friamente por Maria do Rosário, que, no entanto, o deixa entrar. Apesar das súplicas de Manuel, Ermelinda pede-lhe que se retire. Após uma longa noite de pesadelo, em que se vê visitado por todos os seus fantasmas, Manuel embriaga-se. No dia seguinte, em casa de Henriqueta, Paulo despede-se da professora dizendo que vai estudar para Lisboa. Entretanto, na tasca, já bastante perturbado pelo álcool, Manuel parte copos e garrafas. Mariquinhas tenta convencer Mercês de que Manuel estava muito desorientado quando tentou abusar dela e aconselha-a a sair da freguesia e ir trabalhar para a cidade. Depois de assistir à matança do porco, Manuel volta para casa. No meu quarto, sentado frente ao espelho, empunha uma pistola e dispara sobre a sua imagem refletida no espelho…

Baseada no romance Os Xailes Negros, de José de Almeida Pavão, esta foi a primeira incursão da RTP Açores no domínio da ficção televisionada. Estreou na RTP 1 no final de 1986, às sextas-feiras, em substituição da segunda temporada de Duarte & C.ª. Na RTP Açores, fora exibida alguns meses antes.

A realização, inicialmente destinada a Jaime Campos, acabou por ser entregue a José Medeiros, que tinha iniciado a sua carreira na RTP, em Lisboa, há relativamente pouco tempo. Com a colaboração de Emanuel Macedo, decidiu reescrever o guião inicialmente concebido pelo próprio Almeida Pavão.

A série primou pelas imagens, que retratavam a melancolia e a beleza deslumbrante da paisagem açoriana, e surpreendeu todos os continentais com a autenticidade da linguagem insular, abrindo um precedente na descentralização televisiva. O gosto apurado pelo pormenor e uma visão “crua”, sem artificialismos, agradaram ao público mais atento à qualidade do que ao ritmo televisivo.

Ponto bastante característico e um dos que mais contribuíram para o cunho singular desta série foi o sotaque açoriano bem vincado no desempenho dos atores: “Houve um cuidado muito especial neste aspeto. Havia que dar um tom rural à ação, daí que uma pronúncia bem característica fosse fundamental”, afirmou o realizador, José Medeiros.

A série, de orçamento reduzido (8 mil contos) e com meios que, no mínimo, se poderiam considerar escassos, revestiu-se, nas palavras de Medeiros, de um autêntico “espírito de pioneirismo corajoso”.

Do leque de atores que integraram o elenco de Xailes Negros, só quatro eram profissionais. A maioria tinha apenas alguma experiência de teatro amador, enquanto que a protagonista, Manuela Eiró, era uma estreia absoluta.

Manuela Eiró

Para suprir a ausência de uma estrutura que permitisse gravar as cenas de interiores, foi improvisado um estúdio numa cavalariça.

As dificuldades inerentes à escassez de meios técnicos originou algumas situações caricatas, como o facto de o técnico de som ter de se pendurar numa das travessas mestras do telhado, com o microfone suspenso numa cana de pesca, pois era o único sítio onde o podia colocar sem que este fizesse feedback.

Na altura em que foi escrito o romance – início dos anos 70 –, não havia luz na povoação das Sete Cidades, onde decorreu a ação. Porém, durante as filmagens, havia sempre um posto de luz na mira da câmara, que teve de ser coberto com alguns galhos.

No romance, a guerra colonial não é tratada com tanto pormenor, mas na série tentou-se aprofundar o tema numa perspetiva humanista. Questões como a emigração, a sociedade rural e isolada, entre outras, foram realçadas de uma forma crua e simples, não raras vezes mais chocante.

Na cena do funeral da Tia Rosa (Natália Marcelino), face à impossibilidade de esta comparecer nas filmagens, foi o produtor executivo, Victor Toste, a assumir o seu lugar no caixão.

Adelaide João era a única atriz não açoriana no elenco, mas há que referir que a sua personagem não era natural dos Açores.

Adelaide João

Entretanto, estalou uma polémica em torno de uma possível participação no elenco da atriz Eugénia Bettencourt, que acabou por não se concretizar.

Em fevereiro de 1985, quando se iniciou a idealização do projeto, a atriz e o seu marido, o também ator Fernando Nascimento, foram contactados pelo Dr. Almeida Pavão, que lhes propôs interpretarem os papéis da professora Henriqueta e do protagonista, Manuel. Entretanto, quando José Medeiros assumiu a direção, em agosto, acabou por não chegar a acordo com a atriz, por considerar que estava a pedir um cachê demasiado alto.

Fernando Nascimento e Eugénia Bettencourt

Eugénia Bettencourt, considerando que tinha despendido tempo com o projeto durante meses – alegou ter colaborado com o Dr. Almeida Pavão em algumas adaptações ao guião –, decidiu pôr um processo em tribunal contra a RTP Açores.

No entanto, a RTP Açores dirigiu um comunicado à revista Top Açores, desvinculando-se de qualquer responsabilidade em relação à atriz.

Fernando Nascimento acabou por manter-se no elenco, mas interpretando um outro papel, o do ex-seminarista Paulo.

Cerca de um mês após o final da exibição na RTP 1, o programa A Quinta do Dois, no dia 05/02/1987, dedicou um programa a Xailes Negros, recebendo como convidados: José Medeiros (realizador), Suzana Coelho (intérprete da música do genérico), Maria Bifa (intérprete de Xica Raposa), Ávila Costa (intérprete de Manuel) e Luís Bettencourt (autor da banda sonora).

José Medeiros
Suzana Coelho
Maria Bifa
Ávila Costa
Luís Bettencourt

Foi lançado um single com dois dos temas da série.

O BAILADO DA GARÇA – Suzana Coelho
TEMA D’AMOR – Luís Bettencourt

Luís Gil Bettencourt tinha participado no Festival RTP da Canção de 1986, com o tema Cais de Encontro.

Luísa Alves, a intérprete de Mercês, era professora de Educação Física em Ponta Delgada e foi a vocalista do grupo Rimanço, do qual fazia igualmente parte Aníbal Raposo, também presente no elenco de Xailes Negros. O grupo ficou entre os três primeiros classificados no Festival de 1986, com No Vapor da Madrugada, tendo depois sido convidado a participar no Festival de 1987, num espetáculo que antecedeu a apresentação das canções concorrentes.

Luísa Alves

José Medeiros realizou outras séries aclamadas pela crítica: O Barco e o Sonho (1989), Mau Tempo no Canal (1992) e Gente Feliz com Lágrimas (2002).

Em 1989, foi editado um LP que continha alguns temas de Xailes Negros, bem como de O Barco e o Sonho e do especial Balada do Atlântico.

Em 2019, a Direção Regional da Cultura dos Açores relançou a obra icónica de Almeida Pavão, que apenas tinha sido editada em 1973.

A série encontra-se disponível para visualização no portal RTP Arquivos.

Xailes Negros